segunda-feira, 4 de junho de 2012


CHÃO DE FOGO, CAPÍTULO 03


O povo da periferia de Barras vivia diferente da maior parte. O povo do interior, uma vida sem fartura, alguns com muita dificuldade e precisão do que comer. No Coito de Porco nunca botara um escola que preste. O pessoal de lá até levavam muito em conta a história de mandar os filhos para a escola, mas com o colégio quase caindo em cima dos meninos era melhor deixá-los para ajudar na roça. Afinal, o prefeito Firmino Carneiro ao pensar que uma escola fechada ou não, também não iria fazer dos homens mais alguma coisa do que já eram.

Enquanto isso, Firmino Carneiro gastava fortuna com os filhos em colégios e em faculdades particulares na capital. O homem quando entrava no Centro Comercial enchiam-se de orgulho de fazer os filhos, doutores, bacharéis. Seu Cassimiro, um bom velho, humilde, até falava com tanto respeito para com o homem que naquele ano de 1995 ia segurando nas mãos de cada trabalhador no mercado. Com os dentes amarelados, ele botava pedaços de carne na boca só para parecer uma figura popular. Cassimiro sentado na banca da Teresa falava com ironia:

- E a oposição do Romeu da Bodega?

- Estão fraquinhos! Fraquinhos.

E inventava:

— Vão pegar é peia esse ano. Vai todo mundo é na Rural.

Mas no íntimo, Firmino Carneiro julgava-se um político de nome e renome, só que incapaz de submissão, de satisfazer-se nos limites marcados pela autoridade. Não justificava a repulsa assim dele pelo povo. Apenas se sentia grande na prefeitura, com o poder nas mãos. Podia até ser que o povo julgasse mal, mas a verdade é que ele não merecia ser reeleito.

Quando se passou as eleições de primeiro de outubro, já no levante do mastro finalzinho de novembro, o prefeito jogou Pedro Adão para fora da prefeitura, depois de um fuxico. Diziam que o vigia tinha votado no Romeu da Bodega.  O homem reclamava-se no bar do Zezinho na rua do Brega que trabalhara há dez anos sendo vigia de colégio, e o prefeito não corresponder à confiança que ele depositou nele. Por aí afora existiam eleitores que não respeitavam mesmo e  que até recebiam dinheiro dos políticos, mas não votava. 

Naquele instante desciam lágrimas dos olhos do homem que perdia o pão de cada dia por causa da política. Minutos depois explodiu uma confusão no bar do Zezinho. Uma multidão se aglutinava na entrada. Alcides passava por perto vindo do Matadouro e parou para ver o que era. Ele só saiu quando a polícia levou os baderneiros.

Alcides acelerava os passos pelos paralelepípedos vinda para a rua 10 de novembro. Saltava rapidamente o balão do Centro Comercial. Cerca de cem metros avistou seu Cassimiro que se balançava na porta de casa. A caixa de foguete de lado após soltá-los em comemoração a vitória do time no campeonato.

Da porta da casa do homem, quem olhasse para o centro da cidade, podia ver perfeitamente, o lindo letreiro luminoso no alto da caixa d’água. O letreiro no alto tinha letras de neon, com os seguintes dizeres: “Barras, encontro de amores, seja bem vindo”. Assim que a fumaça dos fogos dissipavam-se, dava-se para ler de qualquer canto de Barras. Aproximando-se do batente da casa, Alcides já emendava uma prosa rápida, com o velho amigo. Olhou para o centro da cidade e disse:

- Barras, encontro de amores!

- Deviam era colocar: Pequizeiro Campeão Barrense de 95, rapaz! Respondia Cassimiro para o homem que chegava.

- Aqui é muito é terra de dores, isso sim. Por que diz isso, homem?

- Esta terra está é contaminada de político ruim. O quê? Essa raça ruim, não ajuda o povo não, só mesmo a família deles! Olha Futebol, Religião e Política são coisas que não se discute, Alcides.

- Sim, sim, só que este ano passaram por aqui na rua 10 de novembro, com aquelas palavras bonitas, um papo enfeitado, querendo engabelar o povo das Barras de marataoã. É bem feito Cassimiro, o povo não ter elegido, o Firmino Carneiro, pois o prefeito que está aí, é um homem que diz que só fala a verdade, acredita quem quiser.

- E ainda tem quem escute ele dia de domingo na rádio? Ora, se tem. Tem e é muitos e com direito a hino de são Francisco! Eu só sei foi que o Firmino Carneiro se decepcionou depois da derrota nas eleições. O sonho da reeleição virou lama.

- Diz por aí que o povo das Barras lhe traiu. Era o que dizia o secretário de administração, um sujeito de bigode caído e fala arrastada. Com o eleitor mais crítico, nem que se dê dinheiro, eles não votam mais.

- O povo das Barras comenta nas esquinas e até mesmo pelo centro Comercial que depois da derrota na política, o prefeito corria de rabo entre as pernas para casa. Da janela da D20, cabeça baixa, calado, ia com medo e o ar de sempre, arrogante. O que importava a derrota na política? Ele já era rico e a família também.

O que mais o interessava eram as contas serem aprovadas. No interior o gado sem os partos verdes, estado de calamidade pública e ele nem aí.  Quando o motorista veio perguntar sobre a vida na política, ele mudava de conversa. Dizia somente que no partido tinha cabras para proteger, nem medo de ficar por baixo.

O governo de Firmino Carneiro foi de terror em Barras, um demônio para tomar terra dos pequenos, aumentar impostos, poucos investimentos em infra-estrutura e calçamentos. Durante o governo andava só com guarda-costas pelas ruas. O povo quando acordou, quando teve consciência limpa tratou de eleger o comerciante Romeu da Bodega. 

O chefe político do partido de Firmino Carneiro chegou a andar com o piqueiro de notas nos bolsos, mas o povo barrense com orgulho queria saber era de educação, saúde, cultural e o social para a periferia e zona rural.

- Pode ficar tranqüilo, prefeito. Os vereadores aprovam suas contas. O certo é que depois que negro perde a política, tem muito traira, essa é a dura realidade.

O povo barrense estava cansado de ver as portas dos colégios fechadas. Pais no começo do ano em longas filas, a espera de poder matricular os filhos. Donas de casas sem receber o bolsa escola do governo federal, a bolsa do FHC.

- Eita que a coisa vai engrossar. Dizia o velho Cassimiro. Firmino Carneiro vai ver o diabo agora sem o poder nas mãos. Já comentam pelas esquinas que o TCE vai instaurar um inquérito para apurar irregularidades na prestação de contas. A vitória do Romeu da Bodega deu sangue novo a essa gente.

- Não sei, mas o prefeito vacilou demais. Dizia Alcides.

Demorava pouco, a conversa continuava a mesma, sempre sobre a política barrense. Há vários anos o pessoal daqui sofreu com os desmandos administrativos de prefeitos ruins.

- Parecia um conto sem fim, o governo Firmino Carneiro! Ouvia falar sempre que as mães, quando chegavam na prefeitura para pedir enxoval, elas sofriam demais. Mas era uma coisa natural, a política assistencialista do prefeito. O povo sofria a maior humilhação, e por todos os meios, o homem  evitava os pobres.

- Eu vejo a mentira nos lábios trêmulos dele, quando os olhos apontam para o alto, senhor Cassimiro. Mas sim, você soube da estória da confusão no bar do Zezinho, sabe mesmo o que aconteceu por lá. Você sabe dizer como foi à confusão? Eu só sei que esbofetearam o Pedro Adão. Bem feito! Aquele bicho velho não presta mesmo, um cu de cachaça arrumador de confusão. Diga-me como foi o acontecido?

- É, mas não justifica o prefeito jogar o pobre fora da prefeitura, depois de dez anos de serviço! Rum, ele já demitiu foi muitos. Coitado dos prestadores de serviço.

Era assim que falava Alcides, em pé na calçada para o velho Cassimiro, este sentado na cadeira de balanço na porta de casa, na rua dez de novembro. Dizem que Pedro Adão bebeu e não quis pagar o Zezinho, dono do bar. Ora, ora, logo o Zezinho que não leva desaforo de bêbado para casa. Já outros contam que foi por causa da Michele, a mulher que tem o negócio dela, a preço de ouro.

AGUARDE CAPÍTULO O4

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