sexta-feira, 8 de março de 2013



SONHOS DE LEÔNIDAS




6

Naquela noite chuvosa de sexta-feira, Michele subia as escadas rumo ao quarto de Matias. Antes mesmo que batesse, a porta do apartamento soou. A porta se abriu e ela fez sinal para entrar.

- Obrigado por ter vindo! Disse Matias.

- Sem problemas. - Ela sorriu, enquanto sentava-se do outro lado da cama.

Michele era uma mulher alta, meiga, cujas feições inexpressivas ajudavam a disfarçar a eficiência obstinada e o perfeccionismo. Seus olhos verdes e acinzentados, geralmente transmitiam uma impressão de confiança, mas naquele dia pareciam irrequietos e perturbados.

- Você parece cansado - disse Matias.

- Já estive melhor! A mulher suspirou.

- Eu diria que sim.

Matias nunca tinha visto Michele tão preocupada. Seus cabelos grisalhos estavam despenteados, e com o vento a entrar pela janela, sua testa suava naquela noite. Parecia que havia dormido mal e havia mesmo, a mulher estava acordada durante duas noites.

- É possível um ritual para afastar os súcubos! - declarou ela.

- Você quer isso mesmo? Interrogou.

- Sim. Disse o rapaz.

Michele assentiu positivamente com a cabeça. O rapaz olhou para a mulher com uma sensação ruim.

- Apenas me escute. Disse.

O rapaz olhava estupefato.

- O quê? Deve fazer o ritual como manda a oração do livro. Saiba que eles nunca mais te atacarão nos sonhos.

- Ok.

Matias olhou o relógio. Não hesitou. Esperou a mulher iniciar o ritual. Ele e Michele foram para um matagal, nas proximidades da rua Heráclito de Sousa. Caia noite. Tudo era treva no local, exceto por eles estarem ladeado pela luz das velas. Uma oração do livro de são Cipriano parecia penetrar na mente de Matias.

Michele a arremeter contra o jovem, golpes físicos na genitália, arrancando-lhe, sussurros de prazer e dor. Tal ritual, segundo a prostituta seria para expulsar-lhe, a fonte de energia e sede dos súcubos. Queria lhe dizer que seu corpo não ia sofrer. Michele dizia que expulsara as almas perdidas e sendo assim poderia enfim, Matias viveria tranquilamente.

Ela simplesmente explicou todo o mundo de crepúsculo, de sangue, de morte dos súcubos. Michele seria a partir daquele momento, uma mulher das trevas e vestiu-se com trajes de homem e pediu para ser sodomizada por Matias. Mas, para que serviria aquele ato? Pensou miseravelmente Matias.

Se não fizesse tal ato com Michele, os demônios súcubos continuariam a nublar sua alma perante as noites. Os fantasmas dos mortos gritariam e perturbariam como manadas de animais durante os sonhos.  Se pudesse afastá-los, fá-lo-ia. Mas, aonde o prazer carnal com a prostituta, o levaria a livrar-se daqueles malditos sonhos?

Matias fez cara de preocupação ao roçar seus dedos contra a nuca de Michele que aos gemidos transloucados, dizia uma oração que seria o passaporte para livrar-se de tais visões oníricas. O certo é que Matias tinha sido enfeitiçado e ludibriado pela mulher.

O que com o tempo, transformar-se-ia no amante perfeito, um rapaz perturbado pelas poluções noturnas. Suspeitava que a mulher estivesse lhe enganando com o ritual de exorcismo. Não tomou aquilo como um rechaço. Como se pudesse ler sua mente, Michele lhe sacudiu fortemente e apressou mais rápido para o gozo.

Com o passar dos dias, Matias chorava. Depois do ato imundo com a mulher, outros rapazes do bairro riam, quando ele passava pela rua. Certa noite, Matias sonhou que usava uma calça jeans negra e botas. Uma camiseta vermelha escondida por baixo de uma jaqueta negra para ninguém o reconhecer.

Um ímpeto de raiva e vergonha tomou conta dele. Naquele momento, Michele estava novamente se deliciando de outro jovem. Matias entrou no cabaré Babilônia da mulher na rua Paissandu. Ficou escondido até ele terminar o ato indecente. O tal rapaz saiu pela porta sem nenhuma vergonha.

Michele ainda deitada na cama, quando sentiu o golpe de um punhal nas costas. Uma punhalada que varou o coração. O homem desfalecia. Graças a Deus que aquilo tinha sido um sonho ou melhor, um pesadelo lembrava Matias a falar ao amigo Leônidas. Talvez, a vontade de fazer aquilo tivesse sendo reprimido pela consciência.

A mulher sabia apresentar-se nos sonhos como um súcubos. Simpatizante da maior pomba gira, a sete saias, invadia os sonhos de Matias a hora que queria. Dentro do quarto que ficava no final da rua Paissandu, só cheirava ao sexo proibido. Depois de tudo acendia velas para Iemanjá.

Enquanto esperava o relógio marcar doze horas, Michele lia a oração das horas mortas. O ritual parecia iniciar-se. O fogo das velas oscilou nos resplandecentes olhos da mulher e a oração de letras emboloradas presa ao olhar.

O medo, a sede de desejo flutuava em igual medida através dos pedaços de reza balbuciados pelos lábios trêmulos. E assim era melhor terminar aquilo que iniciava. O ritual dos súcubos havia sido feito há muitos anos atrás por um grupo de adolescentes, chamados de adoradores de demônios, os simplesmente adoradores da Sabath.

Naquela noite, Michele rasgaria o véu entre o bem e o mal. Entre o mundo dos mundos e o mundo dos sonhos, um mundo que se retorcia no caos, na fantasia e ilusão. Tudo o que queria era penetrar nos sonhos das pessoas, pessoas que seriam atacadas nos sonhos ao dormirem.

E havia boas probabilidades de que sua vida – tal e como era, transformar-se em um inferno, após o ritual. Lutando contra todas as forças oníricas, o mestre expôs sua alma à prisão no mundo dos demônios súcubos. Orou e ao assumir todo o ritual, tomou a forma de uma natureza demoníaca. O controle de sua alma esquecida e exposta ao perigo mortal.

Alguns dos demônios riam, outros olhavam com horror, outros se arrastaram nas sombras pelo quarto da mulher. E era alma de culpados e condenados por aquele ritual. Então, Michele pretendia manter relações sexuais com Matias. Depois de rezar a oração dos súcubos. Tudo se idealizava.

O sonho de invadir os sonhos das pessoas, transformou-a numa sombra pela escuridão do mundo desses seres. O prêmio em suas mãos era Matias. O rapaz por quem era apaixonado. Os olhos de Michele brilharam ao ver o rapaz, cativo e assustado no sonho.  Matias de cabelos claros ainda úmidos e lisos. 

Após o banho, antes dele deitar o que revelou o impermeável corpo alvo e nu sobre a cama. Seus olhos castanhos azuis, olhos que suplicavam o amor erótico. Desde a tentativa de invasão onírica que o fôlego da mulher soprava como o vapor. Ofegava pela tensão do ato que ela não tinha ideia do que era. Na invasão onírica, a imagem dela era de uma jovem conhecida do rapaz.

- Nãooo. Sussurrou Matias. Sim, OH siiiim. Dizia excitado.

Ela replicou com uma risada.

- Vamos Matias, depois de todos estes ano estudando a seu lado, sabe que não pode ocultar nada de mim, em especial a alguém tão encantado com sua beleza.

A cabeça à altura do ventre daquilo que seria uma mulher, enlouquecia-o. O corpo dela era como parte do seu. Matias girou a cabeça mostrando suas caricias, sob a luz incandescente da lâmpada. O que fora que tivessem planejado naquela noite, os lábios da mulher permanecia secos, exceto também por Matias, mexer-se na cama sozinho.

Assim que a beijava, sentia-se impotente diante do poder sedutor da mulher. A moça arranhava as costas dele, as grandes unhas escarlate pressionavam profundamente contra o formoso corpo. Ela perguntava, se ele a trairia. Pouco importava o que o namorado de Gabriela respondesse.

Esse não era seu dever como homem. Impotente diante da situação, só observava em silêncio. A mulher assemelhava-se mais e mais a sua namorada Gabriela. A imagem de uma linda mulher de olhos oscilantes e em chamas, olhos que resplandeciam intensamente como brasas.

Embora, a maioria usasse a oração para o moderno ritual — ambos os súcubos faziam sexo com o macho e ele era o único que não parecia ser completamente humano. Matias estava pálido, seus olhos azuis, cintilavam castanhos na cor mel e sedento sem energia vital, e em nenhum momento mais parecia viver.

E seu corpo pálido era do mesmo pálido de um defunto, desde o primeiro dia em que foi atacado por um demônio súcubo. Enfim, os ataques intensificava-se.

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