sábado, 7 de julho de 2012



CHÃO DE FOGO, CAPÍTULO 36


Depois de um mês do falecimento da mãe, Aurélio sentia a falta dela e não quis comer o jantar. Bote a comida para ele dizia o tio. Com saudade da mãe, o rapaz só olhos de lágrimas. Separava o feijão e o arroz para o lado e beliscava somente um pouco da sardinha com farofa. Conversou pouco durante o jantar. Falou dos irmãos em Barras e perguntou quando voltaria para lá. As dores da perca para o rapaz eram feridas abertas.

Os outros primos olhavam de longe. Faltava coragem para amparar o amigo. Creusa aproximou-se dele e com a solidariedade humana começou a puxar uma conversa. A tia dele Maria de Lourdes nem sequer o olhou direito. E, no canto da mesa sentada, Creusa encostou uma das mãos no rosto dele e fez agradado que trouxe simpatia deixando Aurélio, um pouco mais feliz.

Havia na casa muita gente, dona Maria de Lourdes dizia para o esposo e ainda por cima o marido desempregado, o rapaz era um despesa a mais. Aurélio foi até a cozinha e via a tia esconder a lata de leite. Os olhos da tia refletiam dentro a evidência cruel da maldade. Quando chegou a hora de dormir, o rapaz deitado na sala da casa, só ouvia gemidos de diálogos dos tios dentro do quarto.

A mulher por uns instantes desgarrava da covardia, e procurando com o único interesse de consolar, derramando na alma arranhada do rapaz, um pouco de doçura. Numa das falas, a tia queria levar ele logo dali. Dona Maria de Lourdes falava para Tonho arrumar a mala e levá-lo para o quartel. Depois de um silêncio nos diálogos, Aurélio caia no sono.

- Somos cinco, onde um come, todos também comem. É meu sobrinho não posso desamparar.

Dona Maria de Lourdes não se importava com o sobrinho. Ela não estava nem aí para os sofrimentos do rapaz. Sentia era raiva daquela gente em sua casa. E não era que estivesse na casa de alguém estranho. E dias e dias, e nem uma resposta do quartel. Estava escrito a apresentação para segundo de janeiro de 1996, porém, que aquela data daria muito prazer para dona Maria de Lourdes. Beijou a mão cheia de veias da tia e despediu-se dos primos.

Numa segunda-feira Aurélio apresentar-se-ia no quartel. Na sala de visita da casa do tio esperava o horário de saírem a pé para o quartel. Corria ansioso pela avenida Frei Serafim entre um semáforo e outro. Beijou a mão da tia e despediu-se dos primos. Chegando ao quartel, já estava em conversas com outros rapazes.

- Servir o Exército é como um castigo. Dizia um rapaz.

Aurélio saberia que não era judiação ali, mas preferia o Exército a cair na bagaceira, nas drogas como outros garotos da mesma idade lá em Barras. Isto não.

- Não há judiação, dizia o coronel. Só castigo quando há precisão.

Na fila para o corte do cabelo, Aurélio via muita gente e todos ficavam amigos. O senhor está mal informado da vida castrense, dizia um rapaz a outro na fila do barbeiro. Não vá atrás de conversas de recruta. O que eles querem é mentir, e inventam estórias do militarismo. Meu pai luta há quinze anos com essa gente.

AGUARDE CAPÍTULO 37


CAPÍTULOS FINAIS

Nenhum comentário:

Postar um comentário