sábado, 31 de março de 2012


GALÁPAGOS- POESIAS DE DEGREDO

FILOSOFIA POÉTICA

A morada da filosofia poética é o opúsculo,
Na página descrita na cabana da solidão,
E a pequenina casa brilha ao crepúsculo,

Irradiada pelos raios do sol na escuridão,
A morada da filosofia poética é o pequeno jardim,
Regado nos provérbios da fonte de vida extraídos,

Pelo desfolhamento de flores, das rosas e do jasmim,
Pelo odor que exalam no tempo tão descontraído,
A morada da filosofia poética é o caminho da poesia,

Na contaminação da imagem do espetáculo lindo,
No vaso despojado do silêncio na vã filosofia,
Na colheita mística do jardineiro que seguindo,

Colhe os frutos na circunstância da sabedoria,
Lançado no olhar inexorável conduzindo.

sexta-feira, 30 de março de 2012


Galápagos- poesias de degredo

IGNORANTE LITERATO

A lógica do ignorante literato é ler o erudito,
É ver o que o coração não sente de insulto,
E desprezar as asas do pensar no maldito,
Medo de si mesmo no universo que julga oculto,

A lógica do ignorante é o julgamento convencional,
Que é mais acessível desprezar a importância,
Na insensibilidade das razões tão irracional,
No abandono do caminho no medo da ignorância,

Desvendar o mistério dos múltiplos no instante,
É voar na imaginação metafórica inacessível,
Desorientado a vagar na estrada do viandante,

A lógica do ignorante literato é desejar insensível,
E desprezar o acerto da intenção do errante,
Na busca pelo receituário poético atingível.

quinta-feira, 29 de março de 2012



 AS BARRENSES

CONTO V: 

A SOLTEIRONA DO SÃO CRISTÓVÃO


Isaura saiu da sala de costura da casa de sua mãe, dona Dorotéia e pediu um momento de privacidade na sua vida, após escutar por dez minutos, a mãe falar-lhe que ela devia casar. A mulher entrou e deitou na cama. Furiosa, Isaura dispensou toda aquela conversa armada e esperou que ela entrasse no quarto.
— Por que você não se casa logo minha filha?
— Isso é para se pensar mais tarde na vida, mãe.
No momento, Isaura precisava avaliar se poderia deixar de acompanhá-la nas missas da capela de são Cristóvão aos domingos pela manhã e dedicar-se exclusivamente a um marido. Ela sabia que não podia deixar de sair da casa da mãe, onde tinha tudo o que queria.
— Porque a senhora tem tanta pressa?
— Sabia que Juarez é um belíssimo rapaz! E ele é neto do fale­cido Pedro Tamanca lá do Exú.
O sorriso maravilhado de Isaura desapareceu. Juarez era um moço que já estava alto na idade, ele tinha a fama no bairro são Cristóvão de galanteador. Juarez sabia a arte da sedução com as mulheres, só que nunca arrastou asa para Isaura que também estava no auge dos quarenta anos.
— O Juarez? Mãe! — repetiu, chocada. — Quer dizer que a senhora faz vista boa e bom caso para aquele mulherengo!
— Sim! É um ótimo rapaz — Dona Dorotéia afirmou, sentin­do a felicidade dominá-la. — Aliás, se tiver sorte, eu o trarei aqui um dia para apresentá-lo.
— Não faça isso pelo amor de Deus.
— Estou enganada, ou você desapontou-se com ele.
Ela se recolheu toda na cama, depois que a mãe falou sobre o moço.
— Dizem aqui no São Cristovão que ele voltou de São Paulo com muito dinheiro. Estava em São Paulo? Sabia?
— Ouvi dizer!
—Oh, Isaura minha filha, há tantas homens aqui e lamento que você não  se interesse por ninguém.
Isaura ficou pálida.
— Já andam falando de você pelas bandas do Exú?
— De mim? Quem ousaria denegrir a imagem de uma moça tão ingênua!
Dona Dorotéia gemeu e fechou os olhos.
— Sinto muito, querida! Não faço idéia... Todos aqui do bairro.
— E como poderiam? 
— Devia procurar sua amiga Elisa agora, antes que seja tarde.
— Ela sabe quem anda falando?
— Mais ou menos — respondeu ela, insegura. — Por isso, tenho de confessar o meu interesse em seu casamento abertamente.
Isaura fechou a porta do quarto. Ela pegou uma bicicleta e partiu rumo à casa de Elisa. Não queria perder um minuto e tirar a limpo aquela estória. O povo do bairro contava que depois que ela passou a trabalhar na prefeitura, Isaura estaria de chamego com outra mulher e com isso pretendia nunca aceitar um pedido de casa­mento.
               Vinte minutos depois, suja e exaurida de piçarra chegava à casa de Elisa no Exú. A obtida conversa demorou intermi­náveis horas. Ela viu passando pela porta da casa de Elisa, o referido homem que sua mãe queria que ela casasse. Juarez queixava-se  dos documentos perdidos quando veio da localidade Luis de Sousa para o São Cristovão. Isaura quando o viu passando pedalando numa bicicleta e conversando com outro homem, pensou:
...E pensar que  mamãe quer que eu case com ele...
Juarez pedalava a bicicleta todo orgulhoso, mas com ar de insatisfação pelo acontecido.
— Tenho Certeza que foi depois da ponte do riacho Santo Antonio. Ele dizia.
Juarez também lhe contava que quando sentiu a ausência da bolsa, ele já tinha passado da vila são João. Portanto, ele devia mesmo ter perdido antes de lá. Em seguida, Juarez advertia de que o pior pro­blema seria retirar as segundas vias. Lembrando-se de como sofreu quando foi retirar a identidade na Prefeitura de Barras, quase não chegava a tempo da viagem a São Paulo.
Ele  achava um tamanho exagero a Prefeitura demorar um mês para entregar os documentos. Mas, felizmente assim que Isaura voltava da casa da amiga Elisa, havia achado algo no meio da estrada de piçarra, um objeto numa posição meio enlevado na areia que lhe permitiria parar para ver o que era. Uma carteira com mil reais no chão da estrada.
Olhou para ver de quem era... Ela ti­nha razão. Seria prudente devolver ao legitimo dono. Logo, ela preferiu esperar até que Juarez pudesse voltar lá do centro, pois tinha ido até ao balcão da solidariedade da FM Marathaoan, deixar um aviso de quem encontrasse a bolsa que devolvesse pelo menos os documentos. 
Já havia anoitecido na terra de marataoan, quando Juarez passou pela ponte do Pesqueiro, pediu uma dose de catuaba e em seguida montou na bicicleta e dirigiu-se ao Exú, quando Isaura o interpelou já na entrada do bairro. Ela jogou-se praticamente na frente da bicicleta, Isaura cansada demais de esperar Juarez voltar falou-lhe rapidamente.
— Juarez, tenho algo para você!
— O quê? Aposto que quer me convidar para ir a missa no domingo! Ele disse.
Ela olhou para Juarez e disse:
— Toma aí, imundo tua carteira, eita bafo de cachaça, Juarez.
— Onde achou? Nossa, estou aliviado por ver minha bolsa ilesa. Sei que não podia mais contar com o dinheiro e nem os documentos. 
Isaura fitou o semblante ansioso do homem. O respeito por ele crescia cada vez mais. De repente, recordou a estória que o povo contava pelo bairro.
 — Como faço para te agradecer, Isaura?
— Não é nada! Deixa para lá. Respondeu
           Quando voltou para casa ainda pensativa com as estórias sobre sua vida, Isaura sorriu e pensou que em parte, a mãe dela tinha razão. Juarez tinha um rosto alegre e veio perguntar-lhe se, após às oito horas poderia convidá-la  para uma festa na casa dele e se ela gostaria de sair a noite.
           O pai dele senhor Romeu do Pedro Tamanca havia de fazer na residência, uma recepção para o filho e os ami­gos. Isaura aceitou o convite de Juarez e riu quando passou pelo quebra molas perto da Escola Municipal Tancredo Neves.
— E aí, você vai a festinha?
— Não. Ela disse a ele, pode ser. Ainda vou pensar.
De súbito,  Isaura visualizou bem o rosto de Juarez. Ele expusera um rosto com olhar tão desolador, um olhar sedutor, olhar de soslaio.
— Tem certeza de que devo ir?
— Sim, claro! Será um prazer.
Isaura podia se esconder atrás de uma desculpa de ficar em casa com a mãe, porém, preferiu expressar suas reais intenções honestamente. Ela imaginou:
...Sei que só podemos ser amigos.
No en­tanto, preocupava-se com a reação dos outros no bairro. Não queria que a mãe se  constrangesse com os comentários das pessoas durante a missa na capela de São Cristovão.
Juarez segurou as mãos de Isaura.
— Você é uma mulher muito linda?
— Evidente que sim.
— Então, não duvide das minhas intenções com você. Possuo um grande poder de sedução, e o tenho usado a meu favor.
— Ela riu, mentira.
— Há semanas que arregalo olhares para você. Todos aqui no Exú sabem que estou louco para namorar você. Aliás, receio que você se sinta lisonjeada até demais com essa declaração.
De tão preocupado com expectativa de não ma­goar-se com Isaura que ele levou alguns minutos para assimilar o que lhe dizia.
— Está me pedindo para namorar comigo?
— Claro. Estou a sua disposição.
Surpresa e comovida, Isaura não sabia o que dizer. Estava vergonhosamente com o rosto todo vermelho.
— Devagar com o andor, Juarez! O santo é de barro! Ela disse.
Pensativo, Juarez fingiu entender.
Isaura riu.
— Até mais tarde na sua casa!
— Ok.
Juarez seria um ótimo partido para Isaura casar. Talvez, dali surgisse um amor profundo e mútuo. Quando chegou em casa, ela bateu à porta. A mulher não tinha dúvida de que um novo amor calaria a boca do povo no bairro. Tão logo a mãe retirou-se para dormir, Isaura arrumou-se para a festa na casa de Juarez no Exú.
Algumas horas depois, Juarez encontrava-se ao pé do batente da casa dela, com uma bicicleta moutain bike, esperando ela descer. Quando a mulher apareceu na porta, ele viu Isaura sus­pirar. Estava num vestido negro, que realçava-lhe os olhos castanhos mel, a solteirona do São Cristovão no auge dos quarenta anos estava magnífica. Com a dignidade de uma deusa, ela caminhava pausadamente e montou rapidamente na garupa da bicicleta.
— Parece mais jovem e linda a cada vez que a vejo?
— Ora, Juarez vou acusá-lo de flertar comigo. Aliás, acho que está exa­gerando.
— Deus sabe que é verdade — Juarez replicou. — Para mim, é uma beleza que encanta toda a sociedade barrense.
— Bobagem — ela retrucou, batendo no ombro dele com as mãos.
Isaura pensou já ter ouvido tudo de Juarez, porém  suspirou que não se imaginava como esposa, mas somente como uma dama adorável do bairro e saiu feliz na busca de não mais ser taxada de solteirona, ou melhor, coroa.

GALÁPAGOS - POESIAS DE DEGREDO

HINO DO POETA


O hino do poeta é na página escrita um verso,
De um livro arrogante na virtude emocional,
Na inquietação da caneta no ambiente perverso,
Do frio da atmosfera das letras em estado mental.

O hino do poeta é o sagrado do escrito no ofício,
Dos vocábulos sem vida no papel em concepção,
Na corrida pelo resultado da rima sem vício,
Sem pleonasmo na poesia alegre em gestação.

O hino do poeta é o fenômeno no ato da leitura,
Que o leitor nutre a ação técnica feito pelo homem,
Usada nos artefatos das estrofes de amargura.

Que semeia no seio a necrose que consome,
As dores complacentes no ciclo da doçura,
Do hino que existe na melodia sem nome.

quarta-feira, 28 de março de 2012


galápagos- poesias de degredo

PAIXÃO

A dedicação da paixão é pertinente a exigência,
Pelo secreto coração que condiciona a emoção,
E vocacional perde-se na escolha da inocência,
Originária na decisão de amantes na razão,

A paixão é fidelidade sintetizada nas faculdades,
Do epicentro genial do sentimento em exercício,
Figurada na doação completa do amor na verdade,
Caracterizada pelo paradoxo do amar em benefício,

A paixão confessa insanamente o sentido no momento,
As relações vitais que se interrompem na criação,
De uma metáfora que vagueia no ócio do sofrimento,

De amantes que renascem na própria interrupção ,
Das autênticas pedras no caminho do pensamento,
Que ambicionam a sensibilidade nas raízes da desilusão.

terça-feira, 27 de março de 2012

galápagos - poesias de degredo


POEMA LIVRE


O poema traz a rebeldia consagrada pela inquietação,
E grita nos versos inconformados e submetidos à tirania,
Do domínio do terror gramatical da regra na ambição,
Do aforismo formulado e dramático da sintonia,


As estrofes poéticas na métrica são a inexatidão,
Que assegura a orgia da liberdade cantada,
Por um turbilhão de uma colméia na fascinação,
E insubmissa embriaga os dejetos libertada,


O poema discute a necessidade da tecnologia,
Na semântica metodológica atômica sem risco,
E lapida os versos dramáticos na simetria,


Do domínio literário do pensamento moderno,
Perdendo o controle no império do neologismo,
Dos vocábulos livres que orbitam tão eterno.

sexta-feira, 23 de março de 2012

Galápagos- poesias de degredo


CIDADE ACORDADA


A cidade acorda no toque das alvoradas,
Apreensiva na realidade adormecida,
Eclodi entre as ruas movimentadas,
E nos prédios e casas seduzidas,


Passos no vai e vem do êxito social,
Que suspiro insensato o progresso,
No sacrilégio da riqueza pessoal,
Na busca desenfreada pelo sucesso,


A cidade radica seu verde nas fumaças,
E a melodia dos ônibus é o caos,
Levando e trazendo dentro suas raças,


Exalando o monóxido de carbono que é mal,
Deixa o ar meramente poluído de graça,
Pelos escapamentos em estado terminal

quarta-feira, 21 de março de 2012


AS BARRENSES

IV CONTO

A SANTINHA DO CENTRO DE BARRAS

Durante semanas Mirela imaginava mesmo estar grá­vida, só que aquela gravidez não poderia ser sabida pela mãe, e nem tão pouco pelo noivo, o jogador de futebol amador do time do Atlético Barrense, Cardosinho. Ela queria muito ter um filho dele, mas a possibilidade de ocultar a criança que estava esperando para o homem fazia-se presente na mente. Era um jogo vencido.
Talvez, nem em confissão ao sacerdote da igreja de nossa Senhora da Conceição ela dizia, imagine para o homem que não seria o pai da criança, o jogador Cardosinho, mas para o verdadeiro pai, o vendedor Ricardo Paçoquinha, ela fazia questão de dizer. O homem ideal para ser marido dela segundo a família tradicional do centro de Barras seria o moço Ricardo Paçoquinha que fo­ra um amigo leal durante os estudos de ensino médio na Unidade Escolar Gervásio Costa.
Ele, um rapaz honesto, vendedor numa loja de sapatos da rua Gervásio Pires e, com modéstia que expressava o desejo de ganhar sua afeição e como ganhou, ganhou e ganhou várias vezes até nos banhos dos domingos na beira rio ou até mesmo no Flutuante. Um sujeito conhecido lá da rua da Tripa, moço calmo, seguro e respeitável, com uma lábia que mulher nenhuma do centro de Barras não caísse ao debater-se com ele.
Já Cardosinho, um sujeito metido a rico lá da rua Fileto Pires Ferreira, um companheiro que iria ajudá-la a criar um legado que não era seu e de tão abobalhado que recebia o título de todos de um ma­rido gentil. Um sujeito bom de ser enrolado com as coisas e que seria carinhoso com o filho que a futura mulher trazia no ventre, só não sabia que de outro.
Ele era um homem que também lhe proporcionava paixão, mas não tão tóxica quan­to à que experimentara com... outra pessoa, com o Ricardo Paçoquinha. De repente, de frente a igreja de Nossa Senhora da Conceição ocorreu-lhe que a dúvida de quem ela deveria contar sobre a gravidez ao sacerdote da igreja bateu-lhe na mente novamente como um dilema, uma doença mal curada.
Não precisaria da ajuda do padre naquela ocasião, nem tão pouco de confissão. Tampouco tinha somente de esperar passivamente para que o homem com o passar do tempo acreditasse na estória. Mirela só podia mesmo ocultar aos maliciosos do centro da Terra dos Governadores, principalmente aqueles que passavam o dia todo na praça senador Joaquim Pires esperando por notícias, fofocas ou mesmo o disse me disse das esquinas. O tema sobre Política, o preferido, seguido do futebol barrense, com a decepção do prefeito não apoiar o time profisisonal, mas o que rendiam ibope na discussão era saber quem iria ganhar as eleições de 2012, uns já até sabiam.
--- Tem um tal de capote, mas é fraquinho, ou tá fraco, tá fraco...
--- Esse prefeito que tá aí, eu acho que não ganha mais. Diziam alguns.
Já outros na roda de debates políticos digladiavam-se com outros comentários.
--- É mais esse prefeito aí, é que nem o Elias França, está investindo mesmo é em Educação. Argumentava outros.
Claro que esses atentos comentaristas não deixaria transparecer nos semblantes, nos lábios trêmulos dada tamanha e delicada manha de saber constituir a vida da pobre dama do centro de Barras, a jovem Mirela, pois ela teria de privar-se de caminhar por perto deles, durante o curso de noivos na igreja.
Assim que chegou à igreja pela praça da matriz, a jovem veria se nas cinzas de seu coração, era capaz de reconstruir o novo relacionamento com o noivo Cardosinho. Talvez, a distância ou mesmo intrigar-se com o amigo e ex-namorado Ricardo Paçoquinha, rapaz de respeito mútuo e de paciência pudesse ajudar parar com os falatórios na cidade de Barras. Ela não queria vê-lo nunca mais depois do casamento com Cardosinho.
Dez minutos depois na praça da matriz da terra dos poetas chegava de moto Ricardo Paçoquinha, ele sentou-se na última fileira do banco da igreja e confortavelmente falou nos seus ouvidos, tentando entusiasmar-se com o fim daquela loucura que aconteceria naquele fim de mês de março de 2012. O furor social da festa de casamento no centro de Barras seria na Associação Recreativa Barrense, se esta não estivesse em ruínas. Logo, a família dela arranjou outro local perto da rua Taumaturgo de Azevedo.
Desde o início na cidade de Barras havia aumentado bastante os falatórios sobre a moça e o engraçado, pensou Ricardo Paçoquinha, ver que sua condição de ex-namorado haveria de desaparecer por causa do casamento dias à frente. Aquilo não podia acontecer e sem mais chamar atenção, ele tentaria carregar a jovem Mirela para a beira do rio marataoan e arquitetar que Cardosinho lhes encontrasse em situações comprometedoras.
E tal disparate que movido pela ­paixão passara os últimas minutos desvencilhando-se da futura mãe do seu filho, cuja honra não mais estava intacta. Embora tivesse pena de Cardosinho, sua simpatia terminou antes que o homem consumisse o casamento com sua paixão dos tempos de colégio. O contraste entre o tímido jovem e a dependência do seu amor por Mirela era evidente.
Mirela passava a imagem para todos do centro como uma moça de casa para a igreja, uma santinha como muitos diziam nas esquinas de Barras, ela um tanto misteriosa que todas as noites de missa e a cada manhã de oração, as pessoas até frustravam-se se não encontrassem-na no canto do último banco da igreja do centro. Devido à firmeza de sua devoção, al­mejava rezar para a alma de ela ser absorvida dos fogos do inferno, quando partisse ao são José no bairro pequizeiro depois de sua morte. Se ao menos pudesse banir as dúvidas que lhe afligiam e que a as­sombravam.
A imagem de uma jovem sofrendo sozinha, uma mulher com o corpo já quase de mãe e o rosto de menina, e na mente o eterno dilema de confessar, quem era o pai da criança que carregava no ventre representava, tornava-se seu maior pesadelo. Mirela já havia traído a confiança de Cardosinho outras vezes pelo período de carnaval em Barras, quando se apoderou de um abadá do bloco Dinamite, lembrando-se da expressão desolada de Ricardo Paçoquinha que não comprou abadá e saiu na pipoca e no fim do percurso fugiram os dois para um local ermo.
Ricardo Paçoquinha tinha a garantia do amor da moça e de que ela faria outra vez, podia ser que ela fosse ao seu encontro na beira do rio marataoan. Afinal, era idêntico ao dia em que ficou olhando-a atrás do trio elétrico na avenida. Desesperada, Mirela agarrou com força o terço que trazia nas mãos. Precisava decidir logo, antes que envergonhasse sua família ou perdesse o futuro esposo Cardosinho.
— O que faço minha nossa Senhora da Conceição?
Assustou-se ao escutar a voz de Ricardo Paçoquinha falando baixinho atrás do banco de madeira dentro da igreja.
— ei, Mirela, Mirelaaa. Dizia ele
Ela olhou, segurando o terço nas mãos.
— Enquanto debulhava as pedras do rosário e murmurava com os lábios trêmulos pedaços de reza emudecidos.
 Ela olhou de soslaio para Ricardo e disse.
— Que diabo tu quer aqui! Tu não sabe que não podemos nos falar.
— É algo que sempre quis lhe dizer, mas esqueci. Ele respondeu.
Curioso, Mirela aproximou-se dele.
— O médico marcou minha cirurgia e depois disse que poderei ter filho.
— O quê? Repete o que tu disse?
— Eu disse que o problema de Varicocele vai ser resolvido e poderei ter filhos.
Mirela não sabia ao certo se queria aceitar aquilo que o ex-namorado dizia, mas poderia ser mesmo verdade, afinal foram cinco anos de namoro e com Cardosinho foi somente três meses, logo aparecera grávida.
            — Tenho que terminar minhas rezas. Tchau! Até mais.
         Ela o olhou e Ricardo Paçoquinha saiu. A jovem Mirela levantou e fitou de longe, vendo quando ele montou na moto. Agora, ela estava quase certa de que o filho era mesmo de Cardosinho, seu noivo. Mas, quando pegou a lembrar do homem do qual sabia tão pouco, ela hesitou. Vol­tou a sentar-se no banco da igreja e começou a rezar novamente, desta vez para agradecer a nossa senhora que lhe clareou a mente e retirou um grande fardo que levaria por toda a vida nos ombros.
Desde então, durante o curso de noivos Mirela expressava o amor como uma forma de agradar o abismo moral que a separava do grande amor da juventude. E quando os pais dela ameaçaram ter­minar o romance casando-a com o pretendente mais aceitável, Cardosinho ela encontrou o que tanto procurava na vida. Coragem.
Para iniciar uma nova vida, onde ninguém condenaria a união entre ela e Ricardo Paçoquinha, Mirela ainda segurando o boquê de flores, permaneceu imó­vel no altar, enquanto assimilava as reais implicações daqui­lo que iria suceder-se. Uma loucura de grandes proporções, assim como o Barras Futebol club ficar fora do campeonato piauiense. Cuidadosa, ela dobrou os joelhos no chão, pediu perdão a Deus e retirou- se para fora da igreja, correu para os braços de quem ela verdadeiramente amara, pois com Ricardo Paçoquinha não precisava mais temer o futuro e sabia que mesmo o filho não sendo dele, ele jamais abandonaria.



ALESKA GUNNER APRESENTA:

S Grupo De Teatro




Peça Teatral: Isso acontece nas melhores famílias

Personagens:
Bettina: Aleska
Bruno: Marcio
Sofia: Karlie
Marcelo: Josimar
Lucas: Kléber
Karina: Andy
Victória: Jhoy






                                                                                             Autoria: Aleska Gunner

1ª cena à apartamento da família Albuquerque

(Bettina chega a casa e é abordada pelos pais)
MARCELO à onde você estava? Com quem? Fazendo o que? E isso é hora de chegar?
SOFIA à vê se pode, já são 7:00 da manhã!
BETTINA à ah eu tava dando um rolé de carro com os meus amigos, me divertindo e eu chego em casa na hora que eu quiser.
MARCELO à é melhor vc nos respeitar garota, vc só tem 17 anos.
SOFIA à aposto que ela estava racha com aqueles irresponsáveis amigos dela; dúvido que a Karina faça isso.
BETTINA à pois num duvide não, o racha era entre eu e a Karina, e quem ganhou?
ha ha ha eu é claro. Agora vou chegar ali, vou tomar um banho.
(Bettina sai)
SOFIA à Marcelo você tem que dar um jeito na Bettina.
MARCELO à se ela continuar assim, eu mando ela pra um colégio interno.
SOFIA à eu vou conversar com a Bettina; agora eu estou preocupada mesmo é com o Lucas, ele anda se metendo com gente pior que esses apostadores de racha.
(Lucas chega a casa)
LUCAS à e aê família!!!
SOFIA à (abraça o filho) Lucas meu filho onde vc estava? Faz 2 dias que você não aparece!
LUCAS à esquenta não dona Sofia, eu tava na casa do Bruno.
MARCELO à o Bruno é outro irresponsável; não sei o que a Bettina viu nele.
LUCAS à aê mãe a Bettina já chegou? Eu tenho que avisar pra ela que a rave vai ser mesmo na mansão dos Montenegro.
SOFIA à meu filho você e o Bruno vão fazer outra rave mesmo sabendo que isso é proibido aqui no Brasil?
MARCELO à parece que você se esqueceu que a policia quase prendeu vc e o Bruno por causa de drogas, e vc também quase foi preso porque estava com ele.
LUCAS à é pai só que dessa vez eu conversei com ele. Agora eu vou descançar um pouco porque à noite tem rave...

2ª cena à Rave na mansão dos Montenegro

(Todos estão reunidos dançando, de repente Bruno chega e tenta beijar Bettina)
BRUNO à Bettina Albuquerque, a razão dessa rave está sendo a melhor.
BETTINA à qual é Bruno ‘’cê’’ já tava usando droga?!
BRUNO à e o que é que tu tem haver Bettina?
BETTINA à tu num fala assim comigo não; tá pra nascer homem que vai me tratar desse jeito!
(Bettina sai caminhando em direção aos amigos e Bruno a segura pelo braço)
BRUNO à é melhor tu me respeitar que eu sou teu namorado!!!
BETTINA à qual é Bruno me solta.
LUCAS à pô Bruno solta a Bettina.
(Bruno aponta uma arma na cabeça de Bettina)
BRUNO à te afasta Lucas se não tua irmã morre.
VICTÓRIA à Karina liga pra dona Sofia.
KARINA à tá Victória perae. Alô? Dona Sofia? É melhor a senhora chegar aqui na rave porque o Bruno tá apontando uma arma pra Bettina.
(Lucas aponta uma arma pra Bruno)
LUCAS à solta ela Bruno.
BRUNO à quero ver se tu tem coragem de arriscar a vida da tua irmãnzinha.
BETTINA à Lucas baixa essa arma!
(os Albuquerque chegam)
MARCELO à Lucas não atira, joga essa arma no chão.
(Sofia vai correndo em direção da filha)
SOFIA à Bettina minha filha . . .
BETTINA à não mãe fica ai . . .
(Bruno atira em Sofia que morre nos braços de Marcelo, e solta Bettina que vai chorar pela morte da mãe junto com os outros)
MARCELO à nãoooooooo
LUCAS à já era meu irmão!
BRUNO à foi mal Lucas, foi sem querer brother, me perdoa!!!
LUCAS à acabou . . .
(Karina tenta segurar Lucas)
KARINA à Lucas não faz isso.
(Lucas atira em Bruno e vai pra perto do corpo de Sofia)
VICTÓRIA à sinto muito Bettina.
(Bettina levanta-se e vai pra perto do corpo de Bruno)
BETTINA à Bruno seu desgraçado!!!
(pega a arma e dá mais um tiro em Bruno e depois volta pra perto da mãe)
--- mãeeeeeeeeee


Fim