JOGO
BAIXO
CAPÍTULO 11
XI
Helena
William ficou pálido
com o que La marque narrava. Pois bem, te conto a história. Mas quanto a essa
sobre Samantha, pode crer é bem cheia de terror. Não é um conto, não é uma
lembrança do passado. Não é meu alvará de soltura, mais é a verdade, rapaz.
— É uma ladra!
Uma ladra!
— Conta La marque!
Conta tudo!
La marque falou:
os mais fizeram silêncio. Era tempo. Quatro horas depois amanhecia o dia na
terra de marataoan. Helena já estava fora de Barras. Os raios do sol invadiam a
cela depois de uma madrugada borrifada de orvalho das chuvas, das nuvens azuladas,
e as águas salpicadas dos céus barrenses.
A natureza encorajava
os primeiros raios do sol a romper a barra avermelhada do dia. A conversa dos
três homens invadiu toda a madrugada e encerrava-se pelo ar fresco do dia que
os faziam dormir como excrementos da cidade, como excrementos da amásia Helena.
Um dos homens, La marque via em sonho Samantha e beijava-a.
Ele sentia a mulher
em vida que se evaporava dos seus lábios. Ele sobressaltou-se, entreabriu os olhos;
mas o peso do sono ainda o acabrunhava, e as pálpebras pesadas se fechavam...
O sol estava no
alto céu marataoan— era meio-dia: o calor dentro da cela da cadeia aumentava:
pela fronte, pelas faces, pelos braços dos homens rolavam gotas de suor dentro
do quarto da prisão. Ele vinha caminhando pelo corredor com uma curiosidade
indiscreta.
O soldado Sousa
chegou perto da grade da cela e chamou por La marque.
— Senhor La marque,
vossa irmã, quer falar com você. Deixo-a entrar.
— Sim! Pode
deixar! Obrigado! Foi essa a resposta do homem.
— Você soube o
que aconteceu? Murmurou Glória.
O homem respondeu
não.
— Toda a polícia
está atrás daquela amiga da Samantha.
— Helena?
— Sim, dessa
desavergonhada mesmo!
— O que ela fez?
Perguntou o homem.
— Furtou todo o
teu dinheiro lá de casa!
La marque ficou
como uma estátua, o olhar imóvel, o lábio sedento e o arfar do peito denunciava
que a justiça começava a ser feita ou mesmo preparada. Ele ajoelhou-se para
rezar a nossa senhora da Conceição: nem sei o que ele dizia nos lábios trêmulos.
Não sei que
palavras se evaporaram daqueles lábios: eram palavras, podia ser pés de rezas.
A irmã dele, Glória escutava, mas não o entendia, sentia só que aquelas rezas
eram muito doces, que aquela reza era como um talismã, a palavra de Deus.
O homem chorava,
soluçava: por fim ele ergueu-se com a ajuda de Glória. Eu ouvi o soldado dizer que
a polícia a prendeu lá em Teresina.
— Pois bem, disse
ele.
La marque tapou-lhe a boca de Glória com as mãos...
— Silêncio,
Glória!
— Então, o que
ouviu mais?
— Nada!
— Descobriu todo
o meu dinheiro? Perguntou La marque.
— Sim, furtou
todo! Respondeu a irmã. Ela está presa na capital e devem trazê-la para Barras
qualquer hora.
— A justiça de Deus!
Disse Caçoleta.
As lágrimas, os
soluços abafavam-lhe a voz de La marque. Depois de dois dias presa em Teresina,
Helena chegou a Barras. Ela não respondia a nenhuma das perguntas na viagem,
porém só chorava. Na cela da viatura a mulher estava deitada com o rosto entre
as mãos. À voz do cabo Villaça ergueu-se de súbito.
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domingo, 15 de janeiro de 2012
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