quinta-feira, 15 de março de 2012


III CONTO: AS BARRENSES
APRESENTA:




A ASSOMBRADA DO BAIRRO BOA VISTA

Existem mais coisas entre o céu e a terra do que sonha a nossa vã filosofia, já dizia William Shakespeare. Passado um mês da morte de Batista Sá, diziam algumas más línguas, lá do bairro Boa Vista que a mulher do falecido não esperara o corpo do marido falecido esfriar e já estava de chamego com os homens na rua.
Muitos debatiam nas esquinas de Barras, principalmente nos bancos mornos da praça de santa Luzia, o caráter de Marlene e esquecendo-se, ás vezes da presença da própria mulher na missa do domingo. O que foi uma sorte para quem falava dela, porque ela não consegui­a escutar uma só palavra dos lábios trêmulos e maquiavélicos de dona Ernestina juntamente com dona Dijé.
Quando o disse me disse das duas senhoras terminou, dona Ernestina com dona De Jesus durante a missa, Marlene já saia da igreja de semblante recupe­rado e contrito em Deus, após ouvir atentamente as palavras santas do pároco na missa das cinco horas.
 Depois do choque da morte do marido Batista Sá, ela andava dentro de casa temerosa pela assombração da alma do falecido e o conforto estavam nas palavras de Deus. Quando vinha chegando a casa depois da missa do domingo na igreja de santa Luzia, Davi, um vizinho a interpelou:
— Como tem passado? Perguntou Davi, fingindo preocupação.
— Bem, muito bem. Eu agora preciso repousar. Boa noite! Ela disse cortando conversa com o vizinho.
Ele se levantou e acendeu um cigarro hollywood. Do outro lado da rua, na casa de frente de Rosinha do Felismino, a língua de dona Clarice chicoteava dentro da boca, vilaniando a vida alheia.
— Minha filha Josefa, Marlene parece abatida.
— A senhora também observou foi? Perguntou Josefa.
— É mãe, acho que ela está carente e sentindo a falta do marido.
Após acender e fumar o cigarro, Davi disse a mãe que iria sair.
— É breve, volto logo.
Marlene, uma mulher aos vinte e três anos, completava um mês sem ainda querer tirar os trajes de luto. A cor preta lhe caia muito bem, o corpo esculturado pela natureza e modelado pelas mãos de Deus revelava uma deusa Ísis sedutora.
Ela estava na cozinha com um sensual babydool preto esquentando o jantar, quando não demorou muito, e a mulher ouvira uns sons de passos lentos, cadenciados, meio arrastado e quebrando pedaços de madeira seca no quintal pelo pé da parede.
Aflita, Marlene caminhou apressada para a porta da rua e quase caiu quando tropeçou no tapete da entrada da sala. Ela saiu aflita gritando pela rua do Cedro que tinha um ladrão no quintal.
— Por favor, alguém me ajude, tem um ladrão lá em casa.
O vizinho da esquerda senhor Luis Fitinha aos sessenta anos de idade e ansioso para ajudar aquela dama em apuros, ainda mais de trajes sedutores fazia o pobre homem relembrar a juventude já tão ultrapassada. Até que ele se organizou todo para ir até a residência da musa da rua do Cedro, mas com medo das emoções que poderia ser humilhantes por causa do problema de próstata.
— Por aqui, senhor Luis Fitinha. Ela disse
Ele entrou e atirou-se na escuridão do quintal como um cão sem dono e com uma lanterna na mão e um facão em outra, saiu à procura da alma penada ou mesmo do ladrão. Senhor Luis só escutava o silêncio e a solidão do local, com ventos rasteiros soprando dos altos galhos das mangueiras.
Luis Fitinha correu até o final do muro, olhou por cima e depois saiu para a cozinha, não havia encontrado nada anormal. Devia ele estar animado para dar o resultado da investigação e com a maldade perambulando na mente maliciosa, mas que pena que ali nada mais subia, exceto com ajuda do sidenafil.
Tudo indicava que seria impressão ou medo da mulher por está sozinha em casa. Por meio das dúvidas era melhor prevenir. De acordo com Marlene, ela afirmava que realmente escutara tudo que dissera. A reputação de patife na rua do Cedro, sem dúvida, caia para Davi, uma jovem de dezoito anos recém chegado do Exército Brasileiro, um ex-guerreiro do 25 BC em Teresina e sempre envolvido com brincadeiras de mau gosto e louco para namorar com as jovens do bairro. Estaria ele aprontando com Marlene?
 O certo é que ninguém sabia, o melhor disso tudo é que ele a cortejava em particular desde chegara de Teresina. Marlene passou amedrontar-se na casa, de tal forma que ela teve convidar uma irmã lá da localidade Formosa para morar com ela.
Não acreditava que a alma do falecido ainda não havia descansado no outro plano, pois os votos de fidelidade em vida que ela fervorosamente havia jurado, ainda nem tinham sido esquecidos e o homem no além já se preocupara.
Além do mais, Marlene não deixava o rabo para ninguém puxar lá na Boa Vista, ela desfilava toda sensual, com o vestido negro e muito decotado, só para ver as fofoqueiras da Rua do Cedro destilar o veneno dos maus, as fofocas que pouco susten­tava a verdade da vida dela.
O certo é naquele momento, ela não conseguia reconciliar-se com a coragem e para adquirir o bom nome na rua de uma mulher séria, ela fazia votos de não mais casar. Talvez se estivesse procurando um marido, poderia ser aceitável a alma penada de o falecido atormentá-la, embora Marlene achasse ser mesmo provável, já que o marido antes de morrer fez-lhe jurar que não arranjaria mais ninguém na vida.
 A sogra de Marlene chegava à casa todos os dias. A nora incomodava-se porque a mulher sempre lhe falava que herdaria um pouco da for­tuna do filho. Ou talvez dona Chicuta fosse mesmo vigiar para o filho falecido as ações da jo­vem mulher que não tencionava casar ou ficar com toda a fortuna de Batista Sá.
Quando foi numa quinta-feira do mês de fevereiro de 2012, já se passava mais de dois meses da morte de Batista Sá, a mulher se enfeitiçara por Moscou Rique, depois de dois meses, finalmente a jovem mulher se apaixonara. De súbito, escutou uns passos vindos da sala. Olhou para cima e ouviu que os passos aproximavam-se.
— Marlene! Marlene.
Marlene tremera, toda! Agora mais animada, agradeceu a Deus e abriu a  porta. Com os de­dos trêmulos, dobrou a chave. E avistou pelo olho mágico, o amante Moscou Rique. Os olhos pareciam sorrir. Ela havia jurado sobre o túmulo de Batista Sá que nunca mais arranjaria homem al­gum, só que ela pretendia quebrar a promessa. Então, ao abrir a porta correu e abraçou fortemente Moscou Rique. Agoniada, Marlene fechou a porta e fitou a foto do falecido no alto da parede na sala que lhe arregalava os olhos com sinal reprovativo.
Marlene pensou, Batista Sá tinha de estar feliz por ela ter encontrado um novo amor. Enquanto Marlene preocupava-se com o esposo, Moscou Rique deixava claro que nunca mais voltaria para aquela casa, pois em tudo a mulher relacionava-o com o falecido. A decisão do homem cortou o coração de Marlene.
Ela respirou fundo até que o medo tornou-se suportável. Ao menos, a promessa que fizera era verdadeira e iria continuar por muitos meses. E, após experimentar os deleites novamente da paixão, Marlene não pretendia passar o resto da vida sozinha.
Que o falecido descansasse em paz, ela queria mais era uma guerra no amor e com muitos soldados na fronte, quem diria que o recruta Davi não fosse voluntário daquele solitário coração, mesmo com alma penada e tudo, ele estaria sempre de sentinela na porta da casa da mulher.









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