CAPÍTULO 26
Político dos coronéis das Barras de marataoan, Mundico Goma, um prefeito sem muita instrução escolar. Tinha ele cinqüenta anos na aparência, mas na realidade trinta e oito. A causa desta velhice prematura do prefeito de Barras derivava da preocupação que o levou ao trabalho de pavimentação nas ruas do centro da cidade, e, tanto quanto se pode saber por uns fragmentos de construções na zona rural que ele deixou, a causa era justa, a falta de recursos do governo para as prefeituras.
Mundico Goma de caráter taciturno e desconfiado. Passava dias inteiros na prefeitura, donde apenas saía para corrigir a cidade e na hora do almoço e dos ofícios de empenho de serviços. Contava amizade de meia dúzia de puxa sacos na prefeitura, porque não é possível entreter um prefeito sem os puxa sacos das Barras e como ele os tinha sempre aos olhares consolidavam com o riso as afeições do rosto.
Em uma prefeitura, onde o prefeito devia ajudar o povo, pois este pede mais e mais por ajuda, Mundico Goma como político parecia fugir à regra geral de todos os outros. Uma coisa que o povo de Barras lhe denominou foi à alcunha de miserável, que lhe ficou bem entendido. Mundico Goma, apesar do desgosto de ser analfabeto lhe inspirava, sentiam por quem sabia ler, certo respeito e veneração.
Um dia Mundico Goma adoecera gravemente. Chamaram uns rezadores e prestou-se ao enfermo todos os cuidados necessários. A moléstia era quebranto.
Durante cinco dias de moléstia, o prefeito esteve cheio de puxa sacos na porta de sua casa. Ele não disse uma palavra durante esses cinco dias; só no último, quando se aproximava a primeira dama, Lourdes do Valdeci e deitou-se na cama, fez cegar para mais perto do marido, e disse-lhe ao ouvido com voz sufocada e em tom estranho:
- Os vereadores para aprovar o balancete desse mês querem dinheiro muito!
O prefeito recuou para o lado e ao ouvir as palavras no tom em que foram ditas. Quanto à esposa, ela caiu sobre o travesseiro e dormiu. Depois de ditas às palavras, a insônia fez-se companheira, imaginou a comunidade perguntando sobre o recurso da emergência e as palavras dos vereadores ouvindo-as tão sinistras que o assustava.
Pela manhã, o prefeito levantou-se e partiu para prefeitura. Mas o homem não tirava as palavras da cabeça e pensava no balancete, uma dúvida importante, tal que lançava o terror no espírito do prefeito. Este explicou aos vereadores que ouviram suas palavras.
O hábito de molhar a mão dos vereadores para aprovar os balancetes era uma prática antiga e taciturna a que se votava na câmara e parecia sintoma de uma alienação corrupta de caráter sujo e cruel; Durante quatro anos parecia impossível aos políticos não cometer tais fraudes. Uma prática que os administradores não tivessem um dia precisado de modo legislativo para preencher a lacuna da imoral administrativa; objetivou isso a esposa; ele persistia na crença de ter que molhar as mãos dos vereadores.
Entretanto procedeu-se a retirar do erário público, e entre os vereadores achou-se a convencer sobre a aprovação dos balancetes. A oposição ia finalmente penetrar alguma coisa no véu misterioso que envolvia os balancetes do prefeito, e talvez confirmar as suspeitas de irregularidades dos recursos da emergência do governo federal.
O presidente da Câmara Rui Rosas, leu os balancetes perante todos os colegas legisladores e em seguida aprovaram as contas de Mundico Goma.
Muitos dos balancetes do prefeito eram, pela maior parte, obras incompletas, documentos adulterados e notas frias; mas de tudo junto pôde-se colher que realmente nada provava, pelo menos durante certo tempo.
O vereador Rui Rosas responsabilizou-se de dividir o dinheiro com os colegas. Mas sabia que no outro próximo mês, o prefeito novamente iria procurar por eles e os homens aproveitar o que for mais útil ou menos obscuro na administração pública para atender seus interesses.
As notas de mil cruzeiros do prefeito diziam o lugar e o nome do ato, corrupção no setor público. O prefeito Mundico Goma nada sabia de princípios administrativos é que, não tendo concluído os estudos, não conseguia prestar contas, como desejava, e obrigado a soltar dinheiro aos vereadores. O plano de Mundico Goma estava feito. Tratava-se de abater os votos pouco a pouco, simulando-se derrotado diante da influência do político Zé de Lauro.
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