sábado, 30 de junho de 2012



CHÃO DE FOGO, CAPÍTULO 29


O rio marataoã de águas lentas que escorria vagarosamente. Marataoã de águas tão inertes, partes íntimas de um rio sombreado pelas gigantescas árvores das margens, que deixavam suas galhas para pulos na água, se perdendo nos banhos dos meninos.
- É perigoso, Aurélio. Gritava Mathias. Na brincadeira das águas, eles passavam além dos limites.
- Aurélio, o que eles estão fazendo com as árvores? Silêncio! João Alberto. Eles estão derrubando as árvores da beira do rio. Não devemos ameaçá-los? Não, isso é coisa para os adultos!

- Para os adultos ou para prefeitura? Prefeitura! E porque eles nada fazem? É por que o dono daquelas terras ignotas, primeiramente encontrou no plantio de melancia, a maneira de exterminar com nossas matas ciliares.

Os rapazes atravessaram o rio, e do outro lado podia ver a volta que o rio fazia vindo do lado do flutuante. O verde refletido nas águas do rio parecia uma verdade que aos poucos passava oculta aos olhos dos homens e seus machados poderosos no desmatamento das margens.

- Vamos voltar? Já é tarde, vamos deixar para depois. 
A escuridão da noite já cegava os olhos. Os rapazes nus vestiam seus calções, e tudo aquilo era bonito e tranqüilo.
- Ah! Aurélio vai para praça da matriz hoje?
- O quê, para praça da matriz? Será que Eunice vai está por lá?
- Sim na praça da matriz, com a avó sempre de lado.
- Eita, que tua mãe ainda está mal no hospital, não é? Sim! Mas, te digo que ela vai ficar boa. O quê ela tem mesmo? Eu não sei, é um problema no útero.

Mathias espantava os porcos que se esparramavam na lama da beira do rio. Aurélio tratou de apressar o banho, e percorreu os contornos do morro chegando aos paralelepípedos da rua 10 de novembro. O rapaz esquadrinhava cada pedaço do céu com nuvens cinzentas. Mathias curioso para passear mais tarde na praça da matriz e participar dos festejos, apressava-se vestindo o calção.

Quando Eunice preparava-se para ir embora sentiu uma pulsada forte no fundo do coração. É que aparecia Aurélio. O rapaz vinha subindo a ladeira da rua 10 de novembro para o lado da academia de Letras. Ele subindo a praça monsenhor Bozon, com outros rapazes, depois de jogarem futebol no campinho da beira do rio.

Aurélio viu Eunice, o coração do rapaz bateu mais forte também. Os olhos de ambos brilharam assim que um passou pelo outro. O relógio marcava seis e vinte da tarde, Aurélio e os outros amigos caminhavam pela praça monsenhor Bozon.

De longe sentada no banco da praça debaixo da sombra do pé de amêndoas na praça, Eunice sentada juntamente com as amigas olhava os meninos passando.  Ela ficou assustada quando um menino deu psiu e disse que foi Aurélio.

- Eita, minha irmã foi ele! Coitado, Eunice fala com o bichinho.

- Não! Tu sabes que foi o Marcos que deu psiu, aquele vara pau, magrelo do diabo. Eunice dizia. Vamos embora, vovô Cassimiro deve está num pé ou noutro atrás de mim. 

AGUARDE CAPÍTULO 30

sexta-feira, 29 de junho de 2012


CHÃO DE FOGO, CAPÍTULO 28


Eunice reservava uma silenciosa distância ao assistir o jogo. Ela sentada debaixo do pé de tamarino abanava-se com a capa do caderno. Eunice, atrás da trave do goleiro Mathias, só ouvia os rapazes gritarem no jogo. A moça percorria os olhos em Aurélio que corria em cada canto do campo atrás da bola.

O campo ficava perto do morro de piçarra do fim da rua 10 de novembro, onde o aclive se agigantava ao subir o morro e descer para a beira do rio nas pequenas curvas sinuosas para o poço das lavadeiras.  Lá de cima avistava-se a beira do rio e o alto da igreja da Boa Vista.

Depois do jogo, o banho no rio. Os rapazes divertiam-se com as águas pés das margens do rio. Davi com pedras nas mãos atirava nas raçanãs e socós que sorrateiramente pisavam sob a vegetação.

- Aurélio que ver quantos filhos tu vai ter com Eunice? Eita, dois. Assim não vale, tu nem sabe jogar direito a pedra sobre as águas.

O sol deitando-se no poente, as raçanãs voando baixo na vazante para o lado da Prainha, e o vento soprando mais forte. A partida de futebol encerrada.  Depois da visão de Eunice indo embora, Aurélio voltou para casa mais apaixonado. Olha, Aurélio, aquela neta do senhor Cassimiro parece uma deusa, a mais gata da nossa rua.

João Alberto, o melhor amigo de Aurélio abriu um sorriso, mas a avó dela é zangada que só. Ele jogou água para cima fazendo pingos de chuva e nadaram mais e mais nas águas mansas do marataoã.

- Como vai ser linda a abertura dos festejos! Hei, Aurélio vamos atravessar o marataoã! Dizia João Alberto.

- O que te preocupa Aurélio? Hoje tu fizeste até gol. Gooooollll de Aurélio!!!!

- Aquela cigana que leu minha mão! Ela dizia que eu teria felicidade, mas uma tristeza das grandes. Ainda lembro quando ela aproximou-se de mim no centro Comercial. Lembro que foi assim: estava sentado na banca de Teresa, quando seu Cassimiro mandou-me pegar um quilo de carne. A mulher vinha pela fila da carne abordando um e outro.

- Vixe, Maria! O que foi seu Cassimiro? Olha lá, seu Aurélio! Lá vem uma cigana, já vem enrolar a gente. Aqui nessas Barras tá cheio deles, lá pras bandas do Galdinal! E eu não gosto de cigano, eita bicho velho enrolão.
-Oh! Ganjão me dá a tua mão para eu ler tua sorte! Eu não tenho dinheiro. Nem que seja um trocado para o café! Tu vais passar por um tempo ruim na vida. E digo mais tem alegria, tem! Mais uma tristeza que vai da dó.

Aquela manhã o centro Comercial estava enxameado de gente.

- Rum! Vai me dizer que tu acreditas nessas coisas. Sei lá! Pode ser que sim, pode ser que não.

AGUARDE CAPÍTULO 29

quinta-feira, 28 de junho de 2012


CHÃO DE FOGO, CAPÍTULO 27


Eunice deitada na cama lembrava-se do dia que conheceu Aurélio. O destino só Deus sabe! Será se Aurélio lembra ainda de mim? Perguntava-se a moça. Foi numa tarde do mês de novembro, ela juntamente com as amigas, depois da aula saiam do Gervásio Costa direto para o ponto da beira rio. Elas adoravam apreciar o por do sol na beira rio marataoã. De lá olhavam a ilha dos amores.

- Dizem que lá pelo começo dos anos oitenta na ilha tinha um bar. Tu acredita, Eunice? Eu não, mas também não duvido! Como tudo em Barras com o tempo se acaba! Ei vamos embora pela beira do rio. Quem sabe não vemos os meninos lá da rua no campo jogando bola.

O marataoã naquele meio do mês de novembro de 1995, com a diminuição do curso d’água, uma grande área verde de capim aparecia perto da beira do rio. Os rapazes usavam o local para jogar bola. O campo de futebol da beira do marataoã com o capim verde, o local ideal para as partidas de futebol a tardezinha.

A bola de fogo suspensa nos céus barrense queimava os olhos de Aurélio, com o reflexo das lâminas d’água do rio. O olhar desolador dos moleques inertes lá de cima do morro de piçarra ruborizava com o pouco liquido cristalino deslizando nas correntezas.

O marataoã naquele dezesseis de novembro, depois do feriado da República ainda com águas velhas, ondas nervosas, de coloração escura, onde as alegrias não deixavam a vida passar e parecia tudo inerte naquele lindo por do sol. O ígneo sol descia dos ares para o lado do bairro Pedrinhas.

As últimas réstias iluminavam os tetos estrelados das casas. Raios ágeis e peregrinos na imensidão profunda do puro fogo áureo a encher o espaço dourado dos céus barrenses. O fim de tarde, natureza do tempo viva sob os pilares insólitos dos enredos solares.

Aqui e ali os olhos dos meninos espreitavam os ecos longos que à distância se martirizavam no grito de um lado a outro da margem do rio. Tão vasto quanto o sol esculpindo as estátuas de luz no único clarão dourado que ainda brincava sem angústia, sob o meigo céu que lhes dourava o horizonte.

- O marataoã está a cada dia mais seco. Repetia Aurélio, com a mão em pala ao olhar para o lado da prainha.

O outro rapaz, João Alberto com a bola debaixo do braço sentia o vento seco bater no rosto. O redemoinho em coreografias acrobáticas pelo ar levantava os sacos plásticos e esvaia-se no meio das águas. Ao longe, as casas de palhas do bairro  Prainha balançavam-se aos ventos fortes.

A conversa dos meninos era sobre o lugar, onde enfiar as traves e jogarem futebol. Entravam em debate caloroso e o sol sumindo nos céus barrenses. Os rapazes apressavam-se para bater bola no fim de tarde.

 - Vamos logo? Inquiriu Aurélio, alargando o riso que não cabia nos olhos ao ver de longe Eunice chegando com outras amigas do colégio.

- Mathias joga a bola! emendou Davi. Enfiei as traves! Eu divido os times! É tu para cá e tu para lá.

 - E o Aurélio? Nem me fala, ele é sempre do time sem camisa. Entre Mathias e Cassanha, escolho o Mathias, pois é um bom goleiro. 

AGUARDE CAPÍTULO 28

quarta-feira, 27 de junho de 2012


CHÃO DE FOGO, CAPÍTULO 26



Aristeu aproximou-se dos dois homens sentados na entrada da banca de café.

- Bom dia senhores, Cassimiro conte-me uma coisa boa, homem de Deus. O homem ficou só escutando.

- Tenho nada de novidade não!

- É boa esta, é boa! Só desgraça acontecendo aqui nessa terra!

- Verdade! O finado Jerônimo e dona Sinhá partiram, hein!

- Sim, verdade.

- Então posso incomodar o vizinho?

- Diga Aristeu, o que quer?

- Está paquerando a Judite?

- Ora vá plantar batatas, Aristeu! Conversa essa homem.

- Tenho nada com isto não... É o que diz. Vá cuidar da sua vida, deixe-me no meu lugar. Eu aqui no meu canto abatido, ainda pela notícia da cruel morte de dona Sinhá que deixa quatros filhos órfão e tu me vem com estória, homem. Era só isto o que me faltava.

- Não posso mais nem perguntar, o que está acontecendo. Não está acontecendo é nada. Só na tua cabeça que uma menina nova daquela me quer. Prepare-se para segunda-feira, Aristeu. Quero ver a sua noite na novena.

- E a propósito não sei de que novena.

-Aqui agora temos um palhaço, um engraçado. Está bem. Pode ele ficar certo de que a novena dos vaqueiros é segunda-feira. E tem procissão viu?  É com o senhor mesmo. Amanhã vamos ver isto. Na segunda-feira vou fingir é uma dor nas costas. Cassimiro o olhou:

-Então não vá viu, olhe padre Gregório. Oh, vida cruel, vida cruel, é uma dor ali, outra acolá, doe as juntas e o bico de papagaio que anda me matando. Sabe, Cassimiro, você é muito forte. Você me faz lembrar, o finado Gaspar. Ah ah ah não me compara com o poeta louco.

O Gaspar foi o único da Epicuréia Barrense que tinha o desejo de entrar para a academia de Letras do Vale do Longá. Só que nunca o aceitaram. Não o aceitaram? Nada! Ele queria fazer parte do chá das cinco.

- Ah! Ah! Ah! Queria era também está envolvido na arte cultural dos homens de togas verdes! 

- Pede uma xícara de café meu amigo.

- Vou te contar essa. Senta aí!

O Gaspar era um homem que morreu abandonado e sozinho, mas porque resolveu afastar-se do nosso grupo, com a tal estória de entrar para a academia de Letras. Sabe a rua da tripa, é a rua David Caldas, ele morava numa casinha antiga de paredes emboloradas perto da caixa d’água.

O poeta louco nunca casou e fazia seus versos visionários, mas sempre com a decepção de não poder entrar para a Academia de Letras. O homem de certo tempo passou a dormir por cima das próprias fezes, tudo ali na casa fedia, pois o pobre poeta dos versos visionários transformara-se em um verdadeiro excremento humano. Ele foi o fundador da Epicuréia Barrense juntamente com o Rafael.

- Por que tanto desprezo com si próprio?

- Nada. Ficou decepcionado depois que o finado, o Tenente Jerônimo, sim aquele que mora no Matadouro disse que para entrar na academia de Letras, não bastaria produzir arte literária, mas era preciso ter influência e dinheiro, pois assim os amigos imortais votariam em você. Pobre poeta louco!

Gaspar passou a vida inteira esperando a oportunidade. Foi um dos mais brilhantes poetas da Epicuréia Barrense, mas morreu na merda literalmente! Morreu só. Abandonado por todos que apreciavam seus lindos versos. Sei! Lembro-me de que na Epicuréia Barrense era assim, cada homem tinha o livre arbítrio para decidir o seu rumo. Gaspar decidiu o dele. 

A Epicuréia Barrense, uma sociedade da qual se podia dizer que democrática. Quem detinha o poder de escrever algo poderia fazer parte, bastava produzir alguma coisa para a literatura barrense. Do pior escritor para o melhor, não havia discriminação.

- Nenhuma discriminação?

- Nada, nada, tudo o que produziam, espalhavam pelo centro de Barras. Nos bares, mercado, praças e os grandes folhetos eram pregados também nas paredes e portes elétricos. O tablado do cine teatro na rua 10 de novembro, ali perto de hoje é a Academia de Letras, o espaços para os saraus literários e declamação de poesias ao ar livre. As damas da sociedade barrense do ano de 1980 divertiam-se com as novelas produzidas em folhetins pela Epicuréia Barrense.

- E onde se reuniam esses homens das letras barrenses para fazer suas produções?

- Ninguém nunca sabia o lugar, ás vezes de improviso qualquer lugar estava bom.

- Produziam literatura barrense em segredo?

- Nem sempre, mas ocultamente. Foi, o que eu disse. Escreviam e antes de publicar, os epicuristas barrenses tinham que contar a estória até o fim, uma espécie de revisão textual. Pois era assim, tão certo que era. E não paravam de produzir literatura.

Às vezes eles sumiam, quando criticavam o prefeito da época. Nós éramos temidos pelo poder ideológico que tínhamos. Gostávamos de orgias e bebedeiras pelos bordeis da rua do brega, da casa da Maria Joana, raramente alguma menina dessas da vida fácil, caboclinha nova do interior, perdida da família ou outras de passagem pelo cabaré, não se encantava com o poeta louco, o Gaspar.  

 - Ah ah ah ah... poeta louco.

A poesia de Gaspar era capaz de encantar e hipnotizar aquelas mulheres da rua do brega, principalmente as do lugar onde hoje é o bar do Zezinho. Todos ali, o amavam, o idolatravam. Agora ás vezes, Gaspar tornava-se um homem calado, introspectivo e mergulhava no silêncio, dizia que adorava viver na terra de marataoã, pois aqui tudo era tranqüilo, tudo inspiração poética.

O sol levantava-se pelo telhado de amianto do Centro Comercial. Os dois amigos terminavam a prosa. O barulho acalmava-se mais. Uns vendiam rapadura dos engenhos da Boa Hora, outros cortavam os ossos das carnes e fazia um barulho infernal. E eram um entra e sai de gente que nem formiga no formigueiro pelas portas do mercado.

- Oh te levanta boi de pano que já vou me retirando. Tu lembra Honório dessa música do boi do Dodó?

- Sim, eita tempo bom aquele, quando era mês de junho na praça do cemitério, com a morte do boi de pano. É acabou-se aquela tradição barrense. Pois é, tudo aqui em Barras se acaba. O festival de quadrilhas da prefeitura parece mais coreografias de dançarinas de banda de forró do que realmente passes de quadrilha junina.

Tchau compadre! Tchau compadre. Mundoca está aguardando-me para levar o quilo de carne.

AGUARDE CAPÍTULO 27

terça-feira, 26 de junho de 2012


CHÃO DE FOGO, CAPÍTULO 25


- Bom dia compadre Cassimiro! Bom dia compadre Honório.

- Eita, dia bonito não é? Sim, é. Eita que a educação das Barras ainda nem recebeu o salário. Dizia Honório para Cassimiro.

- É desse jeito sem o prefeito pagar, os festejos vão ser fraco! Outra vez, o sindicato dos professores queixa-se da remuneração.

- Tem mais é que cruzar os braços mesmo no próximo ano.

- Adeus! Sossego do Romeu da Bodega! Sim, sim, mal assumi a prefeitura, já tem esse abacaxi para descascar. Já era, já era. O prefeito que sai, não está nem aí.

- Compadre Cassimiro, sabia que o nosso companheiro de guerra, o tenente Jerônimo da Do Amparo faleceu. Conversa essa, Honório. Ele não tinha voltado a pouco tempo de Teresina, do hospital São Marcos?! Pois é, de novo a próstata do homem arruinou, já estava estourada, nem em Teresina deram mais jeito.

- Ele coitado! Voltou só para morrer em casa. Quem não era o tenente Jerônimo, enfrentou até os ciganos de Zé de Lauro e morrer assim. E por falar nisso, o exame do toque, o senhor já fez? Rum, tu me acha com cara de quem, Honório.

- Ora, ora Cassimiro, com doença não se brinca, homem. Mas, sim há quem diga que tem homem que gosta do exame, diz aí, diz aí. É preconceito, é preconceito, Cassimiro. É mentira, é mentira o que contam por aí.  Uma coisa é certa ou faz o exame, ou não tem mais jeito, quando a doença tomar conta.

- Terá sido o que aconteceu com o tenente Jerônimo da Do Amparo. Foi homem! O homem andava era puto, tinha dia que andava dentro de casa inteiramente nu, só urinando a prestação pelos pés da parede. Eita, que agora tu me deixou com medo, Honório! Me dá um pouco de café dona Teresa.

- Na velhice isso é humilhante! Estamos ficando velho, mas tenho medo de fazer o tal do exame. Medo! O exame é simples, moço! Medo eu tenho é de morrer e não ver o Pequizeiro no outro ano ser bicampeão em cima do Clube Atlético Barrense.

-E vai ver! Por quê? Com esta estória do Atlético Barrense não trazer jogadores de Teresina! Sei não. O prefeito que ganhou, o Romeu da bodega vai apoiar o Pequizeiro no campeonato, disse que tem dinheiro para o time e muito. É e eu boto fé que agora vai.

- Como é mesmo, o nome da tal doença que matou o tenente Jerônimo da Do amparo? Tal de câncer na próstata! Doença feia, não é? Vixe, nossa senhora da Conceição, olha quem vem ali da rua são José caminhando pelo balão da Zuleide. O que foi homem de Deus, até parece que ver um fantasma!

- Está vendo quem vem chegando ali. O Aristeu, esse aí inventa doença e é porque eu sou mais velho do que o desgraçado. Só que sou mais bonito. Ah ah ah. Você não vai me achar bonito, não é Honório? Todo velho é saliente. Aristeu já vive aqui nas Barras há muitos anos, é figura conhecida mais que o Ferrolho.

- Que nada! Até mais que o Zé doido e o Ferrolho. Eu também já vivo aqui nas Barras há muitos anos. Mudando de pau para cassete. Doença feia da dona Sinhá! Tu estás dizendo, nunca vamos saber o que foi direito, com esse povo aí inventado a cada dia uma estória, sem saber contar o que é, acho difícil sabermos. Meu Deus, seu Cassimiro, o povo conta que foi um mal no útero. Ah, este povo das Barras dizem cada coisa.

- O senhor é que é um cético, só acredita no que vê. Tu Honório acredita num, depois tu acredita noutro. Pois é e eu gosto é de ficar na minha. De gente assim fuxiqueira, quero é distância. 

AGUARDE O CAPÍTULO 26

segunda-feira, 25 de junho de 2012



CHÃO DE FOGO, CAPÍTULO 24


Debaixo do sol dourado de dezembro na terra de marataoã, as primeiras luzes do amanhecer do dia raiavam na bela terra barrense. O mercado público agitava-se com a multidão que chegava para as compras do sábado. O centro Comercial amanhecia sonolento, pessoas aperreadas e zanzando de um lado a outro. Na rua 10 de novembro respirava a liberdade vista nos rostos do povo barrense que ria.

Com as festas da padroeira no centro da cidade, os barrenses viam a cidade de Barras cheia de gente do interior na feira. As lojas de sapatos e roupas lotadas de tanta gente. Era uma coisa grandiosa o começo dos festejos de nossa senhora da Conceição. Nunca se via tanto povo junto, no rebuliço das festas religiosas, na confusão do bate-boca dos que vendem e trocam.

Na entrada do centro Comercial havia de tudo. Da rapadura dos engenhos da Boa Hora a carne-de-sol de Campo Maior. Os Box do lado direito do centro Comercial Aurélio Carvalho lotado de gêneros. Na fila da carne gente falando alto, cheiro de sangue podre dos peixes do João da tilápia na salmoura, lá do outro lado. Outros aperreados pelo olhar diabólico do chefe do centro Comercial que via o chão da entrada repleto de coisas e queria cobrar imposto.

- Aqui está tudo barato, senhora. Esse chefe aí é uma desgraça. Quer cobrar imposto até aqui fora, aqui na pedra.

O barulho infernal do Centro Comercial despertava depois da madrugada de silêncio. No meio do lugar, mulheres espalhavam os cheiros verdes nas bancas, outros milhos e feijão de corda pelo chão. Tomate para um lado, cebolas no outro. Acordado desde as quatro horas da manhã, João da tilápia depois de passar um tempão, imaginando, e cochilar outra vez, ele tratava de limpar os peixes dentro do isopor grande.

O isopor cheio de peixes misturados às escamas, vísceras e a saliva do homem pingando dentro, quando falava com os clientes.  Dos lábios trêmulos saia palavras de blasfêmias e nas mãos ágeis a retirar as guelras dos peixes, uma máquina. Dali saia palavras ingratas, como o sangue fétido nas mãos a segurar a faca para abrir os peixes.

Com palavras rápidas, inaudíveis, ele começou a relatar a triste vida que tinha no vício dos jogos no centro Comercial. João da tilápia de cócoras, depois de tomar o café com bolacha seca na banca da Teresa, acelerava o serviço e a prosa sempre cheia de ironias. Os cães espreitando alguma coisa espiavam o homem que de vez enquanto, atirava algo para os animais famintos.

Depois, com o avental branco todo ensangüentado, o homem de pé no balcão braços descruzado não assistia os clientes chegarem. Senhor Cassimiro levantou-se da banca da Teresa e caminhou até onde o homem estava. Ele ficou em pé diante dele. O homem saiu para um canto do Box, perto da balança e com os olhos nadando em lágrimas, lamentava-se.

- O que foi João? É essa vida desgraçada de jogo! Como assim? Tudo que ganho, perco na mesa do baralho.

- Tem que largar isso, homem. Deixa jogo de mão.

E as mesmas palavras, e as mesmas lágrimas derramadas. Levantou-se tremendo.

- Venha aqui, vamos conversar!

Uma impressão de terror oprimia-o todo. Senhor Cassimiro conversava com ele.

- Não fica assim.

O lamento do homem era de todos os dias, mas todos os dias, assim era demais. Ninguém dava uma palavra de conforto para o pobre homem. Ele até queria  mudar seu destino. Dizia uma hora que não gostava do genro, o Pedro Adão, noutra já dizia que ia entrar na crença. Quando acordava nas noites e saia para o centro Comercial às escuras, a angústia crescia.

O homem trabalhava muito e o dinheiro que ganhava ia tudo num instante, no jogo de baralho no final da tarde, ou mesmo no caipira. Quando senhor Cassimiro conversou com ele, os olhos dele se encheram de admiração. João parecia um novo homem.

Olhou para a parede do Box do mercado, por entre os peixes dependurado havia um quadro grande, representando a santíssima Trindade. Levantou a vista para olhar a imagem, João da tilápia disse que Deus iria livrar-lhe do vicio do jogo.

- Pede, sim, que Deus faz. E te digo mais, não precisa entrar na crença para se mudar, ser evangélico.

João da tilápia lá do Box oito apresentava-se para a clientela, como um novo homem. Cheio de disposição depois da conversa com Cassimiro. O homem com a enorme barba branca e a língua eriçada de palavras gritava o preço do peixe que a saliva saia pelos cantos da boca, se babando.  O pessoal aproximava-se da banca dos peixes.

- O peixe está fresquinho e é daqui, é do marataoã! Ah sim, um quilo para senhora, e o freguês o que manda! Pois bem, pois bem, pois sim, muito bem.  Um quilo para mim de piau, e surubim, dizia dona Santinha.

Cassimiro voltava para tomar café na banca da Teresa. Honório chegava do outro lado do centro Comercial. Que cheirinho de café saboroso que ganha os ares do mercado das Barras, eu gosto meio amargo dona Teresa, me coloca numa xícara das grandes.  

- Vixe! Esse aí só toma café fiado. Resmungava dona Teresa.


AGUARDE CAPÍTULO 25

domingo, 24 de junho de 2012

GENTE QUE FAZ LITERATURA




CELSO PINHEIRO


A POESIA DE CELSO PINHEIRO


            Diversos escritores piauienses estão a exigir estudo e divulgação, a fim de que se possa, de fato, rever conceitos e redimensionar a representatividade de suas obras na literatura piauiense. Entre esses escritores, o poeta Celso Pinheiro (1887-1950), cuja produção é quase que praticamente desconhecida dos piauienses. Um dos entusiasmados com a poesia dele é o poeta e crítico literário Hardi Filho, que quando do centenário do poeta, publicou o ensaio “Poesia e dor no simbolismo de Celso Pinheiro”. Com Hardi, conversamos sobre a poesia dessa grande expressão de nossa literatura. 
Dílson - Gostaria de iniciar nossa conversa, pedindo ao senhor que situasse Celso Pinheiro no contexto da Literatura Piauiense.
Hardi - Na minha opinião, o que situa Celso Pinheiro no contexto da Literatura Piauiense é o mesmo que o situa nacionalmente: sua caracterização. Diz-se, por exemplo, que Castro Alves foi o Poeta dos Escravos; Augusto dos Anjos, a quem rendemos preito especial de admiração, é, com muita justeza, cognominado o Poeta da Morte; o sensualismo lírico-épico do inigualável Bilac pode servir-lhe de caracterização; o meigo Casimiro de Abreu é por excelência o nosso Poeta da Saudade; Gonçalves Dias é nitidamente caracterizado pelo indianismo. E assim por diante.
O estado do Piauí, sempre carente de divulgação artística, teve a honra de ser o berço de um poeta perfeitamente caracterizado dentro da literatura nacional, pela preponderância conteudística e pelo tom melódico-dolorido de sua poesia.
Celso Pinheiro é o Poeta do Sofrimento.
Dílson - O senhor inicia o estudo Poesia e dor no simbolismo de Celso Pinheiro, afirmando que a poesia deste vate comove e convence. Que aspectos são responsáveis por isso?
Hardi – Ninguém melhor do que ele soube externar, poeticamente, a sensação dolorosa em todas as suas nuanças e expressões de vivência; ninguém como ele, no Brasil, fez o panegírico da dor, parecendo que tinha como companheira inseparável a estuar-lhe no sangue, na alma, no destino de sua própria vida. Lendo a obra de Celso Pinheiro, temos a feliz impressão de que o poeta não morreu, tal a força comunicativa de sua poesia. Ali está ele de coração aberto e não vazio. Ali está, de coração transbordante de amor, ansiedade, tristeza, mágoa, desencanto, tudo que representa a ess~encia da própria vida, o sofrimento do Ser que vive e raciocina, que se preocupa, que se tornou, por assim dizer, o receptáculo da dor universal. 
Dilson - Qual a origem da dor na poesia de Celso Pinheiro?
Hardi – O pensamento, a perquirição em todos os graus da angústia que a vida e a morte nos impõem. Dor resultante do conflito congênito entre as limitações materiais do Homem e sua inteligência e amplitude espiritual. Em outras palavras: dor nascida da percepção profunda do transitório da vida em confronto com o eterno, com o transcendental adivinhado e sentido...
Dílson - Lendo Poesia e dor no simbolismo de Celso Pinheiro, observa-se que o senhor aproxima Celso Pinheiro e o pré-modernista Augusto dos Anjos. O que exatamente aproxima os dois poetas?
Hardi – Insistimos em compara-lo com Augusto dos Anjos, porque notamos suas afinidades. Augusto: o Revoltado – linha retas e negras embora a resultante seja a resplandência! Celso: o Deserdado – linhas ondeantes de sombra e caridade, onde o otimismo às vezes pontifica. Entretanto, nos pontos sombrios a afinidade é notória. Poder-se-ia afirmar que foi também, como Augusto, um filósofo do verso. A dor, da qual se tornou o porta-voz por excelência, não é corpórea, a fisiológica, como a primeira vista deixa transparecer; é sim, a dor do ser racional, equivalente a dos “Eu” tão bem definido e cantado por Augusto. Vejamos a semelhança, por exemplo, nesta amostragem do longo poema Spleen:
Dílson - Sabemos que o bom escritor é um obcecado pela linguagem. Qual o comportamento de Celso Pinheiro em relação à linguagem?
Hardi – Exímio sonetista, Celso Pinheiro nos encanta com o seu poder comunicante e profundeza imaginativa. Lendo-o, sente-se a facilidade com que ele transpunha para o verso as idéias e imagens que lhe passavam pelo pensamento. Sempre numa linguagem simples e correta.
Dílson - Com tantas qualidades, como o senhor está deixando claro ao longo de sua fala, porque a poesia de Celso Pinheiro é ainda hoje tão pouco conhecida?
Hardi- A poesia de Celso Pinheiro faltaram as oportunidades de divulgação que teve a de Da Costa e Silva. Deste, o primeiro livro, Sangue, foi lançado no Recife, em 1908, onde o poeta viveu vários anos ainda como estudante; Zodíaco (1917), Verhaeren (1917), Pandora (1919) e Verônica (1927), acreditamos tenham sido editados no rio de janeiro, para onde se transferiu. Ainda assim, quando do lançamento das Poesias Completas de Da Costa e Silva, Edições O Cruzeiro, em 1948, dizia-se (na orelha do livro) que “há muito tempo as edições originais de seus livros estão esgotadas, sendo o poeta pouco conhecido das gerações que surgem”. Que se dizer de Celso pinheiro, que nunca se ausentou do Piauí e cujas produções, não enfeixadas em livros no tempo oportuno, permaneceram circunscritas aos limites do estado, quiçá de Teresina?! O fato comprova a assertiva, ainda hoje válida, de que o escritor piauiense, para ser conhecido e apreciado, tem mais chances em outras plagas onde encontre meios de exercitar seu talento e expandir seu idealismo.
Dílson- Na súmula das obras, publicada em "Poesia e dor no simbolismo de Celso Pinheiro". observa-se que o poeta escreveu poemas com conotações políticas. Nessas obras, Celso Pinheiro mantém a mesma qualidade das demais?
Hardi- A qualidade da linguagem é a mesma. Diferentes e variados são os conteúdos dessas produções e também de sua prosa, mas sempre obedecendo os ditames de um pensamento lógico diante de figuras, situações e fatos políticos de sua época. 
Dílson- Com tantas qualidades, como o senhor está deixando claro ao longo de sua fala, proque a poesia de Celso Pinheiro é ainda hoje tão pouco conhecida? 
Hardi- À poesia de Celso Pinheiro faltaram as oportunidades de divulgação que teve a de Da Costa e Silva. Deste, o primeiro livro, Sangue, foi lançado no Recife, em 1908, conde o poeta viveu vários anos ainda como estudante; Zodiaco (1917), Verhaeren (1917) e Verônica (1927), acreditamos tenham sido editados já no Rio de Janeiro, para onde se transferiu. Ainda assim, quando do lançamento das "Poesias Completas" de Da Costa e Silva, Edições O Cruzeiro, em 1948, dizia-se (na orelha do livro) que "há muito tempo as edições originais de seus livros estão esgotadas, sendo o poeta pouco conhecido das gerações que surgem". 
Que dizer de Celso Pinheiro, que nunca se ausentou do Piauí e cujas produções, não enfeixadas em livros no tempo oportuno, permaneceram circunscritas aos limites do Estado, quiçá de Teresina?! 
O fato comprova a assertiva, ainda hoje válida, de que o escritor piaiuiense, para ser conhecido e apreciado, tem mais chances em outras plagas onde encontre meios de exercitar seu talento e expandir seu idealismo. 
Em 1939,  a Academia Piauiense de Letras, num esforço de divulgação da cultura do Estado e demonstrando o grande apreço que tem pelo poeta, fez editar uma coletânea volumosa (537 páginas) sob o título "Poesias", da qual foram confeccionados quinhentos exemplares. é o que se conhece de Celso Pinheiro. E é muito. 
Celso Pinheiro, real expressão do simbolismo brasileiro, ao lado dos maiores poetas da escola do mestre Cruz e Sousa, merecendo por conseguinte, não somente ser mais conhecido e divulgado, mas, também, constituir-se objeto de estudo e permanente reverência. 
Dílson- Ao finalizar o estudo sobre a obra de Celso Pinheiro, escritor, o senhor diz que Celso Pinheiro legou-nos "os sonos e as esperanças de um canto predominantemente amargurado na busca da verdade". Que verdade buscou o poeta Celso Pinheiro? 
Hardi- Creio que ele buscou o que todos os homens de pensamento buscam: viver uma vida de verdade humana, através do sentimento, das idéias e dos sonhos. 
Dílson- Se o senhor tivesse que escolher um poema para representar Celso Pinheiro em uma antologia, que poema o senhor escolheria? 
Hardi- Difícil em Celso Pinheiro fazer-se uma seleção de poesias. Toda a multidão (se assim podemos dizer) de sonetos e poemas de sua lavra possui aquela exuberância artística, aquela preciosa essência que identifica um gênio criador. Não será exagero se dissermos que qualquer uma de sua produções lhe daria a imortalidade literária. 
Para esta afirmação, eu fiz um teste: abri seu livro Poesias num página qualquer. Lá, estava o soneto Barreiras: 
Barreiras de impossíveis, ai, barreiras 
sem a brecha falaz de uma janela, 
por onde eu possa ver a Imagem dela 
na moldura das tardes brasileiras. 
  
Nem meus gemidos monstros de cachoeiras 
nem meus soluços roucos de procela 
vos moverão dessa mudez de cela, 
torvas, fatais, sinistras, agoireiras!... 
  
Embalde, para a ver, alongo os olhos, 
fico em bico de pés, e, alucinado, 
piso os cardos, as urzes, os abrolhos... 
  
Ai de quem, entre lágrimas e poeiras 
só distingue entre si e o bem-amado 
barreiras e barreiras e barreiras! 
  
Atentai, para a agudeza filosófica do conceito, para a transmutação de um simples fato amoroso em teoria humanística, essencialmente verdadeira e universal: 
Depois de ter amado a todas elas 
e o coração por elas perdido, 
fechei agora as portas e janelas 
do templo de minhalma, entristecido... 
  
Que nunca mais traspasse o meu ouvido 
a seta de uma voz... Lindas donzelas! 
O coração que muito tem sofrido, 
deixai-o só pelas sombrias celas... 
  
"não procureis abri-lo para exames!" 
O fantasma da dor extremunhado 
vos causaria sustos e vexames!!... 
A um sonho bom sucede o pesadelo! 
E eu prefiro ser sempre desgraçado 
a ser feliz para deixar de sê-lo... 
  
Outro soneto dentro da sua principal característica: 
Mãos abanando, o coração vazio! 
Até parece o pródigo da lenda, 
eu queperdi a derradeira prenda, 
meu trigal de esperanças pelo estio... 
  
sou mais rude, mais triste, mais sombrio, 
desde que vi, em áspera contenda, 
invadindo-me as terras e a fazenda, 
os selvagens da dor e do desvario... 
  
Foram raptos febris de primaveras, 
chacinas de Ilusões e de quimeras, 
saques de sonho, frêmito, arrepio... 
  
Ai de quem volve pela mesma estrada, 
de alma abatida, lânguida, cansada, 
mãos abanando, o coração vazio!... 
  
E finalmente, o lírico admirável que é também Celso Pinheiro: 
Minha, só minha, só, unicamente minha!... 
As tuas mãos de luar, macias e cheirosas, 
os teus seios ardendo em músicas de rosas, 
a tua boca ideal, ó pérola marinha! 
É minha a tua carne, a fulgurante vinha 
que tem uvas de sangue, etéreas, luminosas, 
e resplende na luz em ânsias ondulosas, 
minha, só minha, só unicamente minha! 
  
Minha toda tu és! A graça, o enlevo, o encanto, 
a blandícia do olhar, a alva melancolia, 
o dealbar do sorriso e o estelário do pranto! 
  
É minha a exaltação, minha a esperança, minha 
a glória de te ter nos meus braços um dia, 
minha, só minha, só, unicamente minha!


FONTE: http://www.portalentretextos.com.br

Crônica: Barras, uma noite poética…

















Vamos barrenses abramos a janela… Deixamos a noite entrar, entra noite… É noite na terra de marataoan… E outrora eu poeta amo a noite barrense com se o silêncio suave e incompleto da rima na perfeita poesia fosse flores aos amantes.

O sentido literário da noite barrense é além da base consciente do nosso ser… Hoje à noite… Não quero mais, não quero mais, não quero que passe e nem volte à saudade das inocências e nem as ignorâncias dos que dormem sem a noite poética.

Barras uma noite poética que nos torna almas transparentes no trovar do poeta. Eu poeta, tu poeta, ele poeta nunca mais, nunca mais verá noite igual com uma lua romanesca, estrelas versadas de brilho, nunca mais e a solene cena marataoan refletir seus raios prateados.

As cores da nossa noite poética desmaiam sobre o respirar dos paralelepípedos do centro da cidade e é um respirar silente… E eu podendo chorar a distância (choro a saudade) [Nem mesmo] as lágrimas do eu poeta poderia ser achadas. São lágrimas amargas, lágrimas de outrora, lágrimas que lembram o orvalho da noite.

Oh, a noite poética barrense é cheia de alegrias, e eu não posso chorar!Hoje eu sinto as alegrias dessa noite, mas há quem pensa que não. O eu poeta é eu lírico, cujo amargo e desventura vem do pensar a crônica. A noite poética barrense busca um clássico do leão do marataoan no campestre Juca Fortes.

A noite poética barrense já nem sequer pode dizer-vos: Venha noite, venha noite! Nem sequer o pensamento do cronista a viu passar. Já ouço o impetuoso vento da brisa marataoan circular ruído da noite a arrastar folhas secas, e , num vago abrir de olhos na noite, a luz da lua sinto a palidez do dia.

O vento sopra levando a noite barrense e deixa assim que seja como um fresco lençol puxado pela sombra e o silêncio de mim adormecido.

A noite barrense não dormi— ah, dormir!

Dormir é deslizar suave e brando para a inconsciência. É sonho artificial do apagar dos sentidos docemente. As noites barrenses não sabem de que maneira é carpie diem. Noites alegres do ser desconhecido que habita o mistério. Não sei que tempo a noite é vaga, mas sei que atravessei febril e sem a ausência do ser poético.

Agora não sei o que há na noite barrense, que sobrenada é escrita nos papeis que queimei, na crônica que destruí, só sei que a noite poética barrense é tudo por ficar bem assim na escrita, resta-me apenas um desejo ermo de amar e de sentir as noites poéticas barrenses.

[...] Uma noite poética barrense aos poetas é pesada e um fardo da grandeza alegre de amor!

(*) Joaquim Neto Ferreira

(*) Leia as obras do autor via SCRIBD  e faça download dos livros “Na Essência da Alma Poética” ( 2009) – O polêmico romance “Terra de Marataoan” ( 2011) – “Galápagos- poesias do degredo” (2011).