SONHOS DE LEÔNIDAS
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Leônidas queria escrever um romance. O tema central
teimava em não aparecer. Resolvera estudar tudo sobre os demônios íncubos. Um
tema bastante complexo. Lembrou do que Matias falou. Matias dizia ter muitos
sonhos eróticos com mulheres, ultimamente. Sonhos eróticos, diziam que na
maioria das vezes, talvez revelava alguma coisa.
Na primeira vez que teve tal sonho, recordou que via
uma mulher sem rosto. Dizia que a tal mulher chegava a sua cabeceira, tal qual
um espírito impuro, sedento por prazer. Ajoelhou-se, vestia uma grande saia de
sete dobras. O sonho era tal como na realidade. A mulher tinha uma febre de
libertino, uma lascívia nos lábios, seminua, trêmula e palpitante sobre a cama
dele.
Matias não conseguia ver o rosto dela. Sob a luz,
via somente seus lábios. E sonhou com ela, a noite toda. Não sabia, o que aqueles sonhos queriam dizer. A verdade é
que amanheceu apaixonado pela mulher. Ela, o visitaria em outras noites. Sempre
insana, falsa e esquiva. Matias não a tirava da mente. Embriagava-se, com os
beijos dela.
Um dos ataques dos súcubos foi na noite
que chegava ao sobrado da Arimatheia
Tito, os amigos, Débora, Ísis, Alberto, Clarice. Traziam muitas garrafas de
vinho nas mãos. Naquela noite, a orgia, a bebedeira rolaria solta até altas
horas. Entravam para o quarto e começavam a conversar. Débora noiva de Alberto
era a mais assanhada, desinibida. Convencia Matias a contar a mesma estória, o
sonho dito a Leônidas.
- Bem! Muito
bem! É uma falta de respeito com as amigas! Dizia Débora.
Ela queria
saber quem era a tal mulher que visitava Matias nos sonhos. No fundo, só desejavam
saber quem era o amor proibido de Matias que completava-lhe, a vida. E logo
Leônidas, Matias, Alberto, Débora, Ísis e Clarice desciam taças cheias de
vinho. Os copos caiam vazios na mesa em
goles rasgados. Marieta ouvia tudo da parte debaixo do sobrado. Estendia uma
toalha molhada na janela do quarto, só para ouvir melhor o que o pessoal conversavam.
Do quarto,
Leônidas contava histórias sanguinolentas, de paixões efêmeras, lia, relatava
os contos eróticos e oníricos do amigo Matias. Deliravam ao clarão dourado do
sol ás cinco da manhã. Horário em que muitos vinham das baladas e boates da
zona leste, outros iam ao trabalho. Os seis jovens tremiam de frio e desciam por
uma das ladeiras do bairro, iam matar a fome no mercado da Piçarra.
- São apenas
sonhos! dizia Matias.
- Conta
mais, conta agora os teus Leônidas! Manifestou-se, Débora.
Matias tinha ouvido Clarice pedir
para ele contar a estória. Contou tudo ao amigos. Disse que foi uma certa vez.
Tudo aconteceu na casa de dona Princesinha, a avó. Na entrada do bairro Piçarra
perto da igreja de são Raimundo. Por trás da igreja, via-se no nascente a lua
se levantar ao longe.
E sobre aquele luar, Matias
conversavam sobre a ficção escrita pelo amigo Leônidas. Por trás da casa da
avó, Luiza Maria tinha desejo de correr seu prazer e assim exorcizar sua
solidão sexual deixada pelo marido Zé de Lauro que viajava muito. Poderia o
desejo ser realizado, mas seria uma propensão singular de uma mulher ás ruínas.
Luiza Maria devia ser uma anja, talvez um demônio mesmo, mas não se sabe ao
certo.
Sabe-se que era meia sombria e
também ébria, mas antes de tudo uma mulher muito sexual. Tinha sangue de Baco
nem mais nem menos. Tinha os olhos azuis, sentava-se ao lado dele na cama.
Ninguém sabia, quando ela esteve no seu leito, se era mulher ou se homem. Sem
falar, sem suspirar, via-se somente o vulto pelo luar belo a entrar no quarto.
Também no sonho, ouvia gemidos
vindo do quarto da mãe. Os sinais do corpo do ser tinham contornos femininos,
outrora formas masculinas. Ora, aparentava-se homem e ora, mulher. Ficou ali parado ao lado da porta.
Muitas vezes, a mãe dizia que era melhor Matias procurar uma mulher da vida ao
invés de se acabar literalmente na mão.
Conforme os minutos se passaram, mãe e
filho no sonho começavam uma relação amorosa. Numa das vezes, depois do episodio
do quarto, Matias estava sentado no sofá grande e confortável da sala que mais
parecia uma cama. Quando adormeceu, viu em sonhos a espontaneidade dos seres
demoníacos e era uma das características que ele admirava. Um deles beijou-o, longa e amorosamente. O rapaz
tomou-o em seus braços e retirou a camisola com um gesto suave. No sonho sentia as agonias do amor.
Todos os
sonhos de impureza, Matias sonhava á noite e eram de cenas obscenas que lhe
saciavam todo dia. Num deles, deitou-se
com a noiva do amigo Alberto, Débora. A moça o saciava, e Matias acordou
impotente, envolvido no orgulho de um mísero desgraçado. Os sonhos estavam
enlouquecendo-o. E ele sem entender que os sonhos poderiam ser produto da mente
ou da imaginação.
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