ROMANCE TERRA DE MARATAOAN
RELEITURA
CAPÍTULO 02
Durante as noites, a fumaça das carvoarias, um hálito que incomodava os moradores e os deixava enfurecidos. As manhãs do Mocambo já nasciam perfumadas pelas famosas carvoarias da velha Maria Luzia. A fumaça azulada vindo lá de dentro do cercado de arame da casa de Maria Luzia e tendo o velho Romeu de cócoras sempre intimando a mulher pelos gritos estarrecidos e escandalosos.
Assim que o nevoeiro esvaia-se, lá da varanda debaixo do alpendre, o senhor Florindo sentado numa rede de tucum balançando e apreciando o nascente com os róseos matizes da barra avermelhada do dia, espreguiçava-se sentindo a fumaça das cascas de coco babaçu queimarem no fogareiro vindo da cozinha misturado ao cheiro de café de dona Mara Rúbia sendo coado.
As vermelhas brasas tão soberbas que era o sol dourado, imperioso a ferver o leite puro das poucas vacas que o senhor Florindo teimava em criar naquela terra seca. Curvada sobre as trempes secando as louças no girau, dona Mara Rúbia com um pano amarrado na cabeça enxaguava os últimos trens nas mãos ágeis que areava os copos de alumínios esfregando a bucha de faveiro e sabão feito de soda.
Lá da cozinha, a mulher chamava pelo esposo sentado na varanda proseando com uns caboclos das bandas do Barreiro do Otávio e corrigindo com a vista a expressa da Princesa do sul que assanhava a poeira quieta da estrada de piçarra. Dentro do quarto, a filha do quitandeiro Florindo, a menina Ísis dormia com os pés e as mãos tranquilas na rede de meia sol a sol, até o astro rei ganhar altura no céu e pelas frestas da janela, os raios invadirem o quarto despertando-a do sono.
- Florindo, acorda Ísis, eita menina que dorme até tarde. Dizia dona Mara Rúbia, enquanto servia o café a caboclada.
O dia se condensava depois da enclausurada noite escura e fria que ao olfato das pessoas sorviam o sabor do dia nas novas esperanças por chuvas. A arte celestial da aurora esculpida no firmamento, ás cinco da manhã evocava as horas mais ditosas ao vaqueiro Raimundinho do João Tomaz que revivia no novo dia, o presente imerso no regaço e na labuta procurando por voluptuosas fontes de água para o gado nos dias futuros.
O cálido abraço de despedida no garrote gladiador naquela manhã de domingo por minutos a fio via-se juras de amor do pobre homem com o estimado animal e o preferido do pouco rebanho que permanecia ainda de pé. Raimundinho do João Tomaz pesquisando com os olhos em 360 graus para o céu, ele via nos dias sem chuva, o fundo do abismo aonde não chega mais as esperanças de um caboclo por dias melhores.
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