domingo, 3 de junho de 2012


CHÃO DE FOGO, CAPÍTULO 02



A lei suprema dos céus apresentava a platéia entediada, a linda lua prenhe de belezas. Obra que pragueja a misericórdia de Deus na noite de prazer ardente em que se rasgava o ventre prenhe da luz, sob a auréola prateada suspensa nos céus. No alto da terra de marataoã, o anjo vigilante prateado, depois que se inebriou o sol deserdado pelo poente da cidade.

Às nuvens sem fala, os ventos desafiando a via-sacra das canções que percorriam em festa a bela terra de marataoã. O povo seguia em sua romaria nos lentos passos. Lábios usurpando o riso nos cândidos louvores a fatigar as ímpias fantasias. Seis horas da tarde e a lua muito branca no nascente derramava-se pelas ruas do bairro Curujal.

O povo de Barras preparava-se para a abertura dos festejos. Os moradores de todos os bairros da cidade puxavam-se para a praça de santa Luzia no bairro Boa Vista. Na praça da igreja de santa Luzia e são José operário, não havia um lugar para ninguém; cheia, do altar às portas de entrada. A procissão iria sair com o grande mastro. Os fiéis ouvindo o carro de som do Paraíba a gemer os seus cânticos sagrados. Mulheres a cantar o hino da padroeira durante o longo caminho da procissão pela Taumaturgo de Azevedo.

Uma coisa muita alegre na terra de marataoã, aquelas vozes de corações jubilosos a cantar a música da padroeira, numa grande festa dos festejos. Todos na procissão cantavam. As festas religiosas de 1995 prometiam ser uma das mais alegres e participativas dos últimos anos.  Os religiosos e o povo em geral esperavam o ano todo na cidade de Barras, os festejos da padroeira nossa senhora da Conceição.

A cultura religiosa das festas da padroeira sempre foi à raiz cultural do povo barrense. O povo barrense submetia seus reclames e agradecimentos à virgem imaculada, durante as festas. Sempre alegres, as mulheres, crianças, rapazes, adultos e idosos transformavam as onzes noites litúrgicas em pacto e contato direto com a fé. A devoção a padroeira era imenso. Viajava-se nos onze dias nas rezas e devoção das novenas animadas.

O levante do mastro era o ponto principal depois da procissão vinda da Boa Vista. Assim que subia a rua Taumaturgo de Azevedo, aquela enorme dúbio serpente iluminada na noite barrense, sob a luz de milhares de velas, era como se não existissem ato tão lindo na terra de marataoã.

Inumeráveis fiéis freqüentemente rogavam a virgem dos céus a pedir e agradecer pelas graças alcançadas no decorrer do ano. O grande coral de vozes a entoar o hino da padroeira era uníssono e agradável aos ouvidos dos cristãos. Com a vela nas mãos, dona Mundoca sentia os pelos dos braços arrepiarem de emoção. Eunice segurava as mãos da avó com força.

- Ei vó! O  avô Cassimiro nem veio?

- Te cala, Eunice, durante a procissão ninguém conversa. Dizia dona Mundoca.

... Eia povo barrense é chegado! O momento de grande alegria! Elevai nossa fé! oh cristãos! Em louvores a virgem Maria! Salve Rainha dos céus, salve estrela da manhã! Salve a padroeira de Barras do marataoã!

Pessoas de todas as idades, umas herméticas, outras dadas à relação íntima do poder espiritual e todo mundo, com um só objetivo, o de adorar a virgem imaculada Conceição. A procissão distribuía-se, de modo compreensível, regular pela rua de paralelepípedos. Serpenteava o contorno da esquina da Casa Rosada pelos fundos da igreja rumo à frente.

Os sinos envelhecidos acelerados do alto da igreja batiam mais fortes pelas mãos ligeiras do acólito em frenesi. Naquele inicio de noite, o som se disseminava pelos quatro cantos da cidade, desde o são Cristovão ás Pedrinhas. O som levado pela brisa forte resplandecia por toda a terra abençoada pelas mãos da santa mãe de Deus. Preparavam-se os fogos de artifícios na praça da matriz. A grande novidade daquele ano, a cachoeira suspensa no alto da igreja a descer fachos de uma cascata luminosa de fogo.

- Sai daí, Tonho, que o papoco é dos grandes! Dizia Maria de Lourdes.

- Vamos ficar mãe! dizia Getúlio.

- Que nada! Tu estás é doido, menino! Creusa vem para perto de mim.

Os céus enevoados da fumaça dos foguetes, depois do grande espetáculo noturno. Todos os olhos fixados nos céus e espalhados pela multidão. Milhares de fieis, por toda a parte do adro da igreja, na praça da matriz e portas das casas do centro observavam o lindo espetáculo, a queima dos fogos.

Às vezes, as crianças assombravam-se, choravam, gritavam ensandecidas pelo espetáculo dos fogos, mas deixavam-se entreter, com a linda visão fantamasgórica brilhando no alto dos céus. Muitos fiéis rompiam e se agrupava nos caminhos das ruas de paralelepípedos do centro da cidade, depois de escutar os fogos recortarem no ar, com sibilantes flechas de fogo efêmeras, os céus barrenses.

Perto da barraca do leilão, muitas jóias trazidas pelo povo do interior de Barras e pessoas espremendo-se para ocupar melhor lugar. A banda de música ensaiava os últimos ajustes do dobrado. O gritador do leilão testava o microfone ligado:

- Já vai começar o leilão! Gritava o homem.  O quê? O leilão! Ah sim. Traz o capão assado! 
Espera, é só mais tarde essa jóia. 




AGUARDE CAPÍTULO 03

Nenhum comentário:

Postar um comentário