quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

Romance Terra de Marataoan


CAPÍTULO 31

O dia da eleição tão esperado. A sociedade barrense luzida e numerosa enchia as urnas com o voto; o prefeito Mundico Goma, embora muito arredado, achou ali grande número de conhecidos e conhecidas. Votou; viu, conversou, riu um pouco e saiu. Acertara com o coronel Regiberto que o vereador Rui Rosas seria o vice na chapa.
O candidato Zé de Lauro após votar saia com o coração livre; ao sair trouxe um discurso, para falar a linguagem do povo barrense.
De justiça social? A falar a verdade não se pode dar este nome a causa dos políticos, mas experimentado por Zé de Lauro poderia acontecer; não era ainda o tema da campanha, mas bem pode ser que viesse a sê-la na prefeitura.
Por enquanto era um discurso de fascinação doce e brando; um homem que nem ele produzia ótima impressão ao povo. O político em questão não era um dos muitos que circulava na terra de marataoan; era um homem de trinta e dois anos, muito elegante e terno com as palavras. Zé de Lauro viu pela primeira vez seu nome atrelado ao de prefeito da Barras, após a apuração na Associação Recreativa Barrense; rio das feições de derrota do candidato Mundico Goma e Rui Rosas.
O candidato Mundico Goma conversou com o vice Rui Rosas durante meia hora, e tão desencantado ficou com as maneiras, a voz, a dureza de engolir a derrota, e os três meses de insônia do fim do mandato.
Como um verdadeiro corrupto do dinheiro público que era, sentia em si os sintomas da hipertrofia administrativa das finanças que se chamava déficit público e procurou combater demitindo prestadores de serviços da prefeitura. Leu algumas páginas de balancetes municipais, isto é, percorreu-as com os olhos, ele não sabia ler direito; porque apenas começava a ler com o espírito analfabeto que alheava apenas com os olhos.
O cansaço dos três meses do período eleitoral foi mais feliz para Zé de Lauro.  Sonhou com a prefeitura e a apertava em seus braços, perante a sociedade.
Quando acordou e lembrou-se do sonho, Zé de Lauro sorriu.
- Sou o prefeito da Terra de Marataoan! disse ele. Começou a vestir-se e sair para comemorar na praça da matriz. Estava Conceição sentada na banca no mercado, quando ouvia os foguetes ecoando lá da praça da matriz.
- Acredita no destino, meu irmão? Pensa que há um político do bem e um político do mal, em conflito travado sobre a política barrense?
- Política é honestidade, respondia Humberto. Cada homem faz o seu destino na política.
- Mas enfim não temos nada haver com a política daqui... Às vezes adivinhamos acontecimentos em que tomamos parte; não há um político benfazejo que nos agrade.
- Fala como Zé de Lauro; eu creio em tudo disso. Creio que nosso candidato vitorioso ajudará a matar o estômago vazio do povo de Barras, e o que melhor podemos fazer é acreditar aqui mesmo do mercado público que ele cumpra as promessas do palanque. Compreendera tudo.


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