CAPÍTULO 36
Encostando-se ao parapeito da casa, Romeu se dirigiu a Maria Luzia:
- Quem venceu a eleição das Barras?
- Não sei, não escutei ainda na Difusora?
- Ê muié, o Raimundinho do João Tomaz ganhou a vaquejada! Deve está com os bolsos cheios!
- Que nada, aquilo ali é um abestado, vai dá tudo para o Flor!
Um dos homens que vinha na estrada olhou para o casal. Ele levantou-se, com a faca escorrendo sangue, as mãos tintas de vermelho, um fartum sangrento envolvendo-o todo:
- Seu Romeu, seu Romeu.
Romeu cuspiu longe, enojado:
- O senhor come preá?
- Eu não, me ripuna só de olhar esse bicho... Parece um rato sem rabo...
Seu Florindo olhava a arrumação dos dois de pé perto do curral. Inexplicável conversa do homem com Romeu e Maria Luzia não despertava o interesse em leituras labiais difíceis.
Maria Luzia lavando os trens sujos do almoço ficava imaginando a vidas das pessoas e só de recordar o interior sem novidades sentia calafrios de tédio.
O seu esforço constante de saber a vida dos outros, sua energia, sua saúde, e sua alma de vilania nunca suportaram ficar sem bater língua nas casas.
Decerto era esse o segredo dela... E por isso, porque o compreendera, parecia que Romeu tinha escolhido a melhor parte da mulher, pois até para o próprio Romeu, a existência da mulher se revestia de um verniz superior e misterioso, que lhe provocava um sentimento de curiosidade e vago despeito.
Recordava sua obscura irritação ao ouvir do senhor Florindo fazer carestia as mercadorias da quitanda. E toda sua vida de prazeres primitivos e ingênuos, no Mocambo era rústica da roça para casa.
Na noite escura estrelas brilhavam e ofuscavam-se pelas nuvens pesadas escureciam todo o céu; e cada vez mais nuvens vinham andando pelo céu suspenso nos ares. Um cheiro forte de terra molhada invadia as narinas do morador.
Romeu, de cachimbo aceso, parou junto à mulher:
- Maria Luzia...
Maria Luzia, que não o vira, sobressaltou-se:
- O que é?
- Sabia que o Raimundinho do João Tomaz vai casar?
- Com aquela amuada, mole como o diacho, que não levanta nem as pernas pra caminhar.
- É a Glória do Viveiro!
A mulher ergueu-se rápida, já a todo ação e energia:
- Pois é, aquela desavergonhada!
Maria Luzia saia, resmungando e praguejando.
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