CHÃO
DE FOGO, CAPÍTULO 18
O homem acordou do sono rápido.
Lembrou que Rute depois de anos atrás ainda o despertava muito no amor. Mas não
pôde acreditar que uma criatura tão bela e adorável pudesse ser a filha do
malvado coronel Hilário. Além disso, todos sabiam no Mocambo que ela iria
entregar o seu coração ao ambicioso tenente Jerônimo, homem muito temido na
cidade de Barras.
- Está na hora Volta Seca. Disse ele olhando para o relógio luar.
Os ciganos olharam-se, com receio do
que iriam fazer. Eles tinham acabado de entrar pela cerca do lado da casa de
forno. Um dava o toque para o outro avançar no ponta a ponta. De longe, os
homens armados viam os jagunços conversando e fumando cigarro, sob a claridade
dos lampiões acesos. Outro no canto da varanda da casa grande deitado numa rede
balançava-se, com a espingarda nas mãos.
Para Zé de Lauro, aquela ação deveria
sair sem disparar um único tiro. O recado para a hora da invasão tinha foi dado
por Zeca Piedade, um afeminado que morava na Fazenda e trabalhava na cozinha. Ele
era o afilhado de dona Teodora. Zé de
Lauro olhou o rosto adormecido de uns dos jagunços que cochilava na rede de
tucum, com um rifle nas mãos. Dominou-o.
Naquela altura o coração do cigano
tinha o estado de feitiço. Na mente, um tanto cheia de pensamentos desconexos. O
cigano Boca Negra desceu a calçada de degraus e agarrou mais outro jagunço, a
contragosto. Levou-os para a casa do forno e os prenderam lá. Os outros ciganos, já sabiam o que deviam
fazer. Um dos jagunços que ficava pelos lados dos fundos aproximou-se, ele
ouviu um barulho estranho. O homem resolveu verificar o que era. Zé de Lauro do
meio das trevas agarrou-lhe pelos punhos, e em seguida dominou o homem que
ficou desacordado.
De longe ele fez sinal para Volta Seca
aproximar-se da casa grande da Fazenda. E assim se olharam. A lua mal
iluminava. Os dois sabiam que o quarto do coronel Hilário estava perto. Volta
Seca esticou a mão para abrir a fechadura. De repente, ouviu barulhos vindos pelo
corredor da casa. O coronel Hilário abriu a porta, após ouvir rumores. Eles
foram até os aposentos da filha do homem, Rute e despertaram-na do sono. Os ciganos esperaram o coronel Hilário abrir a porta do
quarto. Era preciso dominá-lo. A Fazenda estava vazia depois que os jagunços
foram dominados.
A
casa grande, com um salão cheio de tamboretes, e uma cadeira de braços em
frente de uma mesa, em cima de um estrado. Zé de Lauro ficou por ali. Não tinha
como se aproximar sem antes fazer barulho na escada. Foi quando Zeca Piedade o
chamou:
- Zé de Lauro!
Ele calado no escuro. Depois começaram a chegar outros ciganos,
uns dez. O chefe Zé de Lauro com um chapéu preto grande na cabeça, a pala caída
sobre os olhos encarava o coronel Hilário já amarrado, sem mostrar o rosto. A
roupa dos ciganos parecia com a dos soldados da polícia naquela época, exceto
pelos chapéus marrons. Foram-se chegando outros ciganos:
- Onde está a chave do armazém? — perguntava o cigano Ventania.
Ele conhecia muito o coronel Hilário. Sabia que o velho
coronel era uma peste naquele pedaço de chão. Todos diziam que Barras vivia um
tempo de chão de fogo. Por qualquer coisa ele estava dando em gente, amarrando
caboclo, queimando casas e expulsando moradores. Os homens desceram a escada
rumo ao armazém. Uns ciganos colocavam os sacos de feijão na carroça do grupo.
Quando saíram da Fazenda, eles tocaram fogo na solta do capim seco.
- É Chão de fogo. Gritava o cigano Quirino leão.
AGUARDE CAPÍTULO 19
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