JOGO
BAIXO
capítulo 01
Esta é uma obra de ficção. Os personagens,
diálogos e lugares, foram criados a partir da imaginação do autor e não são
baseados em fatos reais. Qualquer semelhança com acontecimentos ou pessoas,
vivas ou mortas, é mera coincidência.
I
COMEÇO DA
HISTÓRIA
Ele parecia não ter mais o que ler e fechou a ultima página do livro
“Crime e Castigo” de Fiodor Dostoievski. Deu uma olhada no caderno de anotações
e balançou a cabeça, contrariado. Assim, La marque eliminava os dias com os
olhos fincados na leitura do livro. O homem e a leitura tinham certo
sincronismo absolutamente perfeito e afortunado de conhecimentos.
La marque parecia que viajava e ao falar para o companheiro de cela
sobre o conteúdo do livro, Caçoleta se virava para olhá-lo espantado com a
aventura do protagonista da estória. Cabo Villaça o encarou com um olhar gélido
lá do rancho.
— Tome cuidado com o que conta, meliante.
La marque não respondeu, apenas dirigiu-se para o fundo da cela. Os dois
homens estavam sentados em silêncio dentro da cela. Do lado de fora, um vento
gelado do nascente açoitava pela janela gradeada do lugar, como se quisesse
arrancá-los. Barras mergulhara nas plumas plácidas dos líquidos cristalinos do
inverno.
Os homens pareciam não se importar com a chuva que caia dos ares
barrenses. La marque era um homem musculoso e ágil, com um olhar tão desolado
quanto à paisagem cinzenta lá de cima do pavilhão celeste. Examinou o horizonte
azulino e como sempre, concentrou-se na escrita das cartas endereçadas a
Berenice. La marque aprendera desde cedo com os livros e que o conhecimento
manipula a mente dos mais fracos. Eles começavam a jogar damas.
— Então, como vai
sua vida Caçoleta?
— Toda
desmoronada.
— Ah, não vamos falar de nossas vidas.
Caçoleta inclinou-se ligeiramente sobre o tablado do jogo de damas,
baixando o tom de voz.
— Quero ver
repetir essa jogada, La marque!
La marque respirou fundo, já se controlando para não errar uma jogada em
que comeria duas pedras e fazer uma dama, assim vencer o jogo. A manhã prometia
ser longa dentro da cela.
— Você sabe mesmo.
— Você precisa
encontrar tempo para raciocinar as coisas que realmente importam. Sem amor,
tudo mais perde o sentido. Uma enorme quantidade de jogadas veio à sua mente,
mas La marque preferiu se manter em silêncio.
— Eu não ganho
mesmo de você! Mas, você disse que tinha algo de importante para me dizer.
— De fato sim.
Caçoleta olhou para o rosto de La marque atentamente. La marque sentiu
que poderia fazer sua defesa diante daquela minuciosa atenção do companheiro.
Atenção do homem era a maior dádiva e grande o suficiente para levá-lo a
acreditar na história.
Seu domínio era tamanho que conseguia ficar com os olhos cheios de
lágrimas quando desejava e, um instante depois, exibir um olhar límpido, como
se estivesse abrindo uma janela para sua alma, fortalecendo seus laços de boa fé
com os outros.
— Na vida Caçoleta confiança é tudo. Disse La
marque
— Fim de jogo!
O homem recolheu-se ao fundo da cela e começou a escrever mais uma carta
para enviá-la a Berenice.
"...
Amiga Berenice. Escrevo estas poucas linhas somente para diz que se a
descoberta do assassino for confirmada por você, com certeza será uma das mais
incríveis revelações sobre esse crime misterioso já feito por uma pessoa leiga,
sem a ajuda da polícia, a revelação é tão vasta e impressionante que ultrapassa
nossa imaginação de ser humano, e ela tem um nome Helena...” assinado: La
marque Mafagafos.
Correio do Marataoã.
Notícias:
AMANTE DE SAMANTHA É O PRINCIPAL SUSPEITO DE ASSASSINÁ-LA
14 de janeiro de 1988
O amante da prostituta Samantha, La marque Mafagafos é preso como o
principal suspeito de assassiná-la. A morte de Samantha, naquele lugar
conhecido por todos na cidade de Barras, o “Bar das Estrelas”podia ter
infinitas versões e nada poderia confirmar quem era realmente o assassino que
decidiu um destino tão bárbaro quanto aquele para a vida da mulher.
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Durante cinco anos La marque escreveu cartas e mais cartas para Berenice
com objetivo de provar a inocência. Estranho, La marque pensou que Caçoleta pudesse
decifrar uma linha do que estava escrito. Mas, logo ele o tranqüilizou dizendo não
sabia ler. Caçoleta nunca havia freqüentado um banco de escola quando morava no
interior de Barras. Os recursos para a área da educação eram desviados pelos
políticos corruptos que o povo da terra de marataoan com freqüência elegia para
o poder público e no interior que morava não havia escolas.
— Tu nunca foi á escola? Perguntou La marque.
— O grupo lá do
São Domingos nunca saiu do papel e aí, papai me mandou para roça cedo. Disse
Caçoleta
— O que tu vai escrever La marque? – Perguntou o
homem. Depois que desceu a vista no papel lotado de riscos, rabiscos e
palavras.
Minutos depois, soldado Sousa aproximou-se da grade da cela. Soldado
Sousa todo vestido com uniforme militar impecável e um fuzil nos ombros. Ele
caminhou na direção da cela dos homens com determinação. La marque ficou
paralisado. Perplexo, La marque recebeu a marmita com a comida de dentro da
cela.
— Preciso que você entregue a minha irmã Glória
com urgência.
Ele
não disse nada. La marque olhou, aterrorizado, com medo de o militar abrir a
carta, mas ele podia confiar no homem. Em poucos instantes o soldado haviam
sumido de vista. Caçoleta estava de pé, calado, quando o homem também o
interrogou se não ia ter nenhum bilhete para mandar.
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quinta-feira, 5 de janeiro de 2012
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