segunda-feira, 2 de julho de 2012


CHÃO DE FOGO, CAPÍTULO 31


Na porta de casa, Cassimiro, ás sete horas da noite relembrava a estória dos poetas barrenses e seus poemas. Chegava à casa dele, compadre Honório, a fim de jogar conversa fora. Ele adorava conversar com o amigo.

- Eita, que os festejos estão animados, compadre!

- Sim! E muito.

- Queria que tu contasses mais sobre a Epicuréia Barrense.
- É uma estória comprida. Espere, espere, primeiro deixa chegar o café da Mundoca. As coisas têm de ser devagar.

-Eu já contei um pouco dessa estória no mercado, lembra? Já! Eu passei a vida toda contando a meus filhos, sobre o grupo de poetas barrenses que eram os revolucionários das letras.

A sociedade Epicuréia Barrense se reunia nas noites barrenses, a fim de pensarem no futuro das coisas. Eles objetivavam criar uma literatura de cor local que influenciasse o resto do Estado. O campo santo do São José, no bairro pequizeiro era um lugar morto, vago, lento, o preferido pelo silêncio do lugar.

Ali se recompensava e muito as noites de sono perdido. Não havia outro lugar melhor para aqueles seres pensantes. Talvez nós, nem soubessem que poderiam depois de anos contribuir para a literatura piauiense. Naquele ano de 1980, nosso grupo de poetas barrenses tinha como líder o poeta Rafael, um sujeito de quase um metro e noventa de altura, braço musculoso e uma cabeça que valia um Albert Einstein.

Ele era um apaixonado por Leonardo das Dores e Hermínio Castelo Branco. Não gosto de lembrar o poeta Rafael.

- Por que Cassimiro?

 - Foi triste demais a morte dele.

O fim de Rafael foi triste de mais e abalou toda a cidade de Barras. O assassino silenciosamente chamou-o de canalha dos versos, e depois o fez sagrar até a morte na estrada que vai para Batalha.

Algumas pessoas do Longá, o encontrou por entre as lajes, a beira do rio praticamente nu e rodeado de versos escrito por ele, espalhados pelo chão. Ele tinha dezessete anos, todos o conheciam por seus versos ritmados, de blasfêmia. Tinha um que dizia: ”Um dia eu morro, mas nunca a alegria da vida vai morrer”.

Alguns disseram que foi a polícia, porque Rafael era contra o alistamento militar, essa coisa de servir o Exército.

- Cassimiro, então a Epicuréia Barrense mexia com a situação política de Barras?

- Sim! Não é que eles mexiam, eles brigavam no campo das idéias, nos versos cheios de justiça social, mas sem nunca deixar de falar do amor por esta terra. Afinal, servir o Exército, obter os conhecimentos das táticas de guerras e depois levar um pé na bunda! Foi o que aconteceu com os homens do bando de ciganos comandados por Zé de Lauro. Os justos do Norte, os ciganos que invadiam propriedades.

AGUARDE CAPÍTULO 32

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