SONHOS DE LEÔNIDAS
6
Naquela noite chuvosa de sexta-feira, Michele subia
as escadas rumo ao quarto de Matias. Antes mesmo que batesse, a porta do
apartamento soou. A porta se abriu e ela fez sinal para entrar.
-
Obrigado por ter vindo! Disse Matias.
- Sem problemas. - Ela sorriu, enquanto sentava-se
do outro lado da cama.
Michele era uma mulher alta, meiga, cujas feições
inexpressivas ajudavam a disfarçar a eficiência obstinada e o perfeccionismo.
Seus olhos verdes e acinzentados, geralmente transmitiam uma impressão de
confiança, mas naquele dia pareciam irrequietos e perturbados.
- Você
parece cansado - disse Matias.
- Já
estive melhor! A mulher suspirou.
- Eu diria que sim.
Matias nunca tinha visto Michele tão preocupada.
Seus cabelos grisalhos estavam despenteados, e com o vento a entrar pela janela,
sua testa suava naquela noite. Parecia que havia dormido mal e havia mesmo, a
mulher estava acordada durante duas noites.
- É possível um ritual para afastar os súcubos! -
declarou ela.
- Você quer isso mesmo? Interrogou.
- Sim. Disse o rapaz.
Michele assentiu positivamente com a cabeça. O
rapaz olhou para a mulher com uma sensação ruim.
- Apenas me escute. Disse.
O rapaz olhava estupefato.
- O
quê? Deve fazer o ritual como manda a oração do livro. Saiba que eles nunca
mais te atacarão nos sonhos.
- Ok.
Matias
olhou o relógio. Não hesitou. Esperou a mulher iniciar o ritual. Ele e Michele
foram para um matagal, nas proximidades da rua Heráclito de Sousa. Caia noite. Tudo
era treva no local, exceto por eles estarem ladeado pela luz das velas. Uma
oração do livro de são Cipriano parecia penetrar na mente de Matias.
Michele
a arremeter contra o jovem, golpes físicos na genitália, arrancando-lhe, sussurros de prazer e dor. Tal ritual, segundo a prostituta seria para
expulsar-lhe, a fonte de energia e sede dos súcubos. Queria lhe dizer que seu
corpo não ia sofrer. Michele dizia que expulsara as almas perdidas e sendo
assim poderia enfim, Matias viveria tranquilamente.
Ela
simplesmente explicou todo o mundo de crepúsculo, de sangue, de morte dos súcubos.
Michele seria a partir daquele momento, uma mulher das trevas e vestiu-se com
trajes de homem e pediu para ser sodomizada por Matias. Mas, para que serviria aquele ato? Pensou miseravelmente Matias.
Se não
fizesse tal ato com Michele, os demônios súcubos continuariam a nublar sua alma
perante as noites. Os fantasmas dos mortos gritariam e perturbariam como
manadas de animais durante os sonhos. Se
pudesse afastá-los, fá-lo-ia. Mas, aonde o prazer carnal com a prostituta, o
levaria a livrar-se daqueles malditos sonhos?
Matias
fez cara de preocupação ao roçar seus dedos contra a nuca de Michele que aos
gemidos transloucados, dizia uma oração que seria o passaporte para livrar-se
de tais visões oníricas. O certo é que Matias tinha sido enfeitiçado e
ludibriado pela mulher.
O que
com o tempo, transformar-se-ia no amante perfeito, um rapaz perturbado pelas
poluções noturnas. Suspeitava que a mulher estivesse lhe enganando com o ritual
de exorcismo. Não tomou aquilo como um rechaço. Como se pudesse ler sua mente, Michele
lhe sacudiu fortemente e apressou mais rápido para o gozo.
Com o
passar dos dias, Matias chorava. Depois do ato imundo com a mulher, outros
rapazes do bairro riam, quando ele passava pela rua. Certa noite, Matias sonhou
que usava uma calça jeans negra e botas. Uma camiseta vermelha escondida
por baixo de uma jaqueta negra para ninguém o reconhecer.
Um
ímpeto de raiva e vergonha tomou conta dele. Naquele momento, Michele estava
novamente se deliciando de outro jovem. Matias entrou no cabaré Babilônia da mulher
na rua Paissandu. Ficou escondido até ele terminar o ato indecente. O tal rapaz
saiu pela porta sem nenhuma vergonha.
Michele
ainda deitada na cama, quando sentiu o golpe de um punhal nas costas. Uma
punhalada que varou o coração. O homem desfalecia. Graças a Deus que aquilo
tinha sido um sonho ou melhor, um pesadelo lembrava Matias a falar ao amigo
Leônidas. Talvez, a vontade de fazer aquilo tivesse sendo reprimido pela
consciência.
A
mulher sabia apresentar-se nos sonhos como um súcubos. Simpatizante da maior
pomba gira, a sete saias, invadia os sonhos de Matias a hora que queria. Dentro
do quarto que ficava no final da rua Paissandu, só cheirava ao sexo proibido. Depois
de tudo acendia velas para Iemanjá.
Enquanto
esperava o relógio marcar doze horas, Michele lia a oração das horas mortas. O
ritual parecia iniciar-se. O fogo das velas oscilou nos resplandecentes olhos
da mulher e a oração de letras emboloradas presa ao olhar.
O medo, a sede de desejo flutuava em igual medida através dos pedaços de
reza balbuciados pelos lábios trêmulos. E assim era melhor terminar aquilo que
iniciava. O ritual dos súcubos havia sido feito há muitos anos atrás por um
grupo de adolescentes, chamados de adoradores de demônios, os simplesmente adoradores da Sabath.
Naquela noite, Michele rasgaria o véu entre o bem e o mal. Entre o mundo
dos mundos e o mundo dos sonhos, um mundo que se retorcia no caos, na fantasia
e ilusão. Tudo o que queria era penetrar
nos sonhos das pessoas, pessoas que seriam atacadas nos sonhos ao dormirem.
E havia boas probabilidades de que sua vida – tal e como era,
transformar-se em um inferno, após o ritual. Lutando contra todas as forças
oníricas, o mestre expôs sua alma à prisão no mundo dos demônios súcubos. Orou
e ao assumir todo o ritual, tomou a forma de uma natureza demoníaca. O controle
de sua alma esquecida e exposta ao perigo mortal.
Alguns dos demônios riam, outros olhavam com horror, outros se arrastaram
nas sombras pelo quarto da mulher. E era alma de culpados e condenados por
aquele ritual. Então, Michele pretendia manter relações sexuais com Matias.
Depois de rezar a oração dos súcubos. Tudo se idealizava.
O sonho de invadir os sonhos das pessoas, transformou-a numa sombra pela
escuridão do mundo desses seres. O prêmio em suas mãos era Matias. O rapaz por
quem era apaixonado. Os olhos de Michele brilharam ao ver o rapaz, cativo e
assustado no sonho. Matias de cabelos
claros ainda úmidos e lisos.
Após o banho, antes dele deitar o que revelou o
impermeável corpo alvo e nu sobre a cama. Seus olhos castanhos azuis, olhos que
suplicavam o amor erótico. Desde a tentativa de invasão onírica que o fôlego da
mulher soprava como o vapor. Ofegava pela tensão do ato que ela não tinha ideia do que era. Na
invasão onírica, a imagem dela era de uma jovem conhecida do rapaz.
- Nãooo. Sussurrou Matias. Sim, OH siiiim. Dizia excitado.
Ela replicou com uma risada.
- Vamos Matias, depois de todos estes ano estudando a seu lado, sabe que
não pode ocultar nada de mim, em especial a alguém tão encantado com sua beleza.
A cabeça à altura do ventre daquilo que seria uma mulher, enlouquecia-o.
O corpo dela era como parte do seu. Matias girou a cabeça mostrando suas
caricias, sob a luz incandescente da lâmpada. O que fora que tivessem planejado
naquela noite, os lábios da mulher permanecia secos, exceto também por Matias, mexer-se na cama sozinho.
Assim que a beijava, sentia-se impotente diante do poder sedutor da mulher.
A moça arranhava as costas dele, as grandes unhas escarlate pressionavam
profundamente contra o formoso corpo. Ela perguntava, se ele a trairia. Pouco
importava o que o namorado de Gabriela respondesse.
Esse não era seu dever como homem. Impotente diante da situação, só
observava em silêncio. A mulher assemelhava-se mais e mais a sua namorada
Gabriela. A imagem de uma linda mulher de olhos oscilantes e em chamas, olhos
que resplandeciam intensamente como brasas.
Embora, a maioria usasse a oração para o moderno ritual — ambos os
súcubos faziam sexo com o macho e ele era o único que não parecia ser
completamente humano. Matias estava pálido, seus olhos azuis, cintilavam
castanhos na cor mel e sedento sem energia vital, e em nenhum momento mais
parecia viver.
E seu corpo pálido era do mesmo pálido de um defunto, desde o primeiro
dia em que foi atacado por um demônio súcubo. Enfim, os ataques
intensificava-se.
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