domingo, 8 de julho de 2012


CHÃO DE FOGO, CAPÍTULO 37


A primeira semana no quartel do 25 BC foi muito traumatizante. Uma semana longe de Barras, longe do amor de Eunice e não lhe davam tempo para ficar sozinho com as preocupações. Assim que amanheceu o dia, o quartel atazanava os nervos de Aurélio. Estavam ali outros rapazes da mesma idade, alguns das principais cidades do Piauí compondo os pelotões e companhias. Ele se lembrava do primeiro dia, quando chegou com o tio Tonho no quartel. As palavras ásperas do sargento quando falava com os familiares dos rapazes.

- Pode deixar o recruta, aqui no quartel que eles endireitam, saem gente. Dizia o capitão comandante da unidade, um sujeito baixinho e gordo.

Estava Aurélio e o tio dentro da sala do Corpo de Recrutas. Aurélio sentado numa cadeira perto da mesa. Um soldado a digitar as informações. O tio saia para um canto da sala. Conversava algo com o sargento Inácio perto da entrada do lugar. O rapaz tinha completado dezoito anos em outubro de 1995. O capitão Geraldo queria saber tudo do rapaz. O tio informava de tudo.

- Rapaz dos bons, esse meu sobrinho. Pena que o pai nunca deu atenção a eles. Está com um mês que a mãe faleceu em Barras. Então, dos outros três é o que tem mais futuro.

O capitão Geraldo já o olhava com interesse. Chegava um senhor das bandas de Santa Cruz do Piauí, com um rapaz para entregar ao Exército. O pobre rapaz não sabia, nem as patentes dos militares, já Aurélio estava adiantado, pelo menos a de cabo, ele sabia que era os dois telhados para baixo. E gritou o rapaz ao sair com o encaminhamento da Junta de Serviço Militar para apresentar ao Coronel:

- Aqui está Coronel.

Depois, o coronel adiantava o assunto:

- Esse pelo jeito vai ser um bom soldado, no futuro pode até ser cabo.

Sargento Inácio levava os dois recrutas para o cassino dos praças. E demorou pouco entrou em seguida o rapaz da idade de Aurélio. Jessé era um rapaz moreno, gordo, daqueles meio lesado na vida. Ele vinha com medo, os olhos assustados depois que o pai partira. Desconhecia totalmente o mundo militar.

- É estão engajados! Apresente-os ao pelotão. Dêem o que fazer.

Jessé gaguejando despediu-se do pai que voltava para a cidade do interior. O Tio de Aurélio, o Tonho das frutas voltou para casa cuidar dos assuntos da família.  Meia hora depois, o sol em Teresina, sol de cozinhar os miolos e fritar ovo na Frei Serafim tinia. No meio do pátio formavam-se os pelotões e companhias.

- Xerife, ponha os fanfarrões em forma. É para hoje, xerife. Quanto tempo xerife?

- Dois minutos, senhor!

- Dois minutos xerife, é tempo demais, um minuto xerife, um minuto.

O sargento Inácio já se sentia outro fora do Corpo de Recrutas, não era mais aquele homem de voz mansa e educada,  as palavras pacíficas deixadas para trás e a rispidez assumida o militar de frente ao se direcionar ao pobre xerife do pelotão. Passado o susto, Jessé na posição de descansar olhou para outro companheiro.

- Xerifeeee!!!!!! Anota o soldado Jessé. Mexeu em forma. Quem dos senhores é bom de caneta.

Do pelotão de trinta e cinco homens, quinze levantaram as mãos. Detrás do corpo de alunos, tem umas vassouras vão lá e pegue-as. Disse o sargento Inácio. Quem dos senhores são bons de volante?

Os vinte restantes levantaram as mãos e o sargento mandou-os pegarem os carros de mãos e começarem a faina no quartel, sob a vigilância de Cabo Anselmo. O quartel do 25 criara fama pelo seu rigorismo e disciplina. O Exército enfim, uma espécie de último recurso para rapazes sem jeito e perdido na vida. Por qualquer coisa os novos recrutas ficavam de revista ou pernoite, ás vezes da detenção a prisão. Era ali que Aurélio estava agora. Para uns poderia ser o céu, outros o inferno na Terra. A ordem unida começava ás sete horas depois do hasteamento do pavilhão nacional.

Quando chegou a noite Aurélio deitava na cama do alojamento de corpo doido, do dia inteiro sob o sol de Teresina, sentia-se todo moído. Os pés machucado do coturno novo. Os exercícios militares deixavam o rapaz todo mole. Aurélio não estava acostumado com a vida da caserna. Os exercícios militares com suas meias-voltas, e os direitas e esquerda volver era o que mais entediava o rapaz. Com o passar dos dias, o rapaz já sabia todas as direções.

O sargento gostava do soldado Aurélio e por isso lhe nomeou para xerife do pelotão no terceiro dia para ele comandar. O xerife do primeiro pelotão, o jaguar era o soldado Sérgio. Acabava o xerifado do soldado Sérgio e assumia o pelotão Aurélio. O comando agora é do soldado Aurélio, gritava soldado Sérgio.

- Soldado Sérgio, ex-xerife do primeiro pelotão, apresento pelotão sem alteração.

- Apresentado, primeiro pelotão ao meu comando. Pelotão sentido! Pelotão descansar! Acertar passo! Direita, esquerda, esquerda, direita, em frente, marche!

E Jessé tremia a perna, não acertava nada. Quando o xerife Aurélio gritava uma ordem, os outros se viravam para um lado, o soldado Jessé fazia justamente o contrário. Jessé não tinha segurança nas direções, confundia-se nos lados, não entendia que era esquerdo, com o direito.

- Eita pelotão que só tem muxibas e mucurebas. O soldado Jessé é um muxiba, um fanfarrão. Dizia o sargento Inácio, o coordenador do pelotão. É o único que não aprende.

- Oh Xeriiifeeee! Esse pelotão está um merda, xerife! Gritava o Sargento nos ouvidos de Aurélio. Alguma alteração, xerife? Não senhor! Sem alteração, senhor.

Jessé não gostava nem de desfilar no sete de setembro nas escolas de sua cidade. Quanto mais o sargento aperreava o rapaz, aí é que ele errava. E as reclamações do sargento continuavam com o xerife.

- Xerife, vou te deixar de revista e LS no fim de semana, se o senhor não fizer o soldado Jessé levar a sério a instrução, xerife. Soldado Jessé começou então a ficar de revista e pernoite por causa da indisciplina.

O xerife e soldado Jessé constantemente punidos por causa da ordem unida. Vai ficar de revista novamente! Depois de cinco dias vinha à formatura de sexta-feira. Aurélio com o pensamento preocupado ao escutar tocar a corneta. Saía andando um a um do pelotão.

- Ordinário! Marche! Pelotão Seeentido! Direita... volver! E Jessé virava para a esquerda. O pobre rapaz ficava no meio dos outros como uma barata tonta, perdido, desorientado. Que diabo é isto soldado? gritava o sargento Inácio. O senhor não serve para o Exército. Está debochando de mim, soldado? Saia de forma.

Depois chegou o coronel. Soldado Jessé faz pouco da instrução?

- Não senhor!

- Então, soldado que diabo está acontecendo contigo.

- Nada, não senhor.

O coronel olhou-o e disse passe mais tarde no comando, ouviu soldado. Sim senhor. Espere lá até eu chegar. Jessé ouvia os passos dele na entrada do comando. Imediatamente ele levantou olhando para o coturno todo brilhando e a farda engomada.

- Essa farda está um lixo, soldado. Esse coturno está uma merda! Está aqui sua dispensa, soldado, o senhor não serve para o Exército Brasileiro.

Quando leu o certificado de inclusão em excessos de contingente, Jessé deu pulos de alegria e foi arrumar as coisas para voltar para casa. O tempo de inferno naquele lugar chegava ao ciclo final. O pesadelo dava asas a uma nova realidade o mundo civil aflorava ás suas vistas.


AGUARDE CAPÍTULO 38

CAPÍTULOS FINAIS DO ROMANCE CHÃO DE FOGO.

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