sábado, 27 de abril de 2013


SONHOS DE LEÔNIDAS
NOVELA - PENÚLTIMO CAPÍTULO

16

Matias não era como os outros rapazes da sua idade. Achava que o amor pago era uma corrupção social. Um lado de exploração sórdida do ser humano para com o outro. Aquilo não merecia que seus lábios se unissem ao de uma prostituta, pois considerava uma mulher paga, corrupta. Dizia que o amor devia ser puro.

- Besteira! Sabe a primeira de Alberto. Dizia Matias

- Diz aí! Matias. Falava Leônidas.

Chovia muito em Teresina. O local, a rua Paissandu no centro. Contando com a sorte, uma mulher passou-lhe rápido as pernas, grudando Alberto ao seu corpo, e logo vieram os beijos. 

A mulher nunca tivera tanto prazer nos braços de um amante. Os dois entraram em gozo venéreo. Laura descobria no hálito do jovem os gemidos e os suspiros que nunca tinha ouvido de um homem. 

E gozou-a, gozou-a loucamente, com delírio na verdadeira satisfação de uma mulher da noite. E ele também, ele também gozou, estimulado pela fantasia de ser seduzido por uma mulher da vida fácil. Os amantes gozaram a desonestidade daquele ato imundo, insano.  

Nos braços nus, metendo-lhe pela boca a língua úmida e em brasa os amantes uivavam como lobos. Depois, um arranco de corpo inteiro, Alberto vestia rapidamente a roupa e saia do quarto. Quinze minutos naquele lugar imundo, fétido, lúgubre tinha sido o suficiente. 

Estabeleceu-se entre eles, o hábito efêmero de felicidade sexual, completa. Agora, porém, tanto tempo depois da primeira vez, Alberto era frequente do lugar e com Laura tinha um caso amoroso de dois amantes. 

Nas noites dentro do quarto no bairro Monte Castelo, o rapaz sentia fome de sexo, porém saciava-se nas noites das fantasias de uma mulher que sempre lhe vinha fazer companhia e que saciava-lhe seu corpo. O corpo de Alberto faminto nas mãos daquela mulher que lhe fazia seu corpo morrer e secar como um cadáver. 

A meretriz dos sonhos eróticos, deixava-o como um cadáver. Alberto admirava-se, dessas e outras coisas. Sempre se lembrava do primo Leônidas que no auge dos vinte anos deveria ser puro. Devia Leônidas ser também um devasso com as prostitutas da Paissandu. 

Não é que Leônidas voltava a lembrar dos sonhos de Matias. É certo, aquilo era uma loucura. Leônidas enchia um copo de vinho e via o amigo Matias sempre sorrindo por dentro do quarto. Tinha sono e dormia. Também começou a ser atacado durante os sonhos. 

Sonhava com uma mulher e um homem de que os rostos não davam para ser visto na escuridão. Eles apertavam suas mãos e ouvia meio que desajeitado, os convidando a atos libidinosos. Era um casal de libertinos da rua. Luiza Maria e Zé de Lauro. 

O rapaz fazia sexo com os dois. Depois no sonho, desenhava-se um céu, um palácio de torres escuras em volta de vários casebres iguais aos do bairro santa Bárbara. Nuvens pretas como a noite, labaredas de fogo como o dia, um clarão que iluminava a cama do casal, depois o ato, tornava-se sombrio. 

Leônidas via o rosto do casal e como num enterro, o ato sexual com ambos tinha um gosto de ânsia. O casal era seus vizinhos.  O sonho erótico transformava-se em pesadelo. O rapaz acordou assustado. Estava no centro de Teresina a apreciar o povo passando. 

Todos os dias no centro de Teresina viam-se mulheres, padres, soldados e estudantes. Pela praça da bandeira muitos falavam das mulheres lascivas, dissolutas, ébrias, vadias. Durante a noite, vários pontos no centro da cidade eram de devassidão, atos insípidos, redutos de rodas de pagode, onde muitos estudantes suicidavam seus tédios.  

Lá alumiavam a monotonia do tédio pelo samba. Praças transitáveis. As calçadas da praça Rio Branco um inferno de mendigos espalhados por todos os lados. Local fétido, odor de urina e fezes. Leônidas gostava de andar pelas horas mortas da madrugada. Conversar com as mulheres debaixo do pano luzidio das lâmpadas incandescentes da avenida Maranhão. 

Descobrir o que fizeram cair na vida fácil, desvendar a renda do véu de suas vidas, de suas faces e depois um namoro pago. Tudo inspirava o jovem escritor para escrever sua ficção. A mantilha acetinada da noite sobre os olhares do Parnaíba imponente e majestoso. 

A brisa fresca como uma rosa. Lembrou-se de Ísis, de seus olhos negros, dos cílios, do momento em que Alberto na madrugada adentrava seu quarto e apertava-lhe os seios, seus ais, seus suspiros, seus soluços abafados de prazer. Usava a imaginação na ficção escrita para refazer a realidade dos amores, daquelas mulheres de sexo pago. 

Dentro de um quarto abafado, um ventilador velho teimava em girar. O local era na rua Paissandu. Beijava-lhes o seio palpitante, agita-se convulso no colo da mulher, apertava-lhe a cintura, sufocava-lhes os lábios no seu clitóris e sonhava ser tudo aquilo, o Paraíso. 

Tudo fazia lembrar a primeira aula sobre Romantismo, sobre o mal do século. Só despertou do devaneio, quando uma moça se colocou perto da sua cadeira na sala de aula. Poucas vezes, ele não viajava nas aulas de Literatura. 

AGUARDE ÚLTIMO CAPÍTULO

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