segunda-feira, 9 de julho de 2012


ANTEPENÚLTIMO CAPÍTULO

CHÃO DE FOGO, CAPÍTULO 38


Um ano no quartel do 25 BC em Teresina e mandaram Aurélio se preparar para dar baixa. Abria-se para o rapaz, de repente, um céu, enfim a liberdade de poder voltar para Barras. A história de Eunice entrar para o mundo das drogas muito lhe preocupava. Chegou o dia e ele só pensava na saída. Aurélio com a alma lavada de todas as injustiças e de todas as mágoas que viveu na casa do tio Tonho. O tio já o esperava com uma bicicleta na porta do quartel. Os outros rapazes saíam com ele.

Um ano no quartel e ele estava ali se sentindo um infeliz, um esquecido dos sem-amor na vida, dos que não recebiam cartas e nem telefonema, principalmente de sua amada Eunice. Nenhuma carta ou telefonema Eunice fez. Aurélio passara aquele ano no quartel e vencera a missão.  Desgarrou-se de todas as humilhações sofridas na caserna. Lembrava sentado na garupa da bicicleta do tio, quando fez o curso de operações especiais.

Fora açoitado na pista de campo, levou do bambu ao Tramontina no lombo. Tomou muito chofe ás três da madrugada. Passou sede e fome nas instruções no mato. A pista de obstáculos era como uma pena máxima para os novos recrutas. Ele sempre foi um bom soldado e o sargento se convencia da grandeza de humanidade que ele tinha com os companheiros de pelotão.

Quando chegou na casa do tio no Monte Castelo, a casa estava sozinha,deserta, ninguém esperava por ele. Aurélio era um fardo humano que se arrastava para a tia dona Maria de Lourdes. Anoitecia. E pelas janelas abertas entrava um vento frio da noite na capital. Aurélio olhava para os prédios para o lado da Vermelha e na escuridão, uns últimos clarões de sol se derramavam brilhando nos céus para o lado de Timon.

Na rua Arimateia Tito, um barulho infernal de motos subindo e descendo os morros. Ele sentava-se de frente a televisão para assistir a novela depois do Piauí TV. Cidade grande e o pessoal no vai e vem do dia a dia. A prima Creusa lá para o fundo do quintal ajudando a mãe estender as roupas e fuxicando dele. Aurélio queria sair daquela miséria de vida.

Durante um ano no quartel juntou uns trocados que recebia do salário do mês.  Estava botando o dinheiro no caminho certo, ele queria ajudar os irmãos. Naquele momento, porém, entrava dona Maria de Lourdes já com a advertência de olhos de abutre brigando, pelo fato da televisão está ligada. Aurélio foi deitar e na rede a balançar, imaginava se Deus já descontava suas faltas em vida.

O mau cheiro do banheiro exalava bem de frente a sua rede. Quando apagaram a luz da sala, ele podia escutar do quarto, a prima Creusa enredar que tinha visto na bolsa dele muito dinheiro. Creusa, uma menina de treze anos e que ainda roía as unhas, sujeitinha dissimulada como uma víbora. Ela fazia as coisas e botava culpa no outro irmão. Para dona Maria de Lourdes, um anjo de inocência. O primo Getúlio era mais nervoso e sempre xingava a irmã quando voltavam do colégio Henrique Couto.

- Rapariga. Filha da puta. Ele gritava para Creusa.

Tonho via a cada dia mais ficar ruim as finanças. Ele mesmo falou para dona Maria de Lourdes em cortar as despesas de casa. Não tinha tanto o que cortar. Getúlio, o filho mais novo estudava e muito atrasado, para o pai, o menino era muito burro. Creusa mais adiantada na escola, só queria saber das brincadeiras com os meninos e as passagens com um e outro nos romances efêmeros. Por mais que os professores falavam sobre as notas da menina, não existiam mais o que Tonho fazer com ela.

Creusa ficava às vezes de castigo em casa, mas não tinha jeito. Acompanhada de outras da mesma idade saia escondidas para as festas escondidas. O espaço, um tal de Caminho de Casa no balão da Miguel Rosa, o lugar preferido da menina. Só se via rapazes acenando com a mão para ela. E depois, Creusa de tanto estremecer o coração para os meninos terminou por engravidar.

Quando a moça não mais interessava aos meninos, a mãe dona Maria de Lourdes imaginava a infância perdida. O casal resolveu entrar para a crença. Freqüentando uma igreja, talvez Deus tivesse piedade do tempo de finanças ruim na capital. E Maria de Lourdes partia para cima do esposo Tonho, como uma fera enraivada.  E as risadas abafadas de Aurélio, quando o tio botava aquele demônio para correr.

O terminal rodoviário estava enxameado de gente. Aurélio com a mochila nas mãos esperava o ônibus para viajar. Sentia que sua vida era diferente das dos outros. O tio lhe tratava como um amigo de que haviam de ser separado à força. E por isto a tristeza ao despedir-se.

- Do que precisar de mim é só falar.

E sempre o homem com conversas maiores que chegaram ao ponto de ele pedir emprestado um dinheiro. Com a liberdade na conversa Tonho pediu um dinheiro emprestado a Aurélio. O tempo passava e Aurélio meteu a mão no bolso detrás e emprestou um pouco do valor acumulado do salário que recebia nos meses que esteve no quartel. Fazia aquilo como gratidão pela estadia, porém, o tio desempregado e as finanças no fundo do poço, ele alegrava-se por poder comprar alimentos para a família até arranjar um bico.

A situação na casa do homem no Monte Castelo era pior que a dos pobres diabos miseráveis espalhados pela praça da bandeira no centro de Teresina. O dia a dia na casa de Tonho era sempre a mesma ladainha da esposa. Dona Maria de Lourdes sempre a reclamar que não tinha nada para comer:

- Desse jeito, eu volto é para Barras! Casa de mamãe é ainda um refugio. Não quero nem saber de nada. Quem sair daqui, não volto mais para casa.


AGUARDE O PENÚLTIMO CAPÍTULO DO ROMANCE CHÃO DE FOGO

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