domingo, 23 de setembro de 2012

VALE A PENA LER DE NOVO
REPRISE DA NOVELA BARRENSE JOGO BAIXO

V

Cinco anos depois Tudo isso aconteceu há cinco anos. O tempo, ele via passar pela janela. O sol levanta e deitava-se com o passar dos dias. Recluso La marque não tinha noção do tempo e nem direção para onde ir, assim que saísse de uma das celas da cadeia pública. Se, ele é inocente, julgue você mesmo, se não o acuse e deixe o homem pagar por seu erro. Os preparativos para os festejos da padroeira em novembro de 1993 movimentavam a cidade. 


Cinco anos passara-se e nada do julgamento de La marque acontecer. Dentro da cadeia pública e ainda sem julgamento, ele vencia os dias jogando damas. Fazer o tempo passar é algo impossível quando a ociosidade impera no claustro. O jogo de damas, o passatempo favorito dentro do local depois da leitura dos livros.



— Agora é a minha vez! Quero também apostar um dinheiro no jogo.



— Ei La marque, este teu dinheiro parece com o de mendigo.



— Só parece amigo, pois não é de esmola, certo!



Era assim na cadeia pública sempre na ocasião do jogo de damas. Não se sabia quem no fim do jogo saia perdendo ou ganhando. La marque apostava e sempre ganhava. Ganhava mais nas idéias e no poder de influenciar os outros, poder de convencimento. O velho Caçoleta sempre jogava contra o homem. O homem era uma figura de gente das boas, bem diferente dos outros presos. 



Quando perdia no jogo de dama ficava com o rosto avermelhado de raiva, mas um vermelho que logo se desfazia assim que outra partida iniciava e ele dava um porco em alguém. Faltava comer uma dama para La marque ganhar a partida, já para o preso Caçoleta faltavam ainda fazer uma dama com duas pedras: com muito sangue frio, e muito esmero no jogar La marque ganhou a partida. Comeu as pedras de uma só vez. O grito de vitória ecoou pelas grades da cadeia pública. 



Nessa ocasião o cabo Villaça zangou-se com um dos homens. O cabo Villaça, um moço moreno alto, tido com o mais violento da polícia, voluntariamente ou não, se encostou à grade da cela e despejou uma balde de água gelada no rumo dos presos: com o desvio da balde no ar, ele derramou tudo molhando os dois homens ali em cárcere... A raiva lavou a alma de La marque, o vencedor do jogo. La marque adiantou-se para ele perto da grade da cela. 

Com o olhar ardendo de ódio, o homem sacudiu os cabelos molhados e riu com o escárnio que riem os maus diante da impotência do ato. Cabo Villaça caminhou para perto dele: ressoou uma bofetada na cara de La marque. O moço convulso caiu para o lado de dentro da cela, o amigo ainda tentou sustentá-lo, mas em vão. O chão foi à parada final.



— Isso aqui é por Samantha, seu covarde!



O pobre homem cortou o lábio por causa do bofete e limpou o sangue que escorria pela boca. Era insulto atrás de outro insulto; Meia hora depois o cabo Villaça tomou-lhe La marque com as mãos e com sangue frio disse-lhe no ouvido:



— Eu a amava.



— Eu não matei ninguém, senhor... Dizia La marque.



— Bem, muito bem: Diga isso ao juiz.



Depois disso La marque chegou para o companheiro de cela, o Caçoleta e disse:



— Eu sou inocente.



— Acredito em você. Respondeu o homem.



Chegava o horário de visitas. Quando Helena entrou e La marque falou:



— Por que você ainda me acusa?



— La marque, disse ela, não há como tu negar mais homem.



— Mas, o meu julgamento será daqui a seis meses.



— Pois bem: tenho uma boa proposta para você. Disse a mulher.



— Qual? Perguntou ele.



— Samantha dizia que você trouxe muito dinheiro. Você sabe que quero arrumar-lhe um advogado, não sabe?



— Sim, entendi! Em troca de quê?



Helena saindo devagar ainda teve tempo de responder.



— Liberdade, sua liberdade, sabe que sou sua única amiga que acredita em você!



O homem ficou pensativo e recolheu-se ao fundo da cela. Ele sabia que Helena, uma mulher que conhecia somente um nome na vida. Dinheiro. Dela só apertava-se os lábios, quem pagasse, e não era nenhum segredo para ninguém.



— E tu, La marque pensa logo! Depois volto.

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