quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

Romance Terra de Marataoan


CAPÍTULO 13

Por volta de 1982, o candidato a prefeito Zé de Lauro nas andanças pelo interior de Barras, lançava promessas ao vento na busca de se eleger, para entender melhor a essa passagem voltamos ao flash back de Zé de Lauro, pois sem a apresentação desse político barrense astucioso, seria o autor do romance obrigado a longas digressões, que encheriam muitas páginas sem adiantar a ação. Não há hesitação possível na estória: vou apresentar-lhes o candidato a prefeito Zé de Lauro.
Suponhamos que um político querendo se eleger e ganhar o voto do povo, ás vezes é dado a devaneios e melancolias e encara como num teatro a adoção de um personagem ou outra personalidade na época das eleições; nesse caso imagine um Zé de Lauro totalmente diferente dos outros políticos barrenses.
Desta vez será um robusto político barrense, transvestido no suor das faces, das formas arredondadas, dos olhos vivos, das mãos calejadas e no sol ardente via o trabalhador rural, como homens que resistem as intempéries do tempo sempre sorrindo e feliz.
Zé de Lauro um homem feito, refeito e quase perfeito ou prefeito. Amigo da boa mesa e do bom copo de cachaça nas quitandas do interior de chão batido e coberto de palhas de babaçu.
O homem preferiu certa vez no Mocambo um quarto de carneiro assado na brasa com uma dose do litro de Cortezano, coisa natural para um político da marca dele, quando o estômago na longa viagem de Barras até o povoado Mocambo reclamava, e nunca chegava a compreender a pobreza daquele povo.
Zé de Lauro desembarcava do jipe ano 1966. Ouvia atentamente o lamento do quitandeiro. Dava um moral para o homem.
- Pois eu, não! Enquanto houver capim no caminho e mandacaru, trato do restinho de gado!
E o candidato depois de uma pausa, fitando um farrapo de nuvem que se esbatia no céu longínquo:
- E meus votos vão faltar nessa região?
- Então, o candidato só pensa nessa eleição. Dizia o quitandeiro.
- Não! Também não vou abandonar meus cabras numa desgraça dessas.
O candidato acendeu o pó ronco e falou:
- Do que tenho pena é do povo que tem família com muitos meninos, vi uns lá na Boca da Mata!...
- Eles já estão fazendo as malas. Dizem que vão pras Barras.
Olhando para o céu, sozinho no jipe após deixar os santinhos dele, com o número e a lista de promessas, rutilante espalhava os pneus do carro sobre a piçarra vermelha fazendo a poeira cobrir o ar.
Seria um bom político de família tradicional, segundo a doutrina de alguns macacos velhos na política barrense, isto é, se não fosse às idéias sociais tão fecundas e muito mais que ignorantes. Já não seria o mesmo Zé de Lauro se sentisse o que o eleitor fosse passado na “casca do alho” ver diante de si um homem sem recurso nem para uma dose do são João da Barra.
Para ele, um político verdadeiramente e digno de ser votado em uma eleição, seria solidário nos seus trinta e quatro anos, dotado com alguns mil cruzeiros, e que, aportando naquele lugar na procura de votos para se eleger, realizava uma ótima impressão tão verdadeira, casando com o eleitor iludido por uns quilos de alimento e promessas que ele sabia que nunca as cumpriria depois de ganhar a eleição.
Tal político barrense seria incompleto se não tivesse óculos escuros na face, chapéu de massa preta na cabeça, camisa manga longas nos braços e dois grandes marços de mil cruzeiros amarrados com liga plástica em cada lado dos bolsos fundos na velha calça de linho tingido e um ótimo discurso na ponta da língua.
Comer com as mãos dentro de uma vasilha na forma de cuia seria a última demanda deste magnífico tipo de homem público. Mais esperto que os outros políticos das Barras, Zé de Lauro acordava o eleitor dizendo ser o herói do povo no tempo que quem mandava na política barrense, os fazendeiros, os chamados coronéis, os donos de grandes propriedades e não por ser candidato, mas por ser barrense dos quatro cantos do município que seu nome queria dizer simplesmente ser de muita coragem para trabalhar pelo povo, sujeito forte, homem resistente e firme no tempo.
A descoberta seria excelente, se não fosse exatamente seu encontro com dona Conceição; infelizmente nem esta nem os outros encontros com o povo do interior são exatos. Zé de Lauro não era menino metido a besta, nem político a robusto, nem um macaco velho na política, rico ele era, fez fama no interior quando chegou das bandas da capital, assim que se formou em veterinária pela UFPI.
Falhar uma vez com o povo não a perspicácia dele com os eleitores; o povo na porta da casa do homem em Barras pedindo e implorando ajuda todos os dias eram cachorrinhos, mas a certeza que fiel ao homem.
Para alguns políticos, sem a qualidade desse herói provavelmente o povo perderia o interesse dele. Seria um erro manifestado do povo. Para Zé de Lauro, apesar de ser mais que um político metido a popular, ele tinha a honra de ver sua foto com o nome nos papéis espalhados pelo interior e pregados nas portas das quitandas e casas de palhas. Antes de entrar no lugar fazia questão de beijar seu retrato.
No letreiro do santinho publicou nas linhas debaixo da foto a seguintes e reverberante promessa: "Quem votar no Zé de Lauro é escolher o candidato melhor para Barras e quer matar a sede e a fome do povo com a transposição do rio Marataoan e a construção da barragem do bairro Boa Vista”.



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