SONHOS DE LEÔNIDAS
NOVELA
13
Caia uma chuva fina e intermitente. O
céu cortado por todos os lados por relâmpagos, reboadas de trovão no nascente. Ele
subia a rua Arimatheia Tito ao entrar para a Tote Carvalho seus passos foram
ficando mais lentos, ora pisando em poças de água, ora pulando uma calçada.
Leônidas sentia que alguém lhe seguia rapidamente. E suas pernas pareciam serem
paralisadas.
Um vulto de preto aproximava-se, causando-lhe medo, ojeriza, e tudo
aquilo foi como o vento a roçar os pelos dos braços. Tal e
qual a noite tinham por si só, um sinal de mistério. Noite fria. Um cão negro de
olhos avermelhados e sozinho a perambular pelas ruas. Era ela. Sim era ela.
Leônidas podia senti-la, só pelo cheiro que entorpecia de sexo o ar.
No
entanto, não conhecia suas estranhas. Foi seduzido pela mulher e entregou-se,
ao prazer. Ela foi capaz de masturbar o rapaz no meio da rua sem ninguém os ver.
Luiza Maria tinha as mãos frias. Devia ser por causa da chuva que caia naquela
noite. Visitou-o em sonho, duas vezes. E ele viria a possuí-la, por ainda outras
vezes.
Outra vez, foi numa tarde que caíam,
os vapores azulados do horizonte na capital Teresina e tudo se escureciam. Um vento frio
vindo da zona leste sacudia as folhas da mangueira. Leônidas contemplava à
tarde que caía. Havia algo naquele
horizonte. Dia de morte, talvez. Na linha azul orlada do nascente, para o lado
de Timon, um bando de gaivotas brancas sentadas numa das mangueiras do quintal
da casa da tia.
Presságio. Dizia que aquelas aves eram anjos voando pelo céu. Teresina
que algumas horas mais tarde mergulhariam nas águas de um temporal. Dos céus,
uma cachoeira imensa que espedaçava suas águas prateadas no asfalto morno das
avenidas. Uma chuva de escuma pelo asfalto, a levar sacolas de lixo pelos negros
paralelepípedos das ruas do Monte Castelo.
E o rapaz olhava tudo aquilo, com um
ar perfeitamente romântico. Olhar para a chuva fazia Leônidas sentir um
divertimento agradável. E seus pensamentos, sempre na mulher que ele havia feito
amor na noite anterior. De pé, encostado na porta, a tia Marieta o chamava para
sair da chuva.
- Esse diabo é doido! Quer é pegar um
resfriado.
O caso é que foi preciso a mulher
brigar para ele entrar em casa. Leônidas era um jovem estudante. Rapaz vadio, estudioso,
talentoso ou estúpido escritor de romances, de poesias, de contos. Pouco
importava o que ele escrevia. Duas coisas lhe deixavam preocupado: os sonhos
eróticos que ocorriam com frequência, tais quais os mesmos que o amigo Matias
lhe relatava e o reconhecimento dos seus escritos.
Amava as mulheres sem
realmente possuí-las, amava o romantismo e os escritores da segunda geração. Um
digno rapaz, sempre honesto. Nas noites de solidão, dentro do quarto gostava de
garrafas de vinho, ler seus poemas e de sonhar ter em seus braços, a prima.
Adorava acordar cedo da manhã, só para ouvir o canto dos passarinhos.
Um fino apreciador
das noites de luar sonolento, noites límpidas. Quando veio da Universidade
Federal achava o mundo monótono. Via pela avenida Frei Serafim, nas calçadas
por cima de papelões, miseráveis mendigos, ou um acidente entre veículos, o que
era tão popular, vulgar e comum. Porque havia de ver alegria em assistir aquilo?
É que sem esses ingredientes cotidiano, Teresina não é Teresina. Na
Universidade, Leônidas sentia-se um D. Juan com as mulheres. Era uma modéstia!
Dizia que toda mulher é sedutora e não conquistadora. Todas elas seriam assim, falava
ao amigo fiel, Matias. As que não seriam sedutoras por dentro eram
conquistadoras por fora. Há dias que o amigo Matias, queixava-se para Leônidas
de sonhos eróticos que aconteciam com frequência.
- Então anda saciado! Ironiza Leônidas.
E contou tudo. Dos sonhos eróticos com
uma mulher de quem ele beijou os seios. Outra vez que sentiu os lábios de uma
vagabunda que dormia na rua perto da praça da bandeira. Contou da mulher do
vizinho, do senhor Zé de Lauro que o pessoal dizia que vendia o corpo na
Paissandu. Leônidas explicou-lhe que poderia ser, talvez por ser ainda virgem é
que ele imaginava nos sonhos estas lindas mulheres. Alguma mulher na realidade
ainda o levaria para a cama.
- Reze por mim! Dizia Matias.
Na verdade, Leônidas não entendeu
aquilo dito pelo amigo. Depois da aula de Literatura Piauiense, o suicídio de
Matias aos vinte anos virou manchete dos jornais da capital. O tal ato de
insanidade humana mexeu com Leônidas. Logo, o Matias que batia no peito e dizia
que tinha uma mente de um homem de quarenta anos.
Exímio questionador dos
escritores da segunda geração do Romantismo. Leônidas, naquele dia passou a
querer entender os sonhos eróticos de Matias. O que seria aqueles sonhos
eróticos? Depois que se enxugou e a tia trouxe-lhe o jantar, o rapaz ficou
horas deitado na cama e a mente focada no que Matias lhe falara. Perguntava-se,
porque ele não deu atenção a confissão do amigo.
Por fim, adormecia pensando em
tudo. Começava a sonhar. No sonho via uma mulher chegando ao quarto dele. Os
dois abraçavam-se e faziam sexo. Os dois corpos entravam em convulsão, os seios
e os peitos arquejavam. O beijo das duas bocas tremia nas duas vidas que se
fundiam muito e sempre. Depois do sonho, Leônidas começou a chorar, talvez se
sentisse culpado pela morte do amigo.
Amante
da boemia, Leônidas passou a contemplar a beleza das coisas. Começou a dar
valor a tudo que via. Passou a adivinhar o perfume da prima Ísis. Perguntava-lhe
à noite, quando chegava da Universidade que música ela mais apreciava. Ísis
tinha uma doce voz, e seu coração prometido a outro homem. A formosura da moça
era divino e dela Leônidas nunca poderia
sentir seu amor. Achava a mulher mais linda do mundo.
Lembrou-se de uma vez,
quando a viu, nua no banho, suas formas divinas, de morena, de seus cabelos
negros. Ele tinha visto seu semblante empalidecer de vergonha, mas depois
daquele riso malicioso e do efêmero exibicionismo é que revelava o lado erótico
e encantador da moça. Parecia então que
aquela mulher o fazia estremecer, enlouquecer, sentir desejos obscenos com ela.
Imaginava deitado no quarto, os seus lábios tocarem os seios delas. Morreria com
certeza de um desmaio de prazer. O amor se desfazia com a saudade que se desfaz
no esquecimento. Amava-a em silêncio. Sentia pena do amigo Matias, pois
lembrava dele aos vinte anos nunca ter amado de verdade, exceto os amores pagos
ás mulheres do Babilônia. Não sabia que sonhos o levariam a morte. Talvez, o
amigo fosse impotente diante da situação. Nunca quis exigir de uma mulher, o
seu amor, somente o ato sexual pago.
FIQUE ATENTO NOS ÚLTIMOS CAPÍTULOS DE SONHOS DE LEÔNIDAS - NOVELA PIAUIENSE DE SUCESSO.
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