CHÃO DE FOGO, CAPÍTULO 21
Perto do riacho pontião, os
militares se depararam com um quadro tenebroso. Com a cabeça esfacelada, ainda
segurando o parabelum na mão, jazia morto um cigano, era Volta Seca. O outro um sujeito alto, de largos ombros, com a cabeça inclinada e os
olhos aberto para o sol. Ele tinha recebido um tiro de fuzil na cabeça que
espalhou massa cefálica por todos os lados.
O som do tiro rasgando os matos pareciam
estrondos de trovões no nascente em período de inverno. De repente se ouviu
enorme, torpe e grosseiramente gemido por entre os matos. Soldado José caído de
joelhos, com um tiro no peito e os largos dedos sujos de sangue na tentativa de
estacar o sangue que jorrava do peito. Tinha sido um escudo humano para
proteger os outros da polícia. Em seguida o homem desfalecia.
O comandante Jerônimo recebeu um tiro de raspão
no ombro. Outro militar caído no chão ainda rastejava. Ferido, o tenente Jerônimo partiu em retirada com
os soldados. Os ciganos que ficaram vivos, mas muitos gravemente feridos, logo
partiram para o esconderijo secreto na mata.
-Lamento
muito, disse dona Teodora, chorando com tristeza de ter perdido o filho Damião,
o Volta Seca.
- Sentiremos falta desses heróis. Disse Zé de
Lauro.
Eram homens bons. Tão valiosos quanto os da
Batalha do Jenipapo. O sol do meio dia formava uma auréola ao redor de suas
cabeças. Fiquei sabendo que tenente
Jerônimo vai deixar a Fazenda. Os soldados que vieram com ele devem se unir a
polícia de nossa senhora dos Remédios. Dizia o afeminado Zeca Piedade com a voz
trêmula chegando lá da Fazenda por entre os matos espinhentos.
-Se
eles querem guerra, guerra terá.
É o preço que alguns têm que pagar para ganhar
privilégios de latifundiários. E eu que servi por três anos ao serviço militar,
agora vejo que a polícia só serve para os políticos. Disse em voz baixa Zé de
Lauro.
-
Deve deixá-la partir! Dizia a cigana Teodora. Vocês não tem escolha quanto à isso. Não é necessário que morra tanta
gente por um amor impossível.
- Quanto tempo até a polícia chegar aqui? Perguntou
Zé de Lauro.
- Quem sabe uma hora! Disse Sete Léguas,
encolhendo os ombros.
O líder dos ciganos retrocedeu um pouco.
-Não
podemos enfrentá-los. Disse com cautela Teodora.
Perto da gruta, Zé de Lauro despediu-se de seu
amor. Ficou a promessa de levá-la até a beira da estrada. Rute desapareceu por
entre a mata de cocal. Aproximando-se da Fazenda, Rute se deteve junto tenente
Jerônimo que a levou para dentro de casa.
A luz dourada do sol dançava sobre as frestas das
telhas por dentro do salão da casa grande. Os raios realçavam seus suaves
contornos de seu rosto, realçando o cremoso rubor de suas bochechas róseas, o
azul do brilho de seus olhos. Seu sorriso era encantador, sedutor. Coronel
Hilário observou em silêncio.
-
Aqueles marginais lhe fizeram algum mal? Perguntou ele. Ela assentiu que não.
- É certo que eles não são homens maus, meu pai.
Disse, tomando a benção e colocando as mãos lentamente.
- Agora temos trabalho a fazer. Disse tenente
Jerônimo.
Os soldados ficaram tratando dos ferimentos,
outros levandos para Barras os que morreram. Os que ficaram na Fazenda limpavam
as armas.
-Tropa, sentido,
descansar. Bradava tenente Jerônimo.
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