quarta-feira, 20 de março de 2013


SONHOS DE LEÔNIDAS


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- Leônidas, presta atenção! São muitos sonhos assim. Dizia Matias ao melhor amigo.

Leônidas não prestava atenção ao que dizia o amigo. Só queria responder suas atividades de Literatura Brasileira. Matias lhe contava que Michele era uma mulher impressionante, cálida e apaixonada, daquelas mulheres sensuais em que sua sexualidade caprichosa de fêmea faz qualquer homem pecar. Michele havia sido sua em sonhos.

Tudo isso aconteceu, depois daquela noite fria de janeiro  na cabaré Babilônia no centro. No alto dos céus, um trovão retumbou no nascente. No sonho, Michele caminhava lentamente pela rua Valdivino Tito na piçarra. Como todo sonho é cheio de imperfeições, a mulher penetrava seu quarto. Matias olhou-a e desejou sexulamente a mulher. Naquela noite ele seria vítima de um súcubos que o atacaria numa invasão onírica.  

Da janela do quarto, o jovem ouvia o bater das asas dos morcegos, enquanto se preparavam para dormir. Tinha medo de novas invasões dos súcubos nos seus sonhos. E então, escutou os passos familiares. Era a mãe dona Rosa Clarice. Ela vinha dar-lhe boa noite. Para ele, o pesadelo estava a ponto de começar. Com medo de dormir, o rapaz folheava uma revista erótica e contemplava atentamente uma foto. Adormeceu.

Enquanto dormia, uma perturbação se formou entre os sonhos. O sonho não se condensava, ajoelhava-se perto de Michele e a mulher fazia reverência a sua pessoa. Michele permanecia como estava e o manteve como prisioneiro no sonho. No sonho Matias era aprisionado ao corpo dela, como pensar que a velha prostituta seria tão audaz de tomar a liberdade onírica para atacar o rapaz. Uma sábia precaução para um súcubo é não atacar uma homem, fruto do desejo de outro súcubo.

- Não sabe as regras. Disse Michele a Laura.

Enquanto, aparecia um círculo negro e um túnel do tempo entre o súcubos. A voz profunda de Michele ecoou. Michele era alta e branca como o alabastro, com cabelos de um grisalhos quase loiros e olhos verdes que se agitaram com a intromissão da outra mulher no sonho.  Ela usava uma blusa negra de pescoço alto e vestido negro.

- Matias acorde. Volte para a matéria corpórea. Dizia ela, ordenando-o, a acordar.

Laura não tinha sentido em antagonizar com a velha súcubo.

- Fuja! Disse Michele.

Jogou-se, sobre o rapaz, expulsando-o do sonho. Laura escutou a dor na voz de Michele, e também ouviu assim que despertou. Se pudesse fazer ver Michele antecipadamente, certamente não teria feito a invasão ao sonho do jovem. Depois daquele sonho terrível, Matias estava sozinho.  Os sonhos estavam demais. Imagine o povo saber daquilo. Ser apontado por todo mundo na rua, como o mestre das poluções noturnas.

Raiva e vergonha, uma mistura explosiva e fatal. Matias torceu a cabeça olhando para os quatro cantos do quarto. Pressionou o pescoço na corda tão fortemente que os ossos das vértebras cervicais se quebraram. Talvez, não desistiu daquilo. Não sentia mais gosto pela vida. Foi para o sono eterno e tudo aconteceu.

Quando correu a notícia pelo bairro, desespero. No começo da manhã saía gente chorando, outros conversando pelo terreiro da casa. O velório de Matias passara assim, numa agitação medonha na sala. Dona Princesinha era uma velha de uns setenta anos, a avó dele. Ela morava há longo tempo com o neto e a filha Rosa Clarice. Foi casada com um dos homens mais ricos de Teresina, senhor Jerônimo.

Dona Princesinha ordenava as rezas durante o velório de Matias. Era quem tomava conta da casa, quando o filho Osório estava cuidando dos negócios da família. O rosto enrugado pelas intempéries do tempo, não afastava o ar maledicente da mulher. Durante a reza o olhar esquivo, a voz áspera, um tormento. A velha uma espécie de demônio, tinha tanto poder sobre o neto que se ele estivesse vivo, não resistia aos caprichos da velha.

Era uma figura magra e branca, de tão pálida que a pele reluzia o azul das veias pelo longo dos braços. Os olhos azuis afundados dentro das órbitas e uns cabelos grisalhos até abaixo da cintura. Ela andava com uma tiara vermelha na cabeça e naquela noite, a velha rezava e rezava no meio daquela gente pobre e subserviente que qualquer coisa era motivo de choro.

Via-se, Michele preocupada.  Suava, mordia os lábios, assanhava os cabelos nervosamente, tremia. Havia praticamente desaparecido o chão firme que pisava. Os olhos piscavam e as mãos trêmulas numa sudorese, sem fim. A velha virou-se para ouvi-la. A mulher manteve-se de pé, rígida, olhando para o chão e parecia prestes a passar mal.


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