CHÃO DE FOGO, CAPÍTULO 37
A primeira
semana no quartel do 25 BC foi muito traumatizante. Uma semana longe de Barras, longe do amor de Eunice e não
lhe davam tempo para ficar sozinho com as preocupações. Assim que amanheceu o
dia, o quartel atazanava os nervos de Aurélio. Estavam ali outros rapazes da
mesma idade, alguns das principais cidades do Piauí compondo os pelotões e
companhias. Ele se lembrava do primeiro dia, quando chegou com o tio Tonho no quartel.
As palavras ásperas do sargento quando falava com os familiares dos rapazes.
- Pode deixar o recruta, aqui no quartel que
eles endireitam, saem gente. Dizia o capitão comandante da unidade, um sujeito
baixinho e gordo.
Estava Aurélio e o tio dentro da sala do Corpo de Recrutas.
Aurélio sentado numa cadeira perto da mesa. Um soldado a digitar as
informações. O tio saia para um canto da sala. Conversava algo com o sargento
Inácio perto da entrada do lugar. O rapaz tinha completado dezoito anos em outubro
de 1995. O capitão Geraldo queria saber tudo do rapaz. O tio informava de tudo.
- Rapaz dos bons, esse meu sobrinho. Pena que o pai nunca deu
atenção a eles. Está com um mês que a mãe faleceu em Barras. Então, dos outros três
é o que tem mais futuro.
O capitão Geraldo já o olhava com interesse. Chegava um
senhor das bandas de Santa Cruz do Piauí, com um rapaz para entregar ao
Exército. O pobre rapaz não sabia, nem as patentes dos militares, já Aurélio
estava adiantado, pelo menos a de cabo, ele sabia que era os dois telhados para
baixo. E gritou o rapaz ao sair com o encaminhamento da Junta de Serviço
Militar para apresentar ao Coronel:
- Aqui está Coronel.
Depois, o coronel adiantava o assunto:
- Esse pelo jeito vai ser um bom soldado, no futuro pode até
ser cabo.
Sargento Inácio levava os dois recrutas para o cassino dos
praças. E demorou pouco entrou em seguida o rapaz da idade de Aurélio. Jessé
era um rapaz moreno, gordo, daqueles meio lesado na vida. Ele vinha com medo,
os olhos assustados depois que o pai partira. Desconhecia totalmente o mundo
militar.
- É estão engajados! Apresente-os ao pelotão. Dêem o que
fazer.
Jessé gaguejando despediu-se do pai que voltava para a
cidade do interior. O Tio de Aurélio, o Tonho das frutas voltou para casa
cuidar dos assuntos da família. Meia hora
depois, o sol em Teresina, sol de cozinhar os miolos e fritar ovo na Frei
Serafim tinia. No meio do pátio formavam-se os pelotões e companhias.
- Xerife, ponha os fanfarrões em forma. É para hoje, xerife.
Quanto tempo xerife?
- Dois minutos, senhor!
- Dois minutos xerife, é tempo demais, um minuto xerife, um
minuto.
O sargento Inácio já se sentia outro fora do Corpo de
Recrutas, não era mais aquele homem de voz mansa e educada, as palavras pacíficas deixadas para trás e a
rispidez assumida o militar de frente ao se direcionar ao pobre xerife do
pelotão. Passado o susto, Jessé na posição de descansar olhou para outro
companheiro.
- Xerifeeee!!!!!! Anota o soldado Jessé. Mexeu em forma.
Quem dos senhores é bom de caneta.
Do pelotão de trinta e cinco homens, quinze levantaram as
mãos. Detrás do corpo de alunos, tem umas vassouras vão lá e pegue-as. Disse o
sargento Inácio. Quem dos senhores são bons de volante?
Os vinte restantes levantaram as mãos e o sargento mandou-os
pegarem os carros de mãos e começarem a faina no quartel, sob a vigilância de
Cabo Anselmo. O quartel do 25 criara fama pelo seu rigorismo e disciplina. O
Exército enfim, uma espécie de último recurso para rapazes sem jeito e perdido
na vida. Por qualquer coisa os novos recrutas ficavam de revista ou pernoite,
ás vezes da detenção a prisão. Era ali que Aurélio estava agora. Para uns
poderia ser o céu, outros o inferno na Terra. A ordem unida começava ás sete
horas depois do hasteamento do pavilhão nacional.
Quando chegou a noite Aurélio deitava na cama do alojamento
de corpo doido, do dia inteiro sob o sol de Teresina, sentia-se todo moído. Os
pés machucado do coturno novo. Os exercícios militares deixavam o rapaz todo
mole. Aurélio não estava acostumado com a vida da caserna. Os exercícios
militares com suas meias-voltas, e os direitas e esquerda volver era o que mais
entediava o rapaz. Com o passar dos dias, o rapaz já sabia todas as direções.
O sargento gostava do soldado Aurélio e por isso lhe nomeou
para xerife do pelotão no terceiro dia para ele comandar. O xerife do primeiro
pelotão, o jaguar era o soldado Sérgio. Acabava o xerifado do soldado Sérgio e
assumia o pelotão Aurélio. O comando agora é do soldado Aurélio, gritava
soldado Sérgio.
- Soldado Sérgio, ex-xerife do primeiro pelotão, apresento
pelotão sem alteração.
- Apresentado, primeiro pelotão ao meu comando. Pelotão
sentido! Pelotão descansar! Acertar passo! Direita, esquerda, esquerda,
direita, em frente, marche!
E Jessé tremia a perna, não acertava nada. Quando o xerife Aurélio
gritava uma ordem, os outros se viravam para um lado, o soldado Jessé fazia
justamente o contrário. Jessé não tinha segurança nas direções, confundia-se
nos lados, não entendia que era esquerdo, com o direito.
- Eita pelotão que só tem muxibas e mucurebas. O soldado
Jessé é um muxiba, um fanfarrão. Dizia o sargento Inácio, o coordenador do pelotão.
É o único que não aprende.
- Oh Xeriiifeeee! Esse pelotão está um merda, xerife!
Gritava o Sargento nos ouvidos de Aurélio. Alguma alteração, xerife? Não
senhor! Sem alteração, senhor.
Jessé não gostava nem de desfilar no sete de setembro nas
escolas de sua cidade. Quanto mais o sargento aperreava o rapaz, aí é que ele
errava. E as reclamações do sargento continuavam com o xerife.
- Xerife, vou te deixar de revista e LS no fim de semana, se
o senhor não fizer o soldado Jessé levar a sério a instrução, xerife. Soldado Jessé
começou então a ficar de revista e pernoite por causa da indisciplina.
O xerife e soldado Jessé constantemente punidos por causa da
ordem unida. Vai ficar de revista novamente! Depois de cinco dias vinha à formatura
de sexta-feira. Aurélio com o pensamento preocupado ao escutar tocar a corneta.
Saía andando um a um do pelotão.
- Ordinário! Marche! Pelotão Seeentido! Direita... volver! E
Jessé virava para a esquerda. O pobre rapaz ficava no meio dos outros como uma
barata tonta, perdido, desorientado. Que diabo é isto soldado? gritava o
sargento Inácio. O senhor não serve para o Exército. Está debochando de mim,
soldado? Saia de forma.
Depois chegou o coronel. Soldado Jessé faz pouco da
instrução?
- Não senhor!
- Então, soldado que diabo está acontecendo contigo.
- Nada, não senhor.
O coronel olhou-o e disse passe mais tarde no comando, ouviu
soldado. Sim senhor. Espere lá até eu chegar. Jessé ouvia os passos dele na
entrada do comando. Imediatamente ele levantou olhando para o coturno todo
brilhando e a farda engomada.
- Essa farda está um lixo, soldado. Esse coturno está uma
merda! Está aqui sua dispensa, soldado, o senhor não serve para o Exército
Brasileiro.
Quando leu o certificado de inclusão em excessos de contingente,
Jessé deu pulos de alegria e foi arrumar as coisas para voltar para casa. O tempo
de inferno naquele lugar chegava ao ciclo final. O pesadelo dava asas a uma
nova realidade o mundo civil aflorava ás suas vistas.
AGUARDE CAPÍTULO 38
CAPÍTULOS FINAIS DO ROMANCE CHÃO DE FOGO.
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