quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012



GALÁPAGOS- POESIAS DE DEGREDO

VENDE-SE FÉ

O obscurecimento entusiasma o ser no mundo,
Onde os mistérios é a chama da dessacralização,

Do sagrado enlaçado ao profano tão imundo,
E o mercado da fé é uma eterna propagação,

Aqui e ali uma loja que vende a fé cotidiana,
Por preços triviais no ideal tão pobre,

A magnificência desses templos é leviana,
E corrompe o homem no que tem de nobre,

A diferença é o poder na eloqüência da persuasão,
Pois a humanidade é bombardeada nos medos,

E conflagrada no domínio da sua emoção,
Pois a fonte originária é o simples segredo,

Onde a cumplicidade do pecado é a meditação,
E a falsa esperança de no paraíso ser o degredo.

terça-feira, 28 de fevereiro de 2012


Galápagos- poesias de degredo

CASTIGO DA NOITE

O despertar dos dias afogam a escuridão,
Pela madrugada da aurora enaltecida,
Que na obscuridade fez-se repressão,
Da noite o sono de ontem esquecida,

Os raios do sol despem a noite passada,
Dissipado na claridade de suas fagulhas,
Que conduz o céu ao mar e que mergulha,
O celeste delirante da manhã tão esperada,

O castigo da noite é oxigênio de escravo,
Que na cicatriz das madrugadas foi colisão,
De uma treva que reprime o que é bravo,

E torna fraco no medo da transgressão,
Do girassol que um dia se foi cravo,
De uma rosa na tristeza da solidão.

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012


GALÁPAGOS - POESIAS DE DEGREDO

MATÉRIA IMPURA

Dos sêmens errantes que vagueia a existência,
Somos seres irradiantes que prenuncia,

Do orgasmo ejaculado na inteligência,
De um ser que se fecunda e anuncia,

Do hálito da terra soprado nas narinas,
De uma costela doada tão indecente,

No ato testemunhado pelas lamparinas,
No “FIAT LUX” que se fez eficiente,

Da satisfação dos amantes, na hora de loucura,
De um visionário cúmplice da copulação,

Dos corpos despidos e desnudados na doçura,
Da vadeação de loucos na criação,

De um ato pecaminoso da matéria impura,
Da latência pelo suspiro na gestação.


domingo, 26 de fevereiro de 2012


GALÁPAGOS - POESIAS DE DEGREDO

FACE DO ESPELHO


O rosto ri, o escárnio no espelho refletido,
A face emoldurada que traduz desesperando,
No reverso que desperta o ar constrangido,
Da beleza então pretendida se maquiando,


O pente desliza pelo cabelo na moldura,
E os olhos piscam retratando a alma,
Que desfila na avenida a dentadura,
De uma boca inquieta e que se acalma,

Nos lábios o colorido é por conta do batom,
Que sela a perfeita imagem na insônia,
E o vermelho é ditado e insistente no tom,


Que revela a fase do espelho sem cerimônia,
O colar no pescoço e o vestido marrom,
De um enfeito demorado tão “sem vergonha”.

sábado, 25 de fevereiro de 2012


SANGUE

Corre nas horas incansáveis a obsessão,
Infeliz no meu líquido um pouco insano,

De alguém sem vida na eterna dispersão,
Que derrama e que despe o ser humano,

O sangue gélido que escorre vai descansando,
Na lágrima do rosto que desce no destino,

Que na lembrança do amor despedaçando,
Foi vagão na contramão viajando e repentino,

O rubro que esvaece nas veias vai acendido,
Pelo fogo que queima no âmago castigando,

E na noite fria é ar e respiro confundido,
Na adrenalina do coração que amargando,

O suspiro da reza que erra e foi perdido,
Da paixão efêmera de amantes, amando.

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

GALÁPAGOS - POESIAS DE DEGREDO 

RISO MARGINAL
No palco do céu resplandece a interpretação,
Da são José o caminho ortodoxo,
No eterno vai e vem, um pouco paradoxo,
De carros e pessoas em transação,
Pessoas reduzidas em suas individualidades,
Sem máscaras no plenário do sol escaldante,
Que reluz o suor nos rostos de uma cidade,
Que vagueia na obsessão do sonho Dante,
Carros e buzinas, gritos e gemidos anônimos,
Que traduz a leitura na expectativa do jornal,
Que corre as notícias em seus sinônimos,
De uma Barras com seu riso marginal,
Que aquece humanamente seus antônimos,
No calor gélido do asfalto surreal.

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012


Galápagos - poesias de degredo


ROTINA

Olhos atentos ao conteúdo da meditação,
Pelos outdoors que avistam pela rua,

O sabor da cidade grande é inspiração,
No ônibus de faces estranhas e tão nuas,

Pessoas que transitam na oportunidade,
Do trabalho donde são os autores da vida,

Pernas que caminham na imensa infinidade,
Que se paralisam no sinal da avenida,

Rostos suados no mundo leitor,
Gravitando na busca dura e subjacente,

A rotina do pão de cada dia no labor,
No livro sem fantasias e sem precedente,

Do ser humano na luta é o autor,
Duma história diária repetente.

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012


GALÁPAGOS - POESIAS DE DEGREDO
imagem:
A PRAÇA ASSISTIU


A praça da matriz assistiu passar mentes vãs,
Todas são orgulhosas e fazem mil loucuras,


Um poeta sentado no banco da praça na manhã,
Ver o canto dos pombos revoarem com doçura,


Majestosa a praça menina é prazer e luxo,
Contenta-se tão pouco sem apelação futura,


Ouve a doce lira das pessoas em refluxo,
No vai e vem do homem que procura,


O café que é sangue da amada virgem,
Tida como troféu ou talismã diário,


A praça assistiu a tudo com vertigem,
As árvores desfolharem em vibração,


Sob o balançar dos ventos as harmonias,
Sentindo o egoísmo da oxigena mutação.

terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

GALÁPAGOS - POESIAS DE DEGREDO
imagem: 
BATALHA DE GIGANTES


Marataoan e Longá, amantes a beijar a linda Barras,
Como dois súditos servindo fiel a doce cidade,
Como namorados de uma novela tão repentina,
Que provando seus amores com fidelidade,


São dois bravos valentes numa cena de glória,
Na batalha avançada dos versos cantados,
No teatro da natureza cenário da vitória,
Que sofrem seus amores no leito calado,

E escrevem a história como dois escritores,
Sobre a capital mesopotâmia nos lindos versos,
De loucos visionários na sombra dos reversos,


Do amor pela cidade encanto dos amores,
No romance de capítulos ensaiados do verde,
Para refletir exuberantes para teus leitores.

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012



DAS PALAVRAS

                   Na exaltação do poema que fiz a Barras,
                        Quanto à inspiração do verso falta um negócio,
                                    Que só não é esmola porque a mente ensina,
                                                 No troca-troca da rima perfeita que não é ócio.


                                                 Que se troca e troca as palavras no poema,
                                    Fazendo um favor ao bolso ou ao salário,
                       Trocando o troco que sobrou por um tema,
                   E o tema que é pouco, mas muito fadário.

domingo, 19 de fevereiro de 2012



Galápagos - poesias de degredo

RIMA PERFEITA

Sou o poeta que se lançou ao sol de Barras,
Sol que rompe a treva maldita da melancolia,

De uma tristeza que menti e que ensina,
E retrata na página primeira que escrevia,

A folha de papel que se rasgou feito o sudário,
De uns versos jogados no túmulo do lixeiro,

Amassados na rima que não encaixou no sumário,
E dissiparam-se do pensamento feito nevoeiro,

Ao raiar da aurora surgindo no caminho,
Do doce encanto do lápis adormecido,

Que bailou na noite riscando sozinho,
O papel debochando o verso ante esquecido,

Nas longas horas o punho já vencido,
Na mente do poeta a rima que vinha sorrindo.

sábado, 18 de fevereiro de 2012

POESIAS DE GALÁPAGOS - POESIAS DE DEGREDO




BARRAS


Barras que nutre na mente
a inspiração,
nos versos convulsivos
que arde e inflama,
Na sombra esvaecida do teu
ventre de emoção,
Dos amores de um poeta que
glorifica e te ama,
Resvalando o teu marataoan
nas friezas do Longá,
Do encontro dos rios que
são águas da saudade,

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

sábado, 11 de fevereiro de 2012


SÁBADO DO CONTO: 

O HOMEM E O ÁLCOOL

Noite de sexta-feira dentro do quarto de Dante. O texto no world recebia as alterações do romance. Um vento forte assanhava os cabelos do jovem, a janela aberta com o frio cortante da madrugada. Cães ladravam para uns lados. Felinos andavam por cima dos muros. No clima de mistério da noite, ele sentia um tropel esfuziante e quente de sombras inquietas e errantes. 
Diante do texto, seus impulsos transbordavam em um cálix buscando na consciência ou imaginação o desenrolar dos fatos narrados na ficção. Escolhido os personagens centrais, Dante começaria pelo fim da vida do protagonista do romance. O personagem que Dante escrevera era um rapaz travestido de um sentimento de desejos na eterna inquietação do amor pela namorada Ísis. O jovem com ambição vaga até no fechar dos olhos e a vaga esperança de casar com a moça.
Dante na noite, enquanto escrevia umas páginas subia-lhe uma ânsia cansada de não mais escrever; o cérebro do escritor de tão esvaído se lamentava, no eterno não saber lamentar. Tumultuárias idéias e mistas acerca do romance surgiam e desapareciam sem deixar rastos à imaginação do autor. O silêncio deslumbrado e vão da noite figurava-se incoerente e amargo.
O escritor na ação do romance deixava-se envolver. O primeiro capítulo do romance seguia-se a outro e mais outro.
- Vem Morte! Sinto os passos! Sinto-te! Gritava Dante.
Dante inerte a beira do rio marataoan com o gélido da brisa arrepiando os pêlos do corpo. Ele havia bebido muito. Solitário e taciturno, o rapaz gritava em vãos delírios entorpecidos pelo álcool no sangue. Ébrio, o homem ouvia no silêncio da noite, o coração feito uma melodia estranha e vaga. O jovem escritor enleava-se caminhando a passos lentos sem sono, sem passar o sono que não vinha.
- Nada, nada... Vai-te, Vida!
Os gritos no silêncio da noite ecoavam levados pelos ventos alísios. Ele sentia o horror de morrer. Dante imaginava o mistério frente a frente. A morte ali sem poder evitá-la, sem poder adiá-la. Dez minutos no relógio gelava a idéia de morte na mente do escritor. O desenrolar do mistério face a face da morte prestes a conhecê-lo. Por mais mal que seja a morte, o homem pretendia descobrir o mistério de morrer.
O rio marataoan, com correntezas de ignorância d’água no inverno intenso que relampejava a idéia de que enfim tudo seria destruído e arrastado. Ele não sabia nadar por certo e jogando-se na água, a morte acabaria com ele e não faria mais nada. O vento ufanava e avançava mais anunciando a morte pálida e firme do nada. O tempo congelava ao ver aproximar-se a morte, pois apenas mudava com a presença da indesejada.
Dante escrevia mais e mais triplicando páginas e páginas do romance. Povoava a mente do escritor, um sentimento de mistério diante da morte. O mistério da morte esmagava a cabeça contra o muro da imaginação. Ele como escritor temia verdadeiramente a morte, pois a morte todos teme. Não adiantava muito fugir. Na vida, a morte tem sempre abrigo certo, uma maldita que é mal e ele poderia sentir.
-Ah, já chegada a hora!
O rapaz amaldiçoando o horror à morte, porque nela o mistério vem e nela se acaba. O homem caminha pela rua de aclive por detrás da igreja de nossa senhora da Conceição. Na rua de paralelepípedos com os passos lentos e cadenciados, ele olha a velha usina de sabão de coco babaçu. Um vulto nas sombras das paredes da velha usina arrasta-se macilentamente seguindo-o como uma espécie de espírito. Morcegos nos céus escuros dão vôos rasantes para o lado do auditório.
Dante tem o corpo viciado no álcool e adorado aos remorsos de um litro de vinho que ele sacia.  Como um mendigo e refém do vício, o rapaz exibe a sordidez de uma carcaça humana que se destrói. O jovem fiel ao pecado da carne vive uma prisão em que a confissão o amordaça os lábios. A sombra que o persegue impõe alto preço à infâmia das palavras confessadas no desvario das palavras lançadas ao vento e sem nexo.
A rua escura e deserta na meia noite tem lâmpadas apagadas nos portes elétricos e cachorros ganindo na rua de paralelepípedos e lodosa da noite gélida. Ele vive a ilusão de que o pranto e as nódoas da tristeza se disfarcem no litro de vinho que carrega debaixo dos braços. Quando entra no portão da casa e senta na almofada, o espírito de Satã esquenta-lhe o corpo.
Levanta-se e vai ao banheiro. O espelho do banheiro docemente o consola, a imagem de frente é reluzida no metal puro da vontade então de se matar. Tudo por obra do espírito que age sem ser visto. Ele sente que o Diabo se move e quer manusear a vontade. O rapaz repugna a jóia que é a vida dada por Deus. Hora após hora para o espírito que lhe conduz para o inferno, o sentimento de coragem não impõe medo algum ao jovem.
A lâmpada do banheiro apaga-se e no meio das trevas, ele sente náuseas e vomita no vaso sanitário.  Assim como um voraz devasso beija e suga a própria face no reflexo do espelho da água. A sombra bate na porta fechada do banheiro tentado abri-la. Dante olha para o lado e ouve as dobradiças de tão enferrujadas rangerem. Ele ver uma mulher de meia idade no reflexo do banheiro.
O decote do vestido dela mostra os seios murchos que lhe são ofertados. A vadia furta-lhe ao acaso uma carícia esguia e o faz os seios espremerem-se contra o rosto do jovem. O crânio de Dante é seduzido pelo demônio que abre suas grandes asas. Dante sente a respiração ofegante, os pulmões sentem o ar de morte descer o esôfago.
A água da pia é um rio invisível, com lamentos indistintos em que o rapaz se afoga. A falta de ar é veneno de uma paixão onde o estupro da morte é punhalada. As marcas dos dedos molhados na parede bordam com desenhos finos a trama vã do mísero destino.
- Tua alma arrisca por pouco ou quase nada! Brada a voz feminina.
No lodaçal dos vícios mortais e humano, Dante arrepende-se do ato insano e sente-se mais iníquo, mais imundo, o pior dos seres humanos. Sem grandes gestos ou sequer lançar um grito, o rapaz num bocejo imenso que engoliria o mundo esquiva-se sem à mínima noção do ato que iria cometer contra a própria vida.

Ele sai a passos largos de dentro do banheiro cambaleando. Ouve do lado de fora da rua deserta patíbulos de cavalos baterem nos paralelepípedos trotando. Abri a janela e ver ao longe uma mulher de cavalo com um imenso cachimbo agarrado as mãos. Dante ver um monstro delicado de mulher cavalgando.

O rapaz recolhe-se ao leito com o ventre concebido do arrependimento da desgraça que iria fazer. Antes de dormir lembrou-se de pedir nas rezas para nossa senhora da Conceição dar força para livrar-se do vício do álcool. E finalmente dormiu.

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012


SEXTA-FEIRA: ESPECIAL DO CONTO:
FIM DE TARDE BARRENSE

           Já estava quase que totalmente noite, chovia pouco com um vento entrecortado que vinha do nascente e varria os céus de Barras. O rio Marataoan com pequenas ondas que espumavam e espadanavam de modo barulhento contra as pedras assim que ultrapassavam a barragem de cimento do bairro Boa Vista, erguendo-se em cristas brancas e lançava-se alternadamente saltando apressada uma sobre as outras.
         A impressão que se tinha do Marataoan era de que ele sentia a proximidade do inverno e assustado corria para alguma parte, a fim de fugir daquelas águas que caiam em grossos pingos de chuva.
         Via-se o Marataoan com uma lembrança vã e quente dos áureos tempos em que corria majestoso com águas caudalosas e não havia tanta agressão do povo ao seu leito com o desprezo dos dejetos e lixos domésticos.
         O céu cinzento, pesado e soturno despencava gotículas de chuva que ao longe uma velha canoa de um pescador tornava-se invisível no meio do rio. A pobre canoa remotamente transportava pessoas de um lado para o outro e reinava majestosa sob as águas prateadas.
          Sumia sob a intensa chuva. Viam-se as ondas de o Marataoan assaltar e beijar, lambendo suas bordas que balançava com o vento frio e lastimoso do temporal. O céu com suas lágrimas intermináveis desenhavam o cenário deserto e sombrio deixando a impressão de que tudo estava morrendo.
         O pescador caminhava com seu engancho nas costas para perto da margem e encostava-se na parede de cimento a beira do rio sentindo o vento frio e úmido do início de noite. Ele voltava com uma tarrafa nas mãos. Margeando a beira do rio, o homem tarrafeava macilentamente.
        Seus dentes trinados em honra ao frio e a fome, quando de repente a alegria nos olhos e o medo se dissipavam gradualmente. O pescador sentia algo estrebuchar dentro da tarrafa de malha miúda.
         Sacudindo as mãos querendo aquecê-las do frio e corrigindo a malha da tarrafa que teimava em enrolar-se ao mato, o pescador penteou os cabelos negros molhados e encolheu-se um pouco mais para proteger-se da água que escorria dos céus barrenses.
         Depois de esperar um pouco e olhar para o rio, ele aproximou-se e ficou perto da margem, parado e em pé apreciando o balançar da canoa. Anoitecia, condensavam-se ainda mais a chuva sobre os céus de Barras e de lá os dois observavam as ondas de o rio figurar-se em uma treva gélida e úmida.
         As minúsculas ondas do Marataoan batiam contra as pedras das lavadeiras parecendo esbravejar-se com um som abafado pela chuva que tamborilava com estrépito e freqüência crescente dos pingos fortes e duradouros.
        Naquela ocasião os ânimos estavam mais amáveis. A chuva tornava-se menos forte e o Marataoan imponente rugia com um assobio prolongado, zombeteiro como alguém majestoso e que nada temesse, vaiando os dois ali sozinhos naquela hora.
         Os assobios mórbidos causavam no coração do homem uma dolência e a escuridão uma impressão irônica que o destino sorria com uma expressão misteriosa ao acender da luz nos portes elétricos com velas em campo santo.

        

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012


semana do conto sem desconto:

METACONTO

          O sono não vinha e fui para próximo do computador, talvez assim o sono viesse logo. Pensei, repensei, liguei, esperei. Quem nunca quis ter um conto contado, recontado e lido. Um conto para tornar-se imortal nas páginas de um livro ou numa página da web ou até mesmo na Tribuna de Barras. Na frente da tela escrevi, reescrevi e li e reli um tanto desfeito, um tanto insatisfeito ainda. Precisava de um tema, uma direção. Veio a mente a saudade da terra dos intelectuais.
          Lembrava de Barras e a saudade apontou tão noturna, tão viva que aguçou mais ainda a insônia. Aqui um tanto lânguido à noite debateu-me em vãos delírios sombreando uma nostalgia. Lembrei dos antigos heróis gregos que buscavam glória ao guerrear. A glória e a imortalidade da estória que buscava estariam no conto que iriam digitar nas páginas do world.
         Levantei e rumei até o computador e pus-me a digitar palavras, vocábulos que dormentes teimavam em não querer despertar. E mesmo nós, nesse cotidiano atolado de obrigações e afazeres que nos tomam e sufocam as idéias, gostaríamos de nos ver como personagens de uma história.
       A saudade da terra natal é a matéria prima do protagonista dessa estória numa noite teresinense. Posso não ser um bom contista, outrora um escritor da fantasia na realidade, pode até não parecer um conto, mas abandono o gênero e passo a me dedicar à estória, uma espécie de algo alheio a característica de um conto. Um metaconto.
       A cada parágrafo digitado via embalar estremecendo. Eram sonhos, contudo. A minha vida se esgotava em ilusões. E quando a mente não diviniza com o pensar ardente, paramos para refletir um instante.
       Os meus dedos descansavam e roçavam a cocar a cabeça com medo ardente nos olhos. Não queria perder o fio da estória. O sono de amor á terra natal turvava os olhos, me ateava o sangue, enlanguescia a fronte. Um pensamento despertou o encanto do sonho que teimava em evaporar.
       Abri a janela e vi nuvens nácar de aventura pela solidão dos céus da capital. Rolavam apressadas e tremendo à solidão da vida naquele momento. E sem pensar na vida e sem ter sentido nunca atração pelo sono, eu pensava que  nunca é completamente certo, o modo de como devemos começar um conto, a maneira de como a estória vai soar, o jeito de como as palavras são escritas.
       Digitava, deletava, pois nunca é completamente certo. Meus olhos turvos se fechavam pela noite lenta no semblante lânguido do céu de sombras. A saudade da terra natal era seminua, abatida, e aumentava com a visão que tentava romper o sono. A nuvem no alto sentava-se junto a mim, as pálpebras sentiam o vento fresco e leve como a vida passava tão delicioso. 
       Que delírio, acordava acordado e palpitante procurando por algo não perdido. Um parágrafo atrás de outro, acumulados na memória, talvez fosse um desperdício de idéia ou de tempo. Chamava embalando as lágrimas que banhavam os olhos, e suspirava gemendo implorando a imaginação. Sem o cantar do grilo, tudo era silêncio.
         Só o tempo deserto, a sala muda, o computador ligado, os sonhos esvaecendo-se. Aqui velava sonhando a noite bela, as longas horas que olvidei libando no conto. O cessar da insônia e os pensamentos que apareciam tímidos não é completamente certo. O conto estava quase concebido, gestado, pronto a nascer.
        É difícil que tudo seja certo, não sabia disso. Das páginas lascivas do conto, o desvario juvenil, a significante saudade da minha terra natal na página dorida do asilo ditoso de uma mente errante que se devaneia no mundo e que levanta sob a odalisca causticante dos raios a beijar o travesseiro.
        Distanciei-me do computador. Era manhã, já era tarde, não era noite. Nada mudou. Estava trancado no lugar que não era o lugar que desejava. A lâmpada fluorescente se espreguiçava e parece pedir para dormir. Parecia um velador noturno, nas vigílias da noite sobre as idéias, sob a preparação do conto, sob o computador ligado sob a mesa.
         Pensativo, lendo e relendo os parágrafos desse conto, desse drama obscuro, numa noite de spleen na capital. O conto heroico da saudade na rima insônia digitada por dedos sonolentos. Alguma coisa, eu sei que ficou. Alguma coisa será eternizada, alguma coisa restava contar.  Desci o mouse pela tela e desliguei. Faltava para você o meu boa noite.


quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012


PELOS OLHOS DA MINHA RUA, AS BRUMAS PLÁCIDAS
         A bela cidade de Barras despedia-se assustada e majestosa do verão ao sentir que cairia os primeiros pingos da água da chuva no entardecer. A cidade dos poetas e intelectuais recolhia-se bem inclinada, rente e vagarosa, feito as ondas do rio Marataoan que corria numa correnteza muito tímida e macilenta.
        Com o vento da chuva soprando do nascente e os pingos d’água condensando cada vez mais, o Marataoan agigantava-se de uma margem a outra, com uma onda forte que quebravam com moderada violência contra as pedras das lavadoras de roupas na pequena força de sua correnteza. O fenômeno traduzia a veemência do poderoso rio das matas que em marolinhas mais onduladas se espalhavam em cristais de água numa ânsia comunicativa do rio a sentir a proximidade da chuva. 
         A correnteza do rio lançava uma onda mais forte num generoso suicídio contra as pedras das lavadoras de roupas e, as gotas espalhavam-se, depois do poético e rimado sacrifício, elas lambiam a areia da ilha do amor que sentia a sensação de estar viva. O Marataoan com ondas encrespadas balançava e roncava ondulante batendo contra as pedras das lavadoras de roupas no ritmo intermitente das águas. Os pescadores e mulheres que lavavam roupas na beira rio pareciam serem acelerados pelos ventos alísios do início do inverno.
         Apressavam-se para guardar e apanhar as roupas estendidas e protegerem-se da chuva. O vento enfunava a canoa do pescador que sangrava o Marataoan rumo a Porto do fio no fim de tarde já com o céu nublado. O pobre pescador fingia resistir às irresistíveis correntezas das ondas do rio. Ele fazia um sacrifício tremendo que exalava cada vez mais um suor nas mangas das camisas, o que parecia um esforço solene para não parar de remar.
         O pescador preocupado com o vento e o volume das águas se enchia com determinação e leveza sobre a superfície espelhada das águas translúcidas do Marataoan. Barras sob o invólucro do fim do espetáculo do crepúsculo exaltavam-se da glória episcopal da linda imagem produzida pelas águas plácidas do rio.
         A terra dos governadores enchia-se de orgulho e dava alegria a seus moradores que ficavam inertes na beira do rio para assistir a transição do verão para o inverno. Atrás das lavadoras de roupas agigantava-se a imensa sombra cinzenta e o vento entrecortado varria as folhas secas e desfolhava os pés de carnaúba e de vez enquanto levantava sacolas plásticas e papéis pela rua da tripa no redemoinho dos ventos. 
         O céu nublado no nascente antecedia a despedida das últimas réstias de luz do sol que atravessavam as nuvens carregadas no céu do lado da Boa Vista para as Pedrinhas. Nuvens tão lentas e pesadas conduzindo para o fim do verão e mergulhava Barras nas brumas do inverno.  As narinas dos moradores que passavam pelo balão da Zuleide absorviam com prazer o odor da umidade dos primeiros pingos da chuva caindo no asfalto da avenida São José e exalado na poeira da ruas de paralelepípedos, a Valter Miranda.
             Com o firmamento sendo dilacerada pelos relâmpagos, Barras contorcia-se toda, ora vasta sob a luz forte e irradiante do sol com seus trinta e nove graus, ora se contraía, quando mergulhada no escurecido nascente e apavorava-se sobre o manto cinzento das nuvens que pairavam carregadas no céu.
         As luzes convidativas das lâmpadas na noite apareciam timidamente atrás de uma massa compacta da chuva inclemente que apagava todas as distâncias desfalecidas de pavor, de frio e de uma imprecisa sensação de medo para os moradores ribeirinhos do bairro Prainha ou um fio de esperança para os agricultores da zona rural do município com suas plantações. O nascente azulado combinava com a impressionante capacidade de ouvir os trovões e um sussurro delicado noutros momentos com apenas um reboar timidamente imperativo bracejando do lado do Curujal.
         Quase sempre o silêncio da tarde era enfurecido com os estrondos que se mostrava encapelado, lançando sons furibundos e fuzil ante no nascente azulado. Quem saia do balão da Zuleide rumo ao Mercado Velho podia-se ver os camelôs correndo quase sem fôlego rente a outras pessoas, sempre olhando pela imensidão azulada da rua Valter Miranda para a enorme massa cinzenta suspensa nos céus para o lado do Curujal.
         Com a noite chuvosa, a ventania sacudia os cabelos esvoaçantes e  arremessava os fios sob a testa dos homens e mulheres que trabalhavam na pedra do Mercado Velho. Com medo do vento uivando sob seus ouvidos, eles colocavam as mãos no rosto para não ser arremessado grãos de areia dentro dos olhos. 
           A sombra deles sob a luz incandescente dos portes desenhava-se torta, estranha e a cada  passagem pela luz traduzia-se sem forma e indefinida.  No nascente azulado por entre o prédio do Mercado Velho e o prédio do Fórum, os trovões explodiam seguidos de relâmpagos, como que perseguindo os moradores, talvez, querendo transmitir alguma mensagem muito importante pelos olhos de minha rua, as brumas plácidas do inverno. 

terça-feira, 7 de fevereiro de 2012


melhores contos barrenses

terça com conto sem desconto

Joaquim Neto Ferreira apresenta: 

O VULTO DE BRANCO

Sábado à noite. O vento frio e entrecortado varria os telhados do mercado público durante a noite. Dentro do mercado público, a carne dependurada no gancho do açougue pinga gotículas de sangue na cerâmica branca espargindo-se em desenhos incomuns e estranhos, abstratos. O ar naquela noite tinha cheiro de morte.
Um vulto percorria com passos emudecidos por debaixo das sombras das carnaúbas, evitando a luz opaca das lâmpadas incandescentes dos portes. Para o lado da rua Walter Miranda, cães ganindo com gritos de horror feito gritos humanos. Carnalmente o vulto de branco sorrateiramente vagueava no ponto a ponto entre a luz e a escuridão.
Ela gritava, chorava, ensandecia-se. Gritava-o sem consciência e sem propósito nenhum, sem nexo. Gritava-o sem medo do que o medo de ser flagrada nas imensidões da noite fosse revelado a alguém, a família. O vulto branco causando ânsia de vômito e é um pavor corporado, um pavor frio como a cor névoa do vestido que usa, um pavor de todo dela.
Ela rodeava o quarteirão do mercado público insistentemente. Vinha à tona o pensamento intelectual de que o vulto arriscava-se na noite gélida com maestria. A curiosidade humana reflete o animal que não teme a morte, o animal explicado no porque vive, no que nos mata e pode nos matar.
O homem dentro do mercado público também a desconhecia, a base sólida da família o protegia, os conceitos, a moral, a igreja. O vulto vagueando a procura de um orifício, de um lugar a fim de esconder-se, a fim de perpetrar-se na escuridão, a fim de ocultar-se do mundo, da realidade.
O homem sonolento parecia temê-la, por lhe desconhecer a inteira extensão do mistério que a envolvia por inteiro. Ele com o rádio ligado na Difusora de Barras ouvia o programa Avenida da Saudade e parecia medir o infinito da escuridão ao poema narrado pelo locutor.
Barras um poema vivo gestado na mente do boêmio apaixonado, do barrense sonhador. O objetivo do vulto transcendia a razão e o sentimento criado a partir de um sentimento para si, o horror do desconhecido, do mistério. O vulto branco vagueando de um lado ao outro, apenas uma aparência, impensável, sensível do exterior ou da imaginação do homem. Pensou com ele.
Uns têm — o sofrer — o eterno duvidar das coisas:
- Há Deus ou não há Deus? Há alma ou não há alma?
Ele não duvidava, simplesmente ignorava as faculdades intelectuais do sobrenatural, as entidades místicas. O homem com horror sentido na pele, na íris engrandecida dos olhos reluzindo um castanho claro duvidava na grande, ignorava sem nome entre a fantasia e a realidade.
Talvez, o medo de fantasma, não o remédio mais apraz; o horror de um morto, um falecido isso sim. Um morto para ele parecia ser, pelo que é aos vivos, um fantasma na noite gélida e um incomodo inevitável.
O homem erguia a lanterna com o facho de luz para a escuridão. Caminhava macilentamente pela calçada e encarava o horror, o desconhecido, o mistério de frente. O facho de luz da lanterna falhava, apagava-se, ofuscavam-se, ele batia na lanterna querendo retornar a luz, foi quando a sombra desesperadamente moveu-se rapidamente na escuridão sombria.
Ela recolhia-se com o horror que se espera quando o horror do mistério tão intenso arrasta-nos rente a inevitabilidade que o mistério tem, o oculto. A sombra na escuridão desesperava-se com o horror completo e negro da aproximação do homem. Isso parecia qual um resgate.
Rajadas de vento na noite açoitavam os cabelos das carnaúbas provocando um som temível e assustador.
- Ah, não me ofenda!
O horror do pensamento diante do desconhecido. Ninguém como o homem tem tanto horror. Nem poderia nas veias e na alma de um humano, o sangue ser tão íntimo a parecerem figuras de um sonho. O vulto branco não conhecia. Olhou o relógio no pulso trêmulo. Marcava três e meia da madrugada.
- É um sonho. Só pode ser um sonho.
O sonho ás vezes são figuras da realidade. Porque o mundo da fantasia onírica não só é ilusória, como é fantasmagórica e até real. O homem esfregava os olhos na escuridão. Com as pernas cambaleando aproximava-se do vulto encolhido por trás da carnaúba. Os passos do homem arrastando-se nos paralelepípedos da rua eram passos ensaiados, ordem unida.
Ele novamente esfregou os olhos que  mesmo que estivessem dentro de um sonho, não seria um sonho, seria a realidade sonhada, a realidade dos sonhadores.
A lâmpada incandescente no porte piscou três vezes. Morcego em vôos rasantes na escuridão não poderia apagar a tortura que ele sentia. Não poderia despegar-se do olho no ser misterioso. Não poderia esquecer o que era aquilo. Só uma coisa o apavorava. O ser inerte.
- É agora que verei a morte frente!
A frente dele estava o inevitavelmente. Encolhia-se na sombra da carnaúba.
- Ah, seja quem for, poder dizer o que quer! Não pode fugir.
O homem não podia esquecer o que viu. Na hora em que ele a viu o espantou foi assustador.
- O que viu?
- O que dizer!
A vida é má e mais má ainda é a morte. Mas quisera ele viver eternamente sem saber nunca o que a morte traz, que hora chega, que hora vais. O tempo cessava. Parado ele ficou no momento. O homem nunca se aproximou de tal horror. O pensamento envolvido, fechado dentro de si.
O vulto de branco tragado pelo crack, pela pedra branca, movia-se para um mundo inexplorado, o mundo sem volta, o mundo perdido, o mundo reservado aos mortos, aos mortos vivos.
 - O que está fazendo com sua vida?
- Eu só quero viver, moço! Me ajude!
- Esse é primeiro passo, pedir ajuda antes que seja tarde!

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012


AMOR DE ADOLESCENTE

Na irradiação dos arrepios de um beijo,
Somos átomos celulares a procura,
Do prazer no epicentro da loucura,
Das sensações indecifráveis do desejo,
São momentos nêutrons de apaixonados,
Pensamentos cátions da alquimia,
De almas que se encontram e se irradia,
No embrião conetivos profanado.
Desse amor loucamente imortalizado,
Somos protozoários e nos faz doente,
Escravos serviçais inconseqüente,
Na maldade do desejo ocultado,
Somos seres pelo coração hipnotizado,
No sonífero vil amor de adolescente.

domingo, 5 de fevereiro de 2012


DIÁSPORA DO SONHO

Nos superlativos do amor,
Do advérbio da paixão,

Sou adjetivação da dor,
Na conjunção do coração,

Sou o verbo em retirada,
No êxodo do pensamento,

Na diáspora amargurada,
Do ferido sentimento,

Sou o devaneio desfalecido,
No longo sono envaidecendo,

De um pesadelo sofrendo,
Na angustia vou convencido,

Da emoção que não desabrochou,
Do sonho não conhecido.