sábado, 17 de dezembro de 2011

Romance Terra de Marataoan



CAPÍTULO 15

Rasgou pneus e lançou piçarras para o ar e rumou para Barras. Durante o percurso Conceição falara da precisão ao candidato que prontamente atendia ao pedido. Apenas entrou em casa arrumou cuidadosamente os meninos que já estava com a trouxa de roupas prontas. Vestiu a roupa do menino “tampinha”, calçou a menina Esperança e o pequeno de dois anos escanchado nos quadris.
Tampinha na verdade é o Marcos que aos sete anos sem ainda freqüentar uma escola, pois a única que tinha ficava distante do lugar e a escola mais perto ficava distância de duas léguas, já para a entrada do Barro Preto. Até o momento dos três filhos da humilde mulher, realmente um mimo de criança; tinha as formas delgadas e graciosas de uma criança travessa; os olhos castanhos escuros e aveludados pareciam exprimir a mais completa felicidade deste mundo, tão alegres e serenos, além da barriga inchada de verme de tanto comer barro das paredes de taipa.
Durante a viagem Zé de Lauro ficou a lembrar de quando contemplou e examinou minuciosamente a casinha simples, viu uma bilheira com o pé apoiado por pedras, quatro copos de alumínios bem areados e um pote escameado com resto de tinta vermelha já gasto pela ação do envelhecimento no tempo.
De pronto deitou-se um pouco numa rede de tucum e percebeu que deveria ganhar as eleições e como meta inicial distribuir filtros naquela região para o povo pobre do município. Leu no dístico ocular do menino “tampinha”que fechava as pestanas lentamente, e convenceu-se finalmente de que uma bola de futebol dentro do saco plástico era de grande estimação na parte de quem quer que fosse dono dela e entregou ao menino.
- Se não apareceu outro dono até agora, fica contigo, disse ele entregando a bola ao moleque com uma pequena mochila nas costas estendia as mãos e agradecia ao homem bondoso. Tratou o moleque de guardar aquela preciosidade.
Enquanto isso, Conceição durante a viagem planeava o futuro aos novos hóspedes da cidade, cuja família devia perpetuar-se naquele lugar desconhecido dela. Inconseqüentemente resolveu restituir com lágrimas nos olhos ao deixar os babaçuais e a roça com uns legumes por colher e se aventurar na cidade, com bastante mágoa no coração.
Chegou a hesitar por alguns instantes ao olhar as casinhas de palha da beira da estrada; mas afinal venceu seus sentimentos de probidade e compaixão, que eram o apanágio daquela pobre alma interiorana e partiu sentindo o vento no rosto, a cada palmo de distância imaginava que na cidade fosse o melhor futuro para os meninos.
O menino sentado na trouxa de roupa contorcia-se para não chorar quando deixou a cachorrinha piaba e não muitas coisas, mas para ele a cachorrinha o bastante ou até mais. E, como se lhe custasse despedir-se do animal e ainda recente da casinha de palha da beira da estrada, dispôs-se a levá-lo com ele, e para esse fim preparou-se, amarrando a cachorra com um pedaço de corda.
A mulher raiou com o menino que não podia levar o animal no carro do moço. Tampinha a soltou e despediu-se vendo piaba balançando o rabinho feliz e que a cada volta do pneu do jipe na piçarra alongava-se o olhar penoso e a lentidão do abanar do rabo do animal que urrava parecendo chorar a separação dos dois amigos.
Já o plano de Zé de Lauro em ganhar o voto durou o que dura a imaginação de um político esperto: o espaço de uma viagem. Conceição vendo os santinhos, via nas promessas transcritas abaixo do retrato do homem a paixão pelo trabalho nas Barras e deu-lhe na medida da dor que devia sofrer quem era pobre, tendo que abandonar aquelas terras secas, sem água das chuvas.
Quando avistou a entrada da cidade e depois de averiguar bem morar no lugar que havia feito a opção, desceram ambos do jipe com direção a casa de Zé de Lauro.
Naquele tempo ainda em Barras, a energia elétrica vinha de Campo Maior e com os portes acesos, a mulher tinha imensa alegria no coração. A casa do candidato a prefeito Zé de Lauro uma das mais bonitas, perto da igreja de nossa senhora da Conceição, pois no portão de entrada aparência que indicava certa abastança de riqueza nos haveres de quem lá morava, uma casa com eira e beira. Antes mesmo que o homem descesse do jipe, um rapaz moreno corria para encontrá-lo, reconhecendo o dono do lar, começava a pegar as coisas de Zé de Lauro e levava para dentro.
Despediram-se o candidato e a mulher. Quando ela saiu com os meninos foi acompanhada pelo rapaz da casa de Zé de Lauro levando a pouca bagagem. Desceu Conceição e os filhos e seguirão para casa de um irmão que morava perto dali. A expressão de surpresa no rosto de Humberto, que correu a anunciar a boa nova à esposa Marieta. O menino Crispim, aproveitando uma fresta da janela de duas folhas, precipitou-se pelo corredor da casa recepcionar os primos Marcos e Esperança e o pequeno.
Dispunha-se o rapaz da casa de Zé de Lauro a deixar a mulher, pois estava cumprida a sua tarefa. Quando Marieta chegou dizendo-lhe que eles entrassem para a casa já emendou perguntando qual dos meninos adoecera.
No quarto de hóspedes não havia ninguém, mas precavia que não poderiam demorar muito tempo por ali. É impossível que esse fosse o costume da dona da casa, mas desta vez Marieta não se cuidou em semelhante coisa, porque mal a mulher com os filhos pequenos entraram pela porta trazendo a alegria no rosto, uma mesma expressão de tristeza restabelecia no semblante.
- Queira ter a bondade de sentar-se, disse ela designando uma cadeira de madeira feita do couro de cabra já envelhecida que o couro furara no meio e rangia mordendo quem sentava.
- A minha demora é pouca, disse Conceição à cunhada sentindo a primeira mordida da cadeira. Vim procurar morada aqui nas Barras, lá no interior está cada vez mais difícil... Os animais morrendo de sede pela falta d’água.
- Não imagina que desassossego causou deixar a casinha de palha e as poucas criações...
- é dar para imaginar, minha cunhada; de que vai viver por aqui se não tem trabalho...
- Perdão! Interrompeu Conceição; com o pouco do aposento que o fundo rural me paga quero criar os meninos por aqui.
- Ah!...
- Ele vem aí.
- Como foi à viagem do Mocambo para cá? Perguntou Humberto.
Marieta levantou-se justamente quando entrava na sala o marido. Um homem bom que apresentava trinta e oito anos, no pleno desenvolvimento da maturidade, um desses que anunciou a velhice cedo e uma calvície imponente. Trabalhava na venda de bugigangas e outras quinquilharias.
A calça de seda escura com alguns furos e outros remendos davam singular ocultação à cor imensamente negra da sua pele. Era roçagante a calça, o que lhe aumentava a estatura de homem meio alto. O estado de calvície naturalmente que os cabelos não precisavam ser penteados, mas com uma simplicidade caseira, que é a melhor de todas as modas conhecidas do irmão acolheu a irmã com gratidão. Acomodaram-se pela noite e adormeceram sonhando dias melhores na cidade.
Passados seis dias, conversando com uns amigos a propósito de que se algum encontrasse uma casa para vender que lhe avisasse imediatamente.
- Por quê? Perguntou-lhe um dos amigos admirado.
- É para minha irmã que veio do interior, respondeu Humberto.
Não ousava interrogá-lo sobre a esquivança que mostrou em relação ao assunto. 

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