CAPÍTULO 01
O sol com as últimas réstias de luz reinavam com supremacia nos ares da terra de marataoan. O astro rei se recolhia depois de deixar a platéia entediada e estarrecida com o dia ensolarado despedindo-se no entardecer.
- Ei vaca, vaca, vaca... Aboiava Raimundinho do João Tomaz.
O vaqueiro passava quase todo o dia na procura de água e pasto para o gado do senhor Florindo. O curral enxameando das reses que rodeavam formigando a ração vendida fiado pelo coronel Regilberto. Senhor Florindo na ansiedade de chegar bem depressa às chuvas e pagar pela ração comprado do dono da fazenda Paquetá e assim salvar as crias.
Dentro daquele enlevo, o vaqueiro Raimundinho do João Tomaz cuidava pouco a pouco no fim de tarde no encerramento do serviço do gado. Em pé do lado de dentro do balcão da quitanda, com um bule na mão, ouvindo as prosas dos fregueses, apesar dos berros de dona Mara Rúbia com a menina Ísis, senhor Florindo saboreava o café com goles lentos e o nariz sorvendo a fumaça enegrecida da lamparina:
- Nós só queremos um pedaçinho de terra, criatura! Dizia a caboclada.
Ele então se virava espantado, aturdido, ainda com um meio riso descobrindo a dentadura encardida e amarelada do fumo saci sempre mascado pelo quitandeiro:
- Isso, eu entendo.
- E essa falta de chuva!
- É seca, muita seca, seu Florindo!
Os dias do final de dezembro para inicio de janeiro a chuva não veio e assim o ano de 1982 seguia-se com as cenas descritas, o gado morto, o pasto seco com muito chão rachado e riachos secos. Desenhava-se o cenário triste da seca no interior de Barras.
Os interioranos no íntimo prenhes de insolência chegando alguns a praguejar contra Deus, outros se apiedando por misericórdia dele. Quanto às noites muito frias que ardiam no ventre desgosto do orvalho na pele nua durante as manhãs nevoentas do mês de outubro.
Quando durante o dia, o mato todo seco arremessava-se aos focos de queimadas sentindo o lamber do fogo, como um monstro asqueroso nas tardes olorosas de calor e queima das roças. Alongando-se a visão até o mais longínquo infinito no espaço azul dos céus e esquadrinhá-lo que não se via uma nuvem cinzenta sequer carregada para regar as lágrimas do barrense sonhador. Muito dessas pessoas do interior de Barras destinava-se a morar na zona urbana com as promessas de melhorias. Pessoas que se obrigavam a conservar-se em casa convivendo com a seca duradoura ou partir para cidade deixando para trás o lar, as criações e tudo o que os faziam felizes naquele torrão natal.