sábado, 7 de janeiro de 2012



JOGO BAIXO

                 capítulo 04
IV

Destino traçado

          La marque um rapaz cheio de talento na persuasão e de muitos disfarces e artimanhas. A segunda mulher que La marque amou foi Eloá quando ele esteve ausente por vinte anos nos garimpos do Pará e com essa mulher passou momentos felizes, mas com um final infeliz. Quando conheceu Samantha, ela era da idade dele. Já Eloá era mais velha.

           —  La marque essa medalhinha de nossa senhora da Conceição é pra te proteger! – disse Samantha entregando o objeto ao amante.
          
            Samantha escreveu-lhe uma longa carta quando ele viajou para o Pará. O amante nunca respondeu. Depois de vinte anos no garimpo resolveu cumprir a promessa do casamento com a mulher. A surpresa foi imensa quando retornou. Samantha decepcionada e sentindo-se abandonada por ele resolveu ir embora da Fazenda Rio Doce e passou a viver na prostituição como forma de sobrevivência.
            De volta a Barras um fato horrível aconteceu que mudou os destinos deles para sempre. O que começarei a narrar, talvez pareça uma confissão ou uma defesa, mais é a única forma de mostrar a verdade do que realmente aconteceu naquela triste noite do dia 13 de janeiro de 1988.
             Samantha ainda sentia a tristeza do abandono. Ela e Helena dirigiam-se para o terminal rodoviário Toinho Carvalho. As árvores desfolhadas com os ventos vindos do nascente e destacavam-se nitidamente com o inverno rigoroso que banhava a terra de marataoan. 
             
            — Ele chegando com muita grana do Pará! Disse Samantha.
                       — Temos que dar cabo da vida dele! Dizia Helena.

            A mulher ouvia atentamente Helena planejar a morte de La marque. O único consolo era saber que a morte dele, com uma compaixão irônica, libertariam as duas amantes da vida fácil na prostituição e serviria como indenização pelos anos em que esteve abandonada. Quando ele desceu do F. Cardoso, ela respirou profundamente.

                Que saco, ele está chegando!

              Com uma sensação crescente de incerteza, Samantha e Helena aproximaram-se. De cima da rodoviária Samantha sentia que as preocupações do dia-a-dia no bar das Estrelas se dissolviam aos poucos. Pouco a pouco estaria entrando no mundo da riqueza, onde os problemas não provocariam alarde. La marque aproximou-se da mulher, tentando adivinhar o tamanho da saudade que os consumiam. Helena riu meio sem graça com um palito de sorvete na boca, segurando-o sob a língua durante uns segundos.
Quando o homem desembarcou no terminal Rodoviário Toinho Carvalho, o cartão de visitas de Samantha esperando por ele foi um abraço com muito afeto e carinho na frente da amiga Helena. A saudade da mulher transbordava por ele ter deixado-a esperando por vinte anos e sem dar notícias se estava vivo ou morto. Depois das trocas de carinho, dentro do hotel São José, La marque ensaiava um pedido de casamento para a mulher assim que fosse pegá-la no bar das Estrelas. Lembrou das últimas palavras da amada.
— Vou te esperar ansiosa! Dizia ela.
— Pode arrumar as malas, pois partiremos para o Mocambo cedo!
O céu com poucas nuvens esparramadas e cinzentas esvaia-se pelos ares barrenses no começo de janeiro de 1988. As horas corriam como fiapos de nuvens nas imensidões do infinito dos céus pela noite já mergulhada nas altas horas da madrugada.
O bar das Estrelas não tinha clientes bebendo. A Rua da Brega com um pouco de luz e alguns espaços entre os portes elétricos preenchidos com trevas e sombras. A cidade com suas ruas totalmente desertas, somente cães ganindo e outros a ladrar nos portões das residências.
Na madrugada de 13 de janeiro de 1988, acontecimentos eternizaram o lugar que era o principal ponto de diversão das noites barrenses perto do centro. Após a luz de a lâmpada incandescente raiar de súbito pelas frestas da porta do quarto da mulher, ele viu o impossível, o inenarrável. Depois que abriu a porta, encontrou a linda mulher com o lindo vestido negro todo ensangüentado.
Ela tinha a pele pálida e os lábios pintados com um tom carregado no vermelho que contrastava com o sangue no piso de cimento amarelo do lugar. De dentro do quarto a luz da lâmpada erguia-se em fachos com a claridade e o homem testemunhando a terrível cena. Assim que abriu a porta dava-se para ver a beleza típica da mulher morta.
O nome dela Samantha, a mulher com quem casaria o garimpeiro La marque.  Uma mulher que todos conheciam na cidade, principalmente os menores de idade, no auge da adolescência, quando faziam loucuras com ela dentro da mente. Muitos tinham o desejo voluptuoso de tê-la nos sonhos. A mulher parecia uma modelo de revista masculina in natura e ao vivo quando desfilava pelas ruas de paralelepípedos da terra dos governadores.
Naquela madrugada aconteceu algo de sinistro e podiam-se ver nos olhos inquietos de Samantha minutos antes de morrer. Os lindos olhos castanhos claros vinham inquietos, os lábios trêmulos no tom forte do vermelho, as mãos delicadas e macias com unhas pintadas de um esmalte negro e o vestido com pequenas gotículas de água do sereno fraco que descia dos céus barrenses.
 — Logo você, eu nunca imaginei! Sussurrou Samantha antes de morrer.
Cedo da noite, ela tinha ido arrumar os cabelos e unhas no salão de cabelos Fios de ouro. Quando terminou algumas testemunhas, dizem que Samantha saiu lentamente pela rua com destino ao quarto dos fundos do bar das Estrelas. Parecia uma deusa ou um anjo inebriando-se na noite, mas ela não ofertaria as deliciosas loucuras sexuais aos homens naquela noite e sim ao homem com quem esperara por vinte anos.
A mulher dobrou antes das cadeiras perto da entrada do bar, a esquerda da porta e com as mãos abria o cadeado da porta sob a luz incandescente do pátio que iluminava os longos cabelos negros oferecendo a linda face de um rosto que muitos homens conheciam ou tinha o prazer de conhecer por míseros cruzeiros.
Quando Samantha cruzava as pernas, muitos adolescentes queriam está ali, ajoelhados como escravos vendo a visão do belo cruzado de perna á Sharon Stone. De repente, La marque chegou pouco depois das quatro e meia para levá-la para a já falida Fazenda Rio Doce no Mocambo. Sentiu vontade de urinar e foi para um canto mais escuro. O sereno da noite aumentava e ele protegeu-se debaixo das biqueiras do telhado do local.
De longe viu quando uma pessoa ergueu o trinco da porta do quarto e destrancou. Ficou com receio de aproximar-se, afinal poderia ser um cliente indesejável àquela hora procurando pelos serviços de Samantha. Depois um vulto que não sabe se homem ou mulher saiu rapidamente do quarto dela. Alguém meteu o dedo no interruptor e apagou a lâmpada ao sair.
Os passos da pessoa seguiam-se rapidamente pelo pé da parede e o som de uma fraca chuva os ocultava. Um relâmpago mais forte apagou a energia elétrica por inteiro, fato que sempre acontecia em Barras por ocasião do inverno rigoroso. Minutos depois a energia elétrica retornava. Uma punhalada no lado esquerdo do peito de Samantha e o sangue da mulher espalhavam-se feito sombra no lindo corpo esculpido pela natureza.
A mulher ainda pendeu uma mão de cima da cama e agarrou a foto do amante pela última vez. Naquela madrugada, não existia o movimento de homens e somente uma pessoa havia deixado o quarto da meretriz Berenice, o amante dela William Pequi. O bar das Estrelas estava calmo. Berenice dormiu embriagada no quarto dela que ficava perto do quarto de Samantha.
Berenice havia bebido várias garrafas de vinho com William Pequi que ia embora depois de pagar a chave para dona Marieta com a barra vermelha do dia quase raiando. La marque caminhou pelo corredor que dava direto para o quarto dos fundos.  
Quando entrou no último quarto dos fundos do bar das Estrelas e com uma das mãos enxugava os cabelos que havia se molhado na ida até o quarto, ele avistou Samantha atirada sob a cama toda perfumada e desfalecida. Sacudi-a e com gritos pedia por socorro.  A prostituta Helena entrou rapidamente no quarto e viu o punhal nas mãos de La marque quando o homem olhava para o objeto que tirou a vida da mulher.
— Ei, Samantha acorda! Dizia o homem.
— O que tu fez a ela? Perguntou Helena.
— Encontrei assim, morta! Respondeu.
— Você a matou? Perguntou à prostituta.
— Não!
— Chega gente! Ele matou a Samantha!
Meu Deus! Meu Deus! Dizia dona Marieta ao entrar no quarto.
E ele a beijava com mil juras de amor.






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