segunda-feira, 1 de abril de 2013


SONHOS DE LEÔNIDAS
NOVELA


13



Caia uma chuva fina e intermitente. O céu cortado por todos os lados por relâmpagos, reboadas de trovão no nascente. Ele subia a rua Arimatheia Tito ao entrar para a Tote Carvalho seus passos foram ficando mais lentos, ora pisando em poças de água, ora pulando uma calçada. Leônidas sentia que alguém lhe seguia rapidamente. E suas pernas pareciam serem paralisadas.

Um vulto de preto aproximava-se, causando-lhe medo, ojeriza, e tudo aquilo foi como o vento a roçar os pelos dos braços.   Tal e qual a noite tinham por si só, um sinal de mistério. Noite fria. Um cão negro de olhos avermelhados e sozinho a perambular pelas ruas. Era ela. Sim era ela. Leônidas podia senti-la, só pelo cheiro que entorpecia de sexo o ar. 

No entanto, não conhecia suas estranhas. Foi seduzido pela mulher e entregou-se, ao prazer. Ela foi capaz de masturbar o rapaz no meio da rua sem ninguém os ver. Luiza Maria tinha as mãos frias. Devia ser por causa da chuva que caia naquela noite. Visitou-o em sonho, duas vezes. E ele viria a possuí-la, por ainda outras vezes.  

Outra vez, foi numa tarde que caíam, os vapores azulados do horizonte na capital Teresina e tudo se escureciam. Um vento frio vindo da zona leste sacudia as folhas da mangueira. Leônidas contemplava à tarde que caía.  Havia algo naquele horizonte. Dia de morte, talvez. Na linha azul orlada do nascente, para o lado de Timon, um bando de gaivotas brancas sentadas numa das mangueiras do quintal da casa da tia. 

Presságio. Dizia que aquelas aves eram anjos voando pelo céu. Teresina que algumas horas mais tarde mergulhariam nas águas de um temporal. Dos céus, uma cachoeira imensa que espedaçava suas águas prateadas no asfalto morno das avenidas. Uma chuva de escuma pelo asfalto, a levar sacolas de lixo pelos negros paralelepípedos das ruas do Monte Castelo. 

E o rapaz olhava tudo aquilo, com um ar perfeitamente romântico. Olhar para a chuva fazia Leônidas sentir um divertimento agradável. E seus pensamentos, sempre na mulher que ele havia feito amor na noite anterior. De pé, encostado na porta, a tia Marieta o chamava para sair da chuva.



- Esse diabo é doido! Quer é pegar um resfriado.



O caso é que foi preciso a mulher brigar para ele entrar em casa. Leônidas era um jovem estudante. Rapaz vadio, estudioso, talentoso ou estúpido escritor de romances, de poesias, de contos. Pouco importava o que ele escrevia. Duas coisas lhe deixavam preocupado: os sonhos eróticos que ocorriam com frequência, tais quais os mesmos que o amigo Matias lhe relatava e o reconhecimento dos seus escritos. 

Amava as mulheres sem realmente possuí-las, amava o romantismo e os escritores da segunda geração. Um digno rapaz, sempre honesto. Nas noites de solidão, dentro do quarto gostava de garrafas de vinho, ler seus poemas e de sonhar ter em seus braços, a prima. Adorava acordar cedo da manhã, só para ouvir o canto dos passarinhos. 

Um fino apreciador das noites de luar sonolento, noites límpidas. Quando veio da Universidade Federal achava o mundo monótono. Via pela avenida Frei Serafim, nas calçadas por cima de papelões, miseráveis mendigos, ou um acidente entre veículos, o que era tão popular, vulgar e comum. Porque havia de ver alegria em assistir aquilo? 

É que sem esses ingredientes cotidiano, Teresina não é Teresina. Na Universidade, Leônidas sentia-se um D. Juan com as mulheres. Era uma modéstia! Dizia que toda mulher é sedutora e não conquistadora. Todas elas seriam assim, falava ao amigo fiel, Matias. As que não seriam sedutoras por dentro eram conquistadoras por fora. Há dias que o amigo Matias, queixava-se para Leônidas de sonhos eróticos que aconteciam com frequência.



- Então anda saciado! Ironiza Leônidas.



E contou tudo. Dos sonhos eróticos com uma mulher de quem ele beijou os seios. Outra vez que sentiu os lábios de uma vagabunda que dormia na rua perto da praça da bandeira. Contou da mulher do vizinho, do senhor Zé de Lauro que o pessoal dizia que vendia o corpo na Paissandu. Leônidas explicou-lhe que poderia ser, talvez por ser ainda virgem é que ele imaginava nos sonhos estas lindas mulheres. Alguma mulher na realidade ainda o levaria para a cama.



- Reze por mim! Dizia Matias.



Na verdade, Leônidas não entendeu aquilo dito pelo amigo. Depois da aula de Literatura Piauiense, o suicídio de Matias aos vinte anos virou manchete dos jornais da capital. O tal ato de insanidade humana mexeu com Leônidas. Logo, o Matias que batia no peito e dizia que tinha uma mente de um homem de quarenta anos. 

Exímio questionador dos escritores da segunda geração do Romantismo. Leônidas, naquele dia passou a querer entender os sonhos eróticos de Matias. O que seria aqueles sonhos eróticos? Depois que se enxugou e a tia trouxe-lhe o jantar, o rapaz ficou horas deitado na cama e a mente focada no que Matias lhe falara. Perguntava-se, porque ele não deu atenção a confissão do amigo. 

Por fim, adormecia pensando em tudo. Começava a sonhar. No sonho via uma mulher chegando ao quarto dele. Os dois abraçavam-se e faziam sexo. Os dois corpos entravam em convulsão, os seios e os peitos arquejavam. O beijo das duas bocas tremia nas duas vidas que se fundiam muito e sempre. Depois do sonho, Leônidas começou a chorar, talvez se sentisse culpado pela morte do amigo.  

Amante da boemia, Leônidas  passou a  contemplar a beleza das coisas. Começou a dar valor a tudo que via. Passou a adivinhar o perfume da prima Ísis. Perguntava-lhe à noite, quando chegava da Universidade que música ela mais apreciava. Ísis tinha uma doce voz, e seu coração prometido a outro homem. A formosura da moça era divino e dela  Leônidas nunca poderia sentir seu amor. Achava a mulher mais linda do mundo. 

Lembrou-se de uma vez, quando a viu, nua no banho, suas formas divinas, de morena, de seus cabelos negros. Ele tinha visto seu semblante empalidecer de vergonha, mas depois daquele riso malicioso e do efêmero exibicionismo é que revelava o lado erótico e encantador da moça.  Parecia então que aquela mulher o fazia estremecer, enlouquecer, sentir desejos obscenos com ela. 

Imaginava deitado no quarto, os seus lábios tocarem os seios delas. Morreria com certeza de um desmaio de prazer. O amor se desfazia com a saudade que se desfaz no esquecimento. Amava-a em silêncio. Sentia pena do amigo Matias, pois lembrava dele aos vinte anos nunca ter amado de verdade, exceto os amores pagos ás mulheres do Babilônia. Não sabia que sonhos o levariam a morte. Talvez, o amigo fosse impotente diante da situação. Nunca quis exigir de uma mulher, o seu amor, somente o ato sexual pago. 

FIQUE ATENTO NOS ÚLTIMOS CAPÍTULOS DE SONHOS DE LEÔNIDAS - NOVELA PIAUIENSE DE SUCESSO.

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