terça-feira, 19 de junho de 2012


CHÃO DE FOGO, CAPÍTULO 18



O homem acordou do sono rápido. Lembrou que Rute depois de anos atrás ainda o despertava muito no amor. Mas não pôde acreditar que uma criatura tão bela e adorável pudesse ser a filha do malvado coronel Hilário. Além disso, todos sabiam no Mocambo que ela iria entregar o seu coração ao ambicioso tenente Jerônimo, homem muito temido na cidade de Barras.

- Está na hora Volta Seca.  Disse ele olhando para o relógio luar.

Os ciganos olharam-se, com receio do que iriam fazer. Eles tinham acabado de entrar pela cerca do lado da casa de forno. Um dava o toque para o outro avançar no ponta a ponta. De longe, os homens armados viam os jagunços conversando e fumando cigarro, sob a claridade dos lampiões acesos. Outro no canto da varanda da casa grande deitado numa rede balançava-se, com a espingarda nas mãos.

Para Zé de Lauro, aquela ação deveria sair sem disparar um único tiro. O recado para a hora da invasão tinha foi dado por Zeca Piedade, um afeminado que morava na Fazenda e trabalhava na cozinha. Ele era o afilhado de dona Teodora.  Zé de Lauro olhou o rosto adormecido de uns dos jagunços que cochilava na rede de tucum, com um rifle nas mãos. Dominou-o.

Naquela altura o coração do cigano tinha o estado de feitiço. Na mente, um tanto cheia de pensamentos desconexos. O cigano Boca Negra desceu a calçada de degraus e agarrou mais outro jagunço, a contragosto. Levou-os para a casa do forno e os prenderam lá.  Os outros ciganos, já sabiam o que deviam fazer. Um dos jagunços que ficava pelos lados dos fundos aproximou-se, ele ouviu um barulho estranho. O homem resolveu verificar o que era. Zé de Lauro do meio das trevas agarrou-lhe pelos punhos, e em seguida dominou o homem que ficou desacordado.

De longe ele fez sinal para Volta Seca aproximar-se da casa grande da Fazenda. E assim se olharam. A lua mal iluminava. Os dois sabiam que o quarto do coronel Hilário estava perto. Volta Seca esticou a mão para abrir a fechadura.  De repente, ouviu barulhos vindos pelo corredor da casa. O coronel Hilário abriu a porta, após ouvir rumores. Eles foram até os aposentos da filha do homem, Rute e despertaram-na do sono. Os ciganos esperaram o coronel Hilário abrir a porta do quarto. Era preciso dominá-lo. A Fazenda estava vazia depois que os jagunços foram dominados.

A casa grande, com um salão cheio de tamboretes, e uma cadeira de braços em frente de uma mesa, em cima de um estrado. Zé de Lauro ficou por ali. Não tinha como se aproximar sem antes fazer barulho na escada. Foi quando Zeca Piedade o chamou:

- Zé de Lauro!

Ele calado no escuro. Depois começaram a chegar outros ciganos, uns dez. O chefe Zé de Lauro com um chapéu preto grande na cabeça, a pala caída sobre os olhos encarava o coronel Hilário já amarrado, sem mostrar o rosto. A roupa dos ciganos parecia com a dos soldados da polícia naquela época, exceto pelos chapéus marrons. Foram-se chegando outros ciganos:

- Onde está a chave do armazém? — perguntava o cigano Ventania.

Ele conhecia muito o coronel Hilário. Sabia que o velho coronel era uma peste naquele pedaço de chão. Todos diziam que Barras vivia um tempo de chão de fogo. Por qualquer coisa ele estava dando em gente, amarrando caboclo, queimando casas e expulsando moradores. Os homens desceram a escada rumo ao armazém. Uns ciganos colocavam os sacos de feijão na carroça do grupo. Quando saíram da Fazenda, eles tocaram fogo na solta do capim seco.

- É Chão de fogo. Gritava o cigano Quirino leão.

AGUARDE CAPÍTULO 19

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