terça-feira, 17 de janeiro de 2012



ÚLTIMO CAPÍTULO DE JOGO BAIXO

XIII


60 meses

            La marque viveu sessenta meses preso e sem julgamento. Quando se está preso, somos tratados como vagabundo, como culpado, é um transitado em julgado, onde se antecipa os fatos sem o fim dos mesmos. Ás vezes sentado a sombra do julgamento de todos e no cárcere o que resta é peregrinar pensamentos, suplicar lembranças. Eu, bem me lembro do meu amor que morreu nos meus braços na primeira noite assim que cheguei do garimpo para buscá-la daquela vida fácil.
            — É uma agonia de amante...
           Dela, tenho como lembrança uma rosa murcha plantada no tumulo do cemitério são José no bairro Pequizeiro. Samantha estava linda com uma fita vermelha que prendia seus cabelos.
— Que promessa você fez para Samantha? Perguntou Caçoleta.
— Olha Caçoleta, um dia eu viria pegá-la para mim. Talvez, eu fosse um louco no auge dos dezoito anos... Talvez, um louco.
— Muito bem! E você cumpriu.
         Quando a conheci na Fazenda Rio Doce nós fomos separados pelo destino. Só errei em não dizendo que talvez ambas as coisas há seu tempo. Meu pai Francisco Mafagafos, era um homem conservador, moralista, um dia ele disse:
             — Amar mulher casada é uma insânia.
          Talvez o gênio do meu pai não fosse um entusiasmo do amor. Na vida misteriosa de Chico Mafagafos, nas orgias da rua do Brega, no desonrar de mamãe havia uma sombra que ele ocultava: quem sabe?
— Ele foi contra vocês?
— Sim, expulsou-me de casa. Bradava aos quatro cantos do Mocambo que eu e Samantha iríamos viver na miséria e que nossas almas borbulhariam no inferno.
— Viver na miséria!
O velho meu pai assim que descobriu nosso romance esvaziou o copo de café que ele bebia balançando-se numa rede, embuçou-se e levantou.
— Eu tenho uma coisa horrível para te dizer La marque. Não vai mais comer aqui na minha casa. Fome e sede!...
Na verdade, Caçoleta e William, o homem é uma criatura perfeita por natureza. Ele ergueu a mão para me abençoar e mostrou-me o horizonte, o mundo do alto do alpendre da Fazenda, disse-me: Vê, tudo isso e belo — o brejo de águas, a quinta com o gado dentro tudo isso só será teu depois que eu morrer.
Nas palavras eu sentia a ironia mais amarga de um pai desprezando o filho, a decepção mais árida de todas as ironias e de todas as decepções de um filho pode ouvir do pai. Tudo isso se clareava diante de mim. Eu jurei que de fome e nem sede Samantha morreria.
Quando o cabo Villaça abriu o cadeado da cela, La marque saiu sentindo a brisa de a liberdade levantar-lhe os pelos dos braços. No bar das Estrelas, o homem conversava com Berenice. Tudo que você viu e ouviu contarás no seu depoimento.
— Muito bem Berenice, vamos viver nossas vidas! Disse La marque. Trouxe as cartas que lhe escrevi?
— Sim! Está aqui!
— Ok, certo?
— Certo! Obrigada Berenice por acreditar na minha inocência.
— Nossa La marque, eu nunca pensei que a Helena tivesse coragem para matar a Samantha pelo teu dinheiro.
—  Para você ver que não devemos confiar nas pessoas!
Durante os cinco anos na prisão La marque Mafagafos escreveu cartas para meretriz Berenice. Ela o único possível álibi para provar sua inocência do crime de assassinato de Samantha Buriti. Ele conseguiu convencer Berenice da sua intenção de ser inocente e assim dizer onde estava o dinheiro para Helena. Na verdade, La marque Mafagafos não era tão inocente assim. Ele mesmo cometera o crime, só que por ódio, ódio depois que ouviu Samantha e Helena declararem-se amantes e combinarem de assassiná-lo na noite de 13 de janeiro de 1988 para fugirem com todo o dinheiro.
Durante o tempo que passou preso na cadeia pública La marque arquitetou sua defesa para a acusação do crime de assassinato. Ele valeu-se da ambição de Helena pra que a meretriz fosse presa pelo roubo do dinheiro, aí seria mais fácil acusá-la de assassina de Samantha assim que Berenice acreditasse na sua história de inocência através das cartas que ele enviava da prisão.
Assim que Helena fugiu para Teresina com o dinheiro e William Pequi foi preso em flagrante, Berenice contou tudo sobre o dinheiro de La marque para o delegado. O plano da armação para Helena havia dado certo e Berenice ouviu tudo calado e com a ajuda do amante William Pequi daria o golpe fatal. Porém, La marque conseguiu enganar Berenice dizendo que Helena matara Samantha pelo dinheiro. A vida é um jogo baixo, a pedra do jogador tem que está do lado certo e não pode oferecer volta, a jogada não pode ter dúvidas, se não a vitória não será certa.








FIM




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