CAPÍTULO 27
Rui Rosas levou nas vésperas da eleição um punhado de caboclos para o bar da Rosa Clarice.
Os criativos caboclos da terra de marataoan apelidaram a proprietária do bar da zona do meretrício de a índia da Brega, mas todos a conheciam por Rosa Clarice. O tal bar praticamente no centro de Barras, tão perto que os freqüentadores iam e vinham a pé. Naquele tempo carregar eleitores em caminhão não era proibido. O motorista enchia os carros de santinhos dos candidatos. Muitos eleitores mentiam que votariam no prefeito Mundico Goma. Depois de deixarem os locais de votação iam a pé até o bar, em pleno meio dia.
Rosa Clarice recebia adiantando que cumpriria a lei eleitoral de não vender bebida alcoólica, mas chamava algumas de suas meninas para fazer companhia. Tinha um dos eleitores que exímio sanfoneiro via um litro de são João da Barra na prateleira e pedia licença para experimentá-lo. Logo os homens no local contemplavam com uma cerveja, outra e mais outra.
Cervejas primeiras, depois a legislação eleitoral esquecida e o ambiente virava mesmo o bar que era de fato e direito. À noitinha eles arrumavam carona para voltar e tudo nos conformes. A circunstância da eleição de 1982 tornava necessária toda à discrição do prefeito. A transição municipal devia ser lenta. Cumpria ser o ritual no cenário nacional o período de transição da Ditadura Militar, assumia o governo do Estado Hugo Napoleão.
Os eleitores tinham visto que, apesar de certa argúcia da parte de Mundico Goma, não tinha ele a perfeita compreensão das coisas, da tal de “Diretas Já” lá em Brasília, e por outro lado o seu caráter era indeciso e variado. Tempo que o povo do Mocambo felizmente veria feito o tão sonhado asfalto da estrada de Barras para Porto dos Marruás promessas feita pelo candidato vitorioso Hugo Napoleão.
O prefeito hesitara em filiar-se ao PDS com Rui Rosas, quando o vereador lhe falou nisso, que era certo a vitória e eles viriam a obter mais votos do que o opositor Zé de Lauro. Dizia então que não tinha vocação de políticos de esquerda. A situação agora era a mesma; aceitava uma coligação mediante um conclave na prefeitura.
É verdade que se esta solução era contrária à idéia do prefeito, podia ter causa o envolvimento demais de Mundico Goma com a política dos coronéis que lhe ia conduzindo a vitória. Além de que, desta vez, o adversário não se fazia de fraco: era um homem com idéias da esquerda, metido ao recém criado Partido dos Trabalhadores.
- Três mil cruzeiros pensavam o prefeito, é quanto bastava para a coligação. O que não hão de dizer os outros partidos!
Antevendo uma felicidade que era certa para ele, Rui Rosas começou o assédio aos eleitores na praça Santa Luzia na Boa Vista, aliás praça rendida ao curral do prefeito.
Já o homem da Câmara procurava os eleitores, já os encontrando, já lhes pedia aquilo que acusara até então, o voto deles. Quando, à multidão, com as suas mãos se encontravam aplaudindo os candidatos, o prefeito Mundico Goma tinha o cuidado de demorar nos discursos, e se a multidão retirava as mãos terminado as palmas, o candidato nem por isso desanimava. Quando se encontrava discursando, fingia ser contra a corrupção, antes dirigia algumas palavras, a que Rui Rosas respondia com fria polidez.
- Quer vender seu voto, eu não compro voto como faz o meu adversário.
Uma vez no comício no Porto do Fio, o candidato Mundico Goma atreveu-se a mais. Disse que Zé de Lauro trocava o voto do povo por um quilo de arroz. Quando o comício terminava, o povo ia trás dele.
- Que lindo! Dizia alguns eleitores.
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