CHÃO
DE FOGO, CAPÍTULO 02
A lei suprema dos céus apresentava a platéia
entediada, a linda lua prenhe de belezas. Obra que pragueja a misericórdia de
Deus na noite de prazer ardente em que se rasgava o ventre prenhe da luz, sob a
auréola prateada suspensa nos céus. No alto da terra de marataoã, o anjo
vigilante prateado, depois que se inebriou o sol deserdado pelo poente da
cidade.
Às nuvens sem fala, os ventos desafiando a via-sacra
das canções que percorriam em festa a bela terra de marataoã. O povo seguia em
sua romaria nos lentos passos. Lábios usurpando o riso nos cândidos louvores
a fatigar as ímpias fantasias. Seis horas da
tarde e a lua muito branca no nascente derramava-se pelas ruas do bairro
Curujal.
O povo de Barras preparava-se para a abertura dos festejos. Os
moradores de todos os bairros da cidade puxavam-se para a praça de santa Luzia
no bairro Boa Vista. Na praça da igreja de santa Luzia e são José operário, não
havia um lugar para ninguém; cheia, do altar às portas de entrada. A procissão
iria sair com o grande mastro. Os fiéis ouvindo o carro de som do Paraíba a gemer os seus cânticos sagrados. Mulheres a cantar o hino da padroeira durante o
longo caminho da procissão pela Taumaturgo de Azevedo.
Uma coisa muita alegre na terra de marataoã, aquelas vozes
de corações jubilosos a cantar a música da padroeira, numa grande festa dos
festejos. Todos na procissão cantavam. As festas religiosas de 1995 prometiam
ser uma das mais alegres e participativas dos últimos anos. Os religiosos
e o povo em geral esperavam o ano todo na cidade de Barras, os festejos da
padroeira nossa senhora da Conceição.
A cultura
religiosa das festas da padroeira sempre foi à raiz cultural do povo barrense. O
povo barrense submetia seus reclames e agradecimentos à virgem imaculada,
durante as festas. Sempre alegres, as mulheres, crianças, rapazes, adultos e
idosos transformavam as onzes noites litúrgicas em pacto e contato direto com a
fé. A devoção a padroeira era imenso. Viajava-se nos onze dias nas rezas e
devoção das novenas animadas.
O levante do
mastro era o ponto principal depois da procissão vinda da Boa Vista. Assim que
subia a rua Taumaturgo de Azevedo, aquela enorme dúbio serpente iluminada na
noite barrense, sob a luz de milhares de velas, era como se não existissem ato tão lindo na terra de
marataoã.
Inumeráveis fiéis freqüentemente rogavam a
virgem dos céus a pedir e agradecer pelas graças alcançadas no decorrer do ano.
O grande coral de vozes a entoar o hino da padroeira era uníssono e agradável
aos ouvidos dos cristãos. Com a vela nas mãos, dona Mundoca sentia os pelos dos
braços arrepiarem de emoção. Eunice segurava as mãos da avó com força.
- Ei vó! O avô Cassimiro nem veio?
- Te cala, Eunice, durante a procissão
ninguém conversa. Dizia dona Mundoca.
... Eia povo barrense é chegado! O momento
de grande alegria! Elevai nossa fé! oh cristãos! Em louvores a virgem Maria!
Salve Rainha dos céus, salve estrela da manhã! Salve a padroeira de Barras do
marataoã!
Pessoas de todas as idades, umas herméticas,
outras dadas à relação íntima do poder espiritual e todo mundo, com um só
objetivo, o de adorar a virgem imaculada Conceição. A procissão distribuía-se,
de modo compreensível, regular pela rua de paralelepípedos. Serpenteava o
contorno da esquina da Casa Rosada pelos fundos da igreja rumo à frente.
Os sinos
envelhecidos acelerados do alto da igreja batiam mais fortes pelas mãos
ligeiras do acólito em frenesi. Naquele inicio de noite, o som se disseminava pelos quatro cantos da
cidade, desde o são Cristovão ás Pedrinhas. O som levado pela brisa forte
resplandecia por toda a terra abençoada pelas mãos da santa mãe de Deus. Preparavam-se os fogos de artifícios na
praça da matriz. A grande novidade daquele ano, a cachoeira suspensa no alto da
igreja a descer fachos de uma cascata luminosa de fogo.
- Sai daí, Tonho, que o papoco é dos grandes!
Dizia Maria de Lourdes.
- Vamos ficar mãe! dizia Getúlio.
- Que nada! Tu estás é doido, menino! Creusa
vem para perto de mim.
Os céus enevoados da fumaça dos foguetes,
depois do grande espetáculo noturno. Todos os olhos fixados nos céus e espalhados
pela multidão. Milhares de fieis, por toda a parte do adro da igreja, na praça
da matriz e portas das casas do centro observavam o lindo espetáculo, a queima
dos fogos.
Às vezes, as crianças assombravam-se,
choravam, gritavam ensandecidas pelo espetáculo dos fogos, mas deixavam-se
entreter, com a linda visão fantamasgórica brilhando no alto dos céus. Muitos
fiéis rompiam e se agrupava nos caminhos das ruas de paralelepípedos do centro
da cidade, depois de escutar os fogos recortarem no ar, com sibilantes flechas
de fogo efêmeras, os céus barrenses.
Perto da barraca do leilão, muitas jóias
trazidas pelo povo do interior de Barras e pessoas espremendo-se para ocupar
melhor lugar. A banda de música ensaiava os últimos ajustes do dobrado. O
gritador do leilão testava o microfone ligado:
Espera, é só mais tarde essa jóia.
AGUARDE CAPÍTULO 03
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