sexta-feira, 22 de junho de 2012


CHÃO DE FOGO, CAPÍTULO 21

Perto do riacho pontião, os militares se depararam com um quadro tenebroso. Com a cabeça esfacelada, ainda segurando o parabelum na mão, jazia morto um cigano, era Volta Seca. O outro um sujeito alto, de largos ombros, com a cabeça inclinada e os olhos aberto para o sol. Ele tinha recebido um tiro de fuzil na cabeça que espalhou massa cefálica por todos os lados.
O som do tiro rasgando os matos pareciam estrondos de trovões no nascente em período de inverno. De repente se ouviu enorme, torpe e grosseiramente gemido por entre os matos. Soldado José caído de joelhos, com um tiro no peito e os largos dedos sujos de sangue na tentativa de estacar o sangue que jorrava do peito. Tinha sido um escudo humano para proteger os outros da polícia. Em seguida o homem desfalecia.

O comandante Jerônimo recebeu um tiro de raspão no ombro. Outro militar caído no chão ainda rastejava. Ferido, o tenente Jerônimo partiu em retirada com os soldados. Os ciganos que ficaram vivos, mas muitos gravemente feridos, logo partiram para o esconderijo secreto na mata.
-Lamento muito, disse dona Teodora, chorando com tristeza de ter perdido o filho Damião, o Volta Seca.
- Sentiremos falta desses heróis. Disse Zé de Lauro.

Eram homens bons. Tão valiosos quanto os da Batalha do Jenipapo. O sol do meio dia formava uma auréola ao redor de suas cabeças.  Fiquei sabendo que tenente Jerônimo vai deixar a Fazenda. Os soldados que vieram com ele devem se unir a polícia de nossa senhora dos Remédios. Dizia o afeminado Zeca Piedade com a voz trêmula chegando lá da Fazenda por entre os matos espinhentos.
-Se eles querem guerra, guerra terá.
É o preço que alguns têm que pagar para ganhar privilégios de latifundiários. E eu que servi por três anos ao serviço militar, agora vejo que a polícia só serve para os políticos. Disse em voz baixa Zé de Lauro.
- Deve deixá-la partir! Dizia a cigana Teodora. Vocês não tem escolha quanto à isso. Não é necessário que morra tanta gente por um amor impossível.
- Quanto tempo até a polícia chegar aqui? Perguntou Zé de Lauro.
- Quem sabe uma hora! Disse Sete Léguas, encolhendo os ombros.
O líder dos ciganos retrocedeu um pouco.
-Não podemos enfrentá-los. Disse com cautela Teodora.
Perto da gruta, Zé de Lauro despediu-se de seu amor. Ficou a promessa de levá-la até a beira da estrada. Rute desapareceu por entre a mata de cocal. Aproximando-se da Fazenda, Rute se deteve junto tenente Jerônimo que a levou para dentro de casa.
A luz dourada do sol dançava sobre as frestas das telhas por dentro do salão da casa grande. Os raios realçavam seus suaves contornos de seu rosto, realçando o cremoso rubor de suas bochechas róseas, o azul do brilho de seus olhos. Seu sorriso era encantador, sedutor. Coronel Hilário observou em silêncio.
- Aqueles marginais lhe fizeram algum mal? Perguntou ele. Ela assentiu que não.

- É certo que eles não são homens maus, meu pai. Disse, tomando a benção e colocando as mãos lentamente.
- Agora temos trabalho a fazer. Disse tenente Jerônimo.
Os soldados ficaram tratando dos ferimentos, outros levandos para Barras os que morreram. Os que ficaram na Fazenda limpavam as armas.
-Tropa, sentido, descansar. Bradava tenente Jerônimo. 

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