domingo, 17 de junho de 2012


CHÃO DE FOGO, CAPÍTULO 16


A lua aparecia tímida entre nuvens para o lado do nascente. O relógio natural dos ciganos barrenses, o satélite natural da Terra marcava quatro e meia da madrugada. O cigano Boi na Brasa, na vigília do quarto de hora abria os olhos, depois de um barulho que despertou sua sonolência. Ele olhou ao redor da mata a procurar o que tinha ouvido.

Além da lua serena na perfeição do alto dos céus, também tinha poucas estrelas brilhando. Encostava perto dele o cigano Simon Bolívar que acabara de colocar a pistola parabellum presa no coldri da perna e que pela luta do amanhecer ser-lhe-ia muito útil. Zé de Lauro sentou-se um pouco e começou a pensar no passado.

Ele se lembrou de certa vez, quando ainda rezava pelos outros. Foi perto do curral da Fazenda que Garcia, o vaqueiro do coronel Hilário amarrando o boi no mourão da porteira de pau corridos pediu-lhe uma oração para arrumar mulher. O homem contava-lhe da paixão por Creusa do Chico Rosa. A mulher enviuvara duas vezes, uma linda mulher de trinta e seis anos, sem filhos. Uma oração de são Cipriano e Garcia teve o amor correspondido, já o dele com Rute foi exterminado pela ira implacável do coronel Hilário.

Dona Teodora, a mãe de criação que o adotara depois da morte de seus pais, quando ainda era um bebê interrompeu seus pensamentos. Ela segurava suas mãos e dava-lhe força e coragem para a missão. A mulher sempre contou para ele que num confronto parecido com aquele, foi que originou a morte dos pais. Acontecera na década de 60, quando os homens do senhor coronel de terra Hilário expulsou os moradores e promoveu uma verdadeira matança no Mocambo.

O líder dos ciganos, Zé de Lauro era um homem alto de vinte e nove anos, cabelos negros e músculos fortes, como os de um touro. Trabalhou no cuidado das rezas e adivinhações com a mãe adotiva perto da entrada do Barreiro do Otávio. Ele jurava um dia vingar-se do homem que lhe expulsou daquelas terras e renegou o seu amor por Rute. Foi criado juntamente, com os amigos de infância, os gêmeos ciganos Cosme e Damião, filhos da cigana velha Teodora.

Ele sempre ouvia o amigo de infância, Damião que mais tarde passaria a chamarem-se pela alcunha de Volta Seca, as estórias dos romances de cordéis debaixo da latada da casa de palha.  Zé de Lauro imaginava que a prosa de ficção contada pelo fiel amigo parecia muito, com a sina que trouxera na vida. Damião sabia que Zé de Lauro era um sujeito arrumado nas vestimentas, amável com os animais, mas noutras horas um homem calado, muito forte e dentro do coração, o desejo de vingança contra o todo poderoso coronel Hilário.

O coronel de terra Hilário humilhava os interioranos e de vez enquanto, ordenava para queimar as casas de palhas dos que não pagavam a renda dos cocais e das roças. Quando coronel Hilário mandava incendiá-las, ele queria ver queimar com tudo dentro e sentia prazer ao ver descer as lágrimas do morador vendo as chamas devorar o suor do trabalho de anos de serviços.

Naquele tempo Barras foi um chão de fogo nas mãos dos terríveis coronéis. Principalmente, o coronel Hilário que depois de terem mexido com a única filha, ele na altura dos seus cinqüenta e seis anos bem vividos que nos olhos azuis, traduzia à ira perversa dos maus. Dono da Fazenda Córrego D’água, uma das maiores fazendas da região da mata. 

AGUARDE CAPÍTULO 17

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