domingo, 15 de janeiro de 2012


 ANTEPENÚLTIMO CAPÍTULO
JOGO BAIXO
               
                    CAPÍTULO 11

XI

Helena

William ficou pálido com o que La marque narrava. Pois bem, te conto a história. Mas quanto a essa sobre Samantha, pode crer é bem cheia de terror. Não é um conto, não é uma lembrança do passado. Não é meu alvará de soltura, mais é a verdade, rapaz.
— É uma ladra! Uma ladra!
— Conta La marque! Conta tudo!
La marque falou: os mais fizeram silêncio. Era tempo. Quatro horas depois amanhecia o dia na terra de marataoan. Helena já estava fora de Barras. Os raios do sol invadiam a cela depois de uma madrugada borrifada de orvalho das chuvas, das nuvens azuladas, e as águas salpicadas dos céus barrenses.  
A natureza encorajava os primeiros raios do sol a romper a barra avermelhada do dia. A conversa dos três homens invadiu toda a madrugada e encerrava-se pelo ar fresco do dia que os faziam dormir como excrementos da cidade, como excrementos da amásia Helena. Um dos homens, La marque via em sonho Samantha e beijava-a.
Ele sentia a mulher em vida que se evaporava dos seus lábios. Ele sobressaltou-se, entreabriu os olhos; mas o peso do sono ainda o acabrunhava, e as pálpebras pesadas se fechavam...
O sol estava no alto céu marataoan— era meio-dia: o calor dentro da cela da cadeia aumentava: pela fronte, pelas faces, pelos braços dos homens rolavam gotas de suor dentro do quarto da prisão. Ele vinha caminhando pelo corredor com uma curiosidade indiscreta.
O soldado Sousa chegou perto da grade da cela e chamou por La marque.
— Senhor La marque, vossa irmã, quer falar com você. Deixo-a entrar.
— Sim! Pode deixar! Obrigado! Foi essa a resposta do homem.
— Você soube o que aconteceu? Murmurou Glória.
O homem respondeu não.
— Toda a polícia está atrás daquela amiga da Samantha.
— Helena?
— Sim, dessa desavergonhada mesmo!
— O que ela fez? Perguntou o homem.
— Furtou todo o teu dinheiro lá de casa!
La marque ficou como uma estátua, o olhar imóvel, o lábio sedento e o arfar do peito denunciava que a justiça começava a ser feita ou mesmo preparada. Ele ajoelhou-se para rezar a nossa senhora da Conceição: nem sei o que ele dizia nos lábios trêmulos.
Não sei que palavras se evaporaram daqueles lábios: eram palavras, podia ser pés de rezas. A irmã dele, Glória escutava, mas não o entendia, sentia só que aquelas rezas eram muito doces, que aquela reza era como um talismã, a palavra de Deus.
O homem chorava, soluçava: por fim ele ergueu-se com a ajuda de Glória. Eu ouvi o soldado dizer que a polícia a prendeu lá em Teresina.
— Pois bem, disse ele.
            La marque tapou-lhe a boca de Glória com as mãos...
— Silêncio, Glória!
— Então, o que ouviu mais?
— Nada!
— Descobriu todo o meu  dinheiro? Perguntou La marque.
— Sim, furtou todo! Respondeu a irmã. Ela está presa na capital e devem trazê-la para Barras qualquer hora.
— A justiça de Deus! Disse Caçoleta.
As lágrimas, os soluços abafavam-lhe a voz de La marque. Depois de dois dias presa em Teresina, Helena chegou a Barras. Ela não respondia a nenhuma das perguntas na viagem, porém só chorava. Na cela da viatura a mulher estava deitada com o rosto entre as mãos. À voz do cabo Villaça ergueu-se de súbito.








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