quarta-feira, 13 de março de 2013


SONHOS DE LEÔNIDAS


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Leônidas queria escrever um romance. O tema central teimava em não aparecer. Resolvera estudar tudo sobre os demônios íncubos. Um tema bastante complexo. Lembrou do que Matias falou. Matias dizia ter muitos sonhos eróticos com mulheres, ultimamente. Sonhos eróticos, diziam que na maioria das vezes, talvez revelava alguma coisa.

Na primeira vez que teve tal sonho, recordou que via uma mulher sem rosto. Dizia que a tal mulher chegava a sua cabeceira, tal qual um espírito impuro, sedento por prazer. Ajoelhou-se, vestia uma grande saia de sete dobras. O sonho era tal como na realidade. A mulher tinha uma febre de libertino, uma lascívia nos lábios, seminua, trêmula e palpitante sobre a cama dele.

Matias não conseguia ver o rosto dela. Sob a luz, via somente seus lábios. E sonhou com ela, a noite toda. Não sabia, o que aqueles sonhos queriam dizer. A verdade é que amanheceu apaixonado pela mulher. Ela, o visitaria em outras noites. Sempre insana, falsa e esquiva. Matias não a tirava da mente. Embriagava-se, com os beijos dela.

Um dos ataques dos súcubos foi na noite que  chegava ao sobrado da Arimatheia Tito, os amigos, Débora, Ísis, Alberto, Clarice. Traziam muitas garrafas de vinho nas mãos. Naquela noite, a orgia, a bebedeira rolaria solta até altas horas. Entravam para o quarto e começavam a conversar. Débora noiva de Alberto era a mais assanhada, desinibida. Convencia Matias a contar a mesma estória, o sonho dito a Leônidas.

- Bem! Muito bem! É uma falta de respeito com as amigas!  Dizia Débora.

Ela queria saber quem era a tal mulher que visitava Matias nos sonhos. No fundo, só desejavam saber quem era o amor proibido de Matias que completava-lhe, a vida. E logo Leônidas, Matias, Alberto, Débora, Ísis e Clarice desciam taças cheias de vinho.  Os copos caiam vazios na mesa em goles rasgados. Marieta ouvia tudo da parte debaixo do sobrado. Estendia uma toalha molhada na janela do quarto, só para ouvir melhor o que o pessoal conversavam.

Do quarto, Leônidas contava histórias sanguinolentas, de paixões efêmeras, lia, relatava os contos eróticos e oníricos do amigo Matias. Deliravam ao clarão dourado do sol ás cinco da manhã. Horário em que muitos vinham das baladas e boates da zona leste, outros iam ao trabalho. Os seis jovens tremiam de frio e desciam por uma das ladeiras do bairro, iam matar a fome no mercado da Piçarra. 

- São apenas sonhos! dizia Matias.

- Conta mais, conta agora os teus Leônidas!  Manifestou-se, Débora.

Matias tinha ouvido Clarice pedir para ele contar a estória. Contou tudo ao amigos. Disse que foi uma certa vez. Tudo aconteceu na casa de dona Princesinha, a avó. Na entrada do bairro Piçarra perto da igreja de são Raimundo. Por trás da igreja, via-se no nascente a lua se levantar ao longe.

E sobre aquele luar, Matias conversavam sobre a ficção escrita pelo amigo Leônidas. Por trás da casa da avó, Luiza Maria tinha desejo de correr seu prazer e assim exorcizar sua solidão sexual deixada pelo marido Zé de Lauro que viajava muito. Poderia o desejo ser realizado, mas seria uma propensão singular de uma mulher ás ruínas. Luiza Maria devia ser uma anja, talvez um demônio mesmo, mas não se sabe ao certo.

Sabe-se que era meia sombria e também ébria, mas antes de tudo uma mulher muito sexual. Tinha sangue de Baco nem mais nem menos. Tinha os olhos azuis, sentava-se ao lado dele na cama. Ninguém sabia, quando ela esteve no seu leito, se era mulher ou se homem. Sem falar, sem suspirar, via-se somente o vulto pelo luar belo a entrar no quarto.

Também no sonho, ouvia gemidos vindo do quarto da mãe. Os sinais do corpo do ser tinham contornos femininos, outrora formas masculinas. Ora, aparentava-se homem e ora, mulher. Ficou ali parado ao lado da porta. Muitas vezes, a mãe dizia que era melhor Matias procurar uma mulher da vida ao invés de se acabar literalmente na mão.

Conforme os minutos se passaram, mãe e filho no sonho começavam uma relação amorosa. Numa das vezes, depois do episodio do quarto, Matias estava sentado no sofá grande e confortável da sala que mais parecia uma cama. Quando adormeceu, viu em sonhos a espontaneidade dos seres demoníacos e era uma das características que ele admirava.  Um deles beijou-o, longa e amorosamente. O rapaz tomou-o em seus braços e retirou a camisola com um gesto suave. No sonho sentia as agonias do amor.

Todos os sonhos de impureza, Matias sonhava á noite e eram de cenas obscenas que lhe saciavam todo dia.  Num deles, deitou-se com a noiva do amigo Alberto, Débora. A moça o saciava, e Matias acordou impotente, envolvido no orgulho de um mísero desgraçado. Os sonhos estavam enlouquecendo-o. E ele sem entender que os sonhos poderiam ser produto da mente ou da imaginação. 

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