CHÃO
DE FOGO, CAPÍTULO 16
A lua aparecia tímida entre nuvens
para o lado do nascente. O relógio natural dos ciganos barrenses, o satélite natural
da Terra marcava quatro e meia da madrugada. O cigano Boi na Brasa, na vigília
do quarto de hora abria os olhos, depois de um barulho que despertou sua
sonolência. Ele olhou ao redor da mata a procurar o que tinha ouvido.
Além da lua serena na perfeição do
alto dos céus, também tinha poucas estrelas brilhando. Encostava perto dele o
cigano Simon Bolívar que acabara de colocar a pistola parabellum presa no
coldri da perna e que pela luta do amanhecer ser-lhe-ia muito útil. Zé de Lauro
sentou-se um pouco e começou a pensar no passado.
Ele se lembrou de certa vez, quando
ainda rezava pelos outros. Foi perto do curral da Fazenda que Garcia, o
vaqueiro do coronel Hilário amarrando o boi no mourão da porteira de pau
corridos pediu-lhe uma oração para arrumar mulher. O homem contava-lhe da
paixão por Creusa do Chico Rosa. A mulher enviuvara duas vezes, uma linda
mulher de trinta e seis anos, sem filhos. Uma oração de são Cipriano e Garcia
teve o amor correspondido, já o dele com Rute foi exterminado pela ira
implacável do coronel Hilário.
Dona Teodora, a mãe de criação que o
adotara depois da morte de seus pais, quando ainda era um bebê interrompeu seus
pensamentos. Ela segurava suas mãos e dava-lhe força e coragem para a missão. A
mulher sempre contou para ele que num confronto parecido com aquele, foi que
originou a morte dos pais. Acontecera na década de 60, quando os homens do
senhor coronel de terra Hilário expulsou os moradores e promoveu uma verdadeira
matança no Mocambo.
O líder dos ciganos, Zé de Lauro era
um homem alto de vinte e nove anos, cabelos negros e músculos fortes, como os
de um touro. Trabalhou no cuidado das rezas e adivinhações com a mãe adotiva
perto da entrada do Barreiro do Otávio. Ele jurava um dia vingar-se do homem
que lhe expulsou daquelas terras e renegou o seu amor por Rute. Foi criado
juntamente, com os amigos de infância, os gêmeos ciganos Cosme e Damião, filhos
da cigana velha Teodora.
Ele sempre ouvia o amigo de infância,
Damião que mais tarde passaria a chamarem-se pela alcunha de Volta Seca, as
estórias dos romances de cordéis debaixo da latada da casa de palha. Zé de Lauro imaginava que a prosa de ficção
contada pelo fiel amigo parecia muito, com a sina que trouxera na vida. Damião
sabia que Zé de Lauro era um sujeito arrumado nas vestimentas, amável com os
animais, mas noutras horas um homem calado, muito forte e dentro do coração, o
desejo de vingança contra o todo poderoso coronel Hilário.
O coronel de terra Hilário humilhava
os interioranos e de vez enquanto, ordenava para queimar as casas de palhas dos
que não pagavam a renda dos cocais e das roças. Quando coronel Hilário mandava
incendiá-las, ele queria ver queimar com tudo dentro e sentia prazer ao ver
descer as lágrimas do morador vendo as chamas devorar o suor do trabalho de
anos de serviços.
Naquele tempo Barras foi um chão de
fogo nas mãos dos terríveis coronéis. Principalmente, o coronel Hilário que
depois de terem mexido com a única filha, ele na altura dos seus cinqüenta e
seis anos bem vividos que nos olhos azuis, traduzia à ira perversa dos maus.
Dono da Fazenda Córrego D’água, uma das maiores fazendas da região da mata.
AGUARDE CAPÍTULO 17
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