sábado, 24 de novembro de 2012



ROMANCE TERRA DE MARATAOAN


CAPÍTULO 09

Quando amanheceu Maria da Conceição riu, olhando para dependurado na parede, o quadro de nossa senhora da Conceição com o menino Jesus nos braços. Chegava de bicicleta na estrada, a prima Maria com as cabaças para encher de água no poço da casa do quitandeiro Flor.

- Mas, Conceição, eu tenho tanta pena da barraquinha de café! Como é que tu vai viver nas Barras?

A voz dolente da prima Maria novamente se erguia de consolações. A mulher levantou-se cedo para acordar o menino tampinha que acordou meio com preguiça.

- É madrugada ainda mãe.

- Quem cedo madruga, Deus ajuda!

Passarinhos desafinados, no mandacaru espinhento do terreiro, cantavam uma canção alegre e repetitiva. A barra do dia foi avermelhando-se no céu. As galinhas começavam a comer uns poucos grãos de milho guardados dentro de um litro de óleo dureino.

A mulher enfiou o corpo numa saia e uma blusa do vereador Rui Rosas e foi cuidar do café. O menino tampinha deitado na rede, sentado, com as mãos pendentes, descansando os pulsos nos joelhos, o pensamento vagando numa confusa visão de boa ventura e fortuna.

- Te levanta tampa ruim! Aproveita e vai lá no poço do senhor Flor com a Maria para encher as cabaças d’água.

Pouco a pouco, porém, com a luz do dia que entrava pelas frestas da janela, foi-se o menino sonolento, ainda, esfregando os olhos, espreguiçando-se em bocejos rasgados. O dia com a máscara sórdida das trapaças da noite anunciava-se com a face torcida e de esquisito aspecto com nevoeiros crispado e feroz circunspecto por todos os lados. 

Oculto por detrás do semblante que faz a mente reter, a magnífica beleza que embriaga a alma, os raios do sol jorrando luzes no romper da aurora submetiam-se na tumultuosa luta do defloramento das névoas. Quando passou pela porteira do curral, gritou ao Raimundinho do João Tomaz:

- Cadê meu litro de leite Raimundinho!

O vaqueiro respondeu:

- Ah, sim, Tampinha traz a vasilha...

O dia começava frio, o nevoeiro quase se dissipando. Raimundinho do João Tomaz abriu a porteira e tangeu as reses, que saíram devagarzinho. O homem montado na garupa do cavalo manga larga, o famoso Raio do Norte, saia a galope baixo levantando poeira dos cascos do animal atalhando o gado e levando-os para o riacho. O vaqueiro batia no lombo do animal com o chicote que na teimosia se encolhia todo. Segurando o cabresto, e, voltando-se para o menino com olhar de soslaio, já quase perto do poço:

-Deixei o litro separado em cima da porteira!

Na casa de Tampinha, a chaleira em cima do fogareiro fervia a água para coar o café. O cheiro do cuscuz feito de milho ganhava os ares. O leite doado pelo vaqueiro Raimundinho do João Tomaz levantava na vasilha e derramava pelas beiradas. Maria da Conceição com a trouxa de roupa na cabeça se dirigia a quitanda do senhor Flor para entregá-las goma das.

Na entrada da quitanda de batente alto com três degraus salientes, o cheiro de fumo e cuspida das pingas de cachaça pelo chão batido exalava um cheiro esquisito, um cheiro envelhecido. As bicicletas apoiadas nas cercas outras encostadas na sombra do grande pé de juazeiro com folhas secas, nos fundos do cercado de arame defronte a solta da quitanda com uma foice afiada dos cabras bom de serviço, Zé Lustosa ia pouco a pouco mutilando os pés secos de milhos para levar para forrageira e moer para dar ao gado.

Gritando do outro lado do variante vinha tocando as poucas cabeças de gado, o vaqueiro Raimundinho do João Tomaz. Cavalgando em cima do Raio do Norte, cavalo afamado das vaquejadas da região do santo Antonio, lá em Nossa Senhora dos Remédios, tinha conquistado o último campeonato de vaquejada do Peixe, como conheciam o lugar.

Ele tangia as poucas reses magras, com grandes ossos pontiagudos furando o couro das ancas. Algumas até paravam para comer o capim perto do campo dos meninos jogarem bola e comia debaixo da trave velha do goleiro Bernardo, o pouco oásis de capim espalhado no chão.

Maria da Conceição entrava na casa do quitandeiro. Acertava o dinheiro do gomado com dona Mara Rúbia e falava para a patroa que era rara e alarmante, em janeiro, ainda o senhor Flor lutar com o pouco gado. Raimundinho do João Tomaz apeava na porta do curral. Contava ele ao patrão de longe no cercado sobre mais uma rês que morrera perto do cemitério da entrada da Boca da Mata e a cada dia iria morrer mais se continuasse daquele jeito.

O pasto seco, também a água do riacho da entrada da Boca da Mata secando e cada vez mais fina, no barranco amarelado do barro com uma camada esverdeada não servia mais para o gado. Fechando a última estaca da porteira do curral, Raimundinho gritava ao menino Tampinha que quebrava uns cocos babaçus perto do poço, a fim de comer o gongo para ele tanger a vaca que entrava na outra solta.

- Eh! Tampinha, olha a vaca malhada! Tange ela pra cá!

O menino corria com o cavalo feito de carnaúba e olhava para o animal que se encurralava na cerca de arame que dava para a casa da farinhada.

- Eh vaca. Eh vaca! Vaca veia!

- Largua essa vaca menino! Deixa de caçar a tentação!tu já encheu as cabaças? Dizia a mãe do menino lá da cancela da cozinha.


quarta-feira, 21 de novembro de 2012

ROMANCE TERRA DE MARATAOAN

SUCESSO DA LITERATURA BARRENSE

CAPÍTULO 08

Quando fixou residência na beira da estrada, a primeira ideia de Maria da Conceição foi colocar uma banca de vender café para os viajantes que costumavam esperar o ônibus da Princesa do Sul vindo do Peixe e de Porto dos Marruás. Depois de se benzer segurando nas mãos, o rosário de nossa senhora da Conceição que comprou quando foi para os festejos em Barras, a mulher concluiu:

-Nossa senhora da Conceição é deu superar tudo isso. Amém.

Maria da Conceição, que fazia um penteado no cabelo da menina Esperança sentado na rede de tucum, interpelou-a:

- Quando vai chover Meu Deus? Já chegou o mês de janeiro, mês das chuvas... Nem dar para apanhar água na cacimba da entrada do Barreiro do Otávio.

O menino Tampinha amarrava a porta de esteira com embiras. Ele levantou e arregalou os olhos para o nascente com a vermelhidão do sol nos céus:

- Tenho fé que ainda chove!

Depois a mulher se dispôs a esticar umas roupas com o ferro de brasa quente, engomando umas peças de roupas da família do quitandeiro, o senhor Flor. Ela ordenava a menina Esperança para recolher as xícaras e o menino Tampinha para abanar o fogo e espiar se as brasas não iam apagar. O bule, sob o pequeno girau feito de talo de babaçu e outros trens secavam com as últimas réstias do sol morno.

- O café não tem leite e nem mistura. Falava os meninos.

- Mas tem farinha de puba. Dizia a mulher quando terminava o gomado da roupa. Ela levantou-se e pôs-se a passar mais café, calada, abstraída, imaginando não ter uma mistura na janta dos meninos. A menina Esperança ainda falou alguma coisa antes de comer, mas bebeu cada gole de café com o punhado de farinha de puba na vasilha de manteiga e foi se deitar no quarto.

-A bênção, mãe!

E Maria da Conceição, abastecendo de querosene a lamparina pendia o braço abençoando. Encaminhou-se para a cozinha amassar a goma do bolo e quebrar ovos para de manhã, vender na banca. Colocou a lamparina sobre o fogareiro, bem junto da panela com o pregado do arroz de meio dia. Encheu a panela para o resto de o pregado soltar e deixou de molho.

- Mês que entra vou ás Barras!

Ela pensava em comprar metros de fazenda de pano para fazer um vestido para a Esperança, a primeira comunhão da menina.

- Falta vender mais cinco quilos de coco para inteirar o dinheiro.

Depois de algum tempo foi à janela olhar se a Princesa do sul vinha na estrada. Seis e meia, o menino tampinha foi arrumar a banca de café a fim de guardar a garrafa de café com os copos. As palhas da casa balançavam com o sopro do vento frio do começo da noite que lhe arrepiava os braços. No decorrer da noite, ele deitou-se vestido, assim que a mãe terminou de fazer o bolo. Deitada na rede de tucum, Conceição levantou-se, foi novamente a janela olhar se o ônibus já vinha. E voltou a deitar, e ligando o rádio ABC para escutar ás notícias da voz do Brasil.

Mas, pouco a pouco, cansada da luta diária e deitada na rede de tucum, ela ficou a imaginar a vida. Deitada, vendo à luz vermelha da lamparina, que ia enegrecendo o alto do teto da casa com a fumaça preta do óleo diesel. A noite calma, enquanto ouvia vindo um pessoal das bandas do Lameirão, a mulher ouviu do quarto os gritos seguidos de gemidos altos; correu até a porta, achou um homem todo ensanguentado que chegava na garupa da bicicleta. O homem tinha sido furado de faca numa briga. Maria da Conceição queria saber da confusão, e correu à porta da casa mandando o homem sentar no tamborete para esperar o expresso da Princesa do Sul que vinha de Porto dos Marruás.

- Quero saber de uma coisa? Perguntou ela.

- Que é?

- Como aconteceu essa desgraça?

- O Zé Lopes furou o irmão por causa dos porcos que entraram na roça dele.

Neste momento compadecendo-se do homem, Conceição falou.

- Coitado! É sério?

- É sério.

- Que horas vem a Princesa do Sul?

- Já está quase passando.

- É a última, há das sete horas.

- Sim.

- Não, não precisa se preocupar, ele não vai morrer.

Depois que se preparam e embarcam no expresso. A missão, o hospital Leônidas Melo em Barras. Entrando na cidade, pareceu-lhes uma iluminação. Estavam mudados na física dos rostos e moralmente. As vinhetas decadentes dos gemidos do homem esfaqueado iam-se passando. As pálidas necroses dos portes faziam um enorme desafio de romper a escuridão das ruas. Retorcendo-se numa pose inusitada na poltrona do ônibus o pobre moribundo sentia os encantos da terra de marataoan ao gosto dos barrenses.

Era com certeza a dor e o remorso de terem se precipitado na confusão como forma de resolução dos problemas de terra. As lágrimas e as consolações vieram ao fim da viagem do mocambo a Barras.

- Aguenta firme rapaz!

- Estamos nas Barras.

- Chegamos nas Barras?

- Sim, na entrada da Boa Vista. Começo da rua.

Passando pelo DER. Balão do Sindicato. A rua grande.

-Vamos descer antes da agência dos ônibus da Leônidas Melo. Os dois homens estremeceram; mas o esfaqueado nada viu.

- Tu têm que da parte, dizia um dos homens.

- Será que o delegado chama ele na grande?

- Com certeza, com o peito de aço não tem conversa.

No dia seguinte, eles partiram de volta para o interior, não sem algumas advertências do delegado, o tenente
Ribamar, conhecido nas Barras como o Peito de Aço para que ficassem longe de brigas. Também eles não quiseram confrontá-lo falando em tal assunto com o boletim de ocorrência no bolso e o oficio para entregar ao acusado. O delegado Ribamar peito de aço fumava o cigarro de palha perto da janela gradeada da cadeia pública.

O leito de insônia e possessão que atazanava a vida do delegado centrava-se no infame e atado dos jogos de baralho. O quadro do mercado público recepcionava os jogadores com o baralho nas mãos que cheiravam à carniça no jogo da noite feita um parasita de destruição das famílias. Nos botecos para o lado do Fórum da Justiça com à garrafa debaixo do braço uns bebedores de cachaça suplicavam ao gládio veloz dos palpites sem nexos aos jogadores.

Onze horas, ele olhava a viatura estacionada na rua. Estava para começar a ronda. O soldado Sousa também fumava depressa não se esquecendo das horas. O céu cheio de estrelas que brilhando suspensa no alto demonstrava que as chuvas não viriam. Uma multidão de pessoas tumultuosas na praça da matriz com as estripulias do Chico Trem, o homem muito conhecido alvoroçava confusão no meio do povo. Ele tinha uma vontade obscura e incerta de ascender, de voar até a torre da igreja de nossa senhora da Conceição e abraçá-la no alto.

A guarnição da polícia tinha o desejo de se introduzir a grandes passos no camburão e atravessar as trevas da noite, na ronda e assegurar a harmonia e o sossego da comunidade. Depois que o ônibus da Princesa do Sul passava ás sete da noite, Maria da Conceição deitava-se comprimida numa rede sol a sol queria resolveu pender a perna contra a parede de taipa para balançar e não parava de imaginar a cena do homem ensanguentado que a pouco estivera ali. Lentamente olhava o teto de palha e a lamparina com o facho de luz aceso que exibia uma dança lenta e querendo se apagar. O teto escuro junto com a fumaça da lamparina em cima da mesa sumia quando o vento apagava a luz.

Deus não seria tão punitivo assim com a natureza humana: produzindo a seca, pensava a mulher. Já longe dali vindo da quitanda do seu Flor, vinha cambaleando sem sustentar as pernas um bêbado que foi recostando- se pela parede dianteira da casa. Para não tombar de vez o homem enganchou-se e na escuridão sem saída resolveu como um velho moribundo dormir ali. O sono da noite não foi o sono dos justos, podia se crer. O que irritava Maria da Conceição era a preocupação constante em que ela andava depois do acontecimento. Já não podia fugir inteiramente a preocupação. Parece que aquela mulher lia na alma e sabia apresentar-se no momento mais próprio a ocupar a imaginação com os problemas do outros.

Á noite exibiam a origem dos sonhos, uns pesadelos fecundos. Conceição sonhava com os filhos e via os em
encargos de trabalhos onerosos. Ela sabia que lugar de menino era na escola, qual uma loba fértil em anônimas ternuras acordava do sonho terrível. O menino menor acordava chorando para aleitar-se do universo de suas tetas duras do leite materno. A mulher nutria o menino robusto e esbelto no qual ela gabava-se dos traços de beleza que consagrava o filho. Netinho sentia a pele macia e tez que o convidava às mordidas e despertava a mãe sonolenta na madrugada fria cujo nevoeiro não se dissipava para ganhar os babaçuais do barreiro do Otávio. Quando terminava de se empenhar no mamar do menino, Conceição concebia na grandeza rara que ardiam outrora com o trabalho no amanhecer.

Tampinha deitado no palco da nudez inocente com os olhos ar remelados via a luz sem brio de a lamparina apagar-se e sentia o tenebroso calafrio das cinco horas da manhã na pele nua. Maria Luzia sentindo o tédio cruel da língua, logo pendia os dentes no subir e descer do jogo de se exercitar. A cada dia a língua da mulher sangrava para saber e criar novos assuntos. Os olhos cinzentos cuja luz recordava os lampejos rútilos da arrogância a salutar o monstro cego e surdo do disse me disse da vida dos outros. 

Ela apanhando água no poço, com a língua dançando dentro da boca era um monstro a deplorar os próprios trajes do ser humano. Dizia para dona Mara Rúbia que os meninos de Conceição estavam feitos troncos cômicos, de tão magros figuravam-se em espantalhos. A velha alfinetava que o menino Tampinha de gordinho tinha o corpo magro, flácido e inflamado de verme.

- Que Deus tenha piedade daqueles meninos.

sábado, 17 de novembro de 2012


ROMANCE TERRA DE MARATAOAN


UM MARCO NA LITERATURA BARRENSE

CAPÍTULO 07

O povo se apinhava ás multidões na praça da matriz. O dinheiro corria nas barracas de confecções da rua Gervásio Pires que empatava o povo andar por ali dividindo o lugar com as mercadorias. As lembranças do menino tampinha lhe serviam de repasto, ele remoia no pensamento as misturas cinza dos bagaços que o tempo cruzou nos seus passos. 

No alto da igreja, os acólitos davam as derradeiras badaladas no sino. As crianças na praça da matriz perambulavam aos gritos no corre-corre das brincadeiras do trisca. Os mais velhos nos ritos eclesiásticos com as folhinhas dos cânticos nas mãos entoadas por lábios trêmulos feitos os leques abanados de lá dos bancos de madeira da igreja pelas beatas.

A novena com muita emoção e os coroinhas de joelhos embebiam-se chacoalhando a campainha e absorvendo a fumaça do incenso. O povo usurpando e rindo destinando os cândidos louvores a padroeira das Barras de Marataoan. Quando o relógio anunciava as vinte e duas horas às lâmpadas dos portes do centro piscavam três vezes até faltar por completo. 

O rugido do motor de óleo diesel sendo ligado perto da barraca do leilão acelerava espargindo fracos focos de luz quase opaca das lâmpadas incandescentes tornando-as baça e triste, a cara afilada das meninas e meninos que queriam se enamorar nos bancos da praça até mais tarde. Uma das vantagens que o prefeito Mundico Goma fizera em toda a administração municipal foi à interligação elétrica a rede de Campo Maior, mas o maior problema estava na constante falta de energia elétrica.

Maria da Conceição num recanto mal iluminado segurava no braço de Tampinha e ele segurando o da irmã menor, o menino meio gordinho, desses roliços, de cabelos crespos e no meio da cara o nariz redondo e os dedos apertando forte a jóia arrematada pela mãe no leilão.

- Vamos, Marcos, caminha menino! Deixa de lerdeza.

- É cedo ainda mãe! A Esperança nem tá com sono!

- Temos que ir logo, sua tia Marieta dorme cedo. Não calcula que já está tarde não. Dizia Conceição,

- E tu não tem medo da puliça não?

- Eu tenho sim! Dizia a menina Esperança.

Ela puxava a mão do menino enquanto andavam apressados no rastro no rastro dentro do passo no passo. Tampinha se encolhia de medo.

- Você acha que eles prendem menino?

- Sim não está ouvindo, menino, é o camburão da puliça que tá passando.

- Fica velhaco no peito de aço não menino! Raiava Esperança para com o irmão.

Tampinha fazia uma cara de choro. E tomando o braço da mãe apressava o passo.

- Vamos indo, mãe. Parece até que daqui eu estou ouvindo os gritos dos meninos que a puliça prende no camburão...

- Eu não te disse, eu te disse! Falava Esperança.

Maria da Conceição ficou olhando pensativamente, afastando-se, graciosa, e feliz, segurando o braço do menino, levados ambos pela mesma passada, e movida por uma só vontade de chegar a casa na rua Gervásio Pires.

A seu lado, o menino disse qualquer coisa. Despertando a cisma, Maria da Conceição voltou-se:

- O que tu falou?

- Perguntei qual o motivo da igreja não ser de frente pra o rio, mãe, a lá de Porto dos Marruás é a mesma
padroeira daqui e é de frente pro rio Paraíba...

- Parnaíba, menino! É rio Parnaíba!

- Estou pensando que foi coisa do padre da época...

O menino calou-se e Maria da Conceição riu:

- Quem te disse isso?

O menino torceu o nariz com a mão, e levantou as sobrancelhas dos olhinhos graúdos.

- Oh! A professora leu no livro Morro da Casa Grande.

- Qual professora?

- Aquela mãe, a do grupo lá da entrada do Barro Preto...

Ela leu pra mim e pra os outros alunos... Maria da Conceição riu novamente:

- Eu nunca soube realmente porque foi.

Quando chegarão à casa, Tampinha ficou calado, afastou-se uns passos da mãe, conversando com Crispim que se aproximara e ainda estava acordado brincando com o fogo da vela e pingando a cera nas mãos. Maria da Conceição fitava-os lá da cozinha.

- Quem brinca com fogo mija na rede! Falou a mulher.

- Crispim é verdade que a puliça pega menino...

- Então, tu nunca viu, fica velhaco com o camburão do
peito de aço...

O menino interrompeu a conversa com gargalhadas:

- Ora deixe de ser matuto, tu é mesmo do interior!...

Essa história de puliça prender menino é conversa fiada,
é pra te fazer medo.

- Tu tem certeza... Acho que é mesmo.

O dedo gordo do menino Tampinha coçava os olhos de sono. Ele correu até uma bacia de água lavou os pés, tomou a benção a mãe e deitou na rede. Estranhou a rede nova que a tia lhe trouxe e armou na sala.

- Eu gosto é da minha redinha ensebada.

O primo Crispim antes de deitar foi á cozinha.

- Olhe, tia Conceição o Marquinhos já se deitou. Ele tá reclamando porque a rede é nova.

A mulher deu uns passos em direção a rede do menino e encolheu os ombros.

- Tá tarde Crispim, deixe pra brincar de amanhã!

Lembrando da conversa que teve com o primo, tampinha lembrou que os mais velhos dizem cada besteira.

sexta-feira, 16 de novembro de 2012


ROMANCE TERRA DE MARATAOAN
SUCESSOS DE LEITURAS


CAPÍTULO 06

Conceição retornando depois do meio dia do babaçual trazia na cangalha do jumento Salomão, dois jacás cheios de cocos para quebrar e o machado nas pequenas mãos do menino tampinha. O jumento já bastante velho parecia arrastar-se macilentamente pelo caminho de areia desenhado pelos rastros dos pneus das bicicletas. 

Os jacás pêndulos balançavam de um lado para o outro. A mobília da casa de Maria da Conceição já sem brilho. E em tudo o que ela via a cada instante havia um gosto de ranço e de néctar amargado pelo estado de extrema pobreza. Às nuvens espalhando-se no céu e os ventos desafiando a via-sacra dos cabelos das carnaúbas entre os matos na brisa que percorria em festa o entardecer do dia sobre as palhas das casinhas de taipa com o espírito grandioso do astro rei vagueando na romaria do tempo.

O coração de Conceição chorava de tristeza ao ver as aves nos fundos da casa disputando o nada de alimento no meio do terreiro de areia e pedras. O cercado da casa da mulher com uns pés de milho já com a palha toda seca e espigas sem caroços, os pés de batata e feijão com folhas amareladas e secas morriam por falta de água.

Sentada na banca de café, Maria da Conceição olhava do batente as poucas galinhas no terreiro. De vez enquanto, ela levantava a mão de pilão com arroz para pisar e pedia ao menino Tampinha, o filho para ir à quitanda comprar fiado o óleo para as lamparinas.

- Mãe, o senhor Flor disse que a senhora ainda não pagou o óleo da semana que estão anotados no caderno.

- Pois diga a ele pra descontar do gomado!

- O Raimundinho me entregou essa carne que dona Mara mandou. Falava Tampinha.

O banco de angico na latada, a bancada que o povo sentava para esperar a Princesa do Sul vindo de Porto dos Marruás. O machado com a foice e uma enxada servia de mobília na casa da mulher. O velho rádio ABC, o único luxo e vaidade com a antena envolvida com buchas de Bombril e sintonizada no programa das cinco da tarde na rádio Difusora de Barras.

Com o nevoeiro das fumaças das caeiras da Maria Luzia na estrada dissipando-se e o galo no poleiro da casa de dona Mara Rúbia, o único seresteiro grátis que se esforçava na orquestra perfeita com o simples aboio do vaqueiro Raimundinho do João Tomaz tocando o gado para dentro do curral, Conceição preparava o jantar.

O rádio ligado na faixa da Difusora de Barras, ás seis e meia da noite e catando os grãos de feijão do quibane, enquanto olhava para o céu, ela ouvia uma música de Roberto Carlos, mas a música comum da região que fazia a alegria maior era o trovão estrondar no início de janeiro. O menino sentado perto do pilão via a mãe catar o feijão e aproveitava enquanto pisava o arroz no pilão, ele emendou uma lembrança de quando foi aos festejos de Barras no começo de dezembro.

- Mãe, a senhora lembra quando nós fomos para os festejos das Barras.

- Sim!

... Já chegara o mês dos festejos da padroeira nossa Senhora da Conceição... A chuva na terra de marataoan não vinha depois de um mês de novembro quente e seco. A bandinha de música Lira Barrense atacou os derradeiros compassos do dobrado após encerrar os leilões do festejo da padroeira no coreto da praça da matriz para o lado do auditório monsenhor Bozon guardar os instrumentos musicais.

Da barraca dos leilões saíam pessoas felizes com as jóias arrematadas nas mãos, levando para casa. Outras vendiam pipocas, sorvetes, sacos de seriguelas, cajás e também muitas circulavam apressadas entre as barracas.

- Fulano, aposta no numeral cinco... Se der um duque ganha em dobro.

- Vê se sacode este caipira direito!

A terra de marataoan, uma poesia quando se encerrava aos olhos nas noites ardentes dos festejos da padroeira. Na praça da matriz cheia de fieis e o respiro ao fundo do marataoan com fogosas correntezas de água refletindo o luar e as estrelas de uma noite de dezembro. Diante das águas turvas do marataoan na noite via-se o longo litoral radioso para o lado da Boa Vista no reflexo do luar sob
as águas plácidas.

As poucas casas na noite escura tingiam-se por luzes monótonas e dolentes dos portes com lâmpadas incandescentes parecendo velas acesas. A ilha dos amores inerte no meio do rio para o lado do porto do fio dava-se para contemplá-la com a lembrança meio preguiçosa trazida à mente nas reminiscências dos banhos saborosos dos fins de tarde.

O circo montado para o lado da fábrica velha de sabão na rua da Tripa com homens de corpos nus, esguios, vigorosos e suados amarrando as derradeiras cordas e os assustadores leões nas jaulas rugindo e o mau cheiro azedo de suas enormes jubas. Na praça da matriz lindas mulheres de cujo olhar saia faísca a frente de tão belas no caminhar todo faceiro que seduzia o mais romântico boêmio. 

Barras nessa época guiava-se pelos perfumes das paisagens belas da praça da matriz e o conjunto arquitetônico das casas em construções de estilo barroco. O porto do fio, com a beira rio lotada aos domingos nos banhos, um porto a ondular de mastros e de velas as navegantes fantasias do menino Tampinha. Já fazia tempo que não havia, em Barras, festejos tão animados como aquele do final de dezembro de 1981.

quinta-feira, 15 de novembro de 2012

ROMANCE TERRA DE MARATAOAN
O MAIOR ROMANCE BARRENSE DE TODOS OS TEMPOS


CAPÍTULO 05

Maria da Conceição ouviu toda a conversa sem dizer mais nenhuma palavra; mas a ideia de que talvez pudesse dar uma surra na irmã sorria-lhe ao espírito. No dia seguinte a conversa com Clotilde disse-lhe que, antes de partir, deixaria recomendado aos irmãos quem era ela. 

A mulher procurou ainda ver se alcançava seguir com a família para um lugar mais dentro do babaçual, mas optou por morar mesmo na beira da estrada. Era simples a cobiça de Clotilde na pouca ou nada de fortuna dos pais, ela desejava as terras, os animais, ou mesmo impulso de inveja contra a irmã. Era tudo isso, talvez, mas Clotilde escondia um segredo a sete chaves, amante do vaqueiro Raimundinho do João Tomaz que noivara com a Glória do Viveiro depois da moça ficar falada no Mocambo.

- Ele não pode se casar com aquela desavergonhada!

Dizia Clotilde enchendo as cabaças de água no poço do senhor Florindo e conversando com Maria Luzia.

- Pois é minha afilhada, homem também não presta! Alfinetava a velha.

- Bênção madrinha!

- Deus te abençoe! Dá lembrança sua mãe.

Zé Antonio principiou a andar; comovido e desolado; e até se sumir na curva da entrada do Barro Preto, de pé no calçado, dobrava as mangas largas da camisa. Tampinha gritando lamentosamente:

- Mamãe! Mamãe! O papai foi embora!

Clotilde comentou, entrando em casa depois de encher as cabaças de água. Ela tinha visto quando Zé Antonio pegou as malas e rumou para o Maranhão.

- Credo! Que desespero do meu sobrinho Tampinha!

Tampinha enxugou pela derradeira vez os olhos úmidos:

- Foi porque eu não o ajudei...

- Não menino, isso é coisa de adulto! Dizia Clotilde.

Dias depois, indo e vindo, na cozinha enfumaçada, Clotilde, furiosa lamentava pelo noivado de Raimudinho do João Tomaz.

- Essa sem-vergonha só quer é namorar! Vive de dente de fora pros homens e não liga pra nada!Por causa dessa peste roubaram o meu casamento!

Bartolomeu filho do Zé Lustosa, sentado no pilão, escutava pacientemente a tia lamentando-se enquanto preparava o almoço. Na última hora foi-se a derradeira esperança de Conceição do marido voltar para casa. O marido partiu sem ela e deixou os filhos. Abandonada, pobre, tendo por única perspectiva o trabalho diário nos babaçuais do Barreiro do Otávio, sem esperanças no futuro, e além do mais, humilhada e ferida em seu amor-próprio, Maria da Conceição tomou a triste solução dos que não são na vida covardes, e arregaçou as mangas para trabalhar no sustento dos filhos.

O galo anunciava ás cinco da manhã. O cheiro do café invadia a pequena casa de taipa e de longe se ouvia Raimundinho do João Tomaz aboiar o gado. Conceição com o machado e o cofo nas mãos colocava dentro do jacá e em seguida selava o cabresto do jumento amarrando bem forte a cangalha para não pender pros lados. Assim que preparou o jumento batizado de Salomão, ela caminhou até o quarto e abriu a porta feita de esteira a fim de acordar o filho Marcos.

- Está doente? Perguntava a mulher ao menino Tampinha.

- Não, respondeu ele.

- Mas por que tu não acordas?

- É bom dormir, mãe! Disse Tampinha.

Os dois saiam ainda no escuro catar cocos nos babaçuais. Maria Luzia uma moradora do lugar, um tanto, o tipo de mulher bisbilhoteira e leviana. Em lhe cheirando novidade ou fuxico preparava-se para instruir se de tudo. Para isso assumia o ar condigno com a situação. Sentava-se comodamente em uma rede de
tucum balançando-se e olhando quem passava na estrada; Maria Luzia ruminava todo o ódio que envenena os maus. 

E, por nada entender dos desígnios eternos, ela própria preparava a língua consagrada aos delitos dos falatórios. Caminhava com a dentadura dançando na boca e olhando a auréola do sol nascer, porém a mulher, um anjo vigilante inebriando-se nas casas dos vizinhos para deserdar a vida dos outros.

- A Conceição já levantou para apanhar os melhores cocos, não dormi mais não!

Maria Luzia falava de todos no lugar; daquelas pessoas que a nudez da miséria estampava a cara. Disse-lhe que naquela situação não via solução possível, e confessou ingenuamente que a ideia de denunciar ao coronel Regilberto pai do vereador Rui Rosas, dono da moradia que Conceição não pagava renda dos cocos pulsava por dentro do corpo.

- Não paga renda? Perguntou Romeu; Tu tá é doida com uma estória dessas.

- Doida! Respondeu Maria Luzia; entretanto não via a hora de ir à casa grande da fazenda do coronel Regilberto.

Romeu interrompeu a esposa e disse que a mulher só queria criar os filhos dela. Uma ideia súbita atravessava o espírito ruim da mulher: a ideia de que Romeu tivesse muito apreço por Maria da Conceição.

- Então tu a defendes, dizia Maria Luzia.

O homem não reparou na frase cortada da mulher, e disse:

- Vive lutando depois de ter sido abandonado pelo marido.

- Nesse caso o que tu queres? Perguntou Romeu, a quem pareceu que era bom atacar a megera de frente.

- Inútil conselho, pois que já tenho a idéia fixa Romeu.

- Talvez, mas vai te meter em confusão. Mulher, disse Romeu, deixa disso.

Quando Maria Luzia voltou da quitanda do senhor Florindo, a língua já vinha afiada e eriçada de fuxicos. A velha de tão ruim que nascera entanguida, tremia as mãos insistentemente, com as pernas duras e os olhos cinzentos vidrados, além de colocar a dentadura para dançar de um lado a outro dentro da boca:

- Estão dizendo na quitanda que a confusão de terra no Barreiro é das grandes!

Romeu levantou o corpo curvado, gesticulando com o dedo na boca e aguçando os ouvidos para o fuxico:

-O que tu ouviu mesmo na quitanda do Flor?

-Deixa de ser moco, estou dizendo que uns moradores lá do Barreiro querem moradia e estão desde manhã, junto da cerca lá da solta velha e só agora que a polícia das Barras deu as caras por lá.

O azul pavilhão do céu distendido na imensidão do mundo circundava-se com a esférica amplidão das nuvens. O drama dos trabalhadores rurais na luta por umas glebas da terra para morar e plantar o alimento. O embriago febril dos latifundiários nas essências confundidas nos interesses em mais torrão e chão.

Talvez do óleo de coco dos babaçuais por muito tempo seria a crina ondeante das riquezas descobertas no lugar. Os pobres homens queriam apenas cultivar o pão de cada dia naquela imensa terra. O INCRA com o desejo dos ouvidos cantantes dos poderosos a época
era apenas um oásis e sonho sobre o odre abundante do latifúndio dos coronéis. 

O pessoal olhando a abóbada diurna de o sol nascer sem a esperança de resolução do conflito da terra. Os cafés de tristeza dos trabalhadores só aumentavam nos ornamentos dos discursos sem solução do INCRA que os multiplicava irônicos com celestes léguas de conversas fantasiosas. De um lado a imensa terra e do outro as imensas pessoas separadas nas imensidões de léguas do universo inteiro de bordel das terras ociosas. Maria Luzia de cócoras batia a língua nos dentes:

- homem, tu sabes que agora que o compadre Flor mandou matar o garrote e nem trouxe pra nós um pedaço... Quando o sol tiver alto, tu esticas as pernas até lá para comprar um quilo da carne, não escolhe do lado do pescoço que não presta.

Depois de amolar o machado que há muito tempo cego, Romeu espiava de braços cruzados, vendo de longe, o curral do quitandeiro e Zé Lustosa com o machado nas mãos matar sem resistência o garrote gladiador.

-Ele devia ter te chamado pra matar o garrote! Mas tu nem se inteiriçou.

Zé Lustosa ajoelhado no chão gritou:

- Seu Flor, o gladiador deu adeus!

Depois do golpe certeiro, Zé Lustosa se afastou e chamou o dono do garrote afamado, que de longe no balcão da quitanda via a cena da morte do animal no curral. A pancada do machado no meio da testa do garrote e a faca amolada tirando o couro sob a esteira ensangüentada faziam Zé Lustosa suar. 

Ele mandava o encarregado, o vaqueiro Raimundinho do João Tomaz em estado melancólico pela morte do animal avexar-se e trazer a balança e pesar a carne, mas antes tinha que recolher na solta uns galhos, enquanto furava a carne à vontade.

- Raimundinho! Leva um pedacinho de carne pra Conceição dar pros meninos dela. Dizia pausadamente dona Mara Rúbia.

terça-feira, 13 de novembro de 2012

ROMANCE TERRA DE MARATAOAN - SUCESSOS DE LEITURAS.

O MELHOR ROMANCE BARRENSE DE TODOS OS TEMPOS


CAPÍTULO 04

A seca não só dizimou famílias inteiras no interior de Barras, como também arrastou o único companheiro da mulher para as bandas do Maranhão desfazendo-se o tão sonhado casamento.

... E viveram felizes para sempre...

Não é o fim do romance! Mas é por aqui que começarei. Se bem que lindos finais de estória só valem mesmo para os contos de fadas!

A alegria do casamento de Maria da Conceição teve efêmeros seis anos. O leitor deve compreender naturalmente que não comecei o romance pelo casamento da personagem, mas sim pelo período de 1982 com a cruel seca, mas agora discorrerei o fim do casamento da personagem, pois com a seca de 1982, a pobre senhora não resistiu à comoção do desmoronamento do mesmo.

Seis anos depois do casamento, o marido da mulher deixou-a inconsolável e rumou para o Maranhão sem dar notícias. A mulher vivendo na casa da mãe, depois da separação deixou a casa dos pais e levantou um teto para morar com os filhos. Um lar para Maria da Conceição foi levantada após a expulsão da casa dos pais. Só se construiu o lar, algum tempo depois, por esmola dos amigos do lugar.

A mulher, recolhida a uma casa de taipa na beira da estrada que dava para Porto dos Marruás, tornou-se juntamente com os três filhos pequenos, solitária e taciturna. Ela trabalhava nos babaçuais dia e noite para saciar a barriga dos meninos pequenos com um pouco da alimentação.

Já conhecemos uma das causas da tristeza, o abandono, a decepção que ela teve com o marido Zé Antonio, e a segunda a expulsão da casa dos pais. Começamos pelo abandono do marido. Um dia de manhã Maria da Conceição recebeu a seguinte carta após saber que o marido chegara do Maranhão:

...”Conceição, eu lamento dizer, mas não viverei contigo.

Cheguei do Maranhão hoje mesmo, e partirei pela tarde para longe. Preparo-me para nunca mais voltar. Creio que me não hás de receber mais como marido”...

- Deixa essa tristeza! Disse a prima Maria. Tem cá os teus meninos.

Maria da Conceição contou miudamente a prima o insucesso no casamento que a obrigavam a não preencher a condição de esposa. Em conseqüência desta recusa do marido, o casamento devia ficar com desfeito por parte de Zé Antonio.

A mulher contentava-se com o que tinha os dois filhos do homem e o menor fruto de um caso dela com um homem do local. Não se deu por vencida, e antes de aceitar o fim do casamento foi pesquisar o porquê do marido ter aquela decisão. Quando o sobrinho, o menino Bartolomeu entrou na casa de taipa da beira da estrada, a mulher suspeitou que alguma coisa houvesse a respeito dela. 

O menino Bartolomeu era perspicaz; de modo que, apesar da aparência de um anjo inocente com que o rosto lhe aparecera, um legitima fuxiqueirinho e compreendeu que ele devia contar o que ouviu na casa da avó. Assim, pois tudo estava acabado com os comentários feito pela tia dele, Clotilde ao tio Zé Antonio assim que chegou do Maranhão. O menino dispôs-se a partir para a recém casa da tia e contar tudo a Conceição, e assim declarou tudo que ouvira da tia Clotilde contando para a avó. 

Nas vésperas de partir já expulsa para a casa da beira da estrada achava-se Conceição junta dos filhos na sala da casa da mãe, quando a irmã Clotilde vinda da cozinha soltou estas palavras:

- Conceição, esta casa pra você já foi melhor; eu creio que outra lhe fará bem.

Esta irmã de Conceição não gostava dela, e creio que, apesar da idade, lá queria vê-la na ruína.

- Mulher, disse Conceição, é preciso pensar...

- Por que diz isso?

- Se pensar na confusão que tu fez para mamãe.

- Quem disse isso menina?

- Eu sei que foste tu que fizeste a carta ao Zé Antonio no Maranhão. Disse Conceição.

- Além de que, emendou Conceição, agora que tu que é a dona da casa dela, né.

- Sim, fui eu quem escreveu a carta. Disse Clotilde;

- O que tu falaste para ele?

- Tudo que todos aqui já sabem.

- Meu Deus! Então sou alguma pistoleira?

- Que me importa se tu não esperaste por ele e arranjou outro homem.

- Isso é bonito, Clotilde!

- Mas o que não seria se não fosse isto? Queria ver os meninos passando fome. Ele viajou e passou seis anos sem dar notícias. Eu não sabia se ele estava vivo ou morto, mulher.