segunda-feira, 30 de abril de 2012


Galápagos - poesias de degredo
imagem: Portal Gbarras.com

A RUA CHORA

Agora a rua chora, chora a rua agora,
chora minha ausência, mas da ausência chora eu,
outro dia em Teresina fiquei a chorar,
tão cúmplice e tão súplice de saudade,
a rua chora, mais chora eu pela rua,
Num grito que escorre das lágrimas.
nas lágrimas da Walter Miranda.
Da janela, a rua chora e chega
de mãos vazias para mim.
E de presente recebe minha visita,
Ela ri tecendo a presença.
na esperança vã de eu voltar a morar,
E chora tão insistente que me esqueço de sorrir.

domingo, 29 de abril de 2012


REFLEXÃO

UMA ACADEMIA DE LETRAS QUE POUCO PRODUZ LETRAS. 

Ser um poeta, ser um crítico é ser nada mais que um simples disciplinador de opinião. Ás vezes, a palavra escrita, o texto literário, o poema gestado e a prosa nascida é um manejo da arte literária dirigida às multidões. Hoje fazer parte de um sodalício é preciso antes de tudo ter o metal papel do verso na angústia indefinível da influência capitalista.

E o misticismo liberal adivinhado não é prometido, nem realizado pela vocação. O protesto aqui é que a cada um deles singulariza, no seu tempo a estagnação cultural. O vate satírico de fazer parte de uma Academia de Letras é além do mais ser o juiz literário da própria arte. É flagelante o jogo de interesse, cuja a síntese das forças sentimentais do povo é a luta do cativeiro político e a miséria cultural.

Quem produz cultura, produz arte e sofre diante das Academias de Letras estagnadas por um pessimismo discreto, curioso e atônito do fim dos homens de letras. É simples entender isso, primeiro as Academias de Letras passam por um período sem renovação e a sinfonia matutina da esperança estará quando as vagas a lhe destinadas forem para  homens livres, homens produtores de cultura e não para os que querem simplesmente  títulos de imortais.

É importante salientar que os homens das letras da contemporaneidade são de um perfil inconfundível sob o manto sagrado da política, do capitalismo, onde suas glórias são os papeis moedas desencantados. É o primeiro critério patinado para fazer parte do berço da nação literária.

Rodeia-me na mente ilustrar que as mesmas e velhas paredes amareladas da ALVAL é deveras cicatrizes que narram as vicissitudes do atual momento. São paredes emboloradas e coroadas de campanários que imobilizam o espaço na atitude esguias das guaridas, sobre as ladeiras úmidas e o mofo cinza que vigiavam os horizontes literários da Academia barrense.

O chão da ALVAL está calçado de ossos, a sensibilidade dos homens das letras é embebida de lendas, são almas cheias de sonhos, e o ar que se respira, debandam-se pela paisagem marataoã que emoldura o casario histórico. As produções literárias são apenas sopro das eras mortas, ressoa das antigas fotos que transporta o eco dos tempos findos de grandes literatos do passado.

A ALVAL é de uma saudade epopeia.  Cintila da cimalha dos escritos que são tradições de barrenses do pretérito. Homens que vozeiam no clamor das letras, os ruídos de um povo bom. Os homens de letras são enormes fantasmas das eras insignes que latejam as reminiscências dos dias grandes das letras barrenses. 
 
Academia barrense fala a memória das opulentas épocas que estremeceram a produção literária e que palpitam as influências literárias de um povo. Barras é a cidade primogênita das letras piauienses. Nosso tugúrio das letras é uma manjedoura que se banha dos precipícios e das arestas de um momento estagnado de produções literárias.

Nossa Literatura barrense que é de tumulto, de paixão não se encontra espessa. É de apenas origens tão recentes espiar os acontecimentos do presente das quinas da praça monsenhor Bozon.  A linha editorial da ALVAL é ébano no contexto vigente. É até mesmo caquética, de togas pretas e verdes de uma aristocracia, meio de lá, meio de cá, toda lustrosa da fortuna adocicada dos donos e árbitros das letras.

O desânimo da inteligência cultural barrense pasma. Quem tenta uma vaga a ALVAL é falhado na carreira, vítima de si mesmo e perseguido pela mania incorrigível, de fazer da inspiração literária de um Deus cáustico ou temerário dos níqueis. São erros. Não. O pelourinho dos ridículos é o látego dos mercadores e um trovador bacharel, mas mendigo pode arruinar o império impenetrável.

E pode um poeta corrigi-la. Parece uma ironia, o emprego do escritor, de fato é uma saga romana. O preço de ser imortal é demasiado e caro.  O silêncio da ALVAL custa menos aos que se calam.  A Academia de Letras barrense é uma viola que se mete no saco. Uma casa literária que é brejeira, uma casa de letras sarcástica, cujas gargalhadas são desatinos do que nada produzem ao improviso do papel-moeda.

Ser um imortal é ser feliz, rico e poderoso.  Sou a imagem do anjo revoltado que recuperou nas letras, a passear pela cidade dos poetas e intelectuais em roupas talares avivadas de preto e violeta, de barrete, farto, inofensivo, redimido, saudado com respeito aos seus barões das letras.

Ás fátuas autoridades, de já muito agradecido, pois hão de me anistiar, pelo meu dizer pensativo de um mero escritor barrense, que diferente dos doutores endemoninhados alvaldianos, é apenas um humilde escritor barrense, ou seja, uma espécie de deus sardônico e ofegante.

Um escritor sim da ralé, do popular e dos que são contra tudo, tudo que é o grande, imponente, despótico, oficial das letras. A justiça das letras não escolhe classe social, os escritos são caprichos ao vento marataoã levantados em rodopios das rajadas, esguias nos bolsos capitalistas, mas que logo se desmancham em ideias, na poeira dos paralelepípedos que carrega assobiando e rindo os lábios trêmulos do escritor barrense.



Galápagos - poesias de degredo




MÃE, CADÊ A SERPENTE DOS CÉUS?

Da janela da Walter Miranda, mãe mostrava o rasgo do arco-íris
no céu azul do nascente,
diz que bebe a água da chuva,
é uma serpente voraz de sete línguas,
a trama narrada é até quimérica no azul,
do céu esplêndido que reboa tupã,
e de medo do mito suspenso oculto.


O instinto fez-me entrar para dentro de casa,
revolto nos lençóis da cama,
que surge com o sereno,
exalando a poeira no paralelepípedo,
que urge no tempo a temporal,
no desatar das torneiras de são Pedro
o drama na trama real das águas dos céus.

sábado, 28 de abril de 2012


Galápagos - poesias de degredo

CASA ROSADA

Casa Rosada, casa de carne, casa de fibra,
casa de argila e casa de sol do marataoan.
a dor se encuba secretamente dentro de ti.

Sei que o operário suou o suor no labor,
e o cimento do passado dançou nas frias paredes.

sexta-feira, 27 de abril de 2012


Literatura in foco:


A LITERATURA DA TERRA DOS INTELECTUAIS


          
     A Literatura Barrense canta o amor ufanista da terra dos governadores sem temeridade e com energia no hábito de sua gente, da natureza, das manifestações culturais e artísticas. A literatura na terra dos intelectuais é feita de coragem, na audácia dos poetas do pretérito e dos contemporâneos. 

        Poetas estes que rebelam-se ante o academismo letrista elitilizado e da pieguice literária das elites que enclausuram os elementos essenciais de nossa poesia. Nossa poesia é uma literatura que exalta o passado de nossa terra e cultua até hoje a mobilidade pensativa poética, o êxtase prosaico, o sono morfeu dos poetas históricos que em suas auroras literárias cantaram os dons divinos da natureza da bela Barras.

         A literatura barrense exalta o movimento agressivo da poesia de degredo, essa poesia insônia e febril dos poetas emudecidos do povo e que mescla a magnificência da carnaúba, do babaçu, da rapadura, das brumas plácidas do marataoan enriquecendo-se das belezas naturais abençoadas por Deus. 

        A literatura da terra dos intelectuais é um hálito explosivo poético e rimado das enfadonhas rimas e estrofes feitas, deformadas e degredadas no além poético do tempo fincado nas entranhas da história de um povo.

         Nossa literatura, nossas manifestações culturais entoam hinos poéticos a nossa terra, ao homens e mulheres barrenses que feito poeta prodigalizam com ardor e imunideficiência dos elementos primordiais nos versos, na dança, na música, no folclore, nos festivais de quadrilhas, no carnaval, no futebol e etc.

         A beleza literária é travada na luta, no caráter agressivo dos versos, rima perfeita que é obra-prima, na poesia concebida, gestada e obrigada a se prostar diante do homem, da terra e da natureza.

         A literatura barrense canta as multidões agitadas no labor poético do prazer da sublevação do ufanismo a terra, no céu revolucionário que cavalga os rios marataoan e longá farejando o horizonte e aplaudido nas manifestações de um povo aguerrido.

         A nossa bandeira barrense é entusiasta, é arrebatadora e para uns pessimista, nossa bandeira é fétida e é incediária. Nossa literatura não morreu e nem morrerá como nossos poetas pretéritos em suas covas e alcovas, em seus cemitérios nostálgicos.

         Ela está viva, onipotente, onisciente e onipresente nos absurdos dos galopes daqueles que impunham a bandeira e que cavalgam a esperança ferozmente de uma literatura idólatra.

         Deponha nos versos a homenagem a terra amada e envenene-se de amor e apodreça nos versos cantados a terra natal, pois nossa literatura infringi barreiras atemporais e oposta e sente o desejo de exprimir a criação, imaginação e a ação dos incentivadores do seu talento.

       É preciso que os artistas tutelem prolongando a longevidade e que enfermos curem-se de suas enfermidades, e prisioneiros se libertem de suas prisoes egocêntricas, e que a literatura barrense rompa o invólucro do sistema de bálsamo do academismo letrista e elitizado e assombrem seus males/fantasmas de não produção literária, visto que para eles o porvir está trancado, o novo romperá o presente e o passado alimentado com o comodismo acadêmico das elites capitaneadas.

       Portanto, nós não queremos nada com o passado, nós, jovens e fortes queremos a literatura de degredo, destarrada no tempo, levada nas palhas das carnaúbas, desfolhando os babaçuis e buritis da nossa terra!

       A literatura barrense existe nos fatos e na história e são fatos estéticos e ecléticos do muito que dignificaram esses rituais de cultural. Barras é a ágora da literatura para os barrenses. Alegria dos que não sabem o que é descobrir essa riqueza poética e literária das riquezas do nosso povo.
Reportagem:


BARRAS, UMA FONTE DE INICIATIVA POÉTICA.



Barras e seus encantos. Barras e seus casarões, suas ruas, sua gente e o lindo cenário como componentes de inspiração a iniciativa poética. Essa composição do cenário barrense é uma constante de rica e literária fonte de inspiração para a iniciativa da arte poética de poetas e escritores.

Esta inspiração a iniciativa poética não se limita ao estreito círculo do tablado eixo imaginação-terra-povo-cenário — Essa arte poética na terra dos governadores vai além da rampa do contexto social de um povo, com um rico território, e uma linda natureza.

A poesia tendo Barras como cenário está perfeitamente educada com o contexto social ou com a imaginação do autor? A resposta é positiva quando se junta às duas respostas. Barras é na essência uma poesia, uma poesia avançada no tempo, em seu povo, com um tablado balbuciante em que a arte poética é resumida aos poucos que sentem este anacronismo dominante e literato, uma possibilidade intelectual.

Na terra dos intelectuais há uma interna relação entre a fonte de inspiração literária e outro - a linda cidade. A iniciativa poética na terra dos governadores é algo metafórico, pois o literato deve ter uma mira única: a produção poética tendo a cidade como iniciativa poética. 

Demonstrar aos iniciados na arte da literatura sobre as verdades e as concepções da arte e ter Barras como fonte de iniciativa poética é; conduzir os espíritos de jovens barrenses a flutuar nas belezas dessa linda terra e contrair a platéia de anônimos literatos à esfera dessas concepções literárias e dessas verdades absolutas.

Barras que gesta a harmonia recíproca nas direções que acontece o que literatos buscam e o talento nunca se acha arredada no caminho desse paraíso poético. Aqui nessa terra mesopotâmica há um completo deslocamento: a arte poética não se divorcia do público.

Entre a rampa da iniciativa poética desse lugar e a platéia literária de uma Academia de Letras estacionada no tempo há um vácuo imenso de que nem um nem outra se apercebe e uns poucos sentem o sabor desse labor poético que é seara abundante.

Barras é uma poesia ainda dominada pela impressão de uma atmosfera tímida de amantes da poesia, da boa literatura, de uma literatura genuinamente barrense, dissipada hoje no verdadeiro mundo da arte, o mundo da terra dos intelectuais — não podemos sentir claramente as condições vitais para uma nova esfera literária, um novo tempo para a literatura barrense que parece encerrar o espírito moderno desse rico povo.

Ora, à Arte Poética nessa linda terra ainda não consegue tocar a exploração dos novos mares literários que se lhe apresentam nesse lindo horizonte marataoan, assim como abrir o gradual véu da imaginação poética ao mundo da literatura piauiense, mas urgente, ao longe dos olhos do nosso público barrense.

Nossa cidade de Barras clama por uma iniciativa poética firme e fecunda tendo como cenário seu elixir in natura necessário à situação de uma literatura; a iniciativa poética folheia a ambos, a arte moderna desse povo com toda as relações sociais que são os ingredientes precisamos na atualidade.

Hoje há mais pretensões, creio eu, de metodizar uma luta na escola, e estabelecer a concorrência de dois princípios. É claro ou é simples que a arte literária barrense não pode aberrar das condições atuais da sociedade para perder-se no mundo labiríntico das abstrações fora de nossas escolas.

O incentivo literário é para o povo barrense e tem como berço, a escola. Ora, não se podem moralizar esses fatos como pura abstração em proveito da sociedade e da educação municipal; a arte não deve desvairar-se no doido infinito das concepções ideais, mas identificar-se com o fundo das massas, dos jovens, dos professores fieis incentivadores dessa iniciativa poética.

Incentivar, criar mecanismos, acompanhar o aluno barrense em seus diversos movimentos dentro da sala de aula, nos vários modos da sua atividade é criar meios de iniciativa poética e de propagar uma literatura que se perdeu no tempo-espaço.

Tendo esse incentivo a arte literária existente em nossa terra é adicionar-lhe uma partícula, uma das forças mais produtivas com que conta a sociedade barrense em sua marcha de progresso ascendente na literatura piauiense.

A reforma da arte poética estende-se até nós e parece dominar definitivamente uma fração da sociedade barrense. Mas isso é o resultado de um esforço isolado operando por um grupo de homens. Não tem ação larga sobre a sociedade literária de nossa terra, nossa gente.

Esse esforço tem-se mantido e produzido os mais belos efeitos; inoculou-se em algumas artérias o sangue das novas idéias literárias, mas não o pôde ainda fazer relativamente a todo o corpo social.

Não há aqui em Barras uma iniciativa direta e relacionada com todos os outros grupos e filhos da arte. A ação sobre o povo barrense limita-se a um círculo tão pequeno que dificilmente faria resvalar os novos dogmas em todas as direções sociais.

Galápagos - poesias de degredo
Praça Monsenhor Bozon - Conhecida por praça do hospital 2012.


O CORETO


Passos da banda Lira Barrense,
trazem os sonhos de menino,
a desovar nas canções e cantigas.


A inocência de menino busca o sopro,
vista pelo predador trombone,


No entanto
o sangue ferve. Tece o sopro musical
feito a brisa de outubro,
reincide o sax de som tão efêmero.


No entanto, arrastando as marchinhas,
o canto a bordo das crianças,
dos idosos e do povão.


A canção afunda os ouvidos nas rachaduras,
Da vida de um passado local,
O que é nostalgia,
vira lembranças,
e o que é viagem,
vira esperanças.


O coreto de cimento
é o trilho do vagão das canções líricas!
No sopro vivo da linda, monsenhor Bozon.
Praça Monsenhor Bozon - década de 60.


quinta-feira, 26 de abril de 2012



LITERATURA BARRENSE: OLHAR CRÍTICO PELA CRÍTICA.

A Literatura Barrense produzida na terra dos governadores tem duas faces bem distintas da sociedade local, cingira como uma dupla púrpura: de glória e de martírio aos vultos luminosos da nossa história literária de ontem.

Essa literatura local confunde-se com a Literatura Piauiense elevando as cabeças eminentes da Literatura Estadual temos no Neoclassicismo (1808 – 1866) autores como: Leonardo Castelo Branco cuja obra referencial, A Criação Universal, 1856 súmula 108 Composições, 65 em forma de sonetos, recebendo influências de Bocage, composições variadas: Odes, Cantadas, Epigramas, temática da tristeza. 4.247 versos sobre mecânica e astronomia.

No Romantismo piauiense (1866 – 1900) o barrense David Moreira Caldas, jornalista (Artigos em jornais, 1870/73) e a poesia santificando com suas inspirações atrevidas as vítimas das agitações revolucionárias, e a manifestação eloqüente de uma raça heróica que lutava contra a indiferença da época, sob o peso das medidas despóticas de um governo absoluto e bárbaro.

O ostracismo e o cadafalso não os intimidavam, a eles, verdadeiros apóstolos do pensamento e da liberdade; a eles, novos Cristos da regeneração de um povo, cuja missão era a união do desinteresse, do patriotismo e das virtudes humanitárias. Era uma atividade difícil a que eles tinham então em vista. Destacam-se também o sertanejistas José Coriolano (Impressões e Gemidos, 1870) · Hermínio Castelo Branco (Lira Sertaneja, 1881) e o Simbolismo por Celso Pinheiro (Nevroses, 1907) e João Pinheiro.


A sociedade barrense contemporânea é bem mesquinha para bradar - avante! Esses missionários da inteligência e sustentá-los nas suas mais santas aspirações como Reinaldo Barros Torres ( Madrigais, 1997) Dilson Lages Monteiro( Colméia de Concreto, 1997). Antenor Rego Filho ( Histórias e Saudades,2009) Jurandir Vieira ( Retalhos em prosa e versos, 2009) no neófito Joaquim Neto Ferreira ( Na Essência da Alma Poética, ebook 2009).

Parece que o terror de uma época, de uma Barras ainda colonial inocula nas fibras íntimas do povo barrense o desânimo e a indiferença em relação a cultural local. A poesia de então tem um caráter essencialmente barrense.

Reinaldo Barros, um dos mais líricos poetas barrenses, pinta a cena do maratoan , no poema, o rio que corre nas minhas veias, e dar uma cor local às suas liras ao invés de dar créditos puramente estadual.

Aqui em Barras há uma grande vantagem: a literatura não se escraviza-se localmente, em vez de criar um estilo seu, de modo a poder mais tarde influir no equilíbrio literário piauiense. Todos os mais são assim: as aberrações são raras. É evidente que a influência poderosa da literatura piauiense e brasileira sobre a nossa, só pode prejudicar e sacudir por uma revolução intelectual de poetas inteiramente barrenses.

Para contrabalançar, porém, esse fato cujos resultados podiam ser funestos, como uma valiosa exceção apareceu Colméia de Concreto de Dilson Lages. Sem trilhar a senda seguida pelos outros poetas do milenismo, Dílson Lages escreve uma poesia, se não puramente barrense, ao menos nada teresinense. Não é totalmente barrense, porque é um pouco o meio, as vivências, e a poesia dilsiana, é bárbara, os poemas de Colméia de Concreto é uma poesia ufana.

Joaquim Neto Ferreira, entretanto um verdadeiro talento, inspirado pelas ardências vaporosas do céu tropical de Barras do maratoan sob o novo tempo, sob as palhas da carnaúba, nos ventos dos babaçuais, a sua poesia suave, natural, tocante por vezes, elevada, mas elevada sem ser bombástica, agrada e impressiona o espírito ultra-romântico. Escreve poemas de forma tão acanhadas nas proporções, empregando o seu talento em um trabalho de mais larga esfera. Os grandes poemas netianos são tão raros entre nós!

Os versos de Jurandir Vieira são magníficos. As belezas da forma, a concisão e a força da frase, a elevação do estilo, tudo encanta e arrebata. A natureza produz muitos homens barrenses como estes.

Interessados vivamente pela regeneração da pátria barrense, plantando a dinastia poética no trono piauiense, convictos de que o herói da poesia barrense convinha mais que ninguém a um povo altamente literário e assim legam à geração atual as douradas tradições de uma geração fecunda de prodígios, e animada por uma santa inspiração das letras.

Celso Pinheiro, Leonardo das Dores e Hermínio Castelo Branco e outros muitos foram também astros luminosos desse firmamento literário. A poesia é a forma mais conveniente e perfeitamente acomodada às expansões espontâneas de uma Barras de espírito novo, cuja natureza só conhece uma estação, a primavera, desses homens, verdadeiros missionários que honraram a terra natal e provam as riquezas intelectuais ao crítico mais investigador e exigente.

Uma revolução literária faz-se necessária em Barras. A cidade não pode continuar a viver debaixo de uma literatura escrava de Academismos e que aniquila os dons literários do seu povo. Deve vir o fiat literário, a emancipação de uma terra de intelectuais, vacilante sob a ação influente de uma literatura dos seus filhos. Mas como? É mais fácil regenerar um povo, que uma literatura.

Para esta não há gritos; ás modificações que se operam vagarosamente; e não se chega em um só momento a um resultado. Além disso, as erupções revolucionárias agitam as entranhas do município; A sociedade barrense atual não é decerto compassiva, não acolhe o talento como deve fazê-lo. Compreendam-nos! Nós não somos inimigo encarniçado da política.

O que nós queremos o que querem todas as vocações literárias de Barras, todos os talentos da atualidade literária de nossa terra, é que a sociedade não se lance exclusivamente na realização de um progresso material/político de um só movimento cultural, magnífico pretexto de especulação, para certos espíritos que se alentam no fluxo e refluxo das operações políticas.

O predomínio exclusivo dessa realeza parva e política, é fatal, bem fatal às inteligências; o talento cultural pode e tem também direito aos olhares piedosos da sociedade barrense: negar-lhos é matar-lhe todas as aspirações, é nulificar-lhe todos os esforços aplicados na realização das mais generosas, dos princípios mais salutares, e dos germes mais fecundos do progresso de uma terra e da sociedade barrense.


ARTIGO LITERÁRIO



BREVE DIVISÃO DA HISTÓRIA DA LITERATURA PIAUIENSE.

PRÉ- HISTÓRIA DA LITERATURA PIAUIENSE.

A pré-história da literatura piauiense tem como embrião as obras de autores piauienses publicadas até o século XIX que foram impressas fora do Piauí, seus autores, quase sempre, visavam atingir outro público que não o Piauiense, pois eles próprios estavam integrados a outros meios sociais. Faz parte da pré-história da literatura piauiense o caso de Poemas de Ovídio Saraiva, 1808, Coimbra; Flores da Noite, de Licurgo de Paiva, 1866, Recife; Chicotadas, Félix Pacheco,1897, Rio de Janeiro; Cantigas, de Thaumaturgo Vaz, 1900, Manaus, Ânforas e Uhlanos, de Jonas da Silva,1900 e 1902, Rio de Janeiro. Na prosa encontramos Ataliba, o vaqueiro, Francisco Gil Castelo Branco, 1880, Rio de Janeiro.
Há outros casos peculiares, como a publicação póstuma de Impressões e gemidos, de autoria de José Coriolano, impresso na cidade de São Luís, por iniciativa de familiares e amigos do poeta. É semelhante a situação de A harpa do caçador, de Teodoro Castelo Branco, de 1884, também impresso na capital maranhense e que não teve praticamente circulação, no Estado do Piauí. Sobre a distribuição do livro, é significativo o comentário de um contemporâneo do porta, o escritor Clodoaldo Freitas.
A Harpa do Caçador foi publicado em 1884, mas o poeta, um verdadeiro descuidado, não fê-la correr mundo. Ninguém teve notícia do livro que ficou entregue às traças, num canto de qualquer armazém. Os poucos que o leram, com a maior injustiça, não renderam público e merecidos elogios ao autor.

FASE DA HISTÓRIA DA LITERATURA PIAUIENSE.

Na fase da História da Literatura Piauiense a categoria se enquadraria em critérios metodológicos, mas podemos apontar as obras de autores que viveram no Piauí e participaram da vida social da Província, como Leonardo das Dores Castelo Branco, cuja obra Criação universal, de 1856 (impressa no Rio de Janeiro) é considerada, por alguns críticos como a obra fundadora da literatura piauiense. O primeiro crítico a apontar a Criação universal, como obra inaugural da nossa literatura foi Lucídio Freitas:
Portanto, a nossa história literária data precisamente do meado do século passado, sendo Leonardo das Dores Castelo Branco o primeiro poeta de valor que possuímos.
A poetisa Luísa Amélia de Queirós Brandão fez imprimir seus dois livros em São Luís do Maranhão, o primeiro Flores incultas é de 1875, o segundo Georgina ou os efeitos do amor, de 1893. Lembramos ainda uma obra bastante conhecida até hoje, A lira sertaneja, de Hermínio Castelo Branco, impressa em Fortaleza em 1887. Pode-se afirmar que as manifestações literárias piauienses iniciadas a partir de 1808, com Poemas, de Ovídio Saraiva, contaram com um pequeno grupo de autores, poucas obras publicadas, de forma esparsa, e praticamente sem leitores no Piauí.


FASE DA IDADE MODERNA DA LITERATURA PIAUIENSE.

A formação de um público de leitores, virtuais destinatários de uma literatura piauiense, só foi iniciada a partir das primeiras edições locais, nas primeiras décadas do século XX, quando se deu, simultaneamente, o surgimento da crítica literária, graças ao significativo desenvolvimento que a nossa imprensa passou a Ter naquele momento.
Igualmente decisivo foi o progresso da educação, ampliando a população alfabetizada e conseqüentemente o número de leitores. Soma-se, ainda, o surgimento das primeiras tipografias em Teresina, o que propiciou a publicação de livros em âmbito local, bem como a edição de revistas literárias, que abrigaram os primeiros textos da crítica.
Para nós, seguindo a classificação de Antonio Candido defendido pela professora Socorro Magalhães,o sistema literário piauiense passou a funcionar no início do século XX, quando os autores integrados à vida cultural do Estado, reuniram-se com a intenção de criar uma literatura de expressão piauiense. Esses mesmos autores passaram também a exercer a crítica literária através da imprensa. As obras passaram a Ter mais repercussão.
Criaram-se até mesmo polêmicas em torno delas, através do periódicos. Por outro lado, as tipografias comerciais imprimiam aqui mesmo os livros e revistas literárias, o movimento cultural cresceu, passando e existir o anseio de construção de uma identidade literária para o Piauí.
Acreditamos que as obras da primeira década do século XX são exemplares quanto ao que preconiza Antonio Cândido a respeito de sistema literário, pois a produção, publicação e recepção dessas obras no território piauiense mostram que os elementos essenciais para o funcionamento desse sistema estavam consolidados. Havia autores, produzindo conscientemente uma literatura para o público local que, por sua vez, dava uma resposta, adquirindo o livro, lendo, comentando, influindo para que a obra repercutisse no meio social.
Dessa fase destacamos as seguintes obras: Solar dos sonhos, de João Pinheiro, 1906; Sincelos, de Jônatas Batista, de 1907; Ode a Satã, de Alberto Peregrino, de 1907 e Almas irmãs, parceria entre Antonio Chaves, Celso Pinheiro e Zito Batista, também, de 1907. Na prosa apareceu, no período, o primeiro romance: Um Manicaca, de Abdias Neves, de1909.

O primeiro livro de contos da nossa literatura só apareceu no início da década seguinte, trata-se de À toa – aspectos piauienses, de João Pinheiro, publicado em 1923. A consolidação do sistema literário piauiense, nos anos vinte, coincide com o momento de ruptura do sistema literário brasileiro, instaurado a partir da semana de Arte Moderna de 22. O autor que melhor representa o período de formação e consolidação do sistema literário do nosso Estado é, sem dúvida, o Poeta Da Costa e Silva, cuja obra abrange as três primeiras décadas do século XX, começando em 1908, com Sangue e culminando com Verônica, de 1927.

FASE CONTEMPORÂNEA DA LITERATURA PIAUIENSE.
MODERNISMO

(Período de transição – 1ª fase – 1927 – 1940) Cenáculo Piauiense de Letras Antônio Neves de Melo, Osires Neves de Melo, Oton Rego Monteiro lideraram A criação do Cenáculo, que seria instituto na década de 1930 Prosadores · Berilo Neves (Costela de Adão, 1929) · Aluizio Napoleão (Segredo, 1935) · Permínio Asfora (Sapé, 1940) · Joaquim de Sousa Neto (O culpado, 1940) POETAS · João Perry (Os meus sonetos, 1916) · Martins Napoleão (Copa de Ébano, 1927) · Martins Vieira (Canto da Terra Mártire, 1940) · Veras de Holanda (Sombras noturnas, 1940) · Isabel Vilhena (Seara Humilde, 1940)

MODERNISMO (2ª Fase – 1940 – 1965) Caderno de Letras Meridiano Movimento de Renovação Cultural. Manoel Paulo Nunes, O.G. Rego de Carvalho e H. Dobal lideraram o Movimento Meridiano, cabendo a R.N. Monteiro de Santana a liderança do M.R.C

PROSADORES · CRISTINO CASTELO BRANCO (Homens que iluminam, 1946) · RENATO CASTELO BRANCO (Teodoro Bicanca, 1948) · CARLOS CASTELLO BRANCO (Continhos brasileiros, 1952) · VÍTOR GONÇALVES NETO (Conversa tão somente, 1957) · ÁLVARO FERREIRA (Da terra simples, 1958) · ARTUR PASSOS (Lendas e Fatos, 1958) · FONTES IBIAPINA (Chão de meu Deus, 1958) · LILI CASTELO BRANCO (Ermelinda, 1961) · BUGYJA BRITO (Zabelê, 1962) · FRANCISCO PEREIRA DA SILVA (Chapéu de sebo, 1963) · ALVINA GAMEIRO (O Vale das açucenas, 1963) · PEDRO CELESTINO DE BARROS (Sinais de seca, 1964)

POETAS · JOSÉ NEWTON DE FREITAS (Deslumbrado, 1940) · EDISON CUNHA (Vozes imortais, 1945) · OLIVEIRA NETO (Ícaro, 1951) · JOÃO FERRY (Chapada do corisco, 1952) · MÁRIO FAUSTINO (O homem e sua honra, 1955) · DOMINGOS FONSECA (Poemas e canções, 1956) · ALTEVIR ALENCAR (Sonho e realidade) · ÁLVARO PACHECO (Os instantes e os gestos, 1958) · LUIZ LOPES SOBRINHO (Vozes da terra, 1960) · CID T. ABREU (Poemas I, 1961) · BALDUINO BARBOSA DE DEUS (Folhas caídas, 1964) · CLÓVIS MOURA (Argila de memória, 1964)

VANGUARDISMO

(Círculo Literário Piauiense – CLIP – 1965 – 1978)

PROSADORES · ASSIS BRASIL (Beira Rio Beira Vida, 1965) · CASTRO AGUIAR (Caminho de perdição, 1965) · WILLIAM PALHA DIAS (Endoema, 1965) · O.G. RÊGO (Rio Subterrâneo, 1967) · MAGALHÃES DA COSTA (Casos contados, 1970) · A TITO FILHO (Teresina, meu amor, 1973) · LILIZINHA CASTELO BRANCO (Quinze anos depois, 1977) · JEANETE D EMORAES SOUSA (A vida, um hino de amor, 1977) · CÂNDIDO GUERRA (Do calcinado agreste do inferno verde, 1977) · JOÃO EMÍLIO FALCÃO COSTA FILHO (Aleluia, 1977)

POETAS · NERINA CASTELO BRANCO (Poesias modernas, 1965) · H. DOBAL (O tempo conseqüente, 1966) · FRANCISCO MIGUEL DE SOUSA (Areias, 1966) · ALBERTO DA COSTA E SILVA (Livro de linhagem, 1966) · HERCULANO MORAES (Vozes sem Eco, 1967) · GREGÓRIO DE MORAES (Auroras perdidas, 1969) · BARROS PINHO (Planisfério, 1969) · JOSÉ RIBEIRO E SILVA (Colheita Mística, 1970) · HARDI FILHO (Gruta iluminada, 1971) · TORQUATO NETO (Os últimos dias de paupéria, 1973) · ALCENOR CANDEIRA FILHO (Sombras entre ruínas, 1975) · SANTIAGO VASQUES FILHO (Bronze e cristais, 1975) · ODÍLO COSTA, Filho (Notícias de amor, 1976) · V. DE ARAÚJO (Murmúrios das Flores, 1977)

PÓS-VANGUARDISMO Alternativa do Mimeógrafo – 1978 – 1987 PROSADORES · JOSÉ PEREIRA BEZERRA (Prisioneiro da liberdade, 1978) · JOÃO BOSCO DA SILVA (Pensão Cassilda, Familiar, 1978) · JOSIAS CLARENCE (Simplício, simplição da Parnaíba, 1978) · PAULO VERAS (Cabeça de cuia, 1979) · RUBEM NERY COSTA (Asas, 1980) · J. RIBAMAR OLIVEIRA (Porto da Imaculada Conceição dos Marruás, 1979) · OSVALDO SOARES DO NASCIMENTO (Proteínas para raça eleita, 1979) · JOSÉ EXPEDITO RÊGO (Né de Sousa, 1981) · JOSÉ RIBAMAR GARCIA (Cavaleiros da noite, 1984) · LUYIZ ROCHA (Saga da terra, 1986) · AFONSO LIGÓRIO (Só esta vez, 1987) POETAS · PAULO HENRIQUE MACHADO (Ta pronto, Seu Lobo?, 1978) · WILLIAM MELO SOARES (Com licença da palavra, 1978) · CARVALHO NETO (Variantes de berro, 1978) · NELSON NUNES (Oper-á-ria, 1978) · HUMBERTO GUIMARÃES (Essência em conflito, 1981) · OZILDO BATISTA DE BARROS (ETC e tal, 1981) · RIBAMAR MATOS (Poeira da estrada, 1984) · JAMERSON LEMOS (Superfície do vento, 1985) · ELIAS PAZ E SILVA (Poemário I, 1985) · CID T. ABREU (Moenda, 1986) · RUBERVAM DU NASCIMENTO (A profissão dos peixes, 1987) · RAMSÉS RAMOS (Percurso do verbo, 1987) · NETO SAMBAIBA (O maluco inteligente, 1987)

MILENISMO 

PERÍODO QUE SE INICIA EM 1987 ATÉ OS DIAS ATUAIS PROSADORES · HEITOR CASTELO BRANCO FILHO (O sócio da onça, 1988) · PEDRO S. RIBEIRO (Vento geral, 1988) · CLÉA REZENDE NEVES DE MELO (Á sombra da Buganvílias e Madressilvas, 1989) · MELQUISEDEQUE VIANA (Contos e recontos, 1992) · CINÉAS SANTOS (O menino que descobriu as palavras, 1992) · JOÃO JOSÉ DE ANDRADE FERRAZ (Estorinhas do dia-a-dia, 1994) · WAGNER SARAIVA DE LEMOS (Narrativas de algumas lembranças, 1994) · ANTENOR RÊGO FILHO (Jacurutu, 1995) · DEUSDETE MOITA (Atirando a esmo, 1995) · NORBELINO LIRA DE CARVALHO (O último coronel, 1995) · LISETE NAPOLEÃO (Quem conta um conto, aumenta um ponto, 1996) · AIRTON SAMPAIO (Contos da terra do sol, 1997) · OTON LUSTOSA (Meia vida, 1998) · FRANCISCO MONTEIRO JÚNIOR (A obscuridade humana, 1999) · JOSÉ SOARES DE ALBUQUERQUE (Os cupins, 2000) · HOMERO CASTELO BRANCO (Ecos de Amarante, 2001) · ANTONIO DE DEUS NETO (O piercing, 2002) · ZÓZIMO TÁVARES (O velho Jequitibá, 2002) POETAS · ELMAR CARVALHO (Cromos de Campo Maior, 1990) · DURVALINO FILHO (Caçadores de prosódias, 1994) · CHICO CASTRO (O livro do carona, 1994) · ÉLIO FERREIRA (O contra-lei & outros poemas, 1994) · RONALDO ALVES MOUSINHO (Asas para o Apogeu, 1994) · CHICO BORGES (Corpos negros, 1996) · DILSON LAGES MONTEIRO (Colméia de Concreto, 1997) · GRAÇA VILHENA (Em todo canto, 1997) · REINALDO BARROS TORRES (Madrigais, 1997) · FRANCIGELDA RIBEIRO (Estrada virgem, 1997) · DUCILENE MARQUES VIANA (Lágrimas da alma, 1998) · FLÁVIA ROBERTA (Margaridas selvagens, 1999) · VINÍCIUS DE CARVALHO (Pétalas do mundo, 1999) · WANDERSON LIMA (Escola de Ícaro, 1999) · MARIA NILZA (Labirintos do amor, 1999) · ADRIANO LOBÃO ARAGÃO (Uns poemas, 1999) · ANDRÉ AMORIM (O tempo dissolvido, 2000) · SONIA LEAL FREITAS (O cedro do Éden, 2002) JURANDIR VIEIRA ( Retalhos em Prosa e Verso), JOAQUIM NETO FERREIRA( Na Essência da Alma Poética , 2010).

Galápagos - poesias de degredo

DESIGNER DA RODOVIÁRIA

O designer da rodoviária Toinho Carvalho,

se aprimora e se ajusta a visão do passageiro,

As colunas de pedras um abraço de mulher,

Induz ao viajante o tema da viagem e inda

que seja breve o assunto

É manjado dentro do F. Cardoso

no asfalto amante da são José, da imagem de sonhos,

no enredo da Rodoviária Toinho Carvalho.

quarta-feira, 25 de abril de 2012


ROMANCE TERRA DE MARATAOAN – UM BREVE ESTUDO CRÍTICO


O romance Terra de Marataoan, publicado em e-book em 2011, um ano depois de Galápagos – poesias de degredo 2010,inaugura a estréia de Joaquim Neto Ferreira na prosa ficcional juntamente com a Trilogia de Sonhos Poéticos 2001 – poesias de camalhaço, livro de estréia na poesia e os e-books-digitais “Na Essência da Alma Poética” 2009 e “Galápagos -poesias de degredo” 2011 voltada para uma temática mais rimada.

Há a intensa evocação e recriação do clima interiorano barrense no romance Terra de Marataoan. Uma Barras ainda provinciana e ligada a questão da política, da terra. O Romance Terra de Marataoan é uma espécie de recriação de um clima interiorano e de crítica social.

O livro de estréia na ficção barrense de Joaquim Neto Ferreira termina com o diálogo entre o prefeito Mundico Goma e o vereador Rui Rosas sobre o esquema de apadrinhamento político na qual o vereador sugere ao prefeito para fim de aprovação das contas da prefeitura de Barras no TCE.

O Romance Terra de marataoan começa com a luta do vaqueiro Raimundinho do Joao Tomaz cuidando do pouco gado do quitandeiro Florindo que sofre com as conseqüências da seca de 1982. A crítica também observou que o romance não apresenta problemas de incoerência textual e a sintaxe ocorre por ter períodos curtos entrelaçados aos discursos diretos e indiretos e segue o ritmo psicológico das personagens .

Nota-se que no romance Terra de marataoan a figura do menino Tampinha, na verdade Marcos inicia a sua transição cultural da zona rural, ou seja, a criança precoce do interior barrense faz a sua áspera mudança de contexto social em relação às durezas da vida urbana.

Romance Terra de marataoan mergulha mais fundo na ficção pura e por si um romance topônimo quando remete a uma Barras dos anos oitenta com o declínio das grandes fazendas de gado e latifúndio rural. É mais romance do que um romance social   e por duas razões.

Primeiro o narrador (onisciente-observador) não é mais um simples espectador, ás vezes interfere de forma proposital, quase que falando com o leitor. Segundo, Barras é a terra de marataoan, o centro de tudo, nela age e condiciona a ação. O narrador observador interfere nos acontecimentos e não fica apenas na evocação.

Ele não se restringe a meramente a recordar, mas a promover o decurso e discurso da ação dos personagens. Antes, reflete e arquiteta. O romance Terra de marataoan ousa mais do que um romance caricato no aspecto criação. É um romance topônimo e muito nos lembra Terra do Gado de Afonso Ligório Pires de Carvalho.

A semelhança também do romance barrense com o Quinze de Raquel de Queiroz pela temática. Sem dúvida, não há uma filiação entre ambos, mas há pontos de contato. O próprio Quinze de Raquel de Queiroz no começo pela luta do gado na terra seca recorda o romance cearense

Vejamos:” O vaqueiro Raimundinho do João Tomaz encostado ao mourão da porteira de paus corridos do curral aboiava dolorosamente vendo o gado sair de par em par. As poucas reses deixavam as marcas dos cascos na areia fina do caminho tortuoso descendo o morro à procura por pastos lá para a entrada do Barreiro do Otávio. Os rastros ornamentavam juntamente com os capins a lapidação do desenho serpenteado feito pelos pneus das bicicletas”.

há semelhanças de cenas e de personagens, coincidências que aproximam Romance Terra de marataoan de O Quinze. Por exemplo, o heroísmo e o malogro da seca nas primeiras argüições do capítulo 01.  O romance barrense tem sido fiel a temática da seca, da política, do latifúndio e além do simples topônimo com personagem central.

Joaquim Neto Ferreira vem renovar na sua perspectiva do romance regionalista uma temática já antiga no pleno começo do século XXI, com o advento de novas tecnologias. Mas, como a crítica já o salientou, enquanto em O Romance Terra de marataoan há amargura, há sarcasmo, há a tendência ao caricatural como nos mostra a passagem: "Quando Maria Luzia voltou da quitanda do senhor Florindo, a língua já vinha afiada e eriçada de fuxicos. A velha de tão ruim que nascera entanguida, tremia as mãos insistentemente, com as pernas duras e os olhos cinzentos vidrados, além de colocar a dentadura para dançar de um lado a outro dentro da boca:
- Estão dizendo na quitanda que a confusão de terra no Barreiro é das grandes!

O contrário se ver, nos capítulos seguintes, o texto se impregna de inegável humanidade, de ternura, de maior flexibilidade diante do humano, maior capacidade de compreensão. A nostalgia constante do meio urbano lhe dá uma visão mais ampla, mais nuançada, mais sensível à complexidade da condição humana na luta pela sobrevivência na cidade.

O aspecto da corrupção política ou da miséria social como que se atenua diante das reservas de ternura espontânea. Claro. Há uma tristeza difusa em Romance Terra de marataoan, como há em qualquer outro romance de cunho social ou de crítica social. 

Assim, rigorosamente, o romance barrense é uma iniciação dos romances piauienses como Beira Rio, beira vida de Assis Brasil, Ulisses entre o amor a morte de O. G. Rego de Carvalho com a atmosfera de melancolia, com o pavor da morte.

há uma grandeza humana em Joaquim Neto Ferreira que não falta na obra. E há sempre, enternecedoras, as lembranças do passado, as reminiscências, como os festejos da padroeira, os banhos de rios no marataoan. Romance Terra de Marataoan é, assim, uma densidade ficcional que revela as dimensões poderosas do romancista barrense como criador.

A separação do casamento de Conceição é apenas pano de fundo do romance e fora isso, é apenas um terrível choque afetivo para a humilde família. Agora, a ida para Barras é um segundo golpe. O Mocambo ficou longe, muito longe. 

Mas realmente o mundo rural vai com ele, como uma espécie de companheiro invisível, principalmente quando a cachorrinha piaba depois de dias reaparece:” Tampinha, que estava na porta de casa, saiu precipitadamente e tomou conhecimento do animal que vinha capengando e muito esfomeada. 

O resultado foi correr para ajudar o animal que passara dias na estrada. "Chegava a cachorrinha toda magra e com cortes. Só diferençava dos outros animais pelos olhos penados e a penugem vermelhada. O menino a pegou e a sentiu no colo muito trêmulo e com os olhos pálidos".

O personagem tampinha é das mais perfeitas expressões da criança na literatura moderna. Entrevendo o amor, da irresponsabilidade infantil pela luta com os seus próprios defeitos e as irredutibilidades com o mundo. A separação dos pais e a mudança para a cidade de Barras foi para ele um castigo brutal, uma insuportável prisão.

Joaquim Neto Ferreira começa a surgir no romance a consciência social, a descoberta das diferenças de classe. "Nada realmente que pagasse as insônias e as lágrimas da mulher, mais o dinheiro trazia a esperança e os encantos, páginas tristes desta vida fácil a que o destino põe nas mãos de mulheres".

O livro na forma de e-book começa a ensinar a luta pela sobrevivência na cidade, cita as prostitutas do bar da rua do Brega... e alude ao admirável. A crítica escreve: O elementar, o instintivo, o mundo inteiro da falta de oportunidades e o drama da vida na terra dos governadores, é nada mais que uma ressonância social. 

É um romance de denúncia, pois assim dar significado a corrupção eleitoral que acontece no país inteiro e, pela humanidade das personagens que o povoam, lhe faria ganhar essa universalidade sem a qual os romances piauienses não passam de crônica folclórica.

A sua arte literária é feita de carne e sangue, o romance único gênero de arte que não morre nunca, porque tem em si a sua condição de sobrevivência. Na linguagem do romance barrense, Joaquim Neto Ferreira esboça em cada personagem as figuras que criou, a forte paisagem social de Barras, que logo identificamos pelas tradições, pelas ruas do centro da cidade, na enorme riqueza lírica das cenas e humana que a torna tão nossa, se encontram as características da sua extraordinária obra de ficção.

Romance Terra de marataoan é um romance de formação social, de pensamento crítico.  Seja pela tradição oral, incorporados ao texto, a repetição de argumentos e de experiências, a oscilação entre certa credulidade e a reflexão crítica, tanto por parte do protagonista quanto das outras personagens.

Ele aproxima o representante da cultura barrense que propõe exatamente a mesma discussão num contexto igualmente fechado, isolado, a cultura piauiense.  Barras é a liberdade, é o espaço e a amplidão da conquista dos novos sonhos, das novas conquistas. A luta pela sobrevivência na cidade é a prisão.