CHÃO
DE FOGO, CAPÍTULO 35
Quando partiu para Teresina, Eunice
sofreu muito assim como Aurélio. Um ano e Aurélio não escrevera uma carta para
Eunice. A moça entrou em depressão. Conheceu uns colegas do lado do bairro
Santinho que eram barra pesada. Demorou pouco e foi um pulo para viciar-se na
droga do crack. Os avós já não sabia mais o que fazer. Eunice envolvera-se
novamente nas drogas. Contavam alguns que a recaída foi por causa do amor por
Aurélio.
Ele nunca escrevera uma carta sequer para a moça. Dentro do
centro de recuperação, Eunice aprendia a coser. Com o pano e a agulhas nas
mãos, a moça passava os dias. Quando Senhor Cassimiro saoube do envolvimento da
moça, ele punia severamente a moça com castigos, mas por outro lado dona
Mundoca sempre passara as mãos na cabeça da neta. O avô descobriu que ela
estava ganhando dinheiro com os homens, o homem resolveu mandá-la para o centro
de recuperação no Maranhão.
O homem soube de tudo pelos vizinhos que já comentavam pela
rua. Quando entrou em abstinência por causa da droga, ela ficava mordendo as
unhas, como se estivesse com fome, as mãos tremendo e de uma impaciência dos
diabos. Dentro do quarto, á noite dava longas risadas e gritos medonhos. Dona
mundoca tinha que esconder os vidros de arnica, cola de sapateiro e outras
coisas.
Eunice estava ficando louca. Quando passava as pessoas na
rua, ela xingava, principalmente as mulheres. Certa vez, senhor Cassimiro não
agüentava mais as coisas da neta. O velho levantou-se da cadeira preguiçosa e
partiu para cima da moça como um cão enfezado.
- Saia daqui, saia já daqui!
Só se ouvia d. Mundoca lá da cozinha gritando:
- Não brigue com ela, Cassimiro.
Eunice corria para a cama. Olhando para baixo da cama pegou
os calçados e pulou a janela da casa, e foi-se para a rua. Apesar de tudo,
senhor Cassimiro respirava quando ela saía, mesmo contra às suas ordens. A
família na rua 10 de novembro já estava sob os murmúrios dos escândalos da
moça, as conversas e os comentários dos vizinhos chegavam até os ouvidos de
padre Gregório. Quase que ninguém se importava mais com o problema de Eunice.
Na mesa, seu Cassimiro falava:
- Aquela sem-vergonha pensa que me amedronta.
Eunice com dezoito anos apresentava-se no bar do Zezinho. O
dono do bar chamava logo a polícia. Na delegacia com pouca gente, o delegado
queria o depoimento de seu Cassimiro. Dona Mundoca criou coragem de mãe e
contou ao delegado o problema que estava enfrentando. Quando passava a
vergonha, os avôs da moça, cara a cara com a vítima, a levavam novamente para
casa.
Os olhos graúdos de Eunice procurava não olhar para os
lados, assim que saiu da delegacia. Ela tinha vergonha dos olhares e das conversas
das amigas. Quando o dia da internação no centro de recuperação em Timon
chegou, os avôs da moça sentiam-se aliviados. Era o melhor meio de cura que
Eunice poderia conseguir era internar-se em um centro de recuperação.
Eunice, isolada num quarto, sentada na cama. O olhar solitário
atravessava a janela e cortava a imensidão do nascente de ponta a ponta
esquadrinhando o céu azul. Depois saia para o pátio do local e sentada no
tamborete começava o ponto do crochê. Passar horas e horas naquela atividade,
não pronunciava uma só palavra e ouvia as outras meninas conversarem uma com as
outras.
O silêncio no centro de recuperação doía. Eunice no trabalho
do crochê usava todos os recursos da imaginação para povoar o isolamento.
Quando a noite lembrando-se de Barras chegava-se para as outras meninas e
quando avançava as horas depois da novela esgotavam-se os assuntos e ao chegar
às dez horas, todas iam dormir para as seis e meia estarem de pé para as
atividades do centro. As conversas entediavam e enfastiavam a moça.
A moça esperava os sábados para receber a visita de uma tia
que vinha do bairro Piçarra. Ela só pensava em querer fugir dali. Não tinha
mais forças para afugentar o tédio, o pensamento mau. Saia andando pelo imenso
jardim do centro, de braços levantados, deitava-se debaixo de uma árvore.
Ficava a olhar uma e outra moça. E a imaginação sempre encontrava a pessoa de
Aurélio. Quando começaram a namorar. Os pensamentos lúbricos de Eunice a
cansavam.
Entretanto olhava para o céu e a diretora do centro
aproximando-se para levá-la até a tia. Dona Helena, uma mulher baixa, gorda com
uma fala autoritária e um grito ensurdecedor que metia medos em todas ali.
- Eunice? Sim, visita
para você.
Conversava com a tia. Ouvia a tia soltar lindas palavras e
logo, Eunice abaixava a vista e com tanta simplicidade pedia que tudo aquilo
não existisse. Fazia promessas que não iria mais usar drogas. Pedia a tia para
dizer ao avô para vir buscá-la. Pela primeira vez, a tia via naquelas
preocupações, alguma coisa ficara clara, ficara em evidência ali no centro.
- Você não está pensando em fazer-lhe alguma mal, está?
- Não, tia.
Eunice ficava pensando nos seus atos. Tinha muito errado na
vida. A moça voltava para o dentro do
centro. À noite, antes de dormir, rezava as minhas ave-marias com medo e o padre
nosso, onde pedia perdão de todas as coisas que tinha feito.
AGUARDE CAPÍTULOS 36
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