SONHOS LEÔNIDAS
novela
5
Teresina para o lado do bairro Monte
Castelo na zona sul, mostra-se uma cidade colocada sobre morros, envolta de
muitas casas, velhos sobrados, ladeiras íngremes e ruas péssimas. Era ali na rua
Arimatheia Tito que Leônidas morava desde que veio de Barras de marataoã.
O local que era seu refúgio, sua fortaleza. Buscava inspiração para vida e
também para sua ficção. Escrevia no pequeno caderno sobre a mesa, uma obra
inédita que para sua desgraça nunca seria publicada ou vencida no concurso
novos autores da Prefeitura de Teresina.
Dizia para si, que pelo menos há de alguém da comissão organizadora ler. E,
contudo, não se dava por vencido. O romance sobre súcubos, íncubos e sonhos
até que tinha bonitas histórias, imorais, eróticas e tendenciosas ao
explícito.
Segundo o amigo Matias, os tais seres demoníacos atacavam os humanos na terra
desde da Idade Média. De moças virgens aos jovens mancebos reprimidos dos atos
sexuais. Invadiam os sonhos da pessoa á noite para sugar-lhe as energias vitais, principalmente através dos
sonhos e a trazer os maliciosos sonhos eróticos.
- Deve ser delicioso! Dizia Ísis ao ler
um parágrafo do livro.
Ísis era prima de Leônidas. Uma dessas
moças, onde a beleza é tão vagabunda quanto ao caráter. Dos homens, dizia
querer o ecletismo do amor. Nada de sexo sem amor ou só por prazer. Dizia que
hoje ficaria com um, amanhã com outro, mas nada sério, exceto o professor de
Literatura, a sua verdadeira grande paixão. Queria experimentar todas as raças.
O que falava ao primo, tornava-se
nojento, repulsivo para uma moça de família. Sentia amor ou até mesmo uma
atração sexual pelo professor de Literatura. Sentia pelo homem, a malicia de
provocá-lo sexualmente. Apreciava seu rosto macio, os olhos lânguidos, o peito
musculoso, o corpo alvo, mas reprimia seu desejo.
- Ele sim que é um homem. Dizia a moça.
Depois de elogiar o
seu professor, Ísis ia deitar, mas resolveu ficar e beber vinho com o primo escritor. Leônidas bebia vinho com a
prima. Ísis retirou-se embriagada para dormir. Sozinho e deitado na velha cama
dentro do sobrado da rua Arimatheia Tito no bairro Monte Castelo, ele ficou
pensativo.
Sentia uma saudade
imensa do amigo Matias, seu confidente. Talvez, quisesse morrer de embriaguez.
Depois da morte de Matias, a vida era sem cor. Tudo era preto e branco.
Que importavam os sonhos eróticos sem Matias para ouvi-los? Estava morto.
- Silêncio! Dizia para si. Foi um
ataque cardíaco.
Uma cantilena horrível tocava baixo a
vir do quarto da prima. O quarto de frente ao
dele. Ele a via pela fresta da porta, a moça que dormia ébria, macilenta. Não quis perturbar o sono da mulher. Só admirá-la. Estava totalmente embriagada. Ísis nua por cima
da cama e Leônidas de pálpebras dormentes a apreciar a beleza da moça. Os olhos castanhos claros estavam cheios de volúpia.
Enquanto, o aparelho de som tocava a
música suave, a moça dormia. Cambaleando e quase a adormecer, ouvia murmúrios
da canção na rádio Pioneira. Uma canção de orgia, daquelas músicas que embalam
o prazer carnal de duas pessoas. Sabe-se, que era uma noite fria do começo do mês
de janeiro de 2009.
No céu da capital, nuvens corriam
negras no céu. Morcegos errantes voavam e cortavam os céus nos voos rasantes. A
lâmpada incandescente quase a apagar. Ísis deitada, desmaiada, só a alvura de
sua beleza, sob o reflexo dos olhares do primo. Leônidas a pensar na prima.
- És um louco, Leônidas! Dizia ele.
Ouvia toda a canção no rádio. Calado e
atento a cada detalhe do que a moça fazia. Ísis ao sentir que estava sendo
observada, tratou de fazer uns barulhinhos por debaixo dos lençóis. Dentro do
quarto, um cheiro de sexo no ar.
Leônidas em pé na porta do quarto dela.
Um riso de escárnio ecoou pela noite e vinha de debaixo dos lençóis. Em
seguida, um soluço da moça a pedir por mais vinho. O vinho na taça reluzia, sob
o fogo da lâmpada incandescente. O moço, dava-lhe o líquido tão precioso
naquela hora.
- Vinho! vinho! Dizia Ísis.
A garrafa pela metade e Leônidas
completava a taça nas mãos frias da moça. Ela bebia quase sonâmbula.
Entregou-lhe, o copo vazio. Chamava-o de desgraçado, voyeur, casto.
Chamou-o, até a cama e quando ia unir seus lábios aos dele, empurrou-o.
Os beijos dela, talvez arderiam feito o fogo do vinho.
O beijo entre os dois só ficou na imaginação inacabada de Leônidas. Acabava-se,
assim o vinho e os copos secavam. O escritor iria contar no outro dia aquela
reminiscência, sonho ou fantasia com a linda prima, mas seria apenas mentira.
Poderia ser esperança que tudo aquilo poderia se realizar um dia.
Dizia aquelas
estórias para não ser mais alvo das chacotas pela turma da Universidade, pelo
fato de ainda ser virgem. Leônidas iria
deitar-se e naquela noite ficaria com a prima na cabeça. Já era meia-noite, o
deleite do sonho de um adolescente é seduzir, saber a arte de conquistar uma
garota.
Do lado de fora, a noite negra como uma mina de carvão. De frente a um
espelho, Leônidas sentia o vento entrar pela janela do quarto. Fazia um pouco de frio na
capital.
Ele imaginava se existia mesma a
oração que Matias disse e que dava o poder de invadir os sonhos de uma pessoa.
Naquela noite de janeiro de 2009, chovia o suficiente para alagar as lápides
sepulcrais do cemitério são José na matinha ou até o Parnaíba lamber o
asfalto da Maranhão perto do Troca troca.
- Será que existe a tal oração onírica?
Perguntava-se.
O desejo de possuir tal oração faria
Leônidas procurar a tal Michele do Cabaré Babilônia. Matias era quem conhecia a mulher. A tal era
uma cultora das ciências ocultas. Michele havia dito a Matias que o ataque
dos demônios súcubos drenaria a alma do indivíduo. Ele não lhe deu ouvidos.
A mulher ainda disse-lhe, que os ataques cresceriam e seus sonhos ficariam
como normais a realidade. Mas, Matias era cético. Sabia que há mais de 150
anos, o homem sempre quis poder fazer uma invasão onírica ou livrar-se dos
ataques dos demônios sexuais.
Pesquisou vídeos na internet, sites, blogs e
velhos livros com referência ao assunto e sobre orações que ensinavam tal ato. Talvez, Michele equivocara-se
em muitas coisas, ultimamente. Uma delas era sobre à eterna perdição da alma de uma pessoa atacada.
A mulher era uma espécie de bruxa e exímia mestra das ciências ocultas na região do bairro Piçarra perto do 6 DP. Dias depois, ela promoveria uma magia juntamente com Matias. O objetivo era dar-lhe força para combater tais seres oníricos.
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