terça-feira, 3 de janeiro de 2012

Romance Terra de Marataoan


CAPÍTULO 37

Deitada numa cama, arquejando penosamente estava Marlene, mulher de Paulo Genaro. O rosto da mulher arroxeado. O semblante intumescido, os lábios arroxeados e os olhos entreabertos e pálidos. Havia cometido suicídio. Paulo Genaro chegara das festas em comemoração a vitória de Zé de Lauro lá da praça da matriz.
Ele ia e vinha dentro da casa desesperado, alguns vizinhos arranjava-lhe um copo com água e açúcar. Os filhos pequenos, um menino e uma menina lastimavam-se e praguejava no canto da sala.
O menino na véspera do suicídio da mãe estava doente. Quase meia noite, quando Paulo Genaro caminhava no rumo de casa. O sogro que vinha atrás se distanciou dobrando para a residência.
Ouviu o canto sinistro de uma rasga-mortalha por cima do telhado da casa do genro. Viu o homem com cuidado abrir a porta. Ele então olhando para trás, entrou na casa, encaixou a tramela na porta.
Bateu numa cadeira e foi até o quarto. Aí se atirou no chão perto da cama vendo a mulher desfalecida com uma borra amarelada escorrendo da boca. Paulo Genaro desviou os olhos para o vidro escuro entre os dedos da mulher:
- Não, não, não pode ser...
Marlene tinha procurado no veneno de matar ratos, a morte.
O homem ao lado dela, inconformado, ajoelhado no chão, em choros convulsivos gritava os filhos que dormiam no outro quarto.
Assombrados, e sentindo a dor da perda da mãe, os dois sonolentos começaram a chorar. O pedreiro, aturdido, gritava, em pranto, para a mulher. Poucos minutos chegavam os curiosos.
- Marlene! Marlene! Valha-me Nossa Senhora da Conceição! Ela se envenenou!
Agora, esgotado os recursos de vida, sozinho, o marido de cócoras junto às crianças com a cabeça quase entre os joelhos com a menina agarrada ao braço chorava sem consolo.
O outro pequeno, chupando o dedo, olhava a mãe deitada na cama naquele sono eterno, não entendia o que estava acontecendo.
- Acorda mãezinha, Acorda mãezinha!
E logo chegava o avô dos meninos, já meio velho cambaleando tangendo os cães na rua que uivava.  Quando o pai de Marlene chegou trazia consigo uma vela para acender e por na mão da filha, o canto da rasga-mortalha avisara da desgraça.
Paulo Genaro se encostava à cama com a cabeça pendida, fitando dolorosamente a mulher morta com as próprias mãos. Um bilhete sob a penteadeira explicava o ato insano.
... Por senti-se rejeitada a um amor verdadeiro a que os dogmas ultrajam com uma ciência exata do homem sobre as leis de Deus e do amor...
- Uma mulher de dentro da igreja! Dizia uma vizinha.
- Que dirá padre Rodolfo sobre essa serva do senhor! Que Deus a tenha em bom lugar. Falava a beata Catarina.


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