CHÃO DE FOGO, CAPÍTULO 31
Na porta
de casa, Cassimiro, ás sete horas da noite relembrava a estória dos poetas barrenses
e seus poemas. Chegava à casa dele, compadre Honório, a fim de jogar conversa
fora. Ele adorava conversar com o amigo.
- Eita,
que os festejos estão animados, compadre!
- Sim! E
muito.
- Queria
que tu contasses mais sobre a Epicuréia Barrense.
- É uma
estória comprida. Espere, espere, primeiro deixa chegar o café da Mundoca. As
coisas têm de ser devagar.
-Eu já
contei um pouco dessa estória no mercado, lembra? Já! Eu passei a vida toda
contando a meus filhos, sobre o grupo de poetas barrenses que eram os revolucionários
das letras.
A
sociedade Epicuréia Barrense se reunia nas noites barrenses, a fim de pensarem
no futuro das coisas. Eles objetivavam criar uma literatura de cor local que
influenciasse o resto do Estado. O campo santo do São José, no bairro pequizeiro
era um lugar morto, vago, lento, o preferido pelo silêncio do lugar.
Ali se
recompensava e muito as noites de sono perdido. Não havia outro lugar melhor
para aqueles seres pensantes. Talvez nós, nem soubessem que poderiam depois de
anos contribuir para a literatura piauiense. Naquele ano de 1980, nosso grupo
de poetas barrenses tinha como líder o poeta Rafael, um sujeito de quase um
metro e noventa de altura, braço musculoso e uma cabeça que valia um Albert
Einstein.
Ele era
um apaixonado por Leonardo das Dores e Hermínio Castelo Branco. Não gosto de lembrar
o poeta Rafael.
- Por que
Cassimiro?
- Foi triste demais a morte dele.
O fim de
Rafael foi triste de mais e abalou toda a cidade de Barras. O assassino
silenciosamente chamou-o de
canalha dos versos, e depois o fez sagrar até a morte na estrada que vai para
Batalha.
Algumas pessoas do Longá, o encontrou
por entre as lajes, a beira do rio praticamente nu e rodeado de versos escrito
por ele, espalhados pelo chão. Ele tinha dezessete anos, todos o conheciam por
seus versos ritmados, de blasfêmia. Tinha um que dizia: ”Um dia eu morro, mas
nunca a alegria da vida vai morrer”.
Alguns disseram que foi a polícia,
porque Rafael era contra o alistamento militar, essa coisa de servir o
Exército.
- Cassimiro, então a
Epicuréia Barrense mexia com a situação política de Barras?
- Sim! Não é que eles mexiam, eles
brigavam no campo das idéias, nos versos cheios de justiça social, mas sem nunca deixar de falar do amor por esta terra. Afinal, servir o
Exército, obter os conhecimentos das táticas de guerras e depois levar um pé na
bunda! Foi o que aconteceu com os homens do bando de ciganos comandados por Zé
de Lauro. Os justos do Norte, os ciganos que invadiam propriedades.
AGUARDE CAPÍTULO 32
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