sexta-feira, 9 de agosto de 2013

CRÔNICA: OS ABUTRES, O URUBU –REI E A CARNIÇA


É uma assembleia de abutres, um dos abutres comuns, um tanto cheio de inspiração e mente convulsiva da vida, que os nervos inflamados a arder sem conforto pelo melhor pedaço da carniça, mal sabiam ele que os melhores pedaços são do poderoso e intocável urubu-rei...

O que resta? Só os restos para quem são abutres e lacaios de esgoto, as migalhas. Pelo final da assembleia uma sombra esvaecida, de urubu velho metido a conselheiro, um daqueles tristes que sem mãe agonizava...

Resta um morto, uma carniça morta! É esperar morrer!

E resvalar na sepultura. Um abutre de penas loiras, daquelas de tribal frio no meio das ancas, daquelas aves de rapina que na fronte sem ilusões, de sete vidas que  no peito alcoólico tem quebrado um coração de amargura que nem saudades levar da vida impura que um dia teve. Aquele abutre fêmea onde arquejou de fome... abutre sem um leito! Entre a treva e solidão!

Enfim, bradou: Tu foste como o sol na reabilitação; tu que parecias ter na aurora da vida a eternidade. Porque hoje na larga fronte tu escreves. . .Porém tu não voltaste como surgiu! Parece que se apagou teu sol da mocidade, assim como n’uma treva maldita!

Um urubu pequeno no meio da podridão disse: Tua estrela não mentiu. E do teu fadário. Poucos são homens para na página primeira da vida escrever uma linda história.

O véu da verdade na tumba do tempo se abri e se rasga... Pobre gênios sem Deus, nem um sudário! Nem túmulo, nem cruz! No meio da carniça são como a caveira que o lobo devorou!. . .

Hoje já não morrem um bajulador de fome — não, não morre de fome. A carniça dar para todos, e um abutre mais exaltado diz:  Acha-se sentado no caminho: Tão doce era o semblante dele! Sobre os lábios flutuava- lhe um riso esperançoso. 

E o morto parecia adormecido, mas levantou. Ninguém, nenhum dos abutres se quer ao peito recostou-lhe a fronte nas horas da agonia! Nem um beijo de Judas lhe deu. Talvez,  em boca sua encostou somente os lábios da linda mulher! Nem mão amiga, quando se encontrou sozinho, virou somente uma carniça devorada pelos abutres.

Hoje a carniça fecha os tristes olhos aos abutres! Ninguém chorou por ele, quando no seu peito não havia colar, nem bolsa de ouro. Foi um sepultado pobretão! Não valia a sepultura! E os abutres ao fim da assembleia, todos o viam e passavam todos, enfim estavam todos unidos, abutres, urubu-rei e a carniça. Portanto, era bem morto desde a aurora. Os abutres sabiam que ao fim da assembleia, ninguém lançaria lhe junto ao corpo imóvel uma cova.

O mundo tem razão, o mundo é tão sisudo e pensa. Terá a carniça a inteligência de ter um cérebro sublime?

De que vale um urubu-rei se os abutres são pobres loucos que levam os dias a sonhar — será o urubu-rei tão insano, amante do uísque, amante das utopias e virtudes. E, n’um tempo sem Deus, a assembleia de abutre ainda crente? É de certo uma loucura; É um defeito no cérebro... 

Que doidos! É um grande favor, é muita esmola que os abutres que  tremem de miséria e fome, dar-lhes um leito no hospital dos loucos...por fim, os abutres infernizaram o urubu-rei que já com a fronte sonhadora, desprezou as rimas dos discursos sóbrios, e ébrio cansou os braços a arrastar o morto, a carniça ou  pagar os salários dos abutre?

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