SEXTA-FEIRA: ESPECIAL DO CONTO:
FIM
DE TARDE BARRENSE

A impressão que se
tinha do Marataoan era de que ele sentia a proximidade do inverno e assustado
corria para alguma parte, a fim de fugir daquelas águas que caiam em grossos
pingos de chuva.
Via-se o Marataoan
com uma lembrança vã e quente dos áureos tempos em que corria majestoso com
águas caudalosas e não havia tanta agressão do povo ao seu leito com o desprezo
dos dejetos e lixos domésticos.
O céu cinzento,
pesado e soturno despencava gotículas de chuva que ao longe uma velha canoa de
um pescador tornava-se invisível no meio do rio. A pobre canoa remotamente transportava
pessoas de um lado para o outro e reinava majestosa sob as águas prateadas.
Sumia sob a
intensa chuva. Viam-se as ondas de o Marataoan assaltar e beijar, lambendo suas
bordas que balançava com o vento frio e lastimoso do temporal. O céu com suas
lágrimas intermináveis desenhavam o cenário deserto e sombrio deixando a
impressão de que tudo estava morrendo.
O pescador
caminhava com seu engancho nas costas para perto da margem e encostava-se na
parede de cimento a beira do rio sentindo o vento frio e úmido do início de
noite. Ele voltava com uma tarrafa nas mãos. Margeando a beira do rio, o homem
tarrafeava macilentamente.
Seus dentes trinados
em honra ao frio e a fome, quando de repente a alegria nos olhos e o medo se
dissipavam gradualmente. O pescador sentia algo estrebuchar dentro da tarrafa
de malha miúda.
Sacudindo as mãos
querendo aquecê-las do frio e corrigindo a malha da tarrafa que teimava em
enrolar-se ao mato, o pescador penteou os cabelos negros molhados e encolheu-se
um pouco mais para proteger-se da água que escorria dos céus barrenses.
Depois de esperar
um pouco e olhar para o rio, ele aproximou-se e ficou perto da margem, parado e
em pé apreciando o balançar da canoa. Anoitecia, condensavam-se ainda mais a
chuva sobre os céus de Barras e de lá os dois observavam as ondas de o rio
figurar-se em uma treva gélida e úmida.
As minúsculas ondas
do Marataoan batiam contra as pedras das lavadeiras parecendo esbravejar-se com
um som abafado pela chuva que tamborilava com estrépito e freqüência crescente
dos pingos fortes e duradouros.
Naquela ocasião os
ânimos estavam mais amáveis. A chuva tornava-se menos forte e o Marataoan
imponente rugia com um assobio prolongado, zombeteiro como alguém majestoso e
que nada temesse, vaiando os dois ali sozinhos naquela hora.
Os assobios
mórbidos causavam no coração do homem uma dolência e a escuridão uma impressão
irônica que o destino sorria com uma expressão misteriosa ao acender da luz nos
portes elétricos com velas em campo santo.
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