CHÃO DE FOGO, CAPÍTULO 36
Depois de um mês do falecimento da mãe, Aurélio sentia a
falta dela e não quis comer o jantar. Bote a comida para ele dizia o tio. Com
saudade da mãe, o rapaz só olhos de lágrimas. Separava o feijão e o arroz para
o lado e beliscava somente um pouco da sardinha com farofa. Conversou pouco
durante o jantar. Falou dos irmãos em Barras e perguntou quando voltaria para
lá. As dores da perca para o rapaz eram feridas abertas.
Os outros primos olhavam de longe. Faltava coragem para
amparar o amigo. Creusa aproximou-se dele e com a solidariedade humana começou
a puxar uma conversa. A tia dele Maria de Lourdes nem sequer o olhou direito.
E, no canto da mesa sentada, Creusa encostou uma das mãos no rosto dele e fez
agradado que trouxe simpatia deixando Aurélio, um pouco mais feliz.
Havia na casa muita gente, dona Maria de Lourdes dizia para
o esposo e ainda por cima o marido desempregado, o rapaz era um despesa a mais.
Aurélio foi até a cozinha e via a tia esconder a lata de leite. Os olhos da tia
refletiam dentro a evidência cruel da maldade. Quando chegou a hora de dormir,
o rapaz deitado na sala da casa, só ouvia gemidos de diálogos dos tios dentro
do quarto.
A mulher por uns instantes desgarrava da covardia, e
procurando com o único interesse de consolar, derramando na alma arranhada do
rapaz, um pouco de doçura. Numa das falas, a tia queria levar ele logo dali.
Dona Maria de Lourdes falava para Tonho arrumar a mala e levá-lo para o
quartel. Depois de um silêncio nos diálogos, Aurélio caia no sono.
- Somos cinco, onde um come, todos também comem. É meu
sobrinho não posso desamparar.
Dona Maria de Lourdes não se importava com o sobrinho. Ela
não estava nem aí para os sofrimentos do rapaz. Sentia era raiva daquela gente
em sua casa. E não era que estivesse na casa de alguém estranho. E dias e dias,
e nem uma resposta do quartel. Estava escrito a apresentação para segundo de
janeiro de 1996, porém, que aquela data daria muito prazer para dona Maria de
Lourdes. Beijou a mão cheia de veias da tia e despediu-se dos primos.
Numa segunda-feira Aurélio apresentar-se-ia no quartel. Na
sala de visita da casa do tio esperava o horário de saírem a pé para o quartel.
Corria ansioso pela avenida Frei Serafim entre um semáforo e outro. Beijou a
mão da tia e despediu-se dos primos. Chegando ao quartel, já estava em
conversas com outros rapazes.
- Servir o Exército é como um castigo. Dizia um rapaz.
Aurélio saberia que não era judiação ali, mas preferia o
Exército a cair na bagaceira, nas drogas como outros garotos da mesma idade lá
em Barras. Isto não.
- Não há judiação, dizia o coronel. Só castigo quando há
precisão.
Na fila para o corte do cabelo, Aurélio via muita gente e
todos ficavam amigos. O senhor está mal informado da vida castrense, dizia um
rapaz a outro na fila do barbeiro. Não vá atrás de conversas de recruta. O que
eles querem é mentir, e inventam estórias do militarismo. Meu pai luta há
quinze anos com essa gente.
AGUARDE CAPÍTULO 37
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