sexta-feira, 6 de julho de 2012



CHÃO DE FOGO, CAPÍTULO 35


Quando partiu para Teresina, Eunice sofreu muito assim como Aurélio. Um ano e Aurélio não escrevera uma carta para Eunice. A moça entrou em depressão. Conheceu uns colegas do lado do bairro Santinho que eram barra pesada. Demorou pouco e foi um pulo para viciar-se na droga do crack. Os avós já não sabia mais o que fazer.  Eunice envolvera-se novamente nas drogas. Contavam alguns que a recaída foi por causa do amor por Aurélio.

Ele nunca escrevera uma carta sequer para a moça. Dentro do centro de recuperação, Eunice aprendia a coser. Com o pano e a agulhas nas mãos, a moça passava os dias. Quando Senhor Cassimiro saoube do envolvimento da moça, ele punia severamente a moça com castigos, mas por outro lado dona Mundoca sempre passara as mãos na cabeça da neta. O avô descobriu que ela estava ganhando dinheiro com os homens, o homem resolveu mandá-la para o centro de recuperação no Maranhão.

O homem soube de tudo pelos vizinhos que já comentavam pela rua. Quando entrou em abstinência por causa da droga, ela ficava mordendo as unhas, como se estivesse com fome, as mãos tremendo e de uma impaciência dos diabos. Dentro do quarto, á noite dava longas risadas e gritos medonhos. Dona mundoca tinha que esconder os vidros de arnica, cola de sapateiro e outras coisas.

Eunice estava ficando louca. Quando passava as pessoas na rua, ela xingava, principalmente as mulheres. Certa vez, senhor Cassimiro não agüentava mais as coisas da neta. O velho levantou-se da cadeira preguiçosa e partiu para cima da moça como um cão enfezado.

- Saia daqui, saia já daqui!

Só se ouvia d. Mundoca lá da cozinha gritando:

- Não brigue com ela, Cassimiro.

Eunice corria para a cama. Olhando para baixo da cama pegou os calçados e pulou a janela da casa, e foi-se para a rua. Apesar de tudo, senhor Cassimiro respirava quando ela saía, mesmo contra às suas ordens. A família na rua 10 de novembro já estava sob os murmúrios dos escândalos da moça, as conversas e os comentários dos vizinhos chegavam até os ouvidos de padre Gregório. Quase que ninguém se importava mais com o problema de Eunice. Na mesa, seu Cassimiro falava:

- Aquela sem-vergonha pensa que me amedronta.

Eunice com dezoito anos apresentava-se no bar do Zezinho. O dono do bar chamava logo a polícia. Na delegacia com pouca gente, o delegado queria o depoimento de seu Cassimiro. Dona Mundoca criou coragem de mãe e contou ao delegado o problema que estava enfrentando. Quando passava a vergonha, os avôs da moça, cara a cara com a vítima, a levavam novamente para casa.

Os olhos graúdos de Eunice procurava não olhar para os lados, assim que saiu da delegacia. Ela tinha vergonha dos olhares e das conversas das amigas. Quando o dia da internação no centro de recuperação em Timon chegou, os avôs da moça sentiam-se aliviados. Era o melhor meio de cura que Eunice poderia conseguir era internar-se em um centro de recuperação.

Eunice, isolada num quarto, sentada na cama. O olhar solitário atravessava a janela e cortava a imensidão do nascente de ponta a ponta esquadrinhando o céu azul. Depois saia para o pátio do local e sentada no tamborete começava o ponto do crochê. Passar horas e horas naquela atividade, não pronunciava uma só palavra e ouvia as outras meninas conversarem uma com as outras.

O silêncio no centro de recuperação doía. Eunice no trabalho do crochê usava todos os recursos da imaginação para povoar o isolamento. Quando a noite lembrando-se de Barras chegava-se para as outras meninas e quando avançava as horas depois da novela esgotavam-se os assuntos e ao chegar às dez horas, todas iam dormir para as seis e meia estarem de pé para as atividades do centro. As conversas entediavam e enfastiavam a moça.

A moça esperava os sábados para receber a visita de uma tia que vinha do bairro Piçarra. Ela só pensava em querer fugir dali. Não tinha mais forças para afugentar o tédio, o pensamento mau. Saia andando pelo imenso jardim do centro, de braços levantados, deitava-se debaixo de uma árvore. Ficava a olhar uma e outra moça. E a imaginação sempre encontrava a pessoa de Aurélio. Quando começaram a namorar. Os pensamentos lúbricos de Eunice a cansavam.

Entretanto olhava para o céu e a diretora do centro aproximando-se para levá-la até a tia. Dona Helena, uma mulher baixa, gorda com uma fala autoritária e um grito ensurdecedor que metia medos em todas ali.

 - Eunice? Sim, visita para você.

Conversava com a tia. Ouvia a tia soltar lindas palavras e logo, Eunice abaixava a vista e com tanta simplicidade pedia que tudo aquilo não existisse. Fazia promessas que não iria mais usar drogas. Pedia a tia para dizer ao avô para vir buscá-la. Pela primeira vez, a tia via naquelas preocupações, alguma coisa ficara clara, ficara em evidência ali no centro.

- Você não está pensando em fazer-lhe alguma mal, está?

- Não, tia.

Eunice ficava pensando nos seus atos. Tinha muito errado na vida.  A moça voltava para o dentro do centro. À noite, antes de dormir, rezava as minhas ave-marias com medo e o padre nosso, onde pedia perdão de todas as coisas que tinha feito. 

AGUARDE CAPÍTULOS 36

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