quinta-feira, 12 de abril de 2012



VI CONTO DE AS BARRENSES

A INGRATA DO BAIRRO PEQUIZEIRO

Quando Suelen começou a namora com Ramon. Ela até pensava em casar com o rapaz. Ramon apoiou muito e deu a maior força, pagou a inscrição do vestibular e todos os meses mandavam-lhe cinqüenta por cento para a mensalidade da faculdade, quando ela foi para Teresina estudar o curso de Serviço Social, Ramon pensou que quando formada Suelen seria sua assistente social do amor.
Ledo engano, quando se formou a família da moça, logo se posicionou contra o namoro, afinal Ramon só tinha o ensino fundamental, trabalhava numa oficina de bicicleta e não seria rapaz para casar com Suelen.
O rapaz fez tudo o que podia para ver Suelen formada, ás vezes o salário do mês recebido da oficina de consertar bicicleta, ele mandava para a namorada na capital piauiense. Pelo período da semana santa Suelen veio de Teresina para Barras com intuito de arranjar um serviço na prefeitura, porque a prefeitura de Barras tem mais assistente social do que pessoas para precisar dos serviços deles.
O rapaz resolver junto com a família fazer um grande almoço no domingo de páscoa para festejar um pré-noivado dos dois, mas para surpresa de todos, principalmente de Ramon.
            ...Ela é a jovem mais linda do bairro pequizeiro — Ramon explicou.
— Es­tou feliz por te visitar, Ramon.
Suelen se en­contrava em uma delicada condição de namorada de Ramon e pretendia terminar com o namoro, mas com muito cuidado para não magoá-lo, ela sabia que aquilo era imposição da família dela.
— É nosso quarto ano de namoro — Ramon disse, rindo.
— Estou tão nervosa que parece que meus lábios tremem. Disse Suelen.
—Porque está nervosa? Ramon perguntou, impaciente.
— Muitas coisas podem dar errado por eu ter vindo aqui na sua casa.
Suelen segurou-lhe as mãos.
— Desculpe-me, Ramon. Foi um mau gosto eu vir aqui.
— Não entendi! — ele falou, ignorando-a.
— Eu quero te falar uma coisa! Quero terminar com você!
Ramon, que jamais vira sua inabalável fama de sedutor no bairro matadouro ficou sem palavras, empalideceu-se. Ele ten­tou rir e virou-se para conversar com a mãe, dona Cotinha que preparava o almoço.
Em seguida, rumaram para dentro da casa dele. Ramon, meio sem jeito, mas tomou o braço de Suelen e a apresentou ao pai João de Deus que esperava a moça para o almoço daquele domingo de páscoa.
Se a situação não fosse tão irônica, Ramon teria gargalhado quando o pai chamou Suelen de futura nora. A predição do pai pela moça de aparelho nos dentes foi instantânea.
Senhor João de Deus que no mês de maio de 2012 completaria vinte cinco anos de casado com dona Cotinha e sentia que aquele domingo de páscoa seria diferente na casa, talvez o filho anunciasse o noivado com Suelen.  
Tanta cortesia com Suelen, ele pensou estupefato, era estendido a um homem de a sua idade tratar bem a namorada do filho que havia retornado de Teresina formada em Serviço Social.
Assim que Ramon apresentou-a aos pais, Suelen convidou o rapaz para conversar no jardim da casa. Ele in­sistiu em chamá-la para primeiro almoçarem, depois conversavam.
Após almoçarem, Ramon pegou com mãos esperançosas de um rapaz louco para casar e aproximou-se do rosto de Suelen.
— Você tem outro cara na mente? — Ramon falou.
— Não é isso, não dá mais para ficarmos juntos!
— Obrigado por tudo Ramon. Devo admitir que você me ajudou muito.
— Não conheço ninguém que mais mereça uma ótima esposa como você. No entanto, é melhor eu terminar com você, antes que alguma pessoa maldosa daqui de Barras diga algo de mal da nossa vida!
Ramon afastou-se, deixando Suelen à mercê no jardim da sua casa. Após ouvir aquilo se desvencilhou e tão inconveniente, pre­cipitou-se a sair para a rua tomar um ar fresco, e então viria Suelen pela última vez.
— Obrigado por tudo!
Ramon não entendia o fim daquele namoro, mas a reputação de Suelen continuava a surpreender o rapaz. Suelen deparou-se com o primo Victor completa­mente embriagado, e a amiga de infância Doralice, também entorpecida pelo álcool que beberam no bar Flutuante.
—Muito Black White nesta semana santa! Disse o primo.
Ramon ergueu a cabeça para ouvi-los conversar com Suelen de dentro do carro.
— Pode me levar para casa?
Embora Suelen tivesse sido injusta com ele, ela achava-se que não faltariam pretendentes para Ramon.
— Isso é muito injusto — Ramon falou pela última vez. — Cuidado a vida dá voltas.
Aquelas palavras de Ramon, Suelen sabia que iriam doer muito. Teria passado os últimos quatro anos e chegou o dia da tão sonhada formatura em que Ramon não pode ser o padrinho por que seu pai não aprovou e queria o triunfo do momento.
— Obrigado por sempre me ajudar, Ramon.
— Sempre farei o mesmo.
— Pena que você me diminuiu. Era mais divertido quando você só estudava.
À medida que à tarde barrense prosseguia, no entanto, Ramon considerou a possibilidade de usufruir da com­panhia inóspita de Suelen, mas perdera a conta de que a família dela era interesseira demais e ele mal tinha terminado o ensino fundamental, sempre foi um jovem muito emotivo e tímido, com as quais era difícil de alguém dialogar.
A razão pela qual, Suelen não queria tomar parte daquele namoro, mesmo sendo infeliz era somente a mãe dela que exigia que ela casasse com uma pessoa formada. O desejo urgente de noivar com Ramon estava estampado no rosto lindo e inteligente da voz melodiosa de Suelen.
Quando partiu da casa dele no bairro Matadouro para ir ao Pequizeiro uma onda de saudade dominou-a. Suelen sentiu uma forte sensação de estar sendo renegado o grande amor da sua vida e inter­rompeu seu devaneio quando olhou para o lado e avistou Ramon descendo a ladeira do lado do cemitério numa bicicleta e em alta velocidade encarando-a de forma sarcástica.
— O que sua família tem contra mim? Ele perguntou um pouco tenso.
Suelen não respondeu. De repente, outra pergunta afobada o rapaz soltou com intuito de provocar-lhe. A moça permaneceu quieta até ele re­tirar-se.
— Você não precisava desse espetáculo! Mas não sou fácil de me enganar.
Suelen sabia que os rapazes do bairro Pequizeiro ficariam tão ávidos ao saber que não mais iria noivar com Ramon. Talvez tenha sido induzida pela mãe, ou melhor, "seduzida", pela família que queria que ela encobrisse os pecados de uma família egoísta e o fim do namoro fosse melhor decisão.
Ramon emergiu outra vez e parou perto da moça.
— Suelen, se quer terminar, devia não ter mentido para mim.
Mal ele completou a frase, a mãe de Suelen apareceu no portão e chamou-o. Ramon a olhou com ressentimento, mas ficou calado.
— Espero que seja feliz com sua nova situação. Ramon acrescentou.
Contida, Suelen fez uma rápida deferência a Ramon.
— Tchau. Já supo­nho que deva finalizar a conversa.
— Esteja avisada de que um dia sua família irá se arrepender disso. Ramon ameaçou.
Suelen lembrou-se tam­bém de que possuía menos escrúpulos de que sua família. Na verdade, depois que se formou a família insistia que ela casasse com alguém de nome.
Dona Floriza abriu a porta. Com certa relutância, Suelen entrou. Lançando um olhar de aversão a mãe, ela seguiu para o quarto.
Enquanto Ramon as observava, a mulher roliça e baixinha o abordou.
— Você sabe que não é rapaz para minha filha! — ela exclamou, agarrando o braço de Ramon.
— Ela é uma mulher agora formada, tem currículo lembra-se?
A mulher puxou uma conversa ríspida com o jovem moreno de expressão assustada.
— Sim, Dona Floriza — o rapaz respondeu num tom de voz quase inaudível.
— Procure uma do seu tope, rapaz! Não procure mais por minha jovem tão ado­rável.
— Mamãe, por favor... — Suelen murmurou, ru­borizada lá da janela.
— Quieta, filha. Às vezes, uma mãe precisa to­mar à dianteira. E o Ramon não se importa de ser apreciado nessa conversa. Não é verdade, Ramon?
Com tanta força na voz de dona Floriza que ela não admitia um não como resposta pronunciada pelo rapaz. A filha ficou pálida e parecia mortificada de vergonha com aquela mãe vulgar e dominadora. Ramon  sentiu pena da jovem.
A jovem arregalou os olhos, espantada por ver a mãe dirigir-se com tanta grosseria com ele. Já lamentando o momento. Suelen afastou-se da janela, determinada a en­contrar a mãe e implorar para que Ramon fosse embora.
Com a cabeça latejando de dúvidas e contradições, mais do que a pior vergonha que a mãe fizera, ela sentou-se, aliviada, por Ramon ter ido embora.
— Mãe, me enganei. Com a senhora!
Dona Floriza riu, se divertindo.
— É apenas o começo, minha filha.
Suelen gemeu, decepcionada.
— Não há nenhuma vergonha em uma mãe querer o melhor para sua filha.
— Vai querer que eu volte para Teresina? Suelen comentou.
— Sinto pena de minha filha— Floriza admitiu.
— Tão logo você se terminou quero arranjar-lhe uma vaga na prefeitura de Barras, a secretaria de Assistência Social precisa de mais profissionais da área — dona Floriza falou.
— A senhora não ver que lá tem mais assistente social do que pessoas carentes! Disse Suelen.
— É ano de política, o prefeito dar um jeito para te encaixar lá. Respondeu.
Ela sabia que com a conclusão do curso de Serviço Social não tinha nenhuma dúvida que a prefeitura não a chamasse. O carro do primo Victor estacionou diante da residência de Suelen. Como já era de tarde e Suelen passara boa par­te na casa de Ramon, Victor novamente com a amiga de Suelen, Doralice convidaram-na para darem uma volta por Barras.
— Vamos dar uma volta na cachoeira da Lapa! Vem logo! Disseram.
No entanto, antes de entrar no carro, observou Ramon no alto da capela de São Sebastião sentado na praça do bairro. Aquilo parecia muito opressivo. Talvez por entrar no carro de Victor parecesse que a reputação da moça fosse ser banida da so­ciedade.
Sem dúvida, para Ramon, Suelen precisava mesmo só de meia hora com uma pessoa de conversa inteligente e estimulante como a do primo Victor formado em Letras ou do apoio da amiga de infância Doralice ou até que mais valia muito um carro do ano que um amor inteiro e repleto de paixão.
Suelen voltou a pensar nele, mas, pela primeira vez, a sensação de liberdade, de estar solteira turvou a pureza da saudade e matou a ori­ginada na separação. As palavras da mãe ecoavam em sua mente. O amor de seus pais fora profundo e mútuo, se­gundo Suelen.
A mãe, acreditando nas juras de amor do professor Victor, um rapaz bem visto na sociedade barrense, cujo seu cunhado e pai dele era dono de uma enorme quantidade de terra para as bandas do Mocambo e de um terrível prestígio político e aliado do prefeito de Barras, ela até fazia voto de Suelen casar com ele.

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