CAPÍTULO 33
Enfim caiu a primeira chuva de fevereiro. Da barraca no mercado público, agarrada ao terço de nossa senhora da Conceição, de mãos postas, suplicava a santa padroeira de Barras do marataoan que aquilo fosse um bom começo para os irmãos que ficaram no Mocambo.
Ela olhava para o menino tampinha, comovido, pálido, de lábios apertados, com a testa encostada ao pau da barraca com a lona cheia de goteira. O céu azulado para o nascente e o menino acompanhando a queda da água no calçamento de paralelepípedos e as telhas do mercado público no lento gotejar das biqueiras de jacaré do prédio. Naquele momento, nenhum dos dois se movia nem falava. Só a mulher, com a panela de pressão chiando com a galinha caipira no fogo que se acocorando a um canto perto do fogareiro para abanar.
- Que inverno bonito!
Barras sentia a chuva fresca e alegre que tamborilava cantando na terra de marataoan e corria nas biqueiras empoeiradas das casas do centro da cidade e se embebia depressa nos bairros.
Um pequeno grupo de pessoas se amontoava na entrada do mercado, o vigia corria e escancarava as portas rapidamente para o povo não se molhar.
Aquela gente saraivava de flanco as reses mortas vinda no interior da carroça, o homem se encolhia trêmulo, erguendo olhos de assombrado espanto para o céu escuro no lado do Fórum.
Os pingos de água batendo-lhes nos lombo da burra e respingando no rosto do homem que chicoteava o animal que fazia um esforço para se movimentar.
Sofregamente, o rapaz parava perto do portão do mercado. Levantou a lona que cobria a carne e abriu os lábios chamando o magarefe dono do boi. E longamente ali ficou sorvendo o cheiro forte que vinha do calçamento molhado, impregnado de calor e frio.
Depois da chuva o mercado público com muitos fregueses passava o furor do apetite na banca de comida de Conceição. O cardápio de galinha caipira com baião de arroz fazia os fregueses gemer e engolirem cada pedaço de galinha. Alguns lambiam os dedos entretendo com o doce sedento do guaraná simba.
Pacientemente, a mulher atendia a todos:
- Esperem aí, ainda tem galinha e já vem mais...
Em meia hora, realmente, outra galinhada da terra de marataoan chegava quente. Não sobrava nada. O cheiro da comida nos ares dava para ser sentida a um quilômetro de distância.
O delegado Ribamar peito de aço era o que mais mastigava e mais comia, correu para o rumo do soldado Sousa, tomou-lhe a vasilha das mãos e colando às bordas a boca sôfrega, em sorvos lentos, deliciados, sugou o caldo com moelas e fígados tão esperado.
Rosa Clarice, mas os outros, avançando, arrebatando-lhe a galinhada mais famosa de Barras.
Aflita, Gonçala interveio:
- Seus desesperados!
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