domingo, 25 de dezembro de 2011

Romance Terra de Marataoan


CAPÍTULO 26

Político dos coronéis das Barras de marataoan, Mundico Goma, um prefeito sem muita instrução escolar. Tinha ele cinqüenta anos na aparência, mas na realidade trinta e oito. A causa desta velhice prematura do prefeito de Barras derivava da preocupação que o levou ao trabalho de pavimentação nas ruas do centro da cidade, e, tanto quanto se pode saber por uns fragmentos de construções na zona rural que ele deixou, a causa era justa, a falta de recursos do governo para as prefeituras.
Mundico Goma de caráter taciturno e desconfiado. Passava dias inteiros na prefeitura, donde apenas saía para corrigir a cidade e na hora do almoço e dos ofícios de empenho de serviços. Contava amizade de meia dúzia de puxa sacos na prefeitura, porque não é possível entreter um prefeito sem os puxa sacos das Barras e como ele os tinha sempre aos olhares consolidavam com o riso as afeições do rosto.
Em uma prefeitura, onde o prefeito devia ajudar o povo, pois este pede mais e mais por ajuda, Mundico Goma como político parecia fugir à regra geral de todos os outros. Uma coisa que o povo de Barras lhe denominou foi à alcunha de miserável, que lhe ficou bem entendido. Mundico Goma, apesar do desgosto de ser analfabeto lhe inspirava, sentiam por quem sabia ler, certo respeito e veneração.
Um dia Mundico Goma adoecera gravemente. Chamaram uns rezadores  e prestou-se ao enfermo todos os cuidados necessários. A moléstia era quebranto.
Durante cinco dias de moléstia, o prefeito esteve cheio de puxa sacos na porta de sua casa. Ele não disse uma palavra durante esses cinco dias; só no último, quando se aproximava a primeira dama, Lourdes do Valdeci e deitou-se na cama, fez cegar para mais perto do marido, e disse-lhe ao ouvido com voz sufocada e em tom estranho:
- Os vereadores para aprovar o balancete desse mês querem dinheiro muito!
O prefeito recuou para o lado e ao ouvir as palavras no tom em que foram ditas. Quanto à esposa, ela caiu sobre o travesseiro e dormiu. Depois de ditas às palavras, a insônia fez-se companheira, imaginou a comunidade perguntando sobre o recurso da emergência e as palavras dos vereadores ouvindo-as tão sinistras que o assustava.
Pela manhã, o prefeito levantou-se e partiu para prefeitura. Mas o homem não tirava as palavras da cabeça e pensava no balancete, uma dúvida importante, tal que lançava o terror no espírito do prefeito. Este explicou aos vereadores que ouviram suas palavras.
O hábito de molhar a mão dos vereadores para aprovar os balancetes era uma prática antiga e taciturna a que se votava na câmara e parecia sintoma de uma alienação corrupta de caráter sujo e cruel; Durante quatro anos parecia impossível aos políticos não cometer tais fraudes. Uma prática que os administradores não tivessem um dia precisado de modo legislativo para preencher a lacuna da imoral administrativa; objetivou isso a esposa; ele persistia na crença de ter que molhar as mãos dos vereadores.
Entretanto procedeu-se a retirar do erário público, e entre os vereadores achou-se a convencer sobre a aprovação dos balancetes. A oposição ia finalmente penetrar alguma coisa no véu misterioso que envolvia os balancetes do prefeito, e talvez confirmar as suspeitas de irregularidades dos recursos da emergência do governo federal.
O presidente da Câmara Rui Rosas, leu os balancetes perante todos os colegas legisladores e em seguida aprovaram as contas de Mundico Goma.
Muitos dos balancetes do prefeito eram, pela maior parte, obras incompletas, documentos adulterados e notas frias; mas de tudo junto pôde-se colher que realmente nada provava, pelo menos durante certo tempo.
O vereador Rui Rosas responsabilizou-se de dividir o dinheiro com os colegas. Mas sabia que no outro próximo mês, o prefeito novamente iria procurar por eles e os homens aproveitar o que for mais útil ou menos obscuro na administração pública para atender seus interesses.
As notas de mil cruzeiros do prefeito diziam o lugar e o nome do ato, corrupção no setor público. O prefeito Mundico Goma nada sabia de princípios administrativos é que, não tendo concluído os estudos, não conseguia prestar contas, como desejava, e obrigado a soltar dinheiro aos vereadores. O plano de Mundico Goma estava feito. Tratava-se de abater os votos pouco a pouco, simulando-se derrotado diante da influência do político Zé de Lauro.


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