quarta-feira, 20 de junho de 2012


CHÃO DE FOGO, CAPÍTULO 19


O mocambo todo comentava o rebuliço que os ciganos fizeram na Fazenda Córrego D’água de coronel Hilário. Chegava de Barras um caminhão de um agrupamento de militares para averiguarem o ocorrido. Ainda com os olhos vermelhos de sono, coronel Hilário respondia às perguntas dos militares. Um deles queria saber dos meios utilizados pelos facínoras; um outro, trazia um álbum de fotos para reconhecimento. Perguntaram também pela lista de mercadorias roubadas, se era do armazém ou do pessoal do lugar.

Voltaram a organizar-se para a caça aos homens. E todo o inquérito cheio de informações. O chão de fogo ainda exalava uma fumaça enegrecida pela quinta da Fazenda. O capim seco ainda queimava e olhando com ar de ódio e vingança no coração. Ele escutava a notícia do ataque pela Rádio Difusora.

Um soldado magro procurava saber, quais as armas que os ciganos utilizaram. E começaram a contar histórias de confrontos entre polícia e ciganos pelo lado do retiro de Boa Esperança. Já ia escurecer quando chamaram o tenente Jerônimo, o pretendente a casar com a filha do coronel Hilário.

Era a primeira vez que o militar participaria de uma missão assim. Na Fazenda, os militares armavam o plano de incursão naquela manhã nas matas do Mocambo. O coronel Hilário sentou-se junto ao futuro genro, tenente Jerônimo. Ia submeter o militar a um exame ligeiro. Fez umas perguntas sobre o tipo de criminosos que invadiram a Fazenda e a cada resposta sentia um susto.

- Devem ter vindo do lado do Maranhão. Eles vivem de assaltos e invasões. Costumam a trocar os nomes por alcunhas. Ouviu o apelido de algum dos homens? Não.

- O senhor não sabe como são perigosos. A missão dessa manhã é esta mesmo, uma verdadeira caçada humana. Pode ir lá para dentro da Fazenda e fechar o Armazém. Coronel Hilário dizia, é o que vou fazer. Tenente Jerônimo com entusiasmo que iria tomar conta da missão.

E voltando-se para o velho:

- Tem que arranjar comida e alojamento para o pessoal.

- Sim, ficam aqui mesmo.

Dizia isto com as mãos para trás, por cima do espaldar da cadeira, e com as pernas cruzadas. Coronel Hilário era meio gordo, espichava-se na espreguiçadeira, com os olhos voltados ao comandante da missão. Lá fora da Fazenda, os soldados indagavam a ele sob o lugar que poderia está os homens.

- Tem muitas grutas por dentro do mato. Dizia ele.

Escutava toda a conversa, o tenente Jerônimo tomando toda precaução para a missão. Faltava chegar de Barras mais munição e armas.  A grande alegria de todos ali estava na esperança dos militares que vinham de Nossa Senhora dos Remédios ajudarem nas buscas. Os fuzis ficavam com o armeiro, o soldado Felipe.

- O senhor é o responsável pela cautela dos homens. Tome nota arma por arma. Não permita que ninguém pegue arma sem cautelar.

O tenente Jerônimo, um legítimo representante da tirania, excedia-se em zelos. Às cinco horas do dia dava as últimas preleções aos militares. Ninguém podia trocar palavras, somente quando autorizado. O romper da aurora nos céus expandia-se.

O militar Tenente Jerônimo destacado de Barras para a missão no pátio da casa grande da Fazenda falava em voz alta com a tropa em forma. O coronel Hilário e ele planejavam a morte de todos os ciganos e o resgate da filha, Rute.

 - Tropa! Seeentido! Descaaansar! Fora de forma. Brasil!

Dentro da casa grande da Fazenda, os militares da Polícia Militar lubrificavam os fuzis para deixá-los pronto para o momento do combate com os ciganos. Hilário levantou da cadeira preguiçosa e ficou de pé da janela. Ele olhava para o nascente com o sol rompendo a aurora.

A luz do sol dava um agradável resplendor aos cabelos grisalhos do terrível homem. Seus olhos tinham a cor azulada e contrastava com o céu de tormenta. O homem inclinou a cabeça para admirar a magra figura do Tenente Jerônimo. O militar era alto, mas estava com graça, afobado e com vontade de resgatar a futura noiva.

Demorou poucos minutos, cerca de quinzes soldados esperavam lá fora, ás ordens do comandante. Quando entraram nas matas do Mocambo, os soldados ganhavam terreno caminhando por entre mandacarus e unhas de gato.  Não havia dúvida de que poderia o contingente militar ganhar o combate.

Nos últimos anos, o grupo os Justos do Norte tinha enfrentado com naturalidade e ousadia os militares e vencidos todos os combates. Tenente Jerônimo tomara aquilo como pessoal e ele gostaria do suavizamento e vitória na batalha, como honra e assim casar com a filha do coronel e ser o dono da Fazenda Córrego Dágua. Buscava também o intento da promoção ao posto de capitão. Rute seria uma excelente esposa, mas ela não era para ele. 

AGUARDE CAPÍTULO 20

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