ANTEPENÚLTIMO CAPÍTULO
CHÃO
DE FOGO, CAPÍTULO 38
Um ano no quartel do 25 BC em Teresina e mandaram Aurélio se
preparar para dar baixa. Abria-se para o rapaz, de repente, um céu, enfim a
liberdade de poder voltar para Barras. A história de Eunice entrar para o mundo
das drogas muito lhe preocupava. Chegou o dia e ele só pensava na saída. Aurélio
com a alma lavada de todas as injustiças e de todas as mágoas que viveu na casa
do tio Tonho. O tio já o esperava com uma bicicleta na porta do quartel. Os
outros rapazes saíam com ele.
Um ano no quartel e ele estava ali se sentindo um infeliz,
um esquecido dos sem-amor na vida, dos que não recebiam cartas e nem
telefonema, principalmente de sua amada Eunice. Nenhuma carta ou telefonema
Eunice fez. Aurélio passara aquele ano no quartel e vencera a missão. Desgarrou-se de todas as humilhações sofridas
na caserna. Lembrava sentado na garupa da bicicleta do tio, quando fez o curso
de operações especiais.
Fora açoitado na pista de campo, levou do bambu ao Tramontina
no lombo. Tomou muito chofe ás três da madrugada. Passou sede e fome nas instruções
no mato. A pista de obstáculos era como uma pena máxima para os novos recrutas.
Ele sempre foi um bom soldado e o sargento se convencia da grandeza de
humanidade que ele tinha com os companheiros de pelotão.
Quando chegou na casa do tio no Monte Castelo, a casa estava
sozinha,deserta, ninguém esperava por ele. Aurélio era um fardo humano que se
arrastava para a tia dona Maria de Lourdes. Anoitecia. E pelas janelas abertas
entrava um vento frio da noite na capital. Aurélio olhava para os prédios para
o lado da Vermelha e na escuridão, uns últimos clarões de sol se derramavam
brilhando nos céus para o lado de Timon.
Na rua Arimateia Tito, um barulho infernal de motos subindo
e descendo os morros. Ele sentava-se de frente a televisão para assistir a
novela depois do Piauí TV. Cidade grande e o pessoal no vai e vem do dia a dia.
A prima Creusa lá para o fundo do quintal ajudando a mãe estender as roupas e
fuxicando dele. Aurélio queria sair daquela miséria de vida.
Durante um ano no quartel juntou uns trocados que recebia do
salário do mês. Estava botando o
dinheiro no caminho certo, ele queria ajudar os irmãos. Naquele momento, porém,
entrava dona Maria de Lourdes já com a advertência de olhos de abutre brigando,
pelo fato da televisão está ligada. Aurélio foi deitar e na rede a balançar, imaginava
se Deus já descontava suas faltas em vida.
O mau cheiro do banheiro exalava bem de frente a sua rede.
Quando apagaram a luz da sala, ele podia escutar do quarto, a prima Creusa
enredar que tinha visto na bolsa dele muito dinheiro. Creusa, uma menina de
treze anos e que ainda roía as unhas, sujeitinha dissimulada como uma víbora.
Ela fazia as coisas e botava culpa no outro irmão. Para dona Maria de Lourdes,
um anjo de inocência. O primo Getúlio era mais nervoso e sempre xingava a irmã
quando voltavam do colégio Henrique Couto.
- Rapariga. Filha da puta. Ele gritava para Creusa.
Tonho via a cada dia mais ficar ruim as finanças. Ele mesmo
falou para dona Maria de Lourdes em cortar as despesas de casa. Não tinha tanto
o que cortar. Getúlio, o filho mais novo estudava e muito atrasado, para o pai,
o menino era muito burro. Creusa mais adiantada na escola, só queria saber das
brincadeiras com os meninos e as passagens com um e outro nos romances
efêmeros. Por mais que os professores falavam sobre as notas da menina, não
existiam mais o que Tonho fazer com ela.
Creusa ficava às vezes de castigo em casa, mas não tinha
jeito. Acompanhada de outras da mesma idade saia escondidas para as festas
escondidas. O espaço, um tal de Caminho de Casa no balão da Miguel Rosa, o
lugar preferido da menina. Só se via rapazes acenando com a mão para ela. E
depois, Creusa de tanto estremecer o coração para os meninos terminou por
engravidar.
Quando a moça não mais interessava aos meninos, a mãe dona
Maria de Lourdes imaginava a infância perdida. O casal resolveu entrar para a
crença. Freqüentando uma igreja, talvez Deus tivesse piedade do tempo de
finanças ruim na capital. E Maria de Lourdes partia para cima do esposo Tonho,
como uma fera enraivada. E as risadas
abafadas de Aurélio, quando o tio botava aquele demônio para correr.
O terminal rodoviário estava enxameado de gente. Aurélio com
a mochila nas mãos esperava o ônibus para viajar. Sentia que sua vida era
diferente das dos outros. O tio lhe tratava como um amigo de que haviam de ser
separado à força. E por isto a tristeza ao despedir-se.
- Do que precisar de mim é só falar.
E sempre o homem com conversas maiores que chegaram ao ponto
de ele pedir emprestado um dinheiro. Com a liberdade na conversa Tonho pediu um
dinheiro emprestado a Aurélio. O tempo passava e Aurélio meteu a mão no bolso
detrás e emprestou um pouco do valor acumulado do salário que recebia nos meses
que esteve no quartel. Fazia aquilo como gratidão pela estadia, porém, o tio
desempregado e as finanças no fundo do poço, ele alegrava-se por poder comprar
alimentos para a família até arranjar um bico.
A situação na casa do homem no Monte Castelo era pior que a
dos pobres diabos miseráveis espalhados pela praça da bandeira no centro de
Teresina. O dia a dia na casa de Tonho era sempre a mesma ladainha da esposa. Dona
Maria de Lourdes sempre a reclamar que não tinha nada para comer:
- Desse jeito, eu volto é para Barras! Casa de mamãe é ainda
um refugio. Não quero nem saber de nada. Quem sair daqui, não volto mais para
casa.
AGUARDE O PENÚLTIMO CAPÍTULO DO ROMANCE CHÃO DE FOGO
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