VI CONTO DE AS BARRENSES
A INGRATA DO BAIRRO PEQUIZEIRO
Quando Suelen começou a namora com
Ramon. Ela até pensava em casar com o rapaz. Ramon apoiou muito e deu a maior
força, pagou a inscrição do vestibular e todos os meses mandavam-lhe cinqüenta por
cento para a mensalidade da faculdade, quando ela foi para Teresina estudar o
curso de Serviço Social, Ramon pensou que quando formada Suelen seria sua
assistente social do amor.
Ledo engano, quando se formou a família
da moça, logo se posicionou contra o namoro, afinal Ramon só tinha o ensino
fundamental, trabalhava numa oficina de bicicleta e não seria rapaz para casar
com Suelen.
O rapaz fez tudo o que podia para
ver Suelen formada, ás vezes o salário do mês recebido da oficina de consertar
bicicleta, ele mandava para a namorada na capital piauiense. Pelo período da
semana santa Suelen veio de Teresina para Barras com intuito de arranjar um serviço
na prefeitura, porque a prefeitura de Barras tem mais assistente social do que
pessoas para precisar dos serviços deles.
O rapaz resolver junto com a família
fazer um grande almoço no domingo de páscoa para festejar um pré-noivado dos
dois, mas para surpresa de todos, principalmente de Ramon.
...Ela é a jovem mais linda do bairro pequizeiro — Ramon
explicou.
— Estou feliz por te visitar,
Ramon.
Suelen se encontrava em uma
delicada condição de namorada de Ramon e pretendia terminar com o namoro, mas
com muito cuidado para não magoá-lo, ela sabia que aquilo era imposição da
família dela.
— É nosso quarto ano de namoro —
Ramon disse, rindo.
— Estou tão nervosa que parece que
meus lábios tremem. Disse Suelen.
—Porque está nervosa? Ramon perguntou,
impaciente.
— Muitas coisas podem dar errado por
eu ter vindo aqui na sua casa.
Suelen
segurou-lhe as mãos.
— Desculpe-me, Ramon. Foi um mau
gosto eu vir aqui.
— Não entendi! — ele falou,
ignorando-a.
— Eu quero te falar uma coisa! Quero
terminar com você!
Ramon, que
jamais vira sua inabalável fama de sedutor no bairro matadouro ficou sem
palavras, empalideceu-se. Ele tentou rir e virou-se para conversar com a mãe, dona Cotinha
que preparava o almoço.
Em seguida, rumaram para dentro da
casa dele. Ramon, meio sem jeito, mas tomou o braço de Suelen e a apresentou ao
pai João de Deus que esperava a moça para o almoço daquele domingo de páscoa.
Se a situação não fosse tão irônica,
Ramon teria gargalhado quando o pai chamou Suelen de futura nora. A predição do
pai pela moça de aparelho nos dentes foi instantânea.
Senhor João de Deus que no mês de
maio de 2012 completaria vinte cinco anos de casado com dona Cotinha e sentia
que aquele domingo de páscoa seria diferente na casa, talvez o filho anunciasse
o noivado com Suelen.
Tanta cortesia com Suelen, ele
pensou estupefato, era estendido a um homem de a sua idade tratar bem a
namorada do filho que havia retornado de Teresina formada em Serviço Social.
Assim que Ramon apresentou-a aos
pais, Suelen convidou o rapaz para conversar no jardim da casa. Ele insistiu
em chamá-la para primeiro almoçarem, depois conversavam.
Após almoçarem, Ramon pegou com mãos
esperançosas de um rapaz louco para casar e aproximou-se do rosto de Suelen.
— Você tem outro cara na mente? —
Ramon falou.
— Não é isso, não dá mais para
ficarmos juntos!
— Obrigado por tudo Ramon. Devo admitir
que você me ajudou muito.
— Não conheço ninguém que mais
mereça uma ótima esposa como você. No entanto, é melhor eu terminar com você,
antes que alguma pessoa maldosa daqui de Barras diga algo de mal da nossa vida!
Ramon afastou-se, deixando Suelen à
mercê no jardim da sua casa. Após ouvir aquilo se desvencilhou e tão inconveniente,
precipitou-se a sair para a rua tomar um ar fresco, e então viria Suelen pela
última vez.
— Obrigado por tudo!
Ramon não entendia o fim daquele namoro,
mas a reputação de Suelen continuava a surpreender o rapaz. Suelen deparou-se
com o primo Victor completamente embriagado, e a amiga de infância Doralice,
também entorpecida pelo álcool que beberam no bar Flutuante.
—Muito Black White nesta semana
santa! Disse o primo.
Ramon ergueu a cabeça para ouvi-los
conversar com Suelen de dentro do carro.
— Pode me levar para casa?
Embora Suelen tivesse sido injusta
com ele, ela achava-se que não faltariam pretendentes para Ramon.
— Isso é muito injusto — Ramon falou
pela última vez. — Cuidado a vida dá voltas.
Aquelas palavras de Ramon, Suelen
sabia que iriam doer muito. Teria passado os últimos quatro anos e chegou o dia
da tão sonhada formatura em que Ramon não pode ser o padrinho por que seu pai não
aprovou e queria o triunfo do momento.
— Obrigado por sempre me ajudar, Ramon.
— Sempre farei o mesmo.
— Pena que você me diminuiu. Era
mais divertido quando você só estudava.
À medida que à tarde barrense
prosseguia, no entanto, Ramon considerou a possibilidade de usufruir da companhia
inóspita de Suelen, mas perdera a conta de que a família dela era interesseira
demais e ele mal tinha terminado o ensino fundamental, sempre foi um jovem
muito emotivo e tímido, com as quais era difícil de alguém dialogar.
A razão pela qual, Suelen não queria
tomar parte daquele namoro, mesmo sendo infeliz era somente a mãe dela que
exigia que ela casasse com uma pessoa formada. O desejo urgente de noivar com
Ramon estava estampado no rosto lindo e inteligente da voz melodiosa de Suelen.
Quando partiu da casa dele no bairro
Matadouro para ir ao Pequizeiro uma onda de saudade dominou-a. Suelen sentiu
uma forte sensação de estar sendo renegado o grande amor da sua vida e interrompeu
seu devaneio quando olhou para o lado e avistou Ramon descendo a ladeira do
lado do cemitério numa bicicleta e em alta velocidade encarando-a de forma
sarcástica.
— O que sua família tem contra mim?
Ele perguntou um pouco tenso.
Suelen não respondeu. De repente,
outra pergunta afobada o rapaz soltou com intuito de provocar-lhe. A moça
permaneceu quieta até ele retirar-se.
— Você não precisava desse espetáculo!
Mas não sou fácil de me enganar.
Suelen sabia que os rapazes do bairro
Pequizeiro ficariam tão ávidos ao saber que não mais iria noivar com Ramon. Talvez
tenha sido induzida pela mãe, ou melhor, "seduzida", pela família que
queria que ela encobrisse os pecados de uma família egoísta e o fim do namoro fosse
melhor decisão.
Ramon emergiu outra vez e parou
perto da moça.
— Suelen, se quer terminar, devia
não ter mentido para mim.
Mal ele completou a frase, a mãe de
Suelen apareceu no portão e chamou-o. Ramon a olhou com ressentimento, mas
ficou calado.
— Espero que seja feliz com sua nova
situação. Ramon acrescentou.
Contida, Suelen fez uma rápida
deferência a Ramon.
— Tchau. Já suponho que deva
finalizar a conversa.
— Esteja avisada de que um dia sua
família irá se arrepender disso. Ramon ameaçou.
Suelen lembrou-se também de que
possuía menos escrúpulos de que sua família. Na verdade, depois que se formou a
família insistia que ela casasse com alguém de nome.
Dona Floriza abriu a porta. Com
certa relutância, Suelen entrou. Lançando um olhar de aversão a mãe, ela seguiu
para o quarto.
Enquanto Ramon as observava, a
mulher roliça e baixinha o abordou.
— Você sabe que não é rapaz para
minha filha! — ela exclamou, agarrando o braço de Ramon.
— Ela é uma mulher agora formada, tem
currículo lembra-se?
A mulher puxou uma conversa ríspida
com o jovem moreno de expressão assustada.
— Sim, Dona Floriza — o rapaz
respondeu num tom de voz quase inaudível.
— Procure uma do seu tope, rapaz!
Não procure mais por minha jovem tão adorável.
— Mamãe, por favor... — Suelen
murmurou, ruborizada lá da janela.
— Quieta, filha. Às vezes, uma mãe
precisa tomar à dianteira. E o Ramon não se importa de ser apreciado nessa
conversa. Não é verdade, Ramon?
Com tanta força na voz de dona
Floriza que ela não admitia um não como resposta pronunciada pelo rapaz. A
filha ficou pálida e parecia mortificada de vergonha com aquela mãe vulgar e
dominadora. Ramon sentiu pena da jovem.
A jovem arregalou os olhos,
espantada por ver a mãe dirigir-se com tanta grosseria com ele. Já lamentando o
momento. Suelen afastou-se da janela, determinada a encontrar a mãe e implorar
para que Ramon fosse embora.
Com a cabeça latejando de dúvidas e
contradições, mais do que a pior vergonha que a mãe fizera, ela sentou-se,
aliviada, por Ramon ter ido embora.
— Mãe, me enganei. Com a senhora!
Dona Floriza riu, se divertindo.
— É apenas o começo, minha filha.
Suelen gemeu, decepcionada.
— Não há nenhuma vergonha em uma mãe
querer o melhor para sua filha.
— Vai querer que eu volte para
Teresina? Suelen comentou.
— Sinto pena de minha filha— Floriza
admitiu.
— Tão logo você se terminou quero
arranjar-lhe uma vaga na prefeitura de Barras, a secretaria de Assistência
Social precisa de mais profissionais da área — dona Floriza falou.
— A senhora não ver que lá tem mais
assistente social do que pessoas carentes! Disse Suelen.
— É ano de política, o prefeito dar
um jeito para te encaixar lá. Respondeu.
Ela sabia que com a conclusão do curso
de Serviço Social não tinha nenhuma dúvida que a prefeitura não a chamasse. O
carro do primo Victor estacionou diante da residência de Suelen. Como já era de
tarde e Suelen passara boa parte na casa de Ramon, Victor novamente com a
amiga de Suelen, Doralice convidaram-na para darem uma volta por Barras.
— Vamos dar uma volta na cachoeira
da Lapa! Vem logo! Disseram.
No entanto, antes de entrar no carro,
observou Ramon no alto da capela de São Sebastião sentado na praça do bairro.
Aquilo parecia muito opressivo. Talvez por entrar no carro de Victor parecesse
que a reputação da moça fosse ser banida da sociedade.
Sem dúvida, para Ramon, Suelen
precisava mesmo só de meia hora com uma pessoa de conversa inteligente e
estimulante como a do primo Victor formado em Letras ou do apoio da amiga de infância
Doralice ou até que mais valia muito um carro do ano que um amor inteiro e
repleto de paixão.
Suelen voltou a pensar nele, mas,
pela primeira vez, a sensação de liberdade, de estar solteira turvou a pureza da
saudade e matou a originada na separação. As palavras da mãe ecoavam em sua
mente. O amor de seus pais fora profundo e mútuo, segundo Suelen.
A mãe, acreditando nas juras de amor
do professor Victor, um rapaz bem visto na sociedade barrense, cujo seu cunhado
e pai dele era dono de uma enorme quantidade de terra para as bandas do Mocambo
e de um terrível prestígio político e aliado do prefeito de Barras, ela até
fazia voto de Suelen casar com ele.
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