sábado, 31 de dezembro de 2011

Romance Terra de Marataoan


CAPÍTULO 34

Os três dias de apuração dos votos das eleições iam se humanizando na Associação Recreativa Barrense. O vestido engomado harmonizava com as chinelas alpargatas nos pés da mulher. Os saracoteios da colher de pau na panela, uma valsa inquietante e harmônica da dona da banca. Netinho, o caçula de Conceição, que, assombrado com tanta gente comendo e foguetes nos céus, o menino chorava deitado debaixo da mesa da cozinha.
Uns homens troçavam a galinha com os dentes.
- Hein, minha comadre! Bota mais aqui no prato...
Debaixo da banca de lona nova doado pelo candidato Zé de Lauro, todos os fregueses se arranchava para ouvir o fim da contagem dos votos. A lua, no céu, marcava sete horas. Quando Zé de Lauro, com seu grupo vitorioso, apontou na Rua Santo Antonio saindo da Associação Recreativa Barrense, os homens esfolavam os foguetes para o alto. O foguetório com fachos de luz na cadência das efemeridades da escuridão dos céus. A bela exaustão dos rasgos de luz no escuro dançava como serpente no alto bastão da claridade.
Homens com braços estendido para o alto e a fronte infanta se inclinando vagarosamente no fixo olhar do fósforo acendendo ao foguete e o corpo pendendo e aguçado para fazer estourar o barulho da vitória. Debaixo dos braços de outros, os frementes litros de álcool na boca imunda de dentes encardidos na arcada misturando a bebida ao líquido da saliva.
Em toda a extensão da vista de quem olhava para os lados viam-se partidário do candidato vitorioso, logo outro foguete urgia fachos de luzes nos céus das Barras. Calados pelo pé dos muros, os partidários de Mundico Goma na bela noite radiante se curvavam procurando um atalho nas conversas feito carniças repugnantes.
Um bêbado de pernas para cima, qual homem lascivo transpirava em miasmas e humores segurando o litro de cortezano nas mãos. Ele abria e bebia desleixado e repulsivo na boca do litro com o ventre prenhe de cachaça. O homem ardia a lua naquela pútrida torpeza do ser humano. E o céu olhava do alto a esplêndida carcaça dos fogos clareando a terra de marataoan.
Do lado da praça monsenhor Bozon saíam bandos de larvas comemorando a vitória de Zé de Lauro. Saia com semblante triste e entalado sem palavras Mundico Goma por entre trapos nefandos de bajuladores e tudo isso ia e vinha, ao modo de uns derrotados.
Por trás da janela do F100 da prefeitura, Mundico Goma olhava irrequieto fixando o olhar zangado para o povo.
- Então, querida, dizem que à carne se arruína. Falava o prefeito.
- Esses vermes que te beija o rosto. Respondia a esposa.
Aproximava-se o vice Rui Rosas.
- Temos que prosear!





Nenhum comentário:

Postar um comentário