quinta-feira, 8 de março de 2012


AS BARRENSES

II CONTO

A OFERECIDA DO XIQUE - XIQUE

Abadom encontrava-se sentado no escri­tório, tentando se concentrar nos livros de contabilidade. Ele dentro de uma sala quente que ficava em um dos pontos do Estádio Juca Fortes suspirou, tomou outro gole do café que a secretária Débora tinha preparado. Comeu uns biscoitos que estava do lado da xíca­ra. O café servido por Débora tinha a do­çura e o aroma delicioso da subserviência amorosa. Em tudo, a mulher era muito solícita, até quando não era chamada.
Nem todos no escritório de contabilidade da rua Duque de Caxias queriam tanto alegrar o desanimado chefe do que a funcionária Débora e olha que a mulher via-se sempre obrigada agir com entu­siasmo, semanas atrás depois de declarados rasgados elogios ao patrão, ele quase engasgou-se com os biscoito de polvilho.
Estava fazendo um mês que Abadom tinha se afastado da esposa Judite, após a partida da mulher para tratar em Teresina do filho, ele não se sentia tão feliz que nem sequer se concentrava no trabalho do escritório, por causa do problema de Caim, o único filho. Com Débora, Abadom começava a dividir os momentos de descontração e um dizível bate papo, até altas horas madrugada adentro no escritório.
Porém, quando Débora percebeu quais eram suas regras, intenções, suas chances ela surgia mais ainda com o poder de sedução e inesperada sensação de que poderia se aproveitar ou tirar proveito da situação do chefe. O patrão Abadom concebera um só filho com Judite e a criança nascera com problemas respiratórios.
Débora em tom de brincadeira dizia que cuidaria muito bem do menino e sentia que poderia lhe ofertar ao patrão muitos e muitos momentos de felicidades. Ela sabia que não tinha motivos para amá-lo, mas teria um conforto para o resto da vida. Mas Judite havia de voltar para o lar em menos dias, e Débora sabia que Abadom a esperaria com honra e dignidade de um homem eternamente apaixonado e fiel ao casamento.
Débora pensativa resolveu atacar a fera de frente, ela descrevia que seria capaz de prendê-lo, amá-lo utilizando-se dos truques femininos, do seu charme e da sedução de uma mulher aos dezoito anos. Ela já havia rompido um noivado com um homem que não o amava, e uma vez fora suficiente, o que Débora queria mesmo era dar o golpe da barriga.
Judite estava demorando voltar de Teresina. Durante os primeiros meses de 2012, Abadom sentia-se solitário, desiludido e não recebia nenhum telefonema da esposa e nem do filho pequeno, Caim. Ele também havia prometido de ligar, a esposa Judite esperava... Nenhum si­nal de Abadom. Judite tinha medo do homem já ter encontrado colo.
Débora no auge da juventude desregrada lhe garantia a importância do amor, da aventura e do prazer vivido. Teria ela conseguido ganhar o amor de Abadom, não só isso, ganhou mais do que isso, ganhou uma grande admiração, mas não ser desejada por ele. Abadom sentia-se velho com quase cinqüenta anos, não caia lhe bem aquelas altura da vida iniciar um caso extraconjugal.
Além do mais, ele estava passando por uma turbulência, por causa da doença do filho e a família precisava de união. A esposa Judite voltaria em menos dias de Teresina com o filho. Débora tinha preparado tudo para Abadom vê-la com outros olhos, mas o homem mesmo que fosse às escondidas, à lei da moral, a lei da família o rejeitaria, condenando-o à vida incerta dos jogos amorosos, a qual ele considerava desonrada demais envolver-se com uma funcionária.
O F. Cardoso parava perto do estádio Juca Fortes e descia Judite com o filho de Abadom vindo de Teresina. O relógio marcava seis e meia. Já estava praticamente escuro.
Oh, Judite como foi à viagem? Perguntou o homem.
— Boa graça a Deus. Só o Caim que se sentiu mal. Respondeu a mulher
A vergonha de a esposa descobrir que Débora estava muito atirada corou-lhe as faces, seguida pela raiva dele mesmo ter envolvido-se demais com as insinuações da jovem mulher.
Abadom sentia seu coração palpitar cada vez que Débora trazia a bandeja com café para ele no escritório de contabilidade, com uma saia minúscula demais e um decote ousado da blusa. Solidária com Judite, Débora tocou o ombro dela desejando um ótimo retorno.
— Sinto muito, como está à saúde de Caim?
— Está bem o doutor disse! — Judite respondeu educadamente.
— Como está por aqui?
Tudo em ordem graças a Deus.
            Enquanto isso, Judite dirigia-se para dentro da sala do esposo.
— Como ela soube da saúde de Caim, Abadom? Judite resmungou.
— Ah, sim! Espantou-se o homem.
— Basta eu sair e você dedilha nossa vida. Não sabe que aqui em Barras tem gente que gosta da vida alheia, não! Isso significa que no nosso casamento já não tem mais confiança? Agora estou convencida de que não sou a esposa perfeita. Pode saí Abadom, não diga mais nada!
— Poderia só me escutar, Judite.
Ele torceu o nariz, desgostoso com a situação.
— Eu não posso passar um mês fora, cuidando do nosso filho e você...
— Um mês! Você passou dois meses! Ora! Disse Abadom.
Judite espantou-se.
— Você não foi capaz de me ligar nenhum dia para dar notícias do Caim!
Uma lembrança amarga de traição voltou-lhe à mente de Judite e ela ficou agitada com  as palavras.
— E o que fizeste todo esse tempo, hein. Não me surpreenderia se o objetivo de você criar uma situação "constrangedora" entre nós, não resultaria em um rompimento do nosso casamen­to.
Abadom caminhou até a janela do escritório colocando as duas mãos na cabeça.
— O que você disse?
Fingindo insatisfação, ela caminhou até a sala da recepção procurar por Débora e viu uns clientes que aguardava.
— Abadom precisamos discutir nossa relação, não é?
— Querida Judite, já está tão perto de terminar o trabalho, resolvemos isso lá em casa!
— Estarei esperando por você. Ela excla­mou. Além disso, a viagem prejudicou a saúde de­licada de Caim. Por isso, tenho de voltar o mais rápido possível, mas estarei te esperando.
Débora olhou desconfiada para a aparência frágil de Judite. Abadom, no entanto, parecia constrangido e pálido e também penalizado pelo destino, quando a mulher estendeu-lhe a mão.
— Abadom , o senhor me parece cansado. Ela enxugou-lhe o rosto.
— Oh, como está à saúde de Caim? Perguntou Débora.
— Está perfeita! — ele disse replicando.
— Eu me sinto fraca. Talvez uma indisposição.
— Bem, sabe que sou muito conservador! Mais as apa­rências são importantes, especialmente diante dos clientes. Creio que deva dizer, e estou louco por pedir isso, mas preciso tomar esse cuidado com meu casamento.
— Se me dá licença, Abadom. Débora improvisou, temendo perder a com­postura diante de tal absurdo pedido do homem.
— Muito bem, o senhor acha que eu queria alguma coisa com o senhor. O que o senhor pensa de mim, hein.
Depois do fim do expediente, Abadom saiu para sua casa decepcionado com o que Débora havia lhe dito e chegando ao jardim de longe avistou o filho Caim brincando. Uma cena maravilhosa depois que o filho chegou de Teresina.  Brincar, para uma criança doentia como ele, é algo benéfico para a saúde.
— Deve ter cuidado, viu. O ar fresco o ajudará a recuperar a saúde. Disse ele.
Dito isso, Abadom entrou-se pela sala e fechou o por­tão, suspirando.
Judite aproximou-se, com outro semblante.
— Há algo errado, Abadom?
— Não, amor. Só um pouco cansado. Por favor, traga-me uma água. Uma idéia lhe ocorreu, de repente.
— Não está a fim de jantar fora hoje?
Não havia como não tirar vantagem com a mulher naquela hora. Ele sabia utilizar as táticas de manipulação com a esposa, e ela logo cedia ao assunto. Precisava encontrar um jeito de enganá-la e fazê-la refletir sobre os momentos difíceis que atravessavam.
— Picanha ou um peixinho do marataoan? — a mulher perguntou.
— Um peixinho do marataoan é mais saudável.
— Sabia que a pesca indiscriminada está acabando com os peixes do rio. Disse Judite furiosa.
— Isso é assunto para as autoridades competentes. Respondeu Abadom.
Ela decidiu redirecionar a conversa.
— Como está o trabalho? Espero que não tenha havido mais problemas.
— Está esplêndido. Ele  respondeu.
— O doutor disse que Caim está quase curado.
Tenho certeza que sim, Abadom pensou.
—E como está aprendiz?
— Ah, a Débora.
— Bem, desde que você saiu, ela soube fazer o serviço.
— Abadom, você está trabalhando demais. Administrar esse escritório é tarefa árdua. Preciso mais de você como um marido e livre desse fardo. Não é, Caim? Judite enca­rou o filho.
Débora caminhava pelos paralelepípedos da rua duque de Caxias, no final da caminhada até a casa dela, aparentemente, estava disposta a abdicar das investidas em Abadom.
— Mãe, por favor, abra a porta. O coração de Débora deu um salto.
— Firmino?
O desprezível jogador do Barras Futebol Club con­tinuava a freqüentar a casa dela, mesmo depois de muda-se para outro time por causa da falta de patrocínio do prefeito. E diz os boatos que ele já tinha até herdeiro em solo barrense!
— Ora, que mulher linda você está!
— Conversa rapaz, o que tu faz aqui? Débora perguntou.
— Vim vê-la e saber como está?!
— Então julgou que quero papo com você, Firmino, mas pensando bem! Já lhe disse que não gosto de ser Maria chuteira, mesmo que seja meu vício.

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