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JOGO
BAIXO
capítulo 04
IV
Destino traçado
La marque um rapaz cheio de talento na persuasão e de muitos disfarces e
artimanhas. A segunda mulher que La marque amou foi Eloá
quando ele esteve ausente por vinte anos nos garimpos do Pará e com essa mulher
passou momentos felizes, mas com um final infeliz. Quando conheceu Samantha,
ela era da idade dele. Já Eloá era mais velha.
— La
marque essa medalhinha de nossa senhora da Conceição é pra te proteger! – disse
Samantha entregando o objeto ao amante.
Samantha
escreveu-lhe uma longa carta quando ele viajou para o Pará. O amante nunca
respondeu. Depois de vinte anos no garimpo resolveu cumprir a promessa do
casamento com a mulher. A surpresa foi imensa quando retornou. Samantha
decepcionada e sentindo-se abandonada por ele resolveu ir embora da Fazenda Rio
Doce e passou a viver na prostituição como forma de sobrevivência.
De volta a Barras um fato horrível aconteceu que mudou os destinos deles
para sempre. O que começarei a narrar, talvez pareça uma confissão ou uma
defesa, mais é a única forma de mostrar a verdade do que realmente aconteceu naquela
triste noite do dia 13 de janeiro de 1988.
Samantha ainda sentia a tristeza do abandono. Ela e Helena dirigiam-se
para o terminal rodoviário Toinho Carvalho. As árvores desfolhadas com os
ventos vindos do nascente e destacavam-se nitidamente com o inverno rigoroso
que banhava a terra de marataoan.
— Ele chegando com muita grana do Pará! Disse
Samantha.
— Temos que dar cabo da vida dele! Dizia
Helena.
A mulher ouvia atentamente Helena planejar a morte de La marque. O único
consolo era saber que a morte dele, com uma compaixão irônica, libertariam as
duas amantes da vida fácil na prostituição e serviria como indenização pelos
anos em que esteve abandonada. Quando ele desceu do F. Cardoso, ela respirou profundamente.
— Que saco, ele está chegando!
Com uma sensação crescente de incerteza, Samantha e Helena
aproximaram-se. De cima da rodoviária Samantha sentia que as preocupações do
dia-a-dia no bar das Estrelas se dissolviam aos poucos. Pouco a pouco estaria
entrando no mundo da riqueza, onde os problemas não provocariam alarde. La
marque aproximou-se da mulher, tentando adivinhar o tamanho da saudade que os
consumiam. Helena riu meio sem graça com um palito de sorvete na boca,
segurando-o sob a língua durante uns segundos.
Quando o homem
desembarcou no terminal Rodoviário Toinho Carvalho, o cartão de visitas de
Samantha esperando por ele foi um abraço com muito afeto e carinho na frente da
amiga Helena. A saudade da mulher transbordava por ele ter deixado-a esperando
por vinte anos e sem dar notícias se estava vivo ou morto. Depois das trocas de
carinho, dentro do hotel São José, La marque ensaiava um pedido de casamento para
a mulher assim que fosse pegá-la no bar das Estrelas. Lembrou das últimas
palavras da amada.
— Vou te esperar
ansiosa! Dizia ela.
— Pode arrumar as
malas, pois partiremos para o Mocambo cedo!
O céu com poucas
nuvens esparramadas e cinzentas esvaia-se pelos ares barrenses no começo de
janeiro de 1988. As horas corriam como fiapos de nuvens nas imensidões do
infinito dos céus pela noite já mergulhada nas altas horas da madrugada.
O bar das
Estrelas não tinha clientes bebendo. A Rua da Brega com um pouco de luz e alguns
espaços entre os portes elétricos preenchidos com trevas e sombras. A cidade
com suas ruas totalmente desertas, somente cães ganindo e outros a ladrar nos
portões das residências.
Na madrugada de
13 de janeiro de 1988, acontecimentos eternizaram o lugar que era o principal
ponto de diversão das noites barrenses perto do centro. Após a luz de a lâmpada
incandescente raiar de súbito pelas frestas da porta do quarto da mulher, ele viu
o impossível, o inenarrável. Depois que abriu a porta, encontrou a linda mulher
com o lindo vestido negro todo ensangüentado.
Ela tinha a pele pálida
e os lábios pintados com um tom carregado no vermelho que contrastava com o
sangue no piso de cimento amarelo do lugar. De dentro do quarto a luz da
lâmpada erguia-se em fachos com a claridade e o homem testemunhando a terrível
cena. Assim que abriu a porta dava-se para ver a beleza típica da mulher morta.
O nome dela Samantha,
a mulher com quem casaria o garimpeiro La marque. Uma mulher que todos conheciam na cidade,
principalmente os menores de idade, no auge da adolescência, quando faziam
loucuras com ela dentro da mente. Muitos tinham o desejo voluptuoso de tê-la
nos sonhos. A mulher parecia uma modelo de revista masculina in natura e ao
vivo quando desfilava pelas ruas de paralelepípedos da terra dos governadores.
Naquela madrugada
aconteceu algo de sinistro e podiam-se ver nos olhos inquietos de Samantha minutos
antes de morrer. Os lindos olhos castanhos claros vinham inquietos, os lábios trêmulos
no tom forte do vermelho, as mãos delicadas e macias com unhas pintadas de um
esmalte negro e o vestido com pequenas gotículas de água do sereno fraco que
descia dos céus barrenses.
— Logo você, eu
nunca imaginei! Sussurrou Samantha antes de morrer.
Cedo da noite, ela
tinha ido arrumar os cabelos e unhas no salão de cabelos Fios de ouro. Quando
terminou algumas testemunhas, dizem que Samantha saiu lentamente pela rua com
destino ao quarto dos fundos do bar das Estrelas. Parecia uma deusa ou um anjo
inebriando-se na noite, mas ela não ofertaria as deliciosas loucuras sexuais aos
homens naquela noite e sim ao homem com quem esperara por vinte anos.
A mulher dobrou
antes das cadeiras perto da entrada do bar, a esquerda da porta e com as mãos
abria o cadeado da porta sob a luz incandescente do pátio que iluminava os
longos cabelos negros oferecendo a linda face de um rosto que muitos homens
conheciam ou tinha o prazer de conhecer por míseros cruzeiros.
Quando Samantha
cruzava as pernas, muitos adolescentes queriam está ali, ajoelhados como
escravos vendo a visão do belo cruzado de perna á Sharon Stone. De repente, La
marque chegou pouco depois das quatro e meia para levá-la para a já falida Fazenda
Rio Doce no Mocambo. Sentiu vontade de urinar e foi para um canto mais escuro. O
sereno da noite aumentava e ele protegeu-se debaixo das biqueiras do telhado do
local.
De longe viu
quando uma pessoa ergueu o trinco da porta do quarto e destrancou. Ficou com receio
de aproximar-se, afinal poderia ser um cliente indesejável àquela hora
procurando pelos serviços de Samantha. Depois um vulto que não sabe se homem ou
mulher saiu rapidamente do quarto dela. Alguém meteu o dedo no interruptor e
apagou a lâmpada ao sair.
Os passos da
pessoa seguiam-se rapidamente pelo pé da parede e o som de uma fraca chuva os
ocultava. Um relâmpago mais forte apagou a energia elétrica por inteiro, fato
que sempre acontecia em Barras por ocasião do inverno rigoroso. Minutos depois
a energia elétrica retornava. Uma punhalada no lado esquerdo do peito de
Samantha e o sangue da mulher espalhavam-se feito sombra no lindo corpo esculpido
pela natureza.
A mulher ainda pendeu
uma mão de cima da cama e agarrou a foto do amante pela última vez. Naquela
madrugada, não existia o movimento de homens e somente uma pessoa havia deixado
o quarto da meretriz Berenice, o amante dela William Pequi. O bar das Estrelas estava calmo.
Berenice dormiu embriagada no quarto dela que ficava perto do quarto de Samantha.
Berenice havia
bebido várias garrafas de vinho com William Pequi que ia embora depois de pagar
a chave para dona Marieta com a barra vermelha do dia quase raiando. La marque caminhou
pelo corredor que dava direto para o quarto dos fundos.
Quando entrou no
último quarto dos fundos do bar das Estrelas e com uma das mãos enxugava os
cabelos que havia se molhado na ida até o quarto, ele avistou Samantha atirada
sob a cama toda perfumada e desfalecida. Sacudi-a e com gritos pedia por
socorro. A prostituta Helena entrou
rapidamente no quarto e viu o punhal nas mãos de La marque quando o homem
olhava para o objeto que tirou a vida da mulher.
— Ei, Samantha
acorda! Dizia o homem.
— O que tu fez a
ela? Perguntou Helena.
— Encontrei
assim, morta! Respondeu.
— Você a matou?
Perguntou à prostituta.
— Não!
— Chega gente! Ele
matou a Samantha!
— Meu Deus! Meu Deus! Dizia dona Marieta ao
entrar no quarto.
E ele a beijava
com mil juras de amor.
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sábado, 7 de janeiro de 2012
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