segunda-feira, 25 de março de 2013


SONHOS DE LEÔNIDAS


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Leônidas era jovem igual aos que se contavam nas lendas de vampiros. Estava ainda encantado com sua própria força, seu poder de invadir sonhos. Ou talvez, só quisesse amar para provar a si mesmo que havia superado a timidez. Com a ajuda da maior mestra de todos os tempos em ciências ocultas, Michele que idolatrava Iemanjá, Leônidas sentia-se poderoso.

- Pelo poder dos íncubos. Leônidas ordenou.

- Não. Sussurrou Michele sem fôlego.

O olho do outro íncubo girou em torno dele e Michele deu com a cabeça, uma rápida sacudida. O melhor para o outro súcubo era ficar em silêncio. Os cabelos escuros de Ísis roçaram a pele de Leônidas. Quando despertou, Ísis só lembrava-se do sonho. Recordou-se dos anteriores. Ela ainda acordava e sentia-se mais apaixonada, só que Leônidas não era o professor de Literatura. Os íncubos estavam acostumados desde séculos a encantar os humanos. Faziam isso até que estivessem em condições sexuais, só para alimentar-se de suas energias; e embora uma vez invadisse os sonhos, ninguém poderia provar que tinha sido atacado por um deles. Diziam besteiras de Leônidas na rua que morava, só pelo fato de ele não ter ainda ido para a cama com uma mulher. 

Tinha feições delicadas e olhos castanhos brilhantes. Era um tipo de jovem elegante. Talvez, um pouco magrelo e esquisito, mas certa­mente havia mudado muito. Ao longo dos anos, ganhou um belo corpo torneado, peitos firmes e um abdômen perfeito. O certo era que tinha muitas namoradas, paqueras, mas nada de sexo ainda. Quando passava na rua Arimatheia Tito, muitas mulheres o via com olhos de desejo. Masturbava-se regularmente. E a ideia de ter uma relação com uma mulher estava sempre na imaginação. Sonhos eróticos passaram a ser frequentes. E não sabia que sonhos eram aqueles.  Desde a morte de seu melhor amigo Matias que a vida não fazia mais sentido. Questionava-se por que Deus permitiu tal perversidade. E não encontrava nenhuma alegria em nada, nem gosto pela vida. 

Uma vez que o jovem amigo cometeu o suicídio e pelo quarto, logo se sentia um cheiro fétido de demônio. Outra vez, Matias havia também municiado o revolver do pai, um revolver oxidado, débil e com os cartuchos velhos, talvez a morte dele o sujeitasse por muito tempo. Matias não desistiu de tal loucura. Suicidou-se. Certamente, Leônidas sabia que aquilo aconteceria. As cicatrizes feitas na vida dele não cicatrizariam e quando morresse as levaria para a tumba. Já Leônidas vivia em Teresina na casa da tia Marieta.  Dona Marieta era uma viúva e tinha dois filhos, Ísis e Alberto.  Foi há cerca de três anos que Leônidas tentava tornar-se escritor. Participou de vários concurso literários e nada. 

Certa noite, debatia-se com o primeiro romance. Todas as noites, enquanto escrevia, bebia vinho e ouvia música clássica pela rádio Pioneira até amanhecer. O rapaz impôs-se, com objetivo de um capítulo por noite.  De manhã levantava-se, ia até a parada do coletivo, depois seguia para a Universidade Federal fazer o curso de Letras. Para escrever o seu primeiro romance levou praticamente um ano. O amigo Matias pensavam que ele era maluco. De vez em quando eles faziam uma festa na casa de dona Marieta. Bebiam vinho até às 4 ou 5 da manhã. Comentários pelo Monte Castelo que Leônidas tinha caso com a tia. Mentira. Ela era uma terrivelmente enrugada, católica dessas que vão à igreja ao domingo de manhã.

- Tudo mentira, ele negava a Matias.

O certo que a tragédia do amigo, atazanava-lhes o pensamento. Michele, a velha prostituta era uma usuária da magia. Aqueles usuários que chamam para si mesmos os poderes das ciências ocultas. Leônidas tinha escutado sobre os ensinamentos da mulher. Havia de aprender algumas coisas das ciências ocultas. Os sonhos que tinha com uma mulher misteriosa da rua poderiam ser explicados pela mestra. O rapaz entrecerrou seus olhos, imaginou. Nem todo mundo teria coragem para tal ato ou coisa. Sem advertência, lançou-se no caminho até Michele. Não a encontrou em casa. Desistiu e resolveu dormir.  Começou a sonhar novamente. No sonho, ele seguia para o centro de Teresina, mais precisamente para um bar perto da praça da bandeira. Quase em frente ao Troca troca. Leônidas dizia:

- Garçom! Mais uma garrafa de vinho!

Um desconhecido chegava.

- Só uma dose. Dizia a tal pessoa.

Leônidas olhou para o desconhecido e correu goela abaixo um corpo de vinho. O desconhecido aos poucos, foi familiarizando-se com o rapaz sentado á mesa.

- Garrafa vazia? Perguntou.

O rapaz respondeu:

- Sim, o garçom demora vir atender.

Era uma noite silenciosa, exceto pelo rio Parnaíba com suas marolinhas a bater no cais lentamente. Leônidas antes tinha visto um vulto com roupas negras, achou ser o vigário da igreja de nossa senhora do Amparo a passos largos pelo caminho de paralelepípedos da praça da bandeira.  Não havia movimento de pessoas na praça. Ninguém passaria àquelas horas, pois temeriam os usuários de drogas ou algum elemento ruim. O silêncio do lugar amedrontava Leônidas. Ele adorava as noites de luar á beira do cais perto do Troca troca, mas aquilo se erguia misterioso demais.

- Mais uma garrafa de vinho?

- Sim!

- Que fantasmas te atormentam? O desconhecido perguntou.

- Não entenda mal, eu só estou tentando esquecer uma grande tragédia! Disse Leônidas.

Demorou pouco, o desconhecido desaparecia e chegava uma mulher. Uma mulher conhecida por Leônidas. Ela não era uma dessas acostumadas ao beijo fácil que ansiava por prazer de desconhecidos na rua Paissandú. Era talvez, daquelas mulheres casadas que adorava também as sensações mais fortes. Chamava-se Luiza Maria e era uma bela mulher. Luiza Maria era a grande paixão ou a tentação dos adolescentes da rua Arimatheia Tito. Diziam as más línguas que ela durante as noites, vestia-se de homem.

- Uma cerveja! Disse ela.

Leônidas olhou para a mulher. Havia algo de anormal, naquela noite. O desconhecido tinha se retirado do local, e logo Luiza Maria uma lúgubre mulher sensual, não daquelas das esquinas, mas é que ela chegava ao bar e não lhe reconhecia. Imaginou está drogada àquelas horas.

- Que diabo é isso? Será alguma assombração! Dizia ele.

- Boa noite. Dizia ele.

- Boa noite! Respondeu rispidamente.

Parecia que aquilo não era a primeira vez que eles se encontravam. E Leônidas se lembrou de um sonho que tivera com a mulher. 

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