SONHOS DE LEÔNIDAS
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- Leônidas, presta atenção! São muitos sonhos assim. Dizia Matias ao
melhor amigo.
Leônidas não prestava atenção ao que dizia o amigo. Só queria responder
suas atividades de Literatura Brasileira. Matias lhe contava que Michele era
uma mulher impressionante, cálida e apaixonada, daquelas mulheres
sensuais em que sua sexualidade caprichosa de fêmea faz qualquer homem pecar.
Michele havia sido sua em sonhos.
Tudo isso aconteceu, depois daquela noite
fria de janeiro na cabaré Babilônia no
centro. No alto dos céus, um trovão retumbou no nascente. No sonho, Michele
caminhava lentamente pela rua Valdivino Tito na piçarra. Como todo sonho é cheio de
imperfeições, a mulher penetrava seu quarto. Matias olhou-a e desejou sexulamente a mulher.
Naquela noite ele seria vítima de um súcubos que o atacaria numa invasão
onírica.
Da janela do quarto, o jovem ouvia o bater das asas dos morcegos,
enquanto se preparavam para dormir. Tinha medo de novas invasões dos súcubos
nos seus sonhos. E então, escutou os passos familiares. Era a mãe dona Rosa
Clarice. Ela vinha dar-lhe boa noite. Para ele, o pesadelo estava a ponto de
começar. Com medo de dormir, o rapaz folheava uma revista erótica e contemplava
atentamente uma foto. Adormeceu.
Enquanto dormia, uma perturbação se formou entre os sonhos. O sonho não
se condensava, ajoelhava-se perto de Michele e a mulher fazia reverência a sua
pessoa. Michele permanecia como estava e o manteve como prisioneiro no sonho. No
sonho Matias era aprisionado ao corpo dela, como pensar que a velha prostituta seria tão audaz de tomar a liberdade onírica para atacar o rapaz. Uma sábia
precaução para um súcubo é não atacar uma homem, fruto do desejo de outro súcubo.
- Não sabe as regras. Disse Michele a Laura.
Enquanto, aparecia um círculo negro e um túnel do tempo entre o súcubos. A voz profunda de Michele ecoou. Michele era alta e branca como o
alabastro, com cabelos de um grisalhos quase loiros e olhos verdes que se
agitaram com a intromissão da outra mulher no sonho.
Ela usava uma blusa negra de pescoço alto e vestido negro.
- Matias acorde. Volte para a matéria corpórea. Dizia ela, ordenando-o, a
acordar.
Laura não tinha sentido em antagonizar com a velha súcubo.
- Fuja! Disse Michele.
Jogou-se, sobre o rapaz, expulsando-o do sonho. Laura escutou a dor na voz de
Michele, e também ouviu assim que despertou. Se pudesse fazer ver Michele
antecipadamente, certamente não teria feito a invasão ao sonho do jovem. Depois daquele sonho
terrível, Matias estava sozinho. Os
sonhos estavam demais. Imagine o povo saber daquilo. Ser apontado por todo
mundo na rua, como o mestre das poluções noturnas.
Raiva e vergonha, uma mistura explosiva e fatal. Matias torceu a cabeça
olhando para os quatro cantos do quarto. Pressionou o pescoço na corda tão fortemente
que os ossos das vértebras cervicais se quebraram. Talvez, não desistiu daquilo. Não
sentia mais gosto pela vida. Foi para o sono eterno e tudo aconteceu.
Quando correu a notícia pelo bairro, desespero. No começo da manhã saía gente chorando, outros conversando pelo terreiro da
casa. O velório de Matias passara assim, numa agitação medonha na sala.
Dona Princesinha era uma velha de uns setenta anos, a avó dele. Ela morava há
longo tempo com o neto e a filha Rosa Clarice. Foi casada com um dos homens
mais ricos de Teresina, senhor Jerônimo.
Dona Princesinha ordenava as rezas durante o velório de
Matias. Era quem tomava conta da casa, quando o filho Osório estava cuidando
dos negócios da família. O rosto enrugado pelas intempéries do tempo, não
afastava o ar maledicente da mulher. Durante a reza o olhar esquivo, a voz
áspera, um tormento. A velha uma espécie de demônio, tinha tanto poder sobre o
neto que se ele estivesse vivo, não resistia aos caprichos da velha.
Era uma figura magra e branca, de tão pálida que a pele
reluzia o azul das veias pelo longo dos braços. Os olhos azuis afundados dentro
das órbitas e uns cabelos grisalhos até abaixo da cintura. Ela andava com uma
tiara vermelha na cabeça e naquela noite, a velha rezava e rezava no meio
daquela gente pobre e subserviente que qualquer coisa era motivo de choro.
Via-se, Michele preocupada. Suava, mordia os lábios, assanhava os cabelos
nervosamente, tremia. Havia praticamente desaparecido o chão firme que pisava.
Os olhos piscavam e as mãos trêmulas numa sudorese, sem fim. A velha virou-se
para ouvi-la. A mulher manteve-se de pé, rígida, olhando para o chão e parecia
prestes a passar mal.
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