CAPÍTULO 21
Cerca de cinco homens de meia-idade sentavam-se na barraca para tomar café. Entre eles um velho, cuja pele estava sem brilho, mas seu rosto expressava doçura e muita sabedoria nas palavras. Sentados à mesa os cinco homens falavam dos primeiros pingos das chuvas do começo de inverno, o mais velho teriam de rebater a conversa falando das eleições e encontrando um trajeto nas palavras para defender seu ponto de vista sobre os conflitos de terra na Boa Presença.
Os trabalhadores deveriam ter terras para trabalhar, mas, no momento, ninguém desejava partilhá-las. Todos estavam sob o impacto que a cena da morte do trabalhador causada durante o conflito. Permeados por conflitos de terras diante do retrato desnudo da oligarquia dos coronéis barrenses, os homens se perguntavam:
-"Quem somos sem um pedaço de terra?",
-"O que somos sem um palmo do que é de Deus?",
-"Em que nos tornamos diante da terra dada por Deus, perguntas simples e intrigantes, mas que perturbavam aquelas pessoas.
O velho com os olhos lacrimejando, amedrontados e apreensivos. Não eram seus parentes nem seus amigos, mas viram naquelas pessoas que lutavam por terras o espelho da existência humana. Demoraram poucos os homens acertavam a conta e saiam de par em par.
Um tumulto aumentou perto dali. Ninguém entendia o que acontecia. O menino tampinha correu para ver. Alguns se entreolhavam e riam diante do desespero da platéia. Elas tinham inquietações, mas ao longo dos minutos iam perdendo o medo gradualmente.
É o propagandista esquisito. Se te achas com força de ser o Tarzan daquele mundo, lançava-se ao mar do público com a maestria que sabia dominar o povo; mas tomava cuidado com a revolta das pessoas, que são ferozes quando uma das demonstrações circense não saia bem.
Entusiasmado com o truque de ilusão de transformar o papel do cigarro em dinheiro, a histórica alegoria, de uma cobra “de veado” sob os ombros, Tampinha olhou para mãe, que o chamava para acender o fogareiro e não atendia ao chamado dela.
Ele contentou-se com o próprio sufrágio do espetáculo popular, e sorria com o mesmo ar de satisfação que devia ter um menino de doze anos quando via o final do número do mágico no meio do povo.
Teria Conceição notada à ausência de tampinha, não. O menino saiu da barraca da mãe e caminhou rumo ao rio marataoan. Passou em frente à Cadeia Pública e subiu a rua 10 de novembro. Conceição fazia a pergunta ao seu espírito onde estaria o filho. Imaginou que devia está do outro lado do mercado vendo o propagandista vender remédios à base de copaíba.
Às vezes, por prazer, o menino com a equipagem da baladeira e do alforje atirava nas raçanãs, as aves da beira do rio marataoan. O vôo das raçanãs acompanhada pelos olhos do menino refletia indolente aos pássaros na viagem até a ilha dos amores. A canoa a singrar as águas estendia-se sobre as correntezas. O pescador deixava pender o remo junto às mãos.
As asas das garças que fulge em branco imaculado eram viajantes flácidos e acanhados enfrentando os vendavais dos ventos e cantando na seta do ar. Os capins exilados ao chão na beira do rio, em meio à turba obscura dos cardumes dos peixes a nadar no meio da lama. Há meses que o sol habitava o reino dos céus átrios e colossais da terra de marataoan.
Os raios em labaredas no entardecer envolviam todo o firmamento. As arvores a beira do rio com suas sombras, transformava-se em coluna majestosa que de esguia encobria como um pedaço de noite semelhada a um local que protegia dos raios do sol.
O marataoan que do alto do morro de piçarra via-se as águas plácidas e prateadas numa imagem que o reflexo devolvia e fundia nos dísticos oculares. À cor do poente com áureos raios que nos olhos ardia o espetáculo do crepúsculo. Ali, os barrenses entre volúpias calmas das ondas do rio em pleno azul eram escravos nus de fronte as margens e que se abanando com as palmas, cujo único intento, o de se aprofundar nas águas ocultas e mornas que fazia esfriar as memórias e o pensamento.
Quando chegou abaixo do morro e olhou ao longe o rio marataoan. Quis ir à prainha. Ficou com medo. Preferiu o ponto mais famoso, o da beira rio de onde nadando dava para chegar à ilha dos amores e ver o flutuante.
- Será que mamãe vai brigar? Perguntou-se.
- Não; ela está ocupada.
Tampinha avistou o campinho de futebol e sentou-se nas pedras das lavadeiras, e procurou um meio de encabeçar a conversa especial quando chegasse à banca da mãe. Água com pequenas marolinhas que lambiam as pernas do menino que retirava a roupa e deixa na beira do rio.
- Estás muito fria hoje!Disse ele sorrindo. O menino pulava na água do rio que os olhos fiavam da cor de pimenta malagueta.
Ele coçou a cabeça, tirou o relógio de plástico para checar as horas. Com os olhos daquela cor, uma pisa ganharia. Vestiu a roupa, e com as mãos caminhava dizendo:
- Oi de boi, oi de vaca, oi de boi, oi de vaca e as mãos indo de encontro com os olhos.
Assim que chegou à barraca, Conceição franziu ligeiramente a testa.
- Mas então... Disse ela.
- Onde estava? Perguntou.
- banhando no rio! Respondeu.
- tu sai e nem diz nada para mim, e se tu morre diabo?
- Morre nada, mãe, sei nadar, engoli a piabinha que eu peguei na garrafa de soro.
Tampinha é uma criança; não tem juízo nem idade própria...
Conceição não hesitava em continuar; parecia-lhe que nada se podia arranjar; mas a idéia do banho de rio lhe incomodava.
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