SONHOS DE LEÔNIDAS
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Leônidas
era jovem igual aos que se contavam nas lendas de vampiros. Estava ainda
encantado com sua própria força, seu poder de invadir sonhos. Ou talvez, só
quisesse amar para provar a si mesmo que havia superado a timidez. Com a ajuda
da maior mestra de todos os tempos em ciências ocultas, Michele que idolatrava
Iemanjá, Leônidas sentia-se poderoso.
-
Pelo poder dos íncubos. Leônidas ordenou.
-
Não. Sussurrou Michele sem fôlego.
O
olho do outro íncubo girou em torno dele e Michele deu com a cabeça, uma rápida
sacudida. O melhor para o outro súcubo era ficar em silêncio. Os cabelos
escuros de Ísis roçaram a pele de Leônidas. Quando despertou, Ísis só
lembrava-se do sonho. Recordou-se dos anteriores. Ela ainda acordava e
sentia-se mais apaixonada, só que Leônidas não era o professor de Literatura.
Os íncubos estavam acostumados desde séculos a encantar os humanos. Faziam isso
até que estivessem em condições
sexuais, só para alimentar-se de suas energias; e embora uma vez invadisse os
sonhos, ninguém poderia provar que tinha sido atacado por um deles. Diziam besteiras de Leônidas na rua que morava, só pelo fato de ele não
ter ainda ido para a cama com uma mulher.
Tinha feições delicadas e olhos
castanhos brilhantes. Era um tipo de jovem elegante. Talvez, um pouco magrelo e
esquisito, mas certamente havia mudado muito. Ao longo dos anos, ganhou um
belo corpo torneado, peitos firmes e um abdômen perfeito. O certo era que tinha muitas namoradas, paqueras, mas nada de sexo
ainda. Quando passava na rua Arimatheia Tito, muitas mulheres o via com olhos
de desejo. Masturbava-se regularmente. E a ideia de ter uma relação com uma
mulher estava sempre na imaginação. Sonhos eróticos passaram a ser
frequentes. E não sabia que sonhos eram aqueles. Desde a morte de seu melhor amigo Matias que a
vida não fazia mais sentido. Questionava-se por que Deus permitiu tal
perversidade. E não encontrava nenhuma alegria em nada, nem gosto pela vida.
Uma vez que o jovem amigo cometeu o suicídio e pelo quarto, logo se sentia um
cheiro fétido de demônio. Outra vez, Matias havia também municiado o revolver
do pai, um revolver oxidado, débil e com os cartuchos velhos, talvez a morte
dele o sujeitasse por muito tempo. Matias não desistiu de tal loucura.
Suicidou-se. Certamente, Leônidas sabia que aquilo aconteceria. As cicatrizes
feitas na vida dele não cicatrizariam e quando morresse as levaria para a
tumba. Já Leônidas vivia em Teresina na casa da tia
Marieta. Dona Marieta era uma viúva e
tinha dois filhos, Ísis e Alberto. Foi
há cerca de três anos que Leônidas tentava tornar-se escritor. Participou de
vários concurso literários e nada.
Certa noite, debatia-se com o primeiro
romance. Todas as noites, enquanto escrevia, bebia vinho e ouvia música
clássica pela rádio Pioneira até amanhecer. O rapaz impôs-se, com objetivo de
um capítulo por noite. De manhã
levantava-se, ia até a parada do coletivo, depois seguia para a Universidade
Federal fazer o curso de Letras. Para escrever o seu primeiro romance levou praticamente
um ano. O amigo Matias pensavam que ele era maluco. De vez em quando eles
faziam uma festa na casa de dona Marieta. Bebiam vinho até às 4 ou 5 da manhã.
Comentários pelo Monte Castelo que Leônidas tinha caso com a tia. Mentira. Ela
era uma terrivelmente enrugada, católica dessas que vão à igreja ao domingo de
manhã.
- Tudo mentira, ele negava a Matias.
O certo que a tragédia do amigo, atazanava-lhes o
pensamento. Michele,
a velha prostituta era uma usuária da magia. Aqueles usuários que chamam para
si mesmos os poderes das ciências ocultas. Leônidas tinha escutado sobre os ensinamentos
da mulher. Havia de aprender algumas coisas das ciências ocultas. Os sonhos que
tinha com uma mulher misteriosa da rua poderiam ser explicados pela mestra. O
rapaz entrecerrou seus olhos, imaginou. Nem todo mundo teria coragem para tal
ato ou coisa. Sem advertência, lançou-se no caminho até Michele. Não a
encontrou em casa. Desistiu e resolveu dormir. Começou a sonhar novamente. No sonho, ele
seguia para o centro de Teresina, mais precisamente para um bar perto da praça
da bandeira. Quase em frente ao Troca troca. Leônidas dizia:
- Garçom! Mais uma garrafa de vinho!
Um desconhecido chegava.
- Só uma dose. Dizia a tal pessoa.
Leônidas olhou para o desconhecido e correu
goela abaixo um corpo de vinho. O desconhecido aos poucos, foi
familiarizando-se com o rapaz sentado á mesa.
- Garrafa vazia? Perguntou.
O rapaz respondeu:
- Sim, o garçom demora vir atender.
Era uma noite silenciosa, exceto pelo
rio Parnaíba com suas marolinhas a bater no cais lentamente. Leônidas antes
tinha visto um vulto com roupas negras, achou ser o vigário da igreja de nossa
senhora do Amparo a passos largos pelo caminho de paralelepípedos da praça da
bandeira. Não havia movimento de pessoas
na praça. Ninguém passaria àquelas horas, pois temeriam os usuários de drogas
ou algum elemento ruim. O silêncio do lugar amedrontava Leônidas. Ele adorava as
noites de luar á beira do cais perto do Troca troca, mas aquilo se erguia misterioso
demais.
- Mais uma garrafa de vinho?
- Sim!
- Que fantasmas te atormentam? O
desconhecido perguntou.
- Não entenda mal, eu só estou tentando
esquecer uma grande tragédia! Disse Leônidas.
Demorou pouco, o desconhecido
desaparecia e chegava uma mulher. Uma mulher conhecida por Leônidas. Ela não era
uma dessas acostumadas ao beijo fácil que ansiava por prazer de desconhecidos
na rua Paissandú. Era talvez, daquelas mulheres casadas que adorava também as sensações
mais fortes. Chamava-se Luiza Maria e era uma bela mulher. Luiza Maria era a
grande paixão ou a tentação dos adolescentes da rua Arimatheia Tito. Diziam as
más línguas que ela durante as noites, vestia-se de homem.
- Uma cerveja! Disse ela.
Leônidas olhou para a mulher. Havia
algo de anormal, naquela noite. O desconhecido tinha se retirado do local, e
logo Luiza Maria uma lúgubre mulher sensual, não daquelas das esquinas, mas é
que ela chegava ao bar e não lhe reconhecia. Imaginou está drogada àquelas
horas.
- Que diabo é isso? Será alguma
assombração! Dizia ele.
- Boa noite. Dizia ele.
- Boa noite! Respondeu rispidamente.
Parecia que aquilo não era a primeira
vez que eles se encontravam. E Leônidas se lembrou de um sonho que tivera com a
mulher.