sexta-feira, 19 de outubro de 2012


FLORES NOTURNAS - POESIAS NEGRAS - 2012.
POESIA INÉDITA DE J N FERREIRA.


BEIJO

O Beijo é o medo dentro da boca e nauseia.
De lábios vorazes que se entrelaçam e suga,
O doce do desejo sedento que incendeia,
Dos gostos que se furta dos lábios que se enruga.


Da deusa Lilith, deusa esguia de seios intumescidos,
Que é tentação e arrepio sexual de demônios.
De um odor que é atraente feromônios,
E embriaga seduzindo e aquecidos.


Mulher de beijo espesso, beijo demônio que cresce,
Que atrai na morte lamentos indistintos,
Na medida em que o amor cresce,

Rio invisível de lamentos indistintos.
No veneno da paixão que é estupro
E abordaram a união de lábios de desenhos finos.

NA ESSÊNCIA DA ALMA POÉTICA 
2009 - POESIAS GÓTICAS


SÊMEN ERRANTE

Sêmen errante que vagueia na terra em busca da salvação,
Nas alvoradas de pranto e gritos de gemidos dolorosos,
Que profana o divino no sensual de momentos gostosos,
No desequilíbrio da loucura em prazer da busca da compaixão.

Das pálpebras fixas nas imagens do erotismo da virgem nua,
Na indecência da orgia no retrato da parede a bacanal,
Da metamorfose da luz na estrada da alquimia na lua,
Que lisonjeia a treva no fétido do íntimo no útero do mal,

Que perverte a oração na tortura do humano vagando,
E enlouquece a trindade no erro e no pecado semeado,
De um maldito perdido num óvulo que se vai viciando,

A ânsia no vomito de falácias dos lábios de lixo lucrado,
Devorando a covardia de uma boca que abre e ri desatinando,
O instinto selvagem do desejo impuro no orgasmo ejaculado.

quinta-feira, 18 de outubro de 2012


NA ESSÊNCIA DA ALMA POÉTICA - 2009 - POESIAS GÓTICAS

FALACES HIPOCRIANAS


Serve na ida de uma obsessão o assédio acreditado,
Que até num jardim se faz de um pão a comunhão,
E num capítulo da vida tudo é velho e disfarçado,
Retraído no aborrecer do engano na bela distração,

Sujeito ao túmulo no conflito vão do desespero,
De uma sensação no toque vai então esquecendo,
O chão que é alimento e num fruto se faz tempero,
Desligando o paraíso no vazio da fala emudecendo,

Veste e despi o resquício da face em disfarce analítico,
Que conduz no absoluto o impacto de um mero caçador,
Paradigma insano de um cenário pobre e paralítico,

De um nebuloso conteúdo advindo na revolta e na dor,
De um lixeiro de hipocrisia que reprova em obstáculo,
O estigma desumano que tece a omissão em espetáculo.

segunda-feira, 15 de outubro de 2012


NA ESSÊNCIA DA ALMA POÉTICA - 2009 - POESIAS GÓTICAS

IMPESSOAL

Por entre pedras deslizando no maravilhoso,
E no elevado fruto proibido se foi seduzindo,
Atingindo o coração inocente e mui gostoso,
Insondável de esquadrinhos e confundindo,

O entendimento no caminho da compreensão,
Revigora e desperta o olhar plural abrasador,
Num singular predicado nefasto e escarnecedor,
De uma coerção do pensamento louco na paixão,

Majestático reino indecente numa pervertida ilusão,
De uma aura erótica da carne que vai envolvendo,
Cambaleando o prazer num ritmo se esquecendo,

De um ser impessoal que vaga e paralisa a emoção,
Em sintonia de corpos na libido que se vai derretendo,
Na força da orgia em óleo de pecado e tentação.

terça-feira, 9 de outubro de 2012


NA ESSÊNCIA DA ALMA POÉTICA - 2009 - POESIAS GÓTICAS

DOIS

O coração abismo é antibiótico na febre do sabor,
Nos lábios singulares que são hálitos deslizando,
Os segredos de dois olhares que gritam se calando,
No úmido beijo extasiado e manso da carne em louvor,

Acenam torturando no abraço que traz saudade,
Os segundos da festa no mistério do cio conduzindo,
E escraviza o sêmen no óvulo da mascara seduzindo,
De uma delícia no orgasmo a fortuna da felicidade,

Bebe no ventre de Vênus a orgia do remédio do amor,
Da velocidade no gás de corpos em louca constelação,
Que confessa a indecência no ato de prazer e de dor,

No impúbere enlaço de um par sedento na traição,
De dois micróbios vis que exala a bacante no odor,
De homem e mulher em ato de amantes na vadiação.

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ÚLTIMO CAPÍTULO DA NOVELA BARRENSE
JOGO BAIXO


XIII
60 meses

La marque viveu sessenta meses preso e sem julgamento. Quando se está preso, somos tratados como vagabundo, como culpado, é um transitado em julgado, onde se antecipa os fatos sem o fim dos mesmos. Ás vezes sentado a sombra do julgamento de todos e no cárcere o que resta é peregrinar pensamentos, suplicar lembranças. Eu, bem me lembro do meu amor que morreu nos meus braços na primeira noite assim que cheguei do garimpo para buscá-la daquela vida fácil.

— É uma agonia de amante...

Dela, tenho como lembrança uma rosa murcha plantada no tumulo do cemitério são José no bairro Pequizeiro. Samantha estava linda com uma fita vermelha que prendia seus cabelos.

— Que promessa você fez para Samantha? Perguntou Caçoleta.

— Olha Caçoleta, um dia eu viria pegá-la para mim. Talvez, eu fosse um louco no auge dos dezoito anos... Talvez, um louco.

— Muito bem! E você cumpriu.

Quando a conheci na Fazenda Rio Doce nós fomos separados pelo destino. Só errei em não dizendo que talvez ambas as coisas há seu tempo. Meu pai Francisco Mafagafos, era um homem conservador, moralista, um dia ele disse:

— Amar mulher casada é uma insânia.

Talvez o gênio do meu pai não fosse um entusiasmo do amor. Na vida misteriosa de Chico Mafagafos, nas orgias da rua do Brega, no desonrar de mamãe havia uma sombra que ele ocultava: quem sabe?

— Ele foi contra vocês?

— Sim, expulsou-me de casa. Bradava aos quatro cantos do Mocambo que eu e Samantha iríamos viver na miséria e que nossas almas borbulhariam no inferno.

— Viver na miséria!

O velho meu pai assim que descobriu nosso romance esvaziou o copo de café que ele bebia balançando-se numa rede, embuçou-se e levantou.

— Eu tenho uma coisa horrível para te dizer José. Não vai mais comer aqui na minha casa. Fome e sede!...

Na verdade, Caçoleta e William, o homem é uma criatura perfeita por natureza. Ele ergueu a mão para me abençoar e mostrou-me o horizonte, o mundo do alto do alpendre da Fazenda, disse-me: Vê, tudo isso e belo — o brejo de águas, a quinta com o gado dentro tudo isso só será teu depois que eu morrer. 

Nas palavras eu sentia a ironia mais amarga de um pai desprezando o filho, a decepção mais árida de todas as ironias e de todas as decepções de um filho pode ouvir do pai. Tudo isso se clareava diante de mim. Eu jurei que de fome e nem sede Samantha morreria.

Quando o cabo Villaça abriu o cadeado da cela, La marque saiu sentindo a brisa de a liberdade levantar-lhe os pelos dos braços. No bar das Estrelas, o homem conversava com Berenice. Tudo que você viu e ouviu contarás no seu depoimento.

— Muito bem Berenice, vamos viver nossas vidas! Disse La marque.

— Trouxe as cartas que lhe escrevi?

— Sim! Está aqui!

— Ok, certo?

— Certo! Obrigada Berenice por acreditar na minha inocência.

— Nossa La marque, eu nunca pensei que a Helena tivesse coragem para matar a Samantha pelo teu dinheiro.

— Para você ver que não devemos confiar nas pessoas!

Durante os cinco anos na prisão La marque Mafagafos escreveu cartas para meretriz Berenice. Ela o único possível álibi para provar sua inocência do crime de assassinato de Samantha Buriti. Ele conseguiu convencer Berenice da sua intenção de ser inocente e assim dizer onde estava o dinheiro para Helena. 

Na verdade, La marque Mafagafos não era tão inocente assim. Ele mesmo cometera o crime, só que por ódio, ódio depois que ouviu Samantha e Helena declararem-se amantes e combinarem de assassiná-lo na noite de 13 de janeiro de 1988 para fugirem com todo o dinheiro.

Durante o tempo que passou preso na cadeia pública La marque arquitetou sua defesa para a acusação do crime de assassinato. Ele valeuse da ambição de Helena pra que a meretriz fosse presa pelo roubo do dinheiro, aí seria mais fácil acusá-la de assassina de Samantha assim que Berenice acreditasse na sua história de inocência através das cartas que ele enviava da prisão.

Assim que Helena fugiu para Teresina com o dinheiro e William Pequi foi preso em flagrante, Berenice contou tudo sobre o dinheiro de La marque para o delegado. O plano da armação para Helena havia dado certo e Berenice ouviu tudo calado e com a ajuda do amante William Pequi daria o golpe fatal. Porém, La marque conseguiu enganar Berenice dizendo que Helena matara Samantha pelo dinheiro. A vida é um jogo baixo, a pedra do jogador tem que está do lado certo e não pode oferecer volta, a jogada não pode ter dúvidas, se não a vitória não será certa.

FIM

domingo, 7 de outubro de 2012


NA ESSÊNCIA DA ALMA POÉTICA - 2009 - POESIAS GÓTICAS

VIDA

A vida é uma grande grade entre muros da discórdia,
Onde as vivências são transporte de um conteúdo,
De lixo das falsas ilusões distorcidas em miúdo,
Reveladas no assédio diário da mente em custodia,

A obsessão do pensamento caçando os sonhos,
Reprova a realidade num estado frio e nebuloso,
E puni a fantasia em cenário do perigo orgulhoso,
Da falha na omissão genérica da mente no tristonho,

A índole da vaidade é velha concepção tecendo,
Na diária luta das pressões dos apaixonados,
Que serenos no desânimo vão se esquecendo,

No impacto da desilusão dos planos amargurados,
Repleto do domínio das lágrimas no envelhecendo,
E na desesperança dos amores sempre mergulhados.

VALE A PENA LER DE NOVO
PENÚLTIMO CAPÍTULO
DA NOVELA BARRENSE
JOGO BAIXO

XII
O golpe

Cabo Villaça estendeu a mão para retirá-la da viatura, Helena levantou-se com as mãos algemadas. Tenente Cláudio tirou do bolso o boletim de ocorrência amarrotado, atirou-o na mesa do delegado João Oliveira e leu: “a acusada de furto atesta para os devidos fins que o dinheiro levado da casa do fina Chico Mafagafos na Boa Vista em Barras juntamente com a ajuda do amante de Berenice, o William Pequi pertencia a La marque Mafagafos”. Helena sentada na cadeira chorava e gemia.

— Helena você fez isso, sim ou não? Perguntou Tenente Cláudio.

Ela voltou o rosto para o outro lado, quis falar... Interrompia-se a cada sílaba.

— Sim.

— E o que tem a dizer da morte de Samantha Murici. Continuou o oficial.

Agora... Dizia ela erguendo-se e estendendo a mão.

— Samantha Murici? Perguntou a mulher.

— Sim, sua amiga lá do bar das Estrelas! Enfatizou o militar.

Helena desmaiou. Ela abaixou a cabeça na mesa, não falou mais.

— Você a matou? Certo!

Cabo Villaça a interpelava: sacudia-a a toda a força. Helena levantou um pouco a cabeça, estava macilenta, tinha os olhos fundos numa sombra negra.

— Deixai-me, maldiçoados! Deixai-me nesse inferno! Gritava Helena.

— Você a matou? Bradou cabo Villaça.

— Você a matou? Perguntou tenente Cláudio.

— Não é verdade... Eu não a matei.

— Por que roubou o dinheiro? Não tem nada haver com a morte de Samantha.

— Como? Perguntou o delegado.

— Com os diabos, delegado! Que isso importa! Mas foi assim...

Dia 13 de janeiro de 1988 a cinco anos atrás, La marque chegou aqui em Barras. Samantha estava no salão de cabelos juntamente comigo e feliz porque iria deixar a vida de prostituição e casar com o homem que amava. Nós discutimos no percurso para rodoviária. Ela disse que o homem dela estava cheio da grana e iriam casar. Eu poderia sair da vida fácil no bar das Estrelas. Fui até o local onde ele estava. Bati na porta e La marque abriu. Encontrei deitado na cama. Ele me conheceu...

— Oi La marque…

—Oi Helena, quanto tempo mulher?

Eu soltei uma gargalhada. Eram sete horas da noite. A noite estava sombria. Nevoeiros frios pairavam nos céus barrenses. Assim que foi tomar banho, eu como um anjo das trevas fiz Samantha cair aos meus pés, lívida e suarenta com a agonia do beijo sexual sobre meus lábios. Ela deitou-se sobre mim. Daí a alguns instantes, eu vi o homem chegar do banho e fingi dormir.

Tudo o mais foi um sonho: a rua completamente deserta e Samantha vinham do salão de cabelos passeando e a noite chuvosa seria o mestre da minha arte. Ela entrou e debruçou-se sobre o leito vazio da cama, eu deitei no leito junto dela, e com um dos braços apunhalei o coração. 13 de janeiro, uma noite que seria o meu passaporte para deixar a vida fácil, um fato fabuloso se não fosse à procura nesses cinco anos pelo dinheiro daquele miserável que está na cela.

La marque veio ao leito de Samantha, mas ela ainda gemia e chorava com uma voz cavernosa e rouca: ele arrancou-lhe o punhal com força, ela gritou mais já estava morta dentro do quarto. Ele atirou-a sobre a cama implorando por socorro: abri a porta do meu quarto. Acendi a lâmpada do pátio defronte ao quarto de Samantha para olhar La marque entrar e eu vir gritando.

Samantha com os lábios pálidos tentaram murmurar no ouvido dele meu nome, mas os interrompi gritando e chamando por dona Marieta. Eu tremi de ver meu semblante tão lívido no quarto dela e lembrei-me que naquele dia ao sair do quarto da morta, no espelho que estava pendurado a parede, eu me horrorizara de ver-me uma assassina... Um tremor, um calafrio se apoderou de mim. Ajoelhei-me, e chorei lágrimas ardentes. Confessei tudo a Berenice: parecia-me que Samantha que se erguia dentre os lençóis do seu leito e me acendia o remorso e no remorso me rasgava o peito.

— Por Deus! Foi uma agonia!

No outro dia conversei friamente com o cabo Villaça. Ele lamentou a falta de Samantha no bar das Estrelas. Mas sobre a noite passada, nem uma palavra. Durante esses cinco anos, todas as noites era a mesma tortura, todos os dias a mesma frieza. Contudo, lembrei-me que o dinheiro não estava com Samantha como disse La marque. Procurei-o na cadeia para dizer-me onde estava com objetivo de pagar um advogado para ele, mas ele recusou-se. Quando eu pedi para o amante de Berenice, o William Pequi ir ao quarto dele no hotel e dar uma busca pelo dinheiro. Porém, Berenice não dormia completamente perto da sinuca no bar das Estrelas, ela viu quando eu lavava minha roupa branca do sangue de Samantha e passou por perto, roçou seus cabelos soltos, e nas lájeas do corredor estalavam umas passadas tímidas de pés nus. 

Ela vira tudo e ouvira. Berenice se acordara e sentira por minha falta no leito, a mulher ouvira o grito de Samantha, e correra para ver… agora com cinco anos depois da morte de Samantha, chamei Berenice e a convidei para me acompanhar para Teresina. Nós tínhamos de sair da cidade e eu não queria ir com o amante dela o William Pequi. Saímos juntos: a noite era escura e fria. O vento desfolhava as árvores e os primeiros sopros do inverno rugiam nas folhas secas do chão na rua são José. Caminhamos juntos muito tempo. Berenice parou e desistiu.

— Espera-me aí, disse ela, não vou mais com você, se não serei sua cúmplice.

— Então fique nessa vida desgraçada, pois estou é rica!

Eu sentei no caminho à espera de um ônibus para Teresina: vi àquela hora uma luz de carro clarear-me o rosto e aparecer entre os matos da estrada perto do morro do pipoca, um caminhão. Por fim fiz o motorista parar. O velho abriu a porta do caminhão. Entrei. O que aí se passou na viagem para Teresina, nem eu e nem ele sabemos: quando a porta abriu-se de novo na capital, uma mulher lívida e rica despontava com nova vida. A porta fechou-se. 

Alguns minutos depois o motorista seguia viagem sem mim. Eu o amei por duas horas. Quando eu estava decidido a juntar-me com Samantha, o maldito do La marque apareceu do Pará. Senti-me traída após longas noites perdidas ao relento a espreitar-lhe de Samantha um carinho, um amor, quando após tanto desejo e tanta esperança eu sorvi-lhe o primeiro beijo, a primeira noite de amor, Samantha estava decida partir com La marque que voltaria do garimpo rico. Eu acolhi quando chegou no Bar das Estrelas. Fui sua amiga fiel, companheira. Ensinei-lhe a arte da sedução e como arrancar dinheiro dos homens.

Foi uma noite de soluços e lágrimas, de choros e de esperanças, de beijos e promessas, de amor, de voluptuosidade no presente e de sonhos no futuro... Ela desistiu de mim. Vinte anos depois o amante dela, La marque voltava do Pará. A voz sufocou-me na garganta: nós duas chorávamos. Eu também chorava, mas era de saudades de Samantha... Logo que soube da fortuna, o dinheiro de La marque enfeitiçou-me. 

Contudo meu amor não morreu! Nem o dela! Muito ardentes foram àquelas horas de amor e de lágrimas, de saudades e beijos, de sonhos e maldições para esquecermos uma da outra. A noite de 13 de janeiro foi uma loucura! Depois dessa noite seguiuse outra... E muitas noites, as folhas sussurraram ao roçar de um passo misterioso, e o vento se embriagou de deleite nas nossas frontes pálidas...

— Muito bem! Agora guarde seu discurso para o juiz da comarca!

Interrompeu uma voz.

— Posso fazer uma pergunta delegado? Interrogou Helena. Quem me denunciara à polícia.

— Berenice! Disse o delegado. É foi à testemunha ocular do crime que você cometeu.

— Eu sabia que foi aquela falsa, sonsa mentirosa, mas eu não matei Samantha!

O homem que falara era um advogado. Um homem já de idade, meio alto de frontes calvas e longas com o rosto fundo em rugas e espessas sobrancelhas grisalhas lampejavam-lhe os olhos azuis e um ralo bigode que cobria parte dos lábios vermelhos da fumaça de cigarros. Trazia um terno negro e uma pasta nas mãos já desbotada, da mesma cor da roupa.

— Quem é o senhor? Perguntou o tenente Cláudio.

— Dr. Júlio César, defensor público.

— Quem é o senhor?

— Eu sou o oficial Tenente Cláudio! Responsável pela prisão da acusada.

Na verdade não foi difícil entender o que estava acontecendo: correu muito boato em Barras, a cada instante nas esquinas saia conversas e mais conversas que mudam até de nome e de sobrenome. La marque via os últimos raios de sol nascer quadrado. Ele apertava as mãos do companheiro Caçoleta antes de ser solto.

— Obrigado amigo!

— Não me agradeça.

segunda-feira, 1 de outubro de 2012


NA ESSÊNCIA DA ALMA POÉTICA -2009 - POESIAS GÓTICAS

SONHOS EFÊMEROS

Nos sonhos efêmeros vi exauri em prantos,
A conduta da paixão que é eterno paradigma,
E até que a consciência me interrogue e me diga,
Essas fantasias desfeitas são de imenso encanto,

E o coração em debate extrair a denuncia do amar,
Proferido no autoritarismo da força no sentimento,
Dominando a emoção na revolta do momento,
Numa leitura do amor na repreensão do sonhar,

O vento desumano dos sonhos é escravo e senhor,
No precipício entre a dor e o egoísmo do gostar,
Serve advindo em taça a linda paixão sem temor,

Violenta o pensamento distorcendo em obstáculo,
Aliena o espírito na carne conduzido na teia,
Feito palco de teatro alimentando o espetáculo.
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NOVELA BARRENSE
JOGO BAIXO

XI

Helena

William ficou pálido com o que La marque narrava. Pois bem, te conto a história. Mas quanto a essa sobre Samantha, pode crer é bem cheia de terror. Não é um conto, não é uma lembrança do passado. Não é meu alvará de soltura, mais é a verdade, rapaz.

— É uma ladra! Uma ladra!

— Conta La marque! Conta tudo!

La marque falou: os mais fizeram silêncio. Era tempo. Quatro horas depois amanhecia o dia na terra de marataoan. Helena já estava fora de Barras. Os raios do sol invadiam a cela depois de uma madrugada borrifada de orvalho das chuvas, das nuvens azuladas, e as águas salpicadas dos céus barrenses. A natureza encorajava os primeiros raios do sol a romper a barra avermelhada do dia. A conversa dos três homens invadiu toda a madrugada e encerrava-se pelo ar fresco do dia que os faziam dormir como excrementos da cidade, como excrementos da amásia Helena. 

Um dos homens, La marque via em sonho Samantha e beijava-a. Ele sentia a mulher em vida que se evaporava dos seus lábios. Ele sobressaltou-se, entreabriu os olhos; mas o peso do sono ainda o acabrunhava, e as pálpebras pesadas se fechavam... O sol estava no alto céu marataoan — era meio-dia: o calor dentro da cela da cadeia aumentava: pela fronte, pelas faces, pelos braços dos homens rolavam gotas de suor dentro do quarto da prisão. Ele vinha caminhando pelo corredor com uma curiosidade indiscreta. O soldado Sousa chegou perto da grade da cela e chamou por La marque.

— Senhor La marque, vossa irmã, quer falar com você. Deixo-a entrar.

— Sim! Pode deixar! Obrigado! Foi essa a resposta do homem.

— Você soube o que aconteceu? Murmurou Glória.

O homem respondeu não.

— Toda a polícia está atrás daquela amiga da Samantha.

— Helena?

— Sim, dessa desavergonhada mesmo!

— O que ela fez? Perguntou o homem.

— Furtou todo o teu dinheiro lá de casa!

La marque ficou com uma estátua, o olhar imóvel, o lábio sedento e o arfar do peito denunciava que a justiça começava a ser feita ou mesmo preparada. Ele ajoelhou-se para rezar a nossa senhora da Conceição: nem sei o que ele dizia nos lábios trêmulos. Não sei que palavras se evaporaram daqueles lábios: eram palavras, podia ser pés de rezas. A irmã dele, Glória escutava, mas não o entendia, sentia só que aquelas rezas eram muito doces, que aquela reza era como um talismã, a palavra de Deus. O homem chorava, soluçava: por fim ele ergueu-se com a ajuda de Glória. Eu ouvi o soldado dizer que a polícia a prendeu lá em Teresina.

— Pois bem, disse ele.

La marque tapou-lhe a boca de Glória com as mãos...

— Silêncio, Glória!

— Então, o que ouviu mais?

— Nada!

— Descobriu todo o meu dinheiro? Perguntou La marque.

— Sim, furtou todo! Respondeu a irmã. Ela está presa na capital e devem trazê-la para Barras qualquer hora.

— A justiça de Deus! Disse Caçoleta.

As lágrimas, os soluços abafavam-lhe a voz de La marque. Depois de dois dias presa em Teresina, Helena chegou a Barras. Ela não respondia a nenhuma das perguntas na viagem, porém só chorava. Na cela da viatura a mulher estava deitada com o rosto entre as mãos. À voz do cabo Villaça ergueu-se de súbito.