SONHOS DE LEÔNIDAS
novela
3
Muito prazer.
Apresento-lhes Leônidas, um jovem diferente de qualquer outro que mora em
Teresina. Tinha dezoito anos e ainda
era virgem. Tinha olhos castanhos e uma inteligência à altura
de seu porte. Seu queixo fino e feições bem marcadas faziam com que ele
lembrasse seu avô Coriolano.
Com mais de um metro e oitenta de altura, queria
ser goleiro no time do Flamengo Esporte Clube. Era de uma rapidez incrível, quando agarrava no gol
que até surpreendia seus colegas nos campos de várzea. Os amigos zoavam dele na Universidade Federal pelo
fato de ainda ser virgem.
Todos no bairro Monte Castelo, chamavam-no de escritor
do mal do século. Há anos tentava ganhar o Concurso Literário Novos Autores da
Fundação cultural Monsenhor Chaves. Esgotavam-se, os temas
literários. De morte, traição, amores impossíveis e crimes. Leônidas tinha
escrito tudo.
Todos os escritores, um dia mastigaram demais aqueles temas.
Desde criança tinha como distração, o ato de escrever estórias fictícias, se
verdadeiras ou não, o certo é que ninguém poderia comprová-las. De poesias a
romances, ele era uma fera.
Leônidas
poderia ser hoje em dia, um gênio da escrita, se não fosse sua morte prematura aos vinte
anos. Poderia fazer fama entre os escritores piauienses, quem sabe. Talvez, o
povo um dia irá reconhecer suas obras, ou talvez até ler seus romances.
O certo
é que os sonhos descritos no romance feito pelo jovem Leônidas na maioria, são
indecifráveis, imperfeitos, incompletos ou até mesmo, um sinal do que seria as
novas produções e ficções piauienses.
Hoje, talvez
onde tiver, ele lembre o que mais lhe admirava. Gostava de ver descer o sol de
Teresina no poente para o lado de Timon. Tinha uma obsessão em toda a parte e
em qualquer tempo, os sonhos lhe perseguiam.
O sol do entardecer, uma
imensa auréola a brilhar no firmamento, com as últimas réstias a entrar pela
janela do sobrado. Sob a pouca
claridade solar, escrevia uma ficção. A ficção escrita por Leônidas era apenas
um romance efêmero, cheio de ceticismo e ingredientes eróticos.
Depois de o
autor dar seu último soluço na escrita da ação narrativa, é que se ver que é linda
a estória. O personagem central é cheio de treva, e vive uma constante
indecisão de ser e não ser, um Shakespeare piauiense. Leônidas criou algumas
ideias teóricas sobre sua ficção.
Escrevê-las,
cheia das paixões ardentes e aguçada de uma pitada de imaginação, talvez de
alguma coisa que um dia sonhou. É um tipo novo de autor de romances que não se
parece com um O. G Rêgo de Carvalho e seu Ulisses, nem Assis Brasil com seu
Beira rio, beira vida. No entanto, sua ficção também é carregada de tragédias.
O escritor quis
retratar e decifrar os sonhos do amigo Matias. Leônidas era um gênio vagabundo,
boêmio. Modéstia. Por isso, é autor com talento, autor que foi um gênio. É o
que eu penso. É grande ideia que talvez, ele não concorde.
Para ele, um
escritor sem publicar uma obra seria o mesmo que imaginar o rio Parnaíba sem
suas correntezas a galope. Uma avenida Frei Serafim sem o trânsito infernal de
uma segunda-feira. E por fim. um Teatro 4 de Setembro sem espetáculos aos
sábados e domingos.
Leônidas
achava que Teresina tinha que ter mesmo uma vida tumultuosa, férvida, anelante,
às vezes com roteiros violentos do cotidiano, manchetes sangrentas pelos
noticiários, assim como toda cidade grande em desenvolvimento e a viver ás
expensas do progresso.
Os sonhos do jovem Leônidas é na maioria das vezes, o
sonhos de qualquer jovem delirante no auge dos vinte anos, doido de amor, doido
para ter um amor, doido para morrer beijando os lábios de uma mulher.
O contrário,
foi uma paixão sem nódoa que viveu como numa ficção. Cada capítulo escrito, deixou-o
sonâmbulo, ás vezes convulso nas ideias,
no enredo e entrelaçamento da ficção. Leônidas agitava-se, debatia-se ao traçar
das linhas, não queria perder o foco narrativo.
E, por isso mesmo que sua
ficção, é apenas um singelo romance que escreveu numa noite de insônia, de
febre, noite das aberrações dos sonhos, noite antes de partir para o outro mundo
tão tragicamente, após beber a última taça de vinho e ser esfaqueado até a
morte.
Chamavam-no de o escritor
do mal do século. Poderia ser pelo começo da ficção com histórias de sangue e
violência que fazem certo sucesso. Não. Os leitores poderiam preferir um tema mais
suave. Mas ele não, o autor preferiu um tema pouco conhecido do público. Não
que não desse um pitada de tais temas, tão debatido noutros romances.
Como não tinha bastante
experiência, mas alguma imaginação aliada ao gosto de escrever, inventou uma
história que ninguém nunca sabe se verdadeira ou ficção. O certo é que vamos a narração da estória. Todos da rua Arimatheia Tito acordavam assustados naquela
manhã de fevereiro. Contava-se na rua que o marido soube de tudo.
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