sexta-feira, 15 de junho de 2012


CHÃO DE FOGO, CAPÍTULO 14


Na primeira noite da novena, o adro da igreja de nossa senhora da Conceição enxameada de cristãos. Todos ali presentes ouvia atentamente, a missa do padre Gregório. Dona Mundoca de joelhos fazia ali suas rezas para agradecer a Deus. Ela não gostava de ninguém falar mal dos padres. A neta Eunice não gostava de procurar a igreja.

Padre Gregório pedia a todos para levantar as mãos para os céus, a fim de agradecer a Deus. Pessoas caminhavam léguas para participar dos festejos de Barras. Os amancebados casavam na hora para poderem batizar os filhos. E naquela noite, Eunice sumiu dos olhos de dona Mundoca.

Pela primeira vez, a moça iria experimentar as drogas juntamente com outros colegas. Eusébio, um amigo da escola, um rapaz baixo, moreno, com um hábito de playboy, usava tênis de marca nos pés. Ele ajoelhava-se perto da moça, com a encomenda nas mãos. Fez o pelo sinal com os braços curtos e começou a falar manso, depois fez gestos.

Eles saiam para um local mais escuro da praça da matriz. Eunice na inocência usou o crack, a fim de sentir-se mais alegria, feliz. A moça não sentia na alma culpa e nem pecados. E todos do grupo sentiam-se assim. Uma gargalhada estourou, abafada pelo psiu! De Eusébio.

- Depois dos festejos para o carnaval é um pulo. Espero que esse ano não tenha roubo.

- Que roubo Eunice? Perguntou Eusébio.

- Tu sabes que nesse ano, os jurados roubaram para a Deixa Falar!

- Negativo! A Unidos do Matadouro é que estava feia.

- Só porque a Deixa Falar é da elite! Eunice, nada a ver!

E foi ver a primeira pedra de crack que iria usar naquela noite, rindo-se.

- Venha para cá, sua cínica!

Baixou a vista para ver Eusébio passar as pedrinhas na mão. Pela primeira vez usaria aquilo. Os amigos deram coragem para ela.

- Passa aí, uma para mim. Coragem mulher, tu vais sentir-se bem.

E ia mais longe naquela influência inesgotável para o uso do crack, os amigos caminhavam pela praça da matriz.

- Vamos sentar-se no banco. Eunice disse, eu sento no meio.

Havia uns lá do Matadouro de coração imundo, já crescido no vício e quando fumava a droga, o odor fedia de longe. Depois de usarem a droga, os rapazes e moças fediam e na roupa impregnava o odor imundo da droga. Eles vinham da rua David Caldas e subia a calçada da praça pela Coronel Correia, e ali iam de encontro a outro viciado, Paulinho do Alcebíades. Queriam falar com ele.

- A mãe de Aurélio morreu ontem, dizia Paulinho do Alcebíades. Teu avô Eunice que comprou o caixão. Se eu fosse vocês sai daqui, porque a polícia está dando baculejo em todo mundo na praça. Vou já para casa! Minha cabeça dói,dizia Eunice.

Quando soldado Sousa chegou perto do grupo, Eunice ficou toda sem jeito, desconfiada e com as mãos fechadas que as veias enchiam-se de sangue. O policial gritou de longe. Já com o braço levantado.

- Levanta todo mundo! Os homens mãos na parede. Abordagem de rotina da polícia.

Eusébio levou um chute do coturno nos calcanhares que estralou.

- Abre as pernas bebelô de macumba, não olha para mim, não. Dizia o soldado com Eusébio.

E Eunice cada vez mais ficando suada. O policial foi logo desconfiando. Outro policial pediu para ver o que tinha na mão da moça, ela mostrou umas pedras de crack enrolados em papel alumínio. Eunice ainda tentou esconder as pedras nas roupas, mas não deu. Fora flagrada.

- E a moça que está escondendo? Mostre-me o que tem nas mãos, moça. Dizia sargento Anselmo.

Eunice foi confirmando a suspeita. Era a primeira vez que comprava uma coisa daquela. Não entregou o nome da pessoa de quem comprou. Disse que foi de uns homens de Teresina que vieram para os festejos. O certo é que a estória convenceu os policiais. Foram todos em cana. Dona Mundoca teve que ir a delegacia.

Na delegacia Eunice não lembrava-se perfeitamente como foi. Na hora da novena, ela foi recebendo a encomenda de Eusébio. Depois que fumou a pedra, ela passou o resto da noite com a cabeça estourando, e no final das contas, ela não sabia de nada do traficante. Na praça da matriz era só no que se falava.

...A Polícia pegou Eunice do Cassimiro, com umas pedras de crack.

Naquela noite a avó da moça foi à delegacia. Uma coisa foi dona Mundoca não contar nada do episódio ao seu Cassimiro. Havia outros também detidos na delegacia que usavam aquilo. O delegado dizia que era o que estava contaminando os jovens barrenses.

Eunice sentado junto ao escrivão de cabeça baixa. Ela sofria as primeiras duras privação da liberdade. A moça ficou sentada no canto da sala ao lado da avó. Os colegas presos, só olhando pela janela. O escrivão verificando o depoimento dela e parecia que as horas não corriam.  

O delegado começou olhando-a as espreitas, mudava a vista quando Eunice o olhava. Depois foi demorando mais as miradas do delegado. Ela todo tempo séria. Dona Mundoca com vergonha. De vez enquanto, ela olhava de soslaio para a avó. De já viciada que ás vezes faltava à aula para usar a droga. Quando vinha a noite ficava pela praça da matriz.

Sargento Anselmo lavrou um termo circunstanciado de ocorrência e liberou a jovem que foi para casa. Quando chegou em casa Eunice correu para o quarto, cobriu a cabeça, tapava os ouvidos para não ouvir a briga da avó. As palavras do delegado não saiam da cabeça.

- Depois a enviaremos ao Ministério Público. Dizia o delegado.

Da porta do quarto, dona Mundoca dizia:

 - Se eu contar para o Cassimiro, ele te manda de volta para o interior. Deve ser as companhias ruins. Veio para estudar e anda se misturando com gente ruim.

Os olhos dela demonstravam a indiferença com a briga de dona Mundoca.

- Não quer prestar, vem para a cidade estudar e cai nas drogas. Daqui uns dias caem na prostituição.

Só que dona Mundoca sabia guardar segredo a sete chaves e escondeu tudo do seu Cassimiro. A moça chorando para um canto. Ela olhava para a avó como se não tivesse feito nenhum malfeito.

Eunice levantou da cama e foi tomar um banho. Nem esperou a avó, dona Mundoca terminar o racha e correu para o banheiro. A roupa fedia de longe. Quando ela saiu na porta de casa, avistou Aurélio e João Alberto conversando. Não dava para ela escutar direito, o que eles conversavam.

AGUARDE CAPÍTULO 15

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