CHÃO
DE FOGO, CAPÍTULO 19
O mocambo todo comentava o rebuliço que os ciganos fizeram na
Fazenda Córrego D’água de coronel Hilário. Chegava de Barras um caminhão de um
agrupamento de militares para averiguarem o ocorrido. Ainda com os olhos
vermelhos de sono, coronel Hilário respondia às perguntas dos militares. Um
deles queria saber dos meios utilizados pelos facínoras; um outro, trazia um
álbum de fotos para reconhecimento. Perguntaram também pela lista de
mercadorias roubadas, se era do armazém ou do pessoal do lugar.
Voltaram a organizar-se para a caça aos homens. E todo o
inquérito cheio de informações. O chão de fogo ainda exalava uma fumaça enegrecida
pela quinta da Fazenda. O capim seco ainda queimava e olhando com ar de ódio e vingança
no coração. Ele escutava a notícia do ataque pela Rádio Difusora.
Um soldado magro procurava saber, quais as armas que os
ciganos utilizaram. E começaram a contar histórias de confrontos entre polícia
e ciganos pelo lado do retiro de Boa Esperança. Já ia escurecer quando chamaram
o tenente Jerônimo, o pretendente a casar com a filha do coronel Hilário.
Era a primeira vez que o militar participaria de uma missão
assim. Na Fazenda, os militares armavam o plano de incursão naquela manhã nas
matas do Mocambo. O coronel Hilário sentou-se junto ao futuro genro, tenente
Jerônimo. Ia submeter o militar a um exame ligeiro. Fez umas perguntas sobre o
tipo de criminosos que invadiram a Fazenda e a cada resposta sentia um susto.
- Devem ter vindo do lado do Maranhão. Eles vivem de
assaltos e invasões. Costumam a trocar os nomes por alcunhas. Ouviu o apelido
de algum dos homens? Não.
- O senhor não sabe como são perigosos. A missão dessa manhã
é esta mesmo, uma verdadeira caçada humana. Pode ir lá para dentro da Fazenda e
fechar o Armazém. Coronel Hilário dizia, é o que vou fazer. Tenente Jerônimo com
entusiasmo que iria tomar conta da missão.
E voltando-se para o velho:
- Tem que arranjar comida e alojamento para o pessoal.
- Sim, ficam aqui mesmo.
Dizia isto com as mãos para trás, por cima do espaldar da
cadeira, e com as pernas cruzadas. Coronel Hilário era meio gordo, espichava-se
na espreguiçadeira, com os olhos voltados ao comandante da missão. Lá fora da
Fazenda, os soldados indagavam a ele sob o lugar que poderia está os homens.
- Tem muitas grutas por dentro do mato. Dizia ele.
Escutava toda a conversa, o tenente Jerônimo tomando toda
precaução para a missão. Faltava chegar de Barras mais munição e armas. A grande alegria de todos ali estava na
esperança dos militares que vinham de Nossa Senhora dos Remédios ajudarem nas
buscas. Os fuzis ficavam com o armeiro, o soldado Felipe.
- O senhor é o responsável pela cautela dos homens. Tome
nota arma por arma. Não permita que ninguém pegue arma sem cautelar.
O
tenente Jerônimo, um legítimo representante da tirania, excedia-se em zelos. Às
cinco horas do dia dava as últimas preleções aos militares. Ninguém podia
trocar palavras, somente quando autorizado. O romper da aurora nos céus
expandia-se.
O militar Tenente Jerônimo destacado
de Barras para a missão no pátio da casa grande da Fazenda falava em voz alta
com a tropa em forma. O coronel Hilário e ele planejavam a morte de todos os
ciganos e o resgate da filha, Rute.
- Tropa! Seeentido!
Descaaansar! Fora de forma. Brasil!
Dentro da casa grande da Fazenda, os militares
da Polícia Militar lubrificavam os fuzis para deixá-los pronto para o momento
do combate com os ciganos. Hilário levantou da cadeira preguiçosa e ficou de pé
da janela. Ele olhava para o nascente com o sol rompendo a aurora.
A luz do sol dava um agradável
resplendor aos cabelos grisalhos do terrível homem. Seus olhos tinham a cor
azulada e contrastava com o céu de tormenta. O homem inclinou a cabeça para
admirar a magra figura do Tenente Jerônimo. O militar era alto, mas estava com
graça, afobado e com vontade de resgatar a futura noiva.
Demorou poucos minutos, cerca de
quinzes soldados esperavam lá fora, ás ordens do comandante. Quando entraram
nas matas do Mocambo, os soldados ganhavam terreno caminhando por entre
mandacarus e unhas de gato. Não havia
dúvida de que poderia o contingente militar ganhar o combate.
Nos últimos anos, o grupo os Justos do
Norte tinha enfrentado com naturalidade e ousadia os militares e vencidos todos
os combates. Tenente Jerônimo tomara aquilo como pessoal e ele gostaria do
suavizamento e vitória na batalha, como honra e assim casar com a filha do
coronel e ser o dono da Fazenda Córrego Dágua. Buscava também o intento da promoção
ao posto de capitão. Rute seria uma excelente esposa, mas ela não era para
ele.
AGUARDE CAPÍTULO 20
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