segunda-feira, 4 de março de 2013


SONHOS DE LEÔNIDAS


uma novela de JNFerreira.

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Havia no famoso Cabaré Babilônia, localizado na rua Paissandu, bem no centro de Teresina, uma linda mulher de olhos verdes que brilhavam e seus lábios causava delírios nos sonhos dos rapazes, por longas noites ardentes. Uma bela mulher que tinha uma peculiaridade, só bebia vinho e pelas noites abria a janela, só para adorar o luar.

Era uma mulher loira, de uma pele branca, uma daquelas criaturas reumáticas que a coluna fazia um “S” no meio das costas.  Esvaziava o copo cheio de vinho, e com as mãos alvas, os olhos de um lindo verde, fixo nos rapazes. Leônidas recordou daquela noite no Babilônia. Estava sentado numa das mesas e a escutar o que a mulher dizia.

- Levei muito rapaz novo a perdição!

A mulher vangloriava-se, de iniciar muitos rapazes nas orgias do amor pago. O batom vermelho, desbotava-se nos lábios, ao beber o vinho. Leônidas tinha completado dezoito anos e não sabia ainda qual o gosto dos beijos de uma mulher.

Ali, naquele cabaré, o local ideal para devassar o hálito virgem nos beijos quentes daquelas mulheres da vida. Seria talvez, uma doidice, os abraços convulsos daquela mulher de seios murchos, rosto enrugado pelas intempéries do tempo. Ela sentia-se, abandonada pelo mundo, pelos homens e pela sorte.

- Aqui para mim, foi terra de oportunidades! Completava.

Os homens dentro do quarto, sentiam o cheiro do gosto de Michele pelos perfumes doces, perfumes puros, daqueles que embriagam a alma pecaminosa. Na cama, uma mulher de gozos frenéticos e de uma existência fogosa eterna que ninguém jamais esquecia. Leônidas estava apaixonado por ela. O primo dele, Alberto também.

Leônidas descia pela praça da bandeira, assim que vinha da Universidade Federal, ali passava longas noites perdidas ao relento, ás vezes pela avenida Maranhão, a espreitar-lhe da mulher um simples aceno ou até mesmo um adeus. 

Tinha tanto desejo e tanta esperança para sorve-lhe o primeiro beijo, mas precisava pagar por aquilo. Foi numa noite de soluços, lágrimas, de choros e de esperanças, de beijos e promessas, de amor e voluptuosidade que o rapaz a teve nos sonhos.

Quando Leônidas completou dezoito anos, partiu de Barras para Teresina. Na bagagem o sonho de vencer na capital como escritor de ficção. Durante a viagem só lembranças. Lembrou que era ainda uma criança ao entrar na casa do pai, e ver velho todo moribundo no fundo de uma rede.  O rapaz ajoelhou-se, perto do leito e agradeceu a Deus por ele ainda viver.

O velho Taumaturgo ainda pôs as mãos na cabeça dele, banhou as faces de lágrimas e eram as últimas que Leônidas ia ver cair. Com as mãos no peito, e com os olhos no filho, Taumaturgo ainda murmurou antes de falecer.

- Deus te abençoe!

Escutava pela última vez a voz rouca do velho. Todos ali choravam. Morreu sem deixar fortuna, dinheiro, somente dívidas. Laura, a irmã de Leônidas partira para Teresina e nunca mais dera notícias, nenhuma carta. 

A moça partira para capital, depois de um casamento fracassado aos dezesseis anos e ter um filho de outro homem. Costumava a sofrer castigos físicos do homem com quem morava. Leônidas tinha cinco anos quando ela viajou.

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